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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um Mundo em Caos - 24


“Naqueles dias, a terra e o inferno libertarão de seu ventre os que haviam recebido; e a destruição restituirá o que lhe é devido.”

Em um local desconhecido, sobre o alto de um prédio, dois homens usando mantos brancos e capuzes conversam...
― A batalha começou. A luta entre os dois reinos já teve início. ― uma voz rouca ecoa pelo ar.
― E eles vieram com tudo para cima de nós, não pouparam nem as crianças. Não pensei que começariam enviando um dos quatro cavaleiros. Os habitantes da Terra não estavam preparados para eles.
―Nem nós estávamos. Mandar logo a Morte foi um golpe de mestre. Todos os humanos acham que esses mortos que caminham por aí são resultado de uma epidemia. Ledo engano, eles mal imaginam que isso está muito acima da imaginação deles. Céu e Inferno numa batalha que já perdura por milênios.
― Eles sempre possuíram um intelecto muito inferior ao nosso. Podem ter sido criados a imagem do Todo-Poderoso, mas possuem um cérebro do tamanho de uma ervilha.
― Você sempre os critica quando pode. ― e um leve sorriso pode ser sentido. ― Mas eu até os admiro, eles possuem uma força de vontade, uma garra e alguns nunca desistem daquilo que querem.  
― Nós pelo contrário estalamos os dedos e temos aquilo que queremos.
― Não seja tão rigoroso, Rakael, nós somos de outra dimensão. Aqui temos poderes inacreditáveis, mas lá, somos pouca coisa diferente deles.
― Você é que é muito bonzinho, Balthazar, aliás, vocês ingleses são muito estranhos. Tem sempre hora para tudo. Chega a ser chato conviver com você.
Balthazar passa os olhos sobre a cidade e avista uma pequena movimentação.
― Ela está indo ao encontro dele. ―comenta. ― Péssima hora para isso.
― Do que você está falando? ― pergunta Rakael olhando para o rosto de Balthazar.
― Veja com os seus próprios olhos, e tenha a resposta para a sua pergunta.
―Criança tola! ― resmunga olhando em direção ao sul. ― Como um cordeirinho ela caminha em direção ao covil dos lobos. E nada podemos fazer para impedir aquela tola. Malditas regras!
― Acalme-se, tenho certeza que nada irá acontecer a ela.
― Eu odeio essa sua serenidade! ― reclama. ― Você me dá nos nervos!
― Relaxa meu amigo, na hora certa ele sempre aparece.
Nisso, um clarão surge atrás deles e uma figura feminina de traços finos e cabelos negros, usando um vestido escuro surge em meio à luz.
Também havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal; e ao redor do trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. ― fala a mulher.
Balthazar sem se virar em direção a ela diz:
― Imaginei que você também viria, Leviathan, mas estou sentindo falta do seu fiel escudeiro. Ele se perdeu pelo caminho?
― Não tente ser engraçado porque isso não combina com você. ― responde ela. ― Eu vim apenas observar o andar da carruagem e ver como está o meu lado.  
― E porque veio fazer isso onde estamos? ― pergunta Rakael.
A mulher caminha até eles e responde:
― Qual a graça de ver o meu lado subjugar o seu sem poder ver os seus rostos e as suas expressões. Por isto estou aqui.
― Mas você não é bem vinda aqui. ― retruca Balthazar.
― Eu sei, mas isso é que deixa as coisas divertidas. Eu adoro as regras criadas pelos dois grandes. Tanto vocês quanto nós somos intocáveis.
— Cale a boca sua vadia do demônio! — fala Rakael com o tom de voz mais áspero.
— Sempre sem educação. — comenta a mulher. — Não sei como os seus amiguinhos lhe agüentam.
— Se veio apenas nos aborrecer, já pode ir embora. — fala Balthazar.
A mulher dá um passo para frente e diz:
— Ainda não, estou esperando meu guarda-costas que vai chegar agora...
Então, uma distorção ocorre no céu e um ser gigantesco cai sobre o prédio. Ao se virarem, se deparam com um homem gigante, usando uma armadura de placas tão negras e impenetráveis quanto à escuridão. Seu rosto é protegido por um elmo negro que deixa apenas seus olhos vermelhos aparecerem. E as poucas partes de seus braços que aparecem, são cobertas por uma fuligem negra. E este homem, encara seus dois inimigos de frente, os olhando diretamente nos olhos.
— Que as pragas tomem conta da Terra... — uma voz obscura sussurra de dentro do elmo enquanto abre seus braços.
— Malditos Antigos! — esbraveja Rakael.
— Vamos embora, — fala Balthazar — não há mais nada para fazermos aqui.
Rakael encara a mulher nos olhos e diz:
— No momento certo irei torcer sua cabeça e arrancá-la de seu corpo!
— Mas até lá, — retruca a mulher — guarde seus pensamentos para você.
Balthazar estala os dedos e uma luz cegante toma o topo do prédio. Após alguns segundos a luz desaparece da mesma forma que surgiu e Balthazar e Rakael não estão mais lá.
— Fugiram com as asinhas entre as pernas. — comenta a mulher. — Você tem o dom de causar isso nos outros, grandão.
Ele nada responde.
Longe dali, Jennifer entra em um grande salão oval, com um tapete vermelho que se estende da porta de entrada até um grande trono feito em carvalho. Neste trono, o Padre Antonini já a aguarda.
— A que devo a alegria da sua visita? — pergunta ele, com um largo sorriso nos lábios.
— Vim conversar um pouco com o Senhor. — responde, se ajoelhando na frente dele.
— Não precisa se ajoelhar minha pequena. Mas enfim, é algum assunto em particular?
Jennifer se ergue e responde:
— O Senhor me ajudou desde que cheguei aqui, mas nos últimos dias estou com dúvidas sobre o real propósito da minha existência aqui.
— Minha filha, — fala o padre se levantando do trono — como eu lhe disse antes, você foi enviada dos céus para me ajudar a purificar a Terra. Quando eu era pequeno eu sonhava com você e esperei anos pelo dia em que nos encontraríamos pela primeira vez.
— Ahn... Nesta última cruzada que você me enviou... um homem me disse coisas a seu respeito, entre outras coisas que me mexeram com a minha fé. E em conversas com meus companheiros passei a ver algumas coisas com outros olhos.
— O demônio se utiliza de várias maneiras para enganar aqueles que são puros. Mas eu achava que a sua fé em mim era inabalável. — e se aproxima dela lentamente. — Talvez você deva se afastar de seus antigos amigos e vir morar aqui.
— Eu... me desculpe, mas... ele disse que você era um monstro, demônio, sei lá.
— Oras, eu, um demônio? — parece incrédulo com o que ouviu. — E você deixou essa mentira abalar a sua fé? Se eu fosse um demônio e se isso realmente existisse, acha mesmo que eu me vestiria como um sacerdote e usaria adereços religiosos? Olhe este lugar e me responda, ele se parece com a casa de um demônio? — questiona.
— Eu não quis dizer isso, eu só...
— Uma blasfêmia! Foi isso que você acabou de cometer! Você me acusa de ser um monstro, eu, uma pessoa sagrada!
Jennifer baixa a cabeça e com um tom de arrependimento na voz, diz:
— Me desculpe, eu não queria ofendê-lo.
— A questão não é essa! O fato é que você deixou um absurdo desses abalar a sua fé! Com tudo que estamos passando, as dificuldades em sobreviver de forma digna e você dando ouvidos para aberrações! — e vira-se de costas para Jennifer. — Eu vou pedir que você se retire e pense muito bem nessas barbaridades que me falou.
— Eu mais uma vez peço desculpas pela minha conduta errada. Em deixar que falsas palavras tocassem o meu coração. Eu prometo que não deixarei mais que falem do senhor e muito menos profiram palavras mentirosas ao seu respeito.
— Assim é bem melhor, minha filha. — e vira-se para ela sorrindo. — E pense sobre o que eu lhe falei de vir morar aqui.
— Pensarei sim. — responde.
E nisso, um estouro é ouvido na porta e ela se abre e um homem usando farrapos de roupas que lembram uma batina, empapadas em sangue, adentra o salão e grita:
— Não acredite no que esse monstro fala!
Jennifer olha para trás e se assusta com a figura que vê. Cheio de hematomas e cortes no rosto, o homem que entrou se encontra completamente deformado.
— Esse monstro é um mentiroso! — continua o homem. — Ele nos enganou a todos! Matou meus irmãos e me fez cometer um assassinato para fugir de sua prisão! Ele é um demônio em forma humana!
— Porque profere essas palavras absurdas contra mim? — pergunta o padre. — Eu sou um representante de De... do céu na Terra.
— Vamos, fale o nome de Deus! — desafia o homem. — Quero ver se você consegue! Mostre que você é quem realmente diz ser!
— Chega disso. — murmura o padre. — Já estou cansado de ser quem eu não sou. — e olha para cima. — Abramalech, faça seu trabalho.
Um urro rasga o salão como se fosse um trovão e um homem gigantesco, com fuligens por todo o corpo cai agachado no chão. Seus olhos são negros como a mais escura das noites e seu dorso possui horrendas cicatrizes. E a parte de baixo de seu corpo é coberta por panos sujos com uma espécie de óleo negro, como petróleo.
O homem olha para Abramalech e irado esbraveja:
— Como um seguidor de Lúcifer como você tem a coragem de pisar num solo sagrado como esse?
— Desde que o padre chegou — responde apontando para Antonini —, esse lugar nos pertence. Suas preces não mais são ouvidas, pois não chegam até os céus. Seu Deus não mais olha por você!
— Mentira! Meu Deus está sempre olhando por nós! Ele me manteve vivo até agora para que eu pudesse contar aos que restaram que o nosso mundo está sendo invadido por vocês!
Antonini caminha até próximo de Jennifer, que se encontra paralisada e sussurra:
— Infelizmente agora você sabe a verdade. — e a agarra pelo pescoço.
— Solte a menina! — grita o homem.
Antonini irritado, grita:
— Cale esse infeliz de uma vez!
— Vocês jamais calarão a voz de Deus! — esbraveja o homem.
Abramalech em um rápido movimento se posta em frente ao homem e crava suas garras nos ombros do infeliz. O homem grita de dor e então Abramalech começa a forçar seus braços e despedaça o homem ao meio. Tripas e pedaços de ossos voam pelo chão e sangue jorra por tudo, atingindo Jennifer no rosto e em parte de seu corpo.
Abramalech joga os pedaços do homem longe e vira-se para onde se encontram Antonini e Jennifer.
— Agora é a vez dela e vai ser bem demorado e divertido.