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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um Mundo em Caos - 11


— Precisamos olhar esse ferimento no seu peito. Ele continua sangrando. — fala Raguel.
— O ferimento pode esperar. Segue em frente que eu me viro aqui.
Miguel tira a camisa, a dobra e a pressiona contra o peito. Os dois continuam seguindo pela Avenida Guilherme Schell e Raguel quebra o silêncio dizendo:
— Ela mal nos conhecia e se sacrificou pela gente. Gostaria de ter conhecido mais ela, conversado mais com ela.
— Isso não importa mais. — fala Miguel. — Ela confiou em nós quando a salvamos. E eu prometi que iria proteger vocês duas e não consegui salvá-la. Eu fracassei. Que ótima pessoa eu sou, não?
— Não se sinta culpado, acredito que ela não iria gostar disso. — segurando a mão de Miguel. — Não havia nada que se pudesse fazer. Se não fosse por ela todos estaríamos mortos.
— Não é isso. — fala colocando as mãos no rosto. — Houve outra pessoa que prometi proteger e também falhei. Vi esta pessoa morrer em frente aos meus olhos.
— Quem?
Miguel permanece alguns segundos em silêncio, suspira alto e então responde:
— Minha namorada... Jenny.
— Sinto muito.
— Não há porque, você não a conhecia.
— Ahn... e como aconteceu? — pergunta. — Mas se não quiser responder eu vou entender.
— Respondo sim. Preciso falar para alguém. Ficar guardando isso somente para mim está me corroendo por dentro como um câncer em estágio final. Então... — suspira, — eu a vi morrer quando ainda tínhamos internet. Estávamos conversando via MSN e então ela precisou ver alguma coisa no quarto e... de repente ouvi barulhos estranhos e então ela gritou tão alto. Um grito de pavor. E então um grito de dor e sangue voou na lente da webcam e tudo silenciou. Caiu a conexão e não voltou mais. Por uma semana fiquei esperando por ela. Um sinal que fosse. E então no oitavo dia desisti. Me conformei.
— Eu realmente não sei o que dizer para lhe confortar. Me desculpe.
— Não esquenta. — fala, e para fugir do assunto, diz: — Só nos resta agora seguir o plano inicial. Mesmo que seja à noite.
— Você quer ir atrás dos seus amigos?
— Sim. Eu sei o quanto falei dos perigos de andar a noite, mas não há outra alternativa. Não sei onde poderemos nos esconder e ficarmos parados no mesmo local não é a melhor das alternativas. Então vamos seguir em frente.
— Ok. Só me diz as coordenadas.
— Certo. Assim ocupo a minha cabeça com outras coisas.
Eles seguem adiante e Miguel mostra a ela o caminho a ser seguido. Quando chegam ao centro de Canoas ela sobe a rua do colégio Auxiliadora e contornando a quadra, segue a Rua Dr. Barcelos que fica mais abaixo. Eles estranham a cidade estar tão vazia naquele ponto. Não haver carros parados no meio da rua ou mesmo capotados ou queimados como viram quando seguiam pelo centro da cidade.
— Parece que houve uma evacuação coordenada nessa parte da cidade. Mas o mais estranho é não haver mortos perambulando por aqui.
— Pra onde será que foram levadas as pessoas que residiam por aqui?
— Não faço a menor idéia. Mas se estão num lugar seguro, isso é o que importa.
Continuam seguindo em frente e então chegam ao viaduto da Independência, atravessam para o outro lado da cidade e Miguel diz para ela seguir a direita numa rua paralela a Avenida Getúlio Vargas. Seguindo este caminho eles irão cruzar o bairro Fátima.
A cada avanço a imagem começa a mudar e a destruição passa a ditar o caminho deles. Alguns mortos-vivos em pontos isolados passam a surgir.
— Estamos entrando em território hostil. — fala Miguel olhando para o banco traseiro. — Ela trouxe até a minha mochila. Obrigado onde quer que você esteja. — ele pega a mochila e tira de dentro dela um revolver calibre quarenta e cinco. — Agora você vai ser o meu parceiro. Sem minha espada você é a segunda alternativa.
Raguel olha para ele e espantada pergunta:
— Da onde você tirou uma arma? A roubou?
— É claro que não. — responde rapidamente. — Esta arma, uma Smith & Wesson modelo 1917, em calibre .45ACP, é herança de família. Pertenceu primeiramente ao meu avô, Pedro Martinez, em 1937. Depois passou para o meu pai e na ausência dele ficará comigo.
— Interessante. Desde que ela funcione, tá bom.
— Ela funciona, sim.
Eles atravessam o bairro Fátima e chegam ao bairro Niterói. Que é o bairro de Canoas que faz divisa com Porto Alegre. Miguel dá as coordenadas para Raguel e ela segue por uma rua vertical a qual estavam seguindo.
— E aí, estamos muito longe ainda? — pergunta ela.
— Não muito... — responde. — Entra nessa rua a direita. — ela entra na rua e se depara com uma horda de zumbis. — Paca, cutia, tatu não!
— O quê?! Isso foi um código? — pergunta ela.
 — Não. Apenas uma forma de me expressar pra atual situação.
— Que bom. E o que faremos?
— Dá a ré e continua subindo a rua, entramos na próxima.
Ela faz o que Miguel disse e a próxima rua não está tão cheia de zumbis. Apenas alguns que são facilmente atropelados.
— Na próxima você entra à direita e desce até mais ou menos metade da quadra. Mas vai devagar.
Conforme vão avançando, mais e mais zumbis vão aparecendo.
— Essas criaturas podem ser burras, mas não são tão estúpidas assim. — fala Miguel. — Tem pessoas aqui. O número deles é muito grande para não haver alimento aqui.
Os zumbis se batem contra o carro e arranham a lataria com suas unhas podres. Então Miguel avista duas grandes árvores e diz:
— É ali, a casa do Rafael.
Raguel estaciona o carro no meio da rua e os zumbis começam a caminhar na direção deles.
— Não podemos ficar muito tempo parados aqui. — comenta Raguel. — O que vamos fazer? Descer e olhar?
— Se descermos, viraremos jantar com certeza. Vou ter que arriscar outra alternativa. Barulhenta, mas vai ser o jeito. Abre o teto-solar.
Raguel aperta o botão e o teto-solar se abre. Miguel joga a camisa no assoalho do carro e se ergue ficando em pé com mais da metade do seu corpo para fora do carro. Ele aponta a arma para a cabeça de um zumbi que está bem próximo deles e diz:
— Vamos ver do que vocês são feitos. — e aperta o gatilho.
O tambor da arma gira e a agulha atinge a cápsula fazendo está gerar uma reação interna e então liberar o projétil que toma o rumo que Miguel havia mirado. A cabeça do zumbi simplesmente explode quando é atingida pelo projétil. Pedaços do seu cérebro voam no pára-brisa.
— Eca. — fala Raguel.
O barulho gerado pelo disparo faz com que os zumbis que estão nos arredores tomem o rumo em direção a este. Miguel então derruba mais dois zumbis estourando suas cabeças. Ele parece se divertir com o que está fazendo.
E nisso, de cima da árvore salta um homem segurando uma barra de ferro. E ele está usando roupas escuras e uma máscara de hockey.
— Se querem chamar a atenção, essa com certeza não é a melhor forma. — sua voz sai abafada devido à máscara.
Ele golpeia alguns zumbis na cabeça, rachando seus crânios.
— O que vocês querem?
— Estou procurando meus amigos. — responde Miguel. — Um deles reside nessa casa. — e então dá dois disparos derrubando mais dois zumbis.
— Qual o nome de seu amigo? — pergunta o homem golpeando outros zumbis.
— Rafael Morgan
— Não conheço. É melhor vocês irem embora daqui.
— Mas eu conheço e você também o conhece, Gabriel.
— Miguel. Sempre você. — ele então dá dois assovios curtos.
O portão se abre e Gabriel diz:
— Entrem rápido.
Raguel manobra o carro e entra no pátio. Gabriel entra logo em seguida e dá um assovio curto e o portão se fecha. Miguel abre a porta do carro e caminhando com dificuldades vai ao encontro de seu amigo.
— Você está vivo!
— Sim. — fala Gabriel tirando a máscara.
Miguel o abraça e em seguida desmaia. Gabriel o segura e grita:
— Rafael, venha rápido aqui!
Raguel desce do carro e corre até Miguel.
— Ele desmaiou. — fala Gabriel.
— Vocês tem um kit de primeiros socorros? Eu preciso cuidar urgentemente dele.
— Mas o que aconteceu?
— É uma longa história.
Rafael abre a porta da casa e Gabriel diz:
— Pega o kit de primeiros socorros e leva pra sala. O Miguel tá muito ferido.
— O Miguel?!
— Isso cara, agora vai rápido, meu!
Gabriel pega Miguel no colo e o leva para dentro de casa. O filhote pula do carro e segue Raguel. Eles entram e Raguel fecha a porta. Gabriel deita Miguel no sofá e ao olhar o ferimento no peito de seu amigo diz:
— Com quem foi que ele brigou? Isso aqui é um corte de faca extremamente afiada. Parece até um corte cirúrgico de tão perfeita a simetria.
— Foi um cara de uma seita religiosa. Nós entramos anteontem no shopping para passar a noite e fomos atacados.
— Eram apenas vocês dois?
— Não. — responde. — Havia mais uma pessoa conosco, o nome dela era Anane. Deu sua vida para que pudéssemos sair de lá.
— Sinto muito.
Então Rafael volta com o kit, panos e um pequeno recipiente com água.
— Peguei água para limparmos o ferimento dele, seja lá qual for... Meu Deus! — se apavora ao olhar para o corte no peito de Miguel. — O que é isso?
— Tentaram matar o nosso amigo. Uma seita de malucos. — fala Gabriel.
— Desgraçados.
Raguel pega um pano e molha na água e começa a passar no ferimento, o limpando. Depois ela pega álcool e diz para Gabriel: — Segura ele. É provável que ele acorde com o que eu vou fazer. — ela despeja álcool no ferimento e Miguel acorda soltando um urro de dor.
Gabriel e Rafael o estão segurando, mas ele desmaia novamente. Raguel deixa bem limpo o ferimento e pergunta:
— Vocês tem agulha e linha?
— Sim. — responde Rafael.
— Trás que eu vou precisar.
Rafael vai buscar e Gabriel sorri para ela e pergunta:
— Você ajudando meu amigo me faz lembrar uma pessoa muito especial para ele.
— A Jenny... — conclui ela.
— Sim. Ele te contou?
— Sim.
— Deve ter sido barra para ele... Mas a gente está conversando e eu nem perguntei seu nome. Que falta de educação a minha.
— Me chamo Raguel.
— Eu sou o Gabriel e o eunuco aí é o Rafael.
— Tu vai ver o eunuco. — fala Rafael entregando a agulha e a linha para Raguel.
Ela sorri e então ajeita a linha na agulha e começa a costurar o corte no peito de Miguel. Enquanto ela faz isso, ele acorda por duas vezes, mas desmaia em seguida. Alguns bons minutos depois ela termina.
— Agora ele precisa descansar e evitar esforços físicos.
— Onde aprendeu a fazer isso? — pergunta Rafael.
— Assistir Plantão Médico ajudou bastante. — responde ela.
— Essa é das nossas. — fala Gabriel.
— Então moça, — fala Rafael. — não quer descansar um pouco? A gente cuida dele.
— Adoraria. E meu nome é Raguel.
— E o meu o engraçadinho aqui falou antes.
Sorri Gabriel.
— O quarto é a terceira porta a direita. Tenha um bom descanso. — fala Rafael.
— Obrigada. — fala Raguel seguindo em direção ao quarto.
Gabriel tapa Miguel com um edredom e puxa uma cadeira para perto do sofá. Rafael senta ao lado dele e os dois começam a conversar. Raguel fecha a porta do quarto e deita na cama. Ela fica por um tempo olhando para o teto e acaba adormecendo.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Prólogo Alterado

Como eu havia comentado antes, eu estava retrabalhando o Prólogo e adicionei algumas linhas a mais nele. Algumas explicações que mais a frente serão melhor aprofundadas. A apresentação da Jennifer que deixou de ser no momento em que o Miguel sonha e passou a ser no Prólogo. Ficou estranho ele não ter comentado nada dela no desabafo inicial dele. Tipo, ele fala sobre seus amigos e não fala nada sobre ela. Mas agora isso está corrigido.

Também estou fazendo melhorias nos capítulos posteriores ao Prólogo, mas isso irá demorar um pouco para aparecer aqui.

Qualquer sugestão deixem um comentário.

E como diria Tony Montana: 

"— In this country, you gotta make the money first. Then when you get the money, you get the power. Then when you get the power, then you get the women."

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Um Mundo em Caos - 10


Astaroth arrasta Miguel até a pequena praça que fica no centro do imenso corredor situado na entrada do shopping e o ergue até a sua altura e o golpeia com um soco no rosto o fazendo desmaiar. Então o joga no chão. Baallberith então desce as escadarias do segundo andar trazendo as suas costas uma imensa cruz montada de forma rústica e ao longo de sua construção há sangue enegrecido manchando as duas madeiras que a formam. E nas duas extremidades da madeira que fica na posição horizontal há cordas dispostas de forma a amarrar alguém pelos pulsos. E na extremidade de baixo da madeira vertical há também uma corda para amarrar os tornozelos de uma pessoa.
No chão, bem próximo aonde Miguel foi jogado há um buraco de dimensões não muito grandes. Porém profundo. Astaroth então ordena que Baallberith crave a cruz neste buraco. Ele obedece às ordens dadas por Astaroth e então a cruz fica prontamente erguida.
— Muito bem, Baallberith, vamos erguer esta criatura feita de barro e a crucificaremos.
Baallberith ergue Miguel pela cintura e Astaroth utilizando as cordas, prende os braços dele pelos pulsos, e logo em seguida, amarra também as pernas dele pelos tornozelos. Miguel então fica preso na cruz da mesma forma que o ladrão ao lado de Jesus no dia em que o crucificaram.
— Terminamos por aqui. — comenta Astaroth. — O resto agora fica a cargo do nosso Mestre de Cerimônias, aquele que ensinou a feitiçaria aos filhos do homem. Que revelou ao mundo os segredos do que é praticado no céu. Samyaza.
Baallberith com um sorriso maléfico nos lábios completa: — Nós que nos ligamos pela eternidade por execrações mútuas. Que juntos descemos sobre Ardis e fizemos este juramento no topo do monte Armon, chegou o nosso dia de caminhar sobre a Terra.
E nisso, um homem alto vestindo um manto negro e capuz que lhe cobre a face, desce as escadas. Seu manto é adornado por várias cruzes vermelhas espalhadas em sua parte frontal e nas costas formando uma cruz em cada lado. Em cada manga há uma cruz que percorre toda a sua extensão. E em cada dedo de sua mão há um anel de cor diferente. É possível ouvir o som de suas botas a cada passo que ele dá.
Raguel então fecha os olhos e faz à única coisa que ainda é possível, algo que não lhe tiraram e que jamais conseguirão fazer, ela começa a rezar. Suas súplicas misturadas às lágrimas são tristes, geram um som igual ao da morte, caso essa o tenha.
O homem então se aproxima de Astaroth e diz:
— Acenda as velas. — sua voz é forte, porém possui uma estranha peculiaridade, é abafada. — O momento de nossa cerimônia chegou.
— Sim senhor, mestre Samyaza.
Astaroth então caminha ao redor da praça acendendo cada vela. Ele utiliza fósforos para fazer isso. A cada segundo que passa a escuridão da noite passa a reivindicar seu espaço sobre a Terra e o que ilumina o local são as pequenas chamas geradas por cada vela. Por último, Astaroth acende as velas que se situam ao redor da cruz formando um pentagrama. Os outros homens de manto então surgem e juntos com Astaroth e Baallberith, se prostram cada um em uma das pontas da estrela.
Samyaza agarra no chão uma espécie de copo de madeira e joga o que parece ser água no rosto de Miguel. Este acorda e ao tentar mover-se, se vê preso em uma cruz rodeado por homens de mantos.
— Mas que merda é essa?! — exclama Miguel. — Porque estou preso?
— Você ainda não entendeu? — fala Samyaza. — Você será sacrificado em nome da Estrela da Manhã.
— Estrela da Manhã?! Do que você está falando seu louco!!!
Nesse momento o homem ergue um pouco seu capuz e Miguel pode ver a máscara em seu rosto, uma máscara negra que em seus detalhes lembra uma focinheira. Os olhos desse homem são azuis como o céu, mas possuem uma maldade além da compreensão humana. Assustado, Miguel se contorce na cruz tentando encontrar uma maneira de se desvencilhar das cordas. Encontrar um ponto fraco nelas. Mas seus esforços são em vão e nada consegue. Samyaza olha para Astaroth e pergunta:
— Trouxe tudo àquilo de que irei precisar, meu filho?
— Sim, Mestre. Tudo que o Senhor pediu está abaixo da cruz.
— Ótimo. — fala se abaixando e pegando uma faca de lâmina lisa. Ele então se ergue e com a faca rasga a camisa que Miguel está usando. — Irei precisar do seu sangue.
— Se era um doador de sangue que estava precisando era só ter pedido. — fala Miguel que logo em seguida, pensa: — Não tinha coisa melhor pra dizer não? Porque eu não fico simplesmente quieto às vezes.
— A sua insolência será calada com a sua dor.
Samyaza encosta a lâmina da faca no lado esquerdo do peito de Miguel e a afunda fazendo um corte horizontal até o lado direito. Miguel solta um urro de dor que faz Raguel gritar junto com ele. Como se o corte estivesse sendo feito nela também. O baixinho de manto branco dá meio passo para trás e coloca sua mão esquerda sobre o peito. E conforme a faca foi abrindo caminho na carne dele o sangue ia vertendo pelo corte. O homem se abaixa e pega um cálice dourado e encosta no peito de Miguel. O cálice aos poucos vai se enchendo de sangue.
— Por quê? — pergunta Miguel.
— Por você ter sido criado. — responde Samyaza. — Você jamais deveria ter ganhado asas. Você é um ser nojento, desprezível e que Ele consegue amar mais que a nós. Mas hoje isso acaba. Você é o nosso sexto sacrifício, a sua amiguinha será o sétimo e então tudo terá fim. Ganharemos nossas asas de volta e reconstruiremos esse mundo a semelhança do Filho da Alva.
— Vocês não passam de um bando de loucos pervertidos! Seus nomes, suas roupas, essas baboseiras que você está cuspindo boca a fora. É tudo lixo!
Samyaza golpeia Miguel com um soco no flanco esquerdo e diz:
— Não ouse blasfemar na minha casa. Aqui suas palavras de nada valerão.
Então ele ergue o cálice e olhando para cima recita:
—Por meio desse humano me aproximo como nunca da essência divina. Poucos compreendem como nós, que abrir o coração de um filho de Deus e derramar seu sangue libertam uma grande luz. Isto excita e vivifica os filhos da Estrela Alva que caminham hoje sobre a Terra. Os chamados mortos-vivos. À medida que bebemos dessa energia vital que vem apenas de Deus por intermédio de seus portadores sentimos nossa alma imortal cada vez mais fortificada.
Samyaza leva o cálice até a boca e o entorna bebendo o sangue que há ali.
— Irmãos, filhos, irei compartilhar convosco o sangue desse mortal. — então olhando para o baixinho diz: — Gadrel, traga o nosso filho especial.
O baixinho se trata de Anane ainda disfarçada, que ao ouvir essa ordem fica sem saber o que fazer. Os outros então olham para ela e Asmodeu um tanto irritado fala:
— Você é o erro encarnado, Gadrel Apesar de ter revelado aos filhos dos homens todos os meios de ministrar a morte, não sabe sequer cumprir uma ordem. Ou faz de conta que não sabe. Quer saber apenas de ficar no seu canto com suas penitências. Mas agora vá até o local onde ficam os caixas vinte e quatro horas e traga nosso irmão que jaz acorrentado lá.
Anane suspira e sai caminhando. Mas antes de seguir para onde foi mandada, ela passa bem próxima a jaula onde Raguel está e parece deixar cair alguma coisa e então segue caminhando e desaparece na escuridão. Samyaza continua seu discurso enlouquecido:
— Seu Filho uma vez disse que somos sepulcros caiados, que por fora parecemos belos e formosos. Mas por dentro estamos cheios de ossos de mortos e de toda a imundície. Mas eu voz digo, não somos nós isso, mas eles! Aqueles seres de luz e fogo que nos tiraram de lá e nos jogaram aqui. Ressuscitaremos o homem que fazia estremecer a terra.
— O ressuscitaremos! — gritam em coro os outros homens.
E Samyaza continua:
— Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra, e que fazia tremer os reinos. Que punha o mundo como um deserto e assolava as suas cidades. Que seus cativos não deixava voltarem soltos para suas casas. E assim como todos os reis das nações jazem em honra, cada um em seu túmulo, o Senhor foi lançado da tua sepultura. Como um renovo abominável, coberto de mortos atravessados à espada, como os que descem às pedras da cova, como o cadáver pisado. Mas nós o tiraremos do seu castigo.
Astaroth leva as mãos ao peito e diz:
— Assim será feito.
— Um dia, há muitos milênios atrás um filho teu disse: Nesse tempo se levantará Miguel, o grande príncipe que protege os filhos do teu povo, e haverá um tempo de angustia, qual nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo. Mas nesse tempo livrar-se-á teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro. Muitos dos que dormem no pó da terra ressurgirão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e o desprezo eterno. Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento, e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente. — Samyaza retira o capuz e continua, — Eu voz digo que é mentira! Olhem para a rua e verão quem realmente caminha sobre ela. Os mortos, nossos irmãos e irmãs. Nossos filhos!
Samyaza então cai de joelhos no chão.
— Você criador de tudo, amaldiçoou nossos dias e os anos de nossas vidas pereceram. Execração perpétua multiplicou-se contra nós e não obtemos misericórdia. Disse que não mais ascenderíamos aos céus, que estávamos aprisionados na terra enquanto o mundo existisse. E que antes destas coisas se passarem, testemunharíamos a destruição de nossos amados filhos, que eles não seriam nossos, pois pela espada tombariam diante de nós. Eu lamentei e supliquei em silêncio.
Samyaza larga o cálice no chão e ergue os braços com as mãos abertas.
— Mas eis que tive uma visão. Contemplei nuvens e névoa, estrelas e relâmpagos que me impulsionavam, ao mesmo tempo em que ventos me faziam voar, acelerando o meu curso. Eles elevaram-me bem alto nos céus e prossegui até chegar a um muro construído com pedras de cristal. Uma chama pulsante me envolveu e pude ver este momento claramente na minha cabeça.
Samyaza então ergue do chão uma lança feita de madeira com sua ponteira de pedra polida e prostra-se perante Miguel.
— Pude ver o momento em que faço se esvair a vida do teu verdadeiro men... — uma flecha atravessa o pescoço dele de fora a fora.
Ele cai de joelhos ao chão e leva as mãos ao pescoço. Outra flecha então é disparada e um zunido é ouvido ecoar por todo o shopping e Samyaza tem sua cabeça perfurada. Seu corpo tomba ao chão com uma poça de sangue que vai se formando ao redor de sua cabeça. Asmodeu corre até ele e o agarra nos braços. Os outros saem correndo em direção para onde a flecha apontava. Mais um zunido é ouvido cortar o ar e Yekun é atingido no peito, mas este arranca a flecha e continua a correr. Como se tomado por uma força oculta. Mas como uma última alternativa, é possível ouvir o sibilar das cordas de um arco e Yekun é jogado para trás. Os outros dois param e correm até Yekun, mas este jaz morto com uma flecha muito bem enterrada entre seus olhos.
— Vamos matar esse desgraçado! — fala um raivoso Astaroth.
— Só pode ser aquele maldito cão chamado Gadrel.  — acusa Baallberith. — Amaldiçoado seja ele e toda sua progênie. Sua demora não era normal.
— Vamos! — fala Astaroth saindo correndo.
Baallberith o segue.
Nesse meio tempo, Anane corre dando a volta por outro corredor que leva a entrada do shopping. Raguel procura no chão o que Anane deixou cair e encontra uma chave e uma faca. Ao pegar esses dois objetos ela então se movimenta bem devagar indo em direção a porta da grade. Ela segura o cadeado e ao colocar a chave esta se encaixa perfeitamente. Ela gira a chave e o cadeado abre. Então ela segue se esgueirando pelo chão em direção a Asmodeu.
— Preciso chegar lá sem ser vista. — pensa ela. E segue em direção ao seu alvo.
Ao se aproximar de seu alvo ela ergue-se do chão e saltando sobre Asmodeu com a faca em sua mão esquerda, a luz da lua é refletida na lâmina da faca fazendo com que um brilho metálico percorra o ar. Ela então enterra a lâmina da faca na jugular de seu inimigo. Asmodeu sente a lâmina da faca entrar ferozmente em seu pescoço e o sangue morno escorrer por sobre seu corpo. Raguel então gira a faca e Asmodeu solta um grito que se espalha pelo interior do shopping.
Ela puxa a faca do pescoço de Asmodeu e o chuta fazendo o corpo dele bater ao chão.
— Você e sua seita de malucos acabou! — fala pisando sobre a cabeça dele. — Você nunca mais vai se levantar deste chão imundo! — então pisa sobre a cabeça de Asmodeu com toda a sua força e ouve o barulho dos ossos do crânio racharem. — Essa loucura acabou.
Asmodeu fica inerte deitado no chão. E nisso Anane surge das sombras e corre em direção a Raguel. Ela já não utiliza mais o manto branco
— Precisamos tirar Miguel dessa cruz e sair daqui rapidamente. Antes de me disfarçar abri os portões e há muitos zumbis pelo estacionamento. E agora abri uma das portas que dão acesso ao interior do shopping e os atraí para cá. Em breve este lugar estará tomado pelos mortos-vivos.
— Certo. — fala Raguel cortando a corda que prende os tornozelos de Miguel. — Me dê uma ajuda aqui.
Anane ergue Raguel pela cintura e ela corta uma das cordas que prendem os pulsos de Miguel e este se segura na cruz para que ela possa cortar a outra. Raguel então corta a outra corda e Miguel salta para o chão. Como seu corpo está muito ferido ele cambaleia e Raguel o segura.
— Vou tirar você daqui. Vamos...
— Não. — responde Miguel. — Ainda preciso acertar as contas com Astaroth. Me solte.
— Deixe de ser criança, precisamos sair daqui.
Barulhos são ouvidos e Anane diz:
— Os zumbis já estão aqui dentro. Não há tempo para nada. Deixe de quere ser o que você não é Miguel e vamos sair daqui.
— Você pode cuidar deles utilizando seu arco e flechas. — fala Miguel. — E falando nisso, onde aprendeu a usar?
— Isso não vem ao caso agora. É uma longa história que te conto depois.
E então Astaroth e Baallberith chegam correndo. Baallberith vê seus mestres caídos ao chão e diz:
— Desgraçados!!!
— Me deixe, Raguel! — fala Miguel. — Eu preciso!
— Chega! Pára de ser criança!
Anane ergue o arco, mira contra Baallberith e diz:
— Se der um passo eu disparo.
— Você só tem uma flecha e nós somos dois. Você atira em um de nós e o outro te mata. A escolha é sua.
— Eu morro, mas levo os dois comigo.
— Você quem sabe. Mas como eu disse antes, a escolha de viver ou morrer é sua.
Os zumbis começam a invadir o shopping aos montes. Já é possível ouvir o grunhido deles cada vez mais perto. O eco de seus passos arrastados torna-se cada vez mais vivo no ouvido das únicas pessoas que ainda respiram no local.
Anane olha para Raguel e diz:
— Saiam daqui. Eu seguro os dois.
— Não podemos deixar você sozinha. — fala Raguel.
— Ficaremos juntos. — completa Miguel.
— Não, eu sei me virar. Podem acreditar. Quero retribuir o que fizeram por mim. Em minutos este lugar vai estar abarrotado de zumbis e ninguém conseguirá sair daqui. Vão por favor. Saiam pelo setor de cargas, lá tá limpo. Estarei logo atrás de vocês.
— Tá bom, Anane. — fala Miguel. — Nos encontramos lá. Boa sorte.
Raguel sai levando Miguel a passos rápidos em direção ao local que entraram e então Baallberith olha para os dois e pensa: — Ninguém vai sair daqui! — ele sai em disparada em direção a Raguel e Miguel.
Anane o segue com o arco apontado para ele e então dispara sua flecha. A flecha perfura seu flanco esquerdo fazendo Baallberith se desequilibrar e voar por uma vitrine a destruindo. Os pedaços do vidro perfuram seu rosto e seu pescoço. E enquanto Anane fazia isso ela nem percebeu que Astaroth corria em sua direção.

Quando Astaroth está se aproximando dela ele saca duas adagas da cintura e então as crava no ventre de Anane que solta um grito ensurdecedor. Fazendo com que Miguel e Raguel parem e se virem para trás. Astaroth então sorri e abre o ventre de Anane indo até o fim do diafragma. Os órgãos internos de Anane saltam para fora, — Cure o mundo, faça dele lugar um melhor, Deus. — sussurra ela.
— Nããããããããããooooooooooo!!!!!!!!! — grita Miguel.
Anane vendo sua vida se esvaindo diante de seus olhos, junta toda a força que ainda possui e puxa uma flecha da sua cintura e a crava no coração de Astaroth. Este larga as adagas e leva a mão ao coração. Anane então cai de joelhos ao chão e grita: — Vão embora!!!
Logo em seguida Astaroth tomba sobre ela. Raguel olha para Miguel com seus olhos emaranhados e diz:
— Não há nada que possamos fazer. Rezaremos por ela depois.
Miguel nada diz. Apenas fica em silêncio. Um silêncio fúnebre.
Anane ainda ergue sua mão e com a voz bem fraca diz: — O sonho no qual fomos concebidos nos revelará um rosto alegre e o mundo o qual nós sonhamos brilhará novamente em graça... — sua mão despenca ao chão.
Os dois chegam até a porta e Raguel a abre, eles seguem pelo escuro corredor e chegam até a área onde ele havia estacionado o carro. Não há nenhum zumbi por ali. Então Raguel abre a porta do carona e se depara com o filhote dentro do carro. Este late para os dois. Então Miguel senta no banco do carona e Raguel dá a volta e entra no carro. Ela liga o carro e sai queimando pneu rumo a Guilherme Schell.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Comunicado

Hoje relendo tudo que escrevi, vejo que acabo trocando alguns nomes e deixo algumas coisas sem explicação. Como os leitores Adelheid K. e Daniel Zye comentaram: "só queria saber como ele conseguiu espadas e armas de fogo u.u"; "boa, buscar alimentos, mas da onde ele tirou a arma e a munição?", até respondi que seria explicado no capítulo 02. O que acabou por não acontecer e passou batido a explicação da arma de fogo. 

Mas então, no capítulo 11 esse detalhe vai ser explicado, talvez tenha sido melhor até. Uma coisa também é que esta não é a versão definitiva, quando terminar de escrever tudo, vou reler e amarrar todas pontas soltas. Então até gostaria que quando encontrassem algo que não faça muito sentido, reportem nos comentários, isso ajudará bastante (Erros de português também. Quem ajudar poderá até a vir se tornar um personagem da história).

O Prólogo também foi reescrito, adicionei algumas coisas que faltavam. Em breve estará disponível para leitura. Mas aviso quando colocá-lo no ar. Até porque, acho que ainda vou inserir algumas coisas que estão na minha cabeça.

Uma outra coisa agora, algo que gostei muito de escrever. O passado do Miguel, estou pensando em fazer o mesmo com um personagem novo que irá entrar. Mas isso lá pelo capítulo 14, 15. 

Há uma má notícia também, mas isso poderá ser conferido no 10º capítulo. Heheheh... sai amanhã pela tarde.

Então, deixem seus comentários em cada capítulo, o que gostam, o que pode melhorar. Esse tipo de coisa sempre ajuda. E estarei sempre respondendo os comentários, dúvidas ou qualquer outro tipo de pergunta.

E lembrando que "Billie Jean is not my lover. She's just a girl who claims that I am the one. But the kid is not my son..."

Abração.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Um Mundo em Caos - 09


A noite cai sobre Canoas e a lua toma conta do céu banhando o interior do shopping com sua luz. Que apesar de pouca, consegue iluminar o local onde se encontram as jaulas que prenderam Miguel e Raguel.
Miguel então salta dentro da jaula e acorda falando sozinho, falando de seus amigos, sobre ter revivido um dia de sua vida através de um sonho. Raguel o vê acordar falando frases que para ela não fazem sentido e então pergunta:
­— Está tudo bem?
— Raguel? Acho que sim. — responde. — Mas meu corpo dói. — então ela passa a mão sobre seu olho ferido, — Ai. Espero ainda enxergar desse olho um dia. — então olhando para Raguel pergunta: — Eles machucaram você?
— Não. Eu estou bem.
— E a Anane? Cadê ela? — pergunta se arrastando para mais perto das grades onde fica bem próximo a Raguel.
— Ela conseguiu se esconder. — responde.
— Onde? — pergunta curioso.
— Ela se escondeu entre as madeiras dos boxes, você pode olhar que não vê ninguém. É preciso entrar debaixo e olhar para cima para ver ela. Ela ficou lá junto com o filhote.
— Esperta. Foi idéia dela?
— Minha. Pensei que se pegassem você, viriam atrás de nós e alguém teria que ficar para nos tirar dessa enrascada. Depois que você saiu, eu pude ver o vulto de outros dois saindo de uma loja bem em frente e então tive essa idéia.
— Só espero que isso dê certo e ela ao menos tente nos tirar daqui. E afinal, o que são essa gente?
— Não faço a menor idéia. Nunca vi nada igual. Parecem monges.
— Mas monges não saem por aí espancando as pessoas. — então Miguel olha para a testa de Raguel e consegue ver um corte bem próximo a região capilar, — Ei, sua testa está machucada.
— Isso? — responde passando a mão. — Quando um deles quebrou o vidro com uma marreta ela me atingiu e então não me lembro de mais nada. Deve ter sido nessa hora.
— Malditos! O que querem com a gente? E porque nos prenderam que nem animais?
Nisso, eles vêem um deles se aproximando. Ele é baixo e está usando um manto branco e capuz escondendo seu rosto. Ele se aproxima e diz em voz baixa:
— Vocês estão bem?
— Hummm?! Essa voz. — pensa Miguel. — Porque quer saber! Nos aprisionam e vem perguntar se estamos bem?
— Se liga caipira! Sou eu! Já foi difícil encontrar alguém da minha estatura e você ainda dificulta as coisas.
— Como? — indaga Miguel.
— Não tenho tempo para explicações. Apenas me ouçam. Eu vou tentar encontrar a chave. Então não façam nada e muito menos tentem medidas desesperadas. Preciso ser rápida antes que encontrem o corpo do cara que usava essa roupa.
— Claro. — responde Raguel. — Vou segurar o ímpeto do Miguel. — Apenas nos tire daqui, Ane.
Anane se levanta e de repente Astaroth aparece caminhando a passos rápidos. Ela olha para ele e seu corpo congela. Nesse momento ela pensa que tudo que falou para eles foi perdido. Se sente derrotada. Ela então baixa a cabeça e Astaroth diz:
— A encontrou, Gadrel?
                Anane apenas movimenta a cabeça fazendo sinal de negativo. Astaroth se aproxima dela e completa: — Se a achar quero que a traga para mim, entendeu?  Não a leve para Asmodeu. E isso é uma ordem. — Anane sacode a cabeça fazendo sinal de positivo. — Você está um tanto estranho, Gadrel. Já lhe falei que fazer penitências para espiar seus pecados iriam lhe deixar louco. Agora vá.
Anane sai caminhando a passos rápidos e desaparece em uma das esquinas. Astaroth então se aproxima da jaula de Miguel e sorrindo diz:
— Pobre homenzinho de barro, filho de Adão, vocês se acham superiores a nós só porque são os preferidos Dele. Mas eu digo que o reinado de vocês sobre a Terra acabou. Chegou a nossa vez de caminhar sobre ela e nos revelar ao mundo. — ele dá um soco em cima da jaula e continua, — Cansamos de viver nas sombras. Agindo por trás das cortinas. Em poucas horas o seu fim e o dela chegarão. E aquela sua amiguinha, vai aprender a não se esconder de nós. A tudo enxergamos. Ninguém escapa de nossos onipotentes olhos.
— Veremos. — sussurra Miguel.
— Pobrezinho. Já está delirando. — fala Astaroth saindo caminhando.
Quando ele desaparece nas sombras, Raguel olha para Miguel e reprovando sua atitude diz:
— Você ficou louco! Quer colocar tudo por água abaixo!
— Não enche! — fala Miguel visivelmente irritado.
— Eu ainda não tinha visto esse seu lado, e não estou gostando nenhum pouco.
— Como você quer que eu seja? Hummm? Eu estou preso numa jaula! Quer que eu dê cambalhotas e fique sorrindo o tempo todo? Estou me sentindo um animal. Meu corpo dói, devo estar com minhas costelas quebradas devido à dor que estou sentindo e ainda preciso agüentar você reclamando? Não, me poupe de seus discursos.
— Miguel... — sussurra Raguel com seus olhos enchendo de lágrimas.
— Eu devia ter ficado na minha casa, lá eu estava seguro! Se não tivesse encontrado você eu estaria muito bem!
— Não diga isso. — fala Raguel chorando. — Você foi à melhor pessoa que eu já conheci, porque está agindo assim?
— Não vou repetir, tá?  — fala ele gesticulando. —Você não vai conseguir.
Raguel se encolhe num canto longe de Miguel e fica chorando. Então ele olha para ela e com o semblante entristecido pensa: — É melhor assim, se a Anane nos soltar quero você bem longe de mim. O que vou fazer não quero que você veja. Seus olhos são puros de mais para me ver perdendo o controle, pois sei que vou adorar. Vou morrer também, mas vou levar ele comigo. — Então Miguel se encosta nas grades e baixa sua cabeça e volta no tempo. Lembrando o que aconteceu no dia posterior ao sonho que teve e acaba por adormecer.
... Os pais de Miguel chegam de viagem e o encontram sentado no sofá assistindo o vídeo da partida da final nacional. O pai de Miguel é um homem alto, grisalho e de 50 anos de idade. E sua mãe não é muito alta, possui longos cabelos castanhos escuros e tem 40 anos.
— E aí filhão, como foi o jogo? — pergunta o pai dele.
— Campeões nacionais!!!
O pai dele o agarra pelo pescoço e diz:
— Eu não te falei!!! Apesar de eu torcer pelo outro time sabia que vocês seriam os campeões! Meus parabéns, moleque!!!
— Valeu!!!
A mãe dele dá um beijo em seu rosto e diz:
— Você jogou muito bem meu filho! Eu pude ver o jogo, pena que seu estava numa reunião e perdeu o espetáculo que você proporcionou aos torcedores. Você é um anjo de chuteiras.
— Obrigado mãe, nem sei o que dizer.
Então o pai dele interrompe dizendo:
— Mas não esqueça que agora você tem a universidade para se dedicar também. Faça meu investimento valer à pena, hein?
— Pode deixar! Depois de vencer esse campeonato a facul é fichinha.
— Não vai pensando que é fácil assim, não. E mais uma coisa, duvido que não houvesse ninguém lá te observando de algum outro time ou mesmo do exterior. Dizem as más línguas que o England Patriots está precisando de um bom Running Back, e eu sei que você faz milagres no gramado.
— Ah pára, pai, não viaja, bem capaz que eles iriam me querer. Sou brasileiro, não tenho futuro lá. E por enquanto vou me dedicar ao meu time e se aparecer algo o senhor pensa a respeito. Afinal, é isso que os empresários fazem.
— Vou pensar, sim.
— Bom pai, to indo pro quarto, qualquer coisa dá um grito. — Miguel sobe as escadarias e vai para o seu quarto que fica no segundo andar.
Então a mãe dele diz:
— Que maldade, Tomas, porque não contou para o menino?
— Não, Asonia, espere mais um pouco, ainda preciso rever umas clausulas. Quero total segurança para o nosso filho.
Então um dia se passa e Miguel está caminhando pelas ruas de Porto Alegre, para ser mais exato, nas mediações da estação Rodoviária, segurando um buquê de rosas. Possivelmente indo em direção ao centro da cidade. Pois sua cidade é Esteio, ficando um pouco mais ao norte. Mas mesmo caminhando uma distância considerável, ele está sorrindo, sorrindo como se estivesse indo ao encontro da mais bela das mulheres. E a cada rua e esquina que ele passa, seu sorriso aumenta cada vez mais, parecendo um misto de alegria e euforia.
— Tomara que ela goste das rosas... — pensa ele um pouco apreensivo, mas ao mesmo tempo inundado de alegria. — Foram as mais lindas que eu achei. Nem sei como a mãe conseguiu fazer um buquê tão lindo com o que tínhamos em casa. Tudo parece um sonho. E a Jennifer um sonho maior ainda! A mãe estava certa, ela é a garota dos meus sonhos!
Enquanto ele caminha pelas ruas, duas viaturas da polícia passam por ele em alta velocidade em direção ao centro. E ultimamente, isso é algo comum nesta grande cidade.
— Porque eu não peguei um ônibus? — pensa. — Chegar ao centro da cidade é tão demorado. Bem que o pai avisou que eu iria me atrasar. Até falou que eu poderia usar a Mercedes, mas ainda acho que chego antes da Jenny, só preciso apertar o passo e economizo uns trocados pro sorvete.
Alguns minutos depois, ele chega ao ponto de encontro e sua garota está lá.
— Você demorou. — comenta Jennifer. — Achei que não gostasse mais de mim?
— Jamais! Você é o brilho dos meus olhos!
— Então quer dizer que a nossa ida ao maior shopping da nossa cidade ainda está de pé, né, Miguel?
— Com certeza! Mas antes eu preciso ir ao banco pegar um dinheiro.
— Achei que você tivesse trazido.
— Essa cidade é muito perigosa pra andar com dinheiro por aí. Mas posso te pagar um sorvete no caminho. O que acha?
— Eu vou adorar!
— Mas antes, tenho uma coisa pra lhe dar.
— O quê?
— Isso. — fala Miguel entregando o buquê de rosas. — Gostou?
— Amei!!! — fala Jennifer segurando o buquê. — São lindas!!!
­— Mereço um beijo, não?
­— Merece. — fala Jennifer o beijando.
Os dois saem caminhando e cruzam por pessoas de todas as classes e estilos. Por prédios de diferentes arquiteturas e tamanhos. É uma cidade convidativa ao passeio, pois sua forma, seu povo, sua alegria com todo o tipo de apresentações de rua a torna única.
— Olha Miguel! — fala Jennifer apontando para um pequeno carro parado no acostamento de uma rua. — O carrinho do sorvete!
— Vamos lá!
Os dois caminham até o carrinho do sorvete e ele compra dois cascões de morango e chocolate, um para ele e outro para ela.
— Você conhece bem os meus gostos, hein? Sabe que gosto de morango.
— É que eu fiz a lição de casa. Heheheh... ­— riem os dois.
Então eles saem em direção ao banco da cidade que não fica muito longe de onde os dois estão. E pelo caminho, Miguel é cumprimentado por muitas pessoas que estiveram no jogo, palavras de apoio, abraços e até um beijo no rosto ele recebeu. Coisas simples, mas que o deixaram ainda mais feliz.
— Estou tão feliz de estar aqui com você! — fala Jennifer sorrindo para Miguel. — Nem parece que finalmente estamos juntos. Cada vez que saímos juntos parece à primeira vez. É sempre o que eu sinto.
Miguel sorri e diz:
— Eu me sinto igual! É como um sonho!
— Então me dá um beijinho para comemorar. — fala Jennifer fechando os olhos.
Miguel a beija e nisso alguém dá um tapa em suas costas, Miguel vira-se e é Gabriel, um de seus grandes amigos.
— E aí, cabeçudo, curtindo as férias? Oi Jenny.
— Oi. — cumprimenta Jennifer.
— Tem que ser, curtindo as férias com essa pessoa linda ao meu lado.
— Finalmente. — fala Gabriel. — Pensei muitas vezes quando você ia deixar de ser cego e perceber ela do seu lado.
— Deixei de ser cego depois do jogo. Ei, — fala Miguel olhando para uma banca de revistas, — Será que já saiu à nova edição da Dragon Slayer?
— Não sei, cara, vamos lá olhar.
— Vocês meninos e suas brincadeiras.
Os três atravessam a rua e procurando pela revista, Jennifer acaba por pegar o jornal e chama os dois: — Vejam isso aqui.
— O quê? — pergunta Miguel. — Caramba. Vi ontem à noite pela televisão os comentários, mas não achei que tivesse sido assim.
— Tenso, cara. — comenta Gabriel. — Mas olha a outra notícia, agora estamos sendo atacados por grupos canibais também. Onde isso tudo vai chegar?




          
         — O mundo fica cada dia mais louco. — fala Jennifer.
— Pois é. — fala Gabriel. — Bom, galerinha, tenho que ir nessa. Fiquei de encontrar a Lúcia, ela pediu umas dicas de musculação e eu vou acompanhar ela na academia.
— A gente se fala outra hora então. Ou então liga para o Rafael e marca um jogo de RPG, e aí me dêem um toque que eu apareço.
— Falou. Tchau pro cês.
Gabriel vai embora e Miguel e Jennifer passeiam pela cidade até chegar ao banco e nisso, dois homens usando roupas de cor preta passam pelos dois e impedem a entrada das pessoas no banco.
— Ei, qual é? — reclama Miguel.
Mais três homens chegam e junto com eles alguns policiais que entram no banco com armas em punho.
— O que está rolando aí? — pergunta Miguel.
— Alguns clientes que enlouqueceram e estão atacando as pessoas lá dentro. Por isso ninguém pode entrar.
                E então tiros são dados dentro do banco e alguns minutos depois um policial sai e pede que não deixem ninguém entrar. E do meio da multidão que se formou em frente ao banco um homem louco salta em cima de Jennifer.
— Cuidado Jenny!!! — grita Miguel a abraçando e acertando uma cotovelada na cara do homem que cai no chão grunhindo.
Um policial se aproxima e o homem o agarra pelo pé e outro policial atira duas vezes em sua cabeça.
— Não!!!! ­— grita Jennifer desesperada largando o buquê de rosas que cai ao chão.
Miguel está abraçado nela de costas para o lado de onde vem os tiros e nas suas costas respingam sangue da cabeça do homem.  Então o policial chuta o homem e diz:
— É assim que se acaba com eles.
No chão, espalhado entre as rosas estão pedaços do cérebro do homem junto ao seu sangue. Alguns minutos se passam e o som da sirene das ambulâncias misturado com o som das viaturas da policia já podem ser ouvidos e Miguel diz:
— Vamos embora daqui.
Miguel olha nos olhos de Jennifer e então toda a demonstração de força que ela tentava expor vem abaixo e lágrimas caem de seus tristes e amargos olhos. Que antes eram mais brilhantes que o raiar do sol e que agora se tornaram mais escuros que uma noite de tempestade. Jennifer está aparentemente em choque. Então uma senhora se aproxima dos dois e olhando para Miguel diz:
— Me acompanhem, essa mocinha precisa se recuperar do que passou.
Jennifer é levada para o hospital Moinhos de Vento onde ela é tratada por uma médica muito bondosa. E durante todo o tempo que permanece no hospital sendo tratada e também no trajeto, em nenhum momento ela solta a mão de Miguel.
Eles ficam mais um tempo no hospital e o pai de Jennifer vai buscá-la. Mas como ela não quer sair de perto de seu namorado, o pai dela não vê outra alternativa senão aceitar o que sua filha deseja e leva os dois para a casa de Miguel. Chegando lá ele conversa com os pais de Miguel e diz que no caso de precisarem de qualquer coisa é só ligarem para seu celular. Eles se despedem e Miguel leva Jennifer para seu quarto. Ela pergunta se ele tem velas e ele responde que sim, então ela pede e ele entrega o pacote para ela. Jennifer então acende duas velas e se ajoelha rezando para seu anjo protetor. Após um banho rápido, os dois se deitam e ela adormece abraçada em seu amado. O cansaço tomou conta dos dois de uma maneira que eles simplesmente não acordaram uma única vez durante a noite. E assim não puderam acompanhar a tragédia que aconteceu enquanto à noite imperava sobre a cidade.
O dia amanhece e Miguel acorda com seu televisor ligado no Bom Dia Rio Grande.
— Que horas são?
— Sete horas. — responde Jennifer.
— É muito cedo, volta a dormir. — fala ele tapando a cabeça.
— Olha o que está dando no noticiário, Miguel.
— Mal meus olhos ficam abertos.
E no noticiário:
...durante a madrugada, o Hospital Moinhos de Vento  teve seu terceiro andar completamente destruído pelas chamas que tiveram início as duas horas. — fala a apresentadora do telejornal com uma expressão de tristeza. — E parece não haver sobreviventes...
— Que loucura. — fala Miguel. — Não é o andar para onde levaram as pessoas que foram atacadas dentro do banco?
— Sim. — responde Jennifer.
— Sinistro.
E o noticiário continua:
...as buscas tiveram início logo que o fogo foi controlado pelos bombeiros as três e meia. Mas apenas corpos carbonizados foram encontrados. As esperanças de encontrar algum paciente vivo são remotas e...
— Amor, vamos dormir. — fala Miguel abraçando Jennifer. — Já passamos por muita coisa ontem. Sei que você fica triste com essas coisas, eu também fico, mas é melhor você descansar. A gente assiste depois no Jornal do Almoço.
— Tá bom. — fala Jennifer desligando o televisor. — Te amo, sabia?
— Também te amo. Me abraça forte...
Nisso, Miguel é acordado de seu sonho a chutes por Astaroth. Este então agarra Miguel pelas pernas e o puxa para fora da jaula. Raguel acorda e grita para que ele solte Miguel. O homem sorri e diz:
— Calma, a próxima é você.