Licença Creative Commons
Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://ummundoemcaos.blogspot.com.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um Mundo em Caos - 24


“Naqueles dias, a terra e o inferno libertarão de seu ventre os que haviam recebido; e a destruição restituirá o que lhe é devido.”

Em um local desconhecido, sobre o alto de um prédio, dois homens usando mantos brancos e capuzes conversam...
― A batalha começou. A luta entre os dois reinos já teve início. ― uma voz rouca ecoa pelo ar.
― E eles vieram com tudo para cima de nós, não pouparam nem as crianças. Não pensei que começariam enviando um dos quatro cavaleiros. Os habitantes da Terra não estavam preparados para eles.
―Nem nós estávamos. Mandar logo a Morte foi um golpe de mestre. Todos os humanos acham que esses mortos que caminham por aí são resultado de uma epidemia. Ledo engano, eles mal imaginam que isso está muito acima da imaginação deles. Céu e Inferno numa batalha que já perdura por milênios.
― Eles sempre possuíram um intelecto muito inferior ao nosso. Podem ter sido criados a imagem do Todo-Poderoso, mas possuem um cérebro do tamanho de uma ervilha.
― Você sempre os critica quando pode. ― e um leve sorriso pode ser sentido. ― Mas eu até os admiro, eles possuem uma força de vontade, uma garra e alguns nunca desistem daquilo que querem.  
― Nós pelo contrário estalamos os dedos e temos aquilo que queremos.
― Não seja tão rigoroso, Rakael, nós somos de outra dimensão. Aqui temos poderes inacreditáveis, mas lá, somos pouca coisa diferente deles.
― Você é que é muito bonzinho, Balthazar, aliás, vocês ingleses são muito estranhos. Tem sempre hora para tudo. Chega a ser chato conviver com você.
Balthazar passa os olhos sobre a cidade e avista uma pequena movimentação.
― Ela está indo ao encontro dele. ―comenta. ― Péssima hora para isso.
― Do que você está falando? ― pergunta Rakael olhando para o rosto de Balthazar.
― Veja com os seus próprios olhos, e tenha a resposta para a sua pergunta.
―Criança tola! ― resmunga olhando em direção ao sul. ― Como um cordeirinho ela caminha em direção ao covil dos lobos. E nada podemos fazer para impedir aquela tola. Malditas regras!
― Acalme-se, tenho certeza que nada irá acontecer a ela.
― Eu odeio essa sua serenidade! ― reclama. ― Você me dá nos nervos!
― Relaxa meu amigo, na hora certa ele sempre aparece.
Nisso, um clarão surge atrás deles e uma figura feminina de traços finos e cabelos negros, usando um vestido escuro surge em meio à luz.
Também havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal; e ao redor do trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. ― fala a mulher.
Balthazar sem se virar em direção a ela diz:
― Imaginei que você também viria, Leviathan, mas estou sentindo falta do seu fiel escudeiro. Ele se perdeu pelo caminho?
― Não tente ser engraçado porque isso não combina com você. ― responde ela. ― Eu vim apenas observar o andar da carruagem e ver como está o meu lado.  
― E porque veio fazer isso onde estamos? ― pergunta Rakael.
A mulher caminha até eles e responde:
― Qual a graça de ver o meu lado subjugar o seu sem poder ver os seus rostos e as suas expressões. Por isto estou aqui.
― Mas você não é bem vinda aqui. ― retruca Balthazar.
― Eu sei, mas isso é que deixa as coisas divertidas. Eu adoro as regras criadas pelos dois grandes. Tanto vocês quanto nós somos intocáveis.
— Cale a boca sua vadia do demônio! — fala Rakael com o tom de voz mais áspero.
— Sempre sem educação. — comenta a mulher. — Não sei como os seus amiguinhos lhe agüentam.
— Se veio apenas nos aborrecer, já pode ir embora. — fala Balthazar.
A mulher dá um passo para frente e diz:
— Ainda não, estou esperando meu guarda-costas que vai chegar agora...
Então, uma distorção ocorre no céu e um ser gigantesco cai sobre o prédio. Ao se virarem, se deparam com um homem gigante, usando uma armadura de placas tão negras e impenetráveis quanto à escuridão. Seu rosto é protegido por um elmo negro que deixa apenas seus olhos vermelhos aparecerem. E as poucas partes de seus braços que aparecem, são cobertas por uma fuligem negra. E este homem, encara seus dois inimigos de frente, os olhando diretamente nos olhos.
— Que as pragas tomem conta da Terra... — uma voz obscura sussurra de dentro do elmo enquanto abre seus braços.
— Malditos Antigos! — esbraveja Rakael.
— Vamos embora, — fala Balthazar — não há mais nada para fazermos aqui.
Rakael encara a mulher nos olhos e diz:
— No momento certo irei torcer sua cabeça e arrancá-la de seu corpo!
— Mas até lá, — retruca a mulher — guarde seus pensamentos para você.
Balthazar estala os dedos e uma luz cegante toma o topo do prédio. Após alguns segundos a luz desaparece da mesma forma que surgiu e Balthazar e Rakael não estão mais lá.
— Fugiram com as asinhas entre as pernas. — comenta a mulher. — Você tem o dom de causar isso nos outros, grandão.
Ele nada responde.
Longe dali, Jennifer entra em um grande salão oval, com um tapete vermelho que se estende da porta de entrada até um grande trono feito em carvalho. Neste trono, o Padre Antonini já a aguarda.
— A que devo a alegria da sua visita? — pergunta ele, com um largo sorriso nos lábios.
— Vim conversar um pouco com o Senhor. — responde, se ajoelhando na frente dele.
— Não precisa se ajoelhar minha pequena. Mas enfim, é algum assunto em particular?
Jennifer se ergue e responde:
— O Senhor me ajudou desde que cheguei aqui, mas nos últimos dias estou com dúvidas sobre o real propósito da minha existência aqui.
— Minha filha, — fala o padre se levantando do trono — como eu lhe disse antes, você foi enviada dos céus para me ajudar a purificar a Terra. Quando eu era pequeno eu sonhava com você e esperei anos pelo dia em que nos encontraríamos pela primeira vez.
— Ahn... Nesta última cruzada que você me enviou... um homem me disse coisas a seu respeito, entre outras coisas que me mexeram com a minha fé. E em conversas com meus companheiros passei a ver algumas coisas com outros olhos.
— O demônio se utiliza de várias maneiras para enganar aqueles que são puros. Mas eu achava que a sua fé em mim era inabalável. — e se aproxima dela lentamente. — Talvez você deva se afastar de seus antigos amigos e vir morar aqui.
— Eu... me desculpe, mas... ele disse que você era um monstro, demônio, sei lá.
— Oras, eu, um demônio? — parece incrédulo com o que ouviu. — E você deixou essa mentira abalar a sua fé? Se eu fosse um demônio e se isso realmente existisse, acha mesmo que eu me vestiria como um sacerdote e usaria adereços religiosos? Olhe este lugar e me responda, ele se parece com a casa de um demônio? — questiona.
— Eu não quis dizer isso, eu só...
— Uma blasfêmia! Foi isso que você acabou de cometer! Você me acusa de ser um monstro, eu, uma pessoa sagrada!
Jennifer baixa a cabeça e com um tom de arrependimento na voz, diz:
— Me desculpe, eu não queria ofendê-lo.
— A questão não é essa! O fato é que você deixou um absurdo desses abalar a sua fé! Com tudo que estamos passando, as dificuldades em sobreviver de forma digna e você dando ouvidos para aberrações! — e vira-se de costas para Jennifer. — Eu vou pedir que você se retire e pense muito bem nessas barbaridades que me falou.
— Eu mais uma vez peço desculpas pela minha conduta errada. Em deixar que falsas palavras tocassem o meu coração. Eu prometo que não deixarei mais que falem do senhor e muito menos profiram palavras mentirosas ao seu respeito.
— Assim é bem melhor, minha filha. — e vira-se para ela sorrindo. — E pense sobre o que eu lhe falei de vir morar aqui.
— Pensarei sim. — responde.
E nisso, um estouro é ouvido na porta e ela se abre e um homem usando farrapos de roupas que lembram uma batina, empapadas em sangue, adentra o salão e grita:
— Não acredite no que esse monstro fala!
Jennifer olha para trás e se assusta com a figura que vê. Cheio de hematomas e cortes no rosto, o homem que entrou se encontra completamente deformado.
— Esse monstro é um mentiroso! — continua o homem. — Ele nos enganou a todos! Matou meus irmãos e me fez cometer um assassinato para fugir de sua prisão! Ele é um demônio em forma humana!
— Porque profere essas palavras absurdas contra mim? — pergunta o padre. — Eu sou um representante de De... do céu na Terra.
— Vamos, fale o nome de Deus! — desafia o homem. — Quero ver se você consegue! Mostre que você é quem realmente diz ser!
— Chega disso. — murmura o padre. — Já estou cansado de ser quem eu não sou. — e olha para cima. — Abramalech, faça seu trabalho.
Um urro rasga o salão como se fosse um trovão e um homem gigantesco, com fuligens por todo o corpo cai agachado no chão. Seus olhos são negros como a mais escura das noites e seu dorso possui horrendas cicatrizes. E a parte de baixo de seu corpo é coberta por panos sujos com uma espécie de óleo negro, como petróleo.
O homem olha para Abramalech e irado esbraveja:
— Como um seguidor de Lúcifer como você tem a coragem de pisar num solo sagrado como esse?
— Desde que o padre chegou — responde apontando para Antonini —, esse lugar nos pertence. Suas preces não mais são ouvidas, pois não chegam até os céus. Seu Deus não mais olha por você!
— Mentira! Meu Deus está sempre olhando por nós! Ele me manteve vivo até agora para que eu pudesse contar aos que restaram que o nosso mundo está sendo invadido por vocês!
Antonini caminha até próximo de Jennifer, que se encontra paralisada e sussurra:
— Infelizmente agora você sabe a verdade. — e a agarra pelo pescoço.
— Solte a menina! — grita o homem.
Antonini irritado, grita:
— Cale esse infeliz de uma vez!
— Vocês jamais calarão a voz de Deus! — esbraveja o homem.
Abramalech em um rápido movimento se posta em frente ao homem e crava suas garras nos ombros do infeliz. O homem grita de dor e então Abramalech começa a forçar seus braços e despedaça o homem ao meio. Tripas e pedaços de ossos voam pelo chão e sangue jorra por tudo, atingindo Jennifer no rosto e em parte de seu corpo.
Abramalech joga os pedaços do homem longe e vira-se para onde se encontram Antonini e Jennifer.
— Agora é a vez dela e vai ser bem demorado e divertido.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um Mundo em Caos de Volta em Breve

Apocalipse 6:4: “E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada”.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Comunicado Importante

Em breve o retorno de Um Mundo em Caos.

Já estou trabalhando nos novos capítulos. Demorou, mas vai estar de volta.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Um Mundo em Caos - 23

Alguns dias depois...
— Oi. — cumprimenta Miguel entrando no quarto que está com a porta aberta.
— Oi. — retribui Jennifer. Ela está deitada na cama com o braço direito enfaixado e com alguns curativos em seus ferimentos.
— Tenho notado você muito pensativa esses dias. — comenta Miguel sentando na cama. — Desde que saímos daquele território que você anda muito estranha.
— Não é nada. São os remédios que eu tomo que me deixam assim.
— Podemos ter passado alguns meses longe, mas lhe conheço a muitos anos e sei quando algo a está perturbando.
Jennifer segura a mão de Miguel e um pouco confusa olha nos olhos dele e se questiona:
— E se cometemos um erro?
— A vida é feita de erros e fracassos. Mas se está falando do que fizemos lá, eu infelizmente não tenho essa resposta para lhe dar. Conversamos a respeito e o que você me contou que aquele homem lhe disse pode muito bem ser mentira. Ele poderia estar querendo lhe confundir
— Mas a forma como ele falou, ele realmente acreditava em cada palavra que dizia. E eu não sei o que fazer? Estou muito confusa.
Miguel a abraça, a confortando e diz:
— Eu gostaria de ter todas as respostas para as dúvidas que você tem no momento, mas infelizmente dessa vez eu não posso lhe ajudar. A única pessoa que pode fazer isso é o padre que lhe deu as ordens. E conversando com ele tenho certeza que você irá perceber se ele fala a verdade ou não. Você sempre foi boa nisso, não deixe a gratidão nublar os seus sentidos.
E nisso Raguel entra no quarto e expõe sua opinião:
— Eu ouvi o que vocês estavam conversando. Não foi por querer, eu estava passando e não pude deixar de ouvir. E eu só queria dizer uma coisa. Vá atrás da verdade. E como Miguel falou, não se deixe cegar por sentimentos.
— Você... — sussurra Jennifer. — Tenho explicações para lhe dar, não é?
— Não necessariamente. — sorri Raguel. — Mas gosto da sua atitude de contar as coisas. Você é uma pessoa honesta e não quero lhe ver sendo enganada. Não conheço você tanto quanto o Miguel conhece, mas gosto muito de você.
— Obrigada. — agradece Jennifer. — Você também é muito especial. Lhe admiro bastante e gosto muito de você. O seu olhar tem algo que eu tinha antes disso tudo começar, inocência, e isso eu acho que talvez nunca mais poderei ter. E isso me entristece tanto.
— Não pense assim. Você é forte e superou tantas coisas que não será qualquer tempestade que tirará você do seu destino.
— Você é um amor, Raguel, queria ter lhe conhecido antes disso começar. Ter sido sua amiga naquela época. Você é uma pessoa maravilhosa. Obrigada mesmo.
Raguel fica encabulada com os elogios tecidos a sua pessoa e então Gabriel e Rafael se aproximam da porta e Rafael com tom de brincadeira na voz pergunta:
— Reunião secreta?
— Deixa de ser bobo. — responde Miguel sorrindo. — Se aproximem.
Jennifer senta na cama com as costas apoiadas na cabeceira e convida a todos para sentarem na cama junto com ela e Miguel. Eles sentam e então ela diz:
— Eu devo algumas explicações para vocês, então vou começar bem do principio. O Miguel já ouviu, mas acredito que ele não irá se importar em ouvir de novo.
— Nem um pouco. — comenta.
Jennifer explica toda a sua trajetória desde que saiu de casa até o atual momento. E comenta também sobre a dúvida que sente desde que saíram do território dos africanos. Ela diz que as palavras que saíram da boca daquele homem não pareciam ser mentira, pois possuíam uma verdade incrustada nelas. E que durante toda a conversa que tiveram em nenhum momento ele titubeou ou deixou de falar olhando diretamente nos olhos dela.
— Tudo isso que você nos contou é tão, uau, incrível. — fala Raguel. — No seu lugar talvez eu fizesse a mesma coisa. Se bem que eu fiz, — conclui, — segui o Miguel até aqui. Confesso que lhe acho incrível, só que em certos momentos até duvidei das suas reais intenções. Mas me colocando no seu lugar percebo o quanto somos parecidas. Eu teria feito a mesma coisa sim.
— Eu já havia percebido a semelhança que há entre nós. — comenta Jennifer. — Mas até então não havia comentado com ninguém.
Gabriel então resolve mudar um pouco o rumo da conversa:
— E essa dúvida que você está sentindo é em relação aos atos que você cometeu sob as ordens do padre, né?
— Sim. — responde com uma leve tristeza na voz. — Estou um pouco confusa. O que eu ouvi mexeu bastante com a minha fé nas coisas que fiz. Tudo até então foi feito com uma fé cega no que ele me dizia, mas agora, essa fé está me abandonando aos poucos.
— Mas isso não quer dizer que aquele homem não pudesse estar mentindo. — fala Rafael. — Muitos sabem mentir tão bem que nem desconfiamos. E você também estava atordoada de tanto apanhar dele.
— Eu sei, mas é que, sei lá, preciso tirar essa história a limpo. Nem dormir direito estou conseguindo.
— Isso é verdade. — confirma Miguel pegando na mão dela. — Muitas vezes acordo a noite e ela está sentada na beira da cama ou olhando pela janela do quarto. Mas como eu a conheço, sei que ela quer ficar sozinha com seus pensamentos.
— Obrigada por me respeitar assim. — agradece Jennifer.
Ele apenas sorri.
— E o que você pretende fazer daqui pra frente? — pergunta Gabriel.
— Ir atrás da verdade sem importar quais serão as conseqüências que terei de enfrentar. Só voltarei a ter paz depois que tudo for resolvido. Eu sou assim, vocês me conhecem.
— É assim que se fala. — diz Raguel.
Jennifer sorri para ela e continua:
— Amanhã pela manhã irei conversar com o padre Antonini ou Graffiacane, seja lá qual for o nome dele.
— Graffiacane, você disse?! — pergunta Rafael.
— Sim. — responde Jennifer. — Por quê?
— Eu já ouvi esse nome em algum lugar. Graffiacane, Graffiacane... — repete várias vezes até que: — Na verdade eu não ouvi, mas sim que li a tradução dele. Só não lembro aonde.
— Uma hora você lembra.
— Tem uma biblioteca bem vasta aqui, né? — pergunta.
— Sim, tem vários livros que foram resgatados. Inclusive em outras línguas.
— Ótimo. Amanhã vou dar uma pesquisada.
— Fique a vontade... Ai. — Jennifer solta um leve gemido de dor. — Parece que minha cabeça tá sendo atravessada por facas. Ai. Que dor!
Miguel levanta-se rapidamente e é seguido pelos outros. Jennifer se ajeita na cama e ele trás um remédio e um copo de água. Ela toma o remédio e com um pouco de dificuldade diz:
— M-Me desculpem por isso. Acho que ainda não estou cem por cento.
— Nem se preocupe. — fala Gabriel. — Apenas descanse e se recupere. Depois alguém de nós vem aqui ver como você está. Cuida bem dela, Miguel.
— Pode deixar, irmão.
Eles se retiram e Gabriel fecha a porta ficando apenas Jennifer e Miguel no quarto.
Miguel fica por um tempo sentando a beira da cama e quando Jennifer adormece, ele resolve dar uma caminhada pelo território em que se encontram. Miguel se afasta da área dos prédios e desce em direção ao rio Guaíba. Pelo caminho ele encontra homens e mulheres carregando peixes, capivaras e pombas, — animais mortos, diga-se de passagem. — que são utilizados para alimentar as pessoas que residem nos arredores do território. E um som vindo de longe chama a sua atenção, é um som produzido por uma gaita. Que reproduz o ritmo de uma música muito conhecida no Rio Grande do Sul.
— Fazia tempo que eu não ouvia o som de uma música. — pensa. — E Querência Amada não poderia ser melhor.
Uma moça loira, muito bonita e usando roupas simples se aproxima dele e pergunta:
 — Está perdido? Procurando alguém?
— Não, apenas apreciando a música. — responde.
— Por que não se aproxima? O Neto está fazendo um churrasco à beira do rio junto com uns amigos.
— Mas eu nem conheço ele, ou eles
— Isso não é problema. Eles são pessoas bem simples e acolhedoras. Você vai gostar.
— Vou ir lá, então. Obrigado.
— Não por isso. Tchau. — e segue em direção aos prédios.
Conforme ele vai se aproximando, já consegue ouvir algumas vozes que entoam a música:

...Meu coração é pequeno
Porque Deus me fez assim
O rio grande é bem maior
Mas cabe dentro de mim

Sou da geração mais nova
Poeta bem macho e guapo
Nas minhas veias escorre
O sangue herói de farrapo...

— Incrível. — é a única coisa que ele consegue pensar no momento.
— Se aprochega aí. — fala um dos homens que está em volta da fogueira onde assam o quadril de uma capivara.
Miguel caminha até eles e todos o cumprimentam.
— Estás perdido por aí? — pergunta o homem. Um sujeito alto, de bigode, cabelos loiros e usando bermuda e camiseta.
— Não, apenas caminhando para esticar as pernas. Uma garota falou que eu poderia me juntar a vocês.
— Uma loira?
— Isto.
— É a Taís, minha irmã. E já aproveito para me apresentar. Eu sou o Neto.
— Miguel. Prazer.
Os outros homens que estão ao redor também se apresentam e Neto continua:
— Quer um pedaço de carne?
— Aceito.
Neto corta uma lasca de carne e a perfura com um pequeno espeto de madeira e entrega para Miguel.
— Está bom?
— Ótimo!
— Senta aí e vamos trovar um pouco. De onde você é?
Eles ficam por horas conversando e comendo até que o sol começa a se pôr e Miguel já preocupado em voltar para ver como Jennifer está, diz:
— Preciso ir. Tenho algumas coisas para resolver antes de anoitecer por completo.
— A pressa é sua. Nós vamos entrar noite adentro. É a melhor hora para pescar. Amanhã iremos fazer um grande almoço. Caso queira participar da pescaria, é só aparecer mais tarde.
— Se der eu apareço mesmo. Tchau. — se despede Miguel.
Caminhando de volta para o prédio ele encontra Raguel no caminho.
— Perdido?
— Você é a terceira pessoa que me pergunta isso hoje. E eu respondo: — ironicamente é claro. — Não, não estou perdido. Estou apenas caminhando. Esticando os ossinhos pra falar a verdade.
— Ah bom, mas é que você tá com uma cara de perdido.
—Ótimo! Valeu mesmo.
— Mas mudando de assunto, como está a Jenny.
 — Pra falar a verdade, ela tomou o remédio e um tempo depois adormeceu. Daí aproveitei pra dar umas voltas e fiquei um tempo lá na beira do Guaíba curtindo umas músicas e comendo uma carne assada no espeto.
— Então você conheceu o Neto. Gente fina ele.
— Você conhece?
— Claro, todo mundo aqui conhece ele. Já passamos horas conversando. Ele, o Gabriel, o Rafael e eu.
— Legal. E ninguém me convida. Devo ser um chato mesmo. — fazendo cara de triste.
— Óh, tadinho dele. — fala Raguel o agarrando pela cintura. — Você é o meu chato preferido. — e o beija no rosto. — Mas é que você está sempre envolvido com a Jennifer que nem temos quase tempo para conversar. Então saio a caminhar por aí e conheço muitas pessoas. Normalmente o Gabriel caminha comigo. O Rafael é meio raro de se ver caminhando por aí, mas nos acompanha de vez em quando.

— E onde eles estão?
— Nem sei, saíram antes de mim. Disseram que iam vasculhar as redondezas.
— Não se perdendo por aí, tá bom.
— Acho que não. — e sorri. — O único perdido aqui é você.
— Começou!
— Ah, seu chato! — e se abraça nele.

Assim eles seguem até o prédio aonde o filhote vem correndo os receber.
— Hachi! — exclama Miguel. — Faz tempo que não te vejo, rapaz.
— Não o deixo sair muito. — fala pegando o filhote no colo. — Tenho medo que aconteça alguma coisa com ele.
— Mas daqui a pouco ele vai crescer e vai querer correr por aí e você não vai poder ficar prendendo ele. Tem que deixá-lo crescer livre.
— Eu sei. Mas penso nisso mais tarde. Outro dia, melhor dizendo.
— Só você mesmo. — Se diverte Miguel com que Raguel disse. — Mas vou para os meus aposentos reais. To um pouco cansado. Sem falar que comi demais.
— Comilão. Cuide bem de vossa rainha, alteza. — brinca. — Nos falamos amanhã.
— Tá bom. Boa noite. — se despede Miguel.
— Boa noite. — e sai caminhando até que se vira para trás e chama por Miguel. — Mi.
— Sim? — fala abrindo a porta do quarto.
— Seu chato! — E entra no quarto dela.
Miguel sorri e fecha a porta do quarto. Ele caminha lentamente até a cama e fica olhando para Jennifer dormir.
— Parece uma anjinha dormindo. Tão serena...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Um Mundo em Caos - 22

Ao longe, no alto de uma montanha em meio a um estéril deserto de areia grossa e quente, há um campo verdejante e florido. Com flores de todas as cores e origens. E sob este campo se encontra Miguel e um homem que está de costas para ele trajando vestes brancas. Este homem possui longos cabelos castanhos e suas roupas lembram as vestes usadas em cerimônias do começo do século vinte.
— Não entendo como você ainda não se perguntou onde está? — indaga o homem. — Você olha para os lados, caminha, fica pensativo, mas não me faz nenhuma pergunta. O seu silêncio é um pouco irritante às vezes. Acredito que já lhe falaram isso.
— E por que deveria lhe perguntar alguma coisa? Não está claro? É só olhar para os lados que sei exatamente onde estou. O que mais isto aqui parece senão os Campos Elíseos? Estou morto, simples.
— Acredite em mim, você não está morto. Próximo talvez, mas não de fato. O que vim fazer aqui foi lhe contar algo. Talvez você ache que está delirando ou algo assim, mas lhe garanto que o que vou lhe dizer é muito sério.
— E por que deveria acreditar num sonho?
— Em se tratando de você tenho certeza que irá acreditar em cada palavra que irei lhe dizer. Então ouça bem, e não descarte esse sonho como algo lunático e delirante. Você não sabe a dificuldade que foi chegar até aqui. É difícil lhe encontrar completamente apagado. Bom, deixe-me lhe contar uma coisa, na verdade eu sou um amigo do futuro.
— Essa é a coisa mais imbecil que já ouvi num sonho. Então meu amigo do futuro, me faz um favor, me deixe acordar porque tenho uma pessoa para salvar. Não tenho tempo a perder com sonhos idiotas.
— Tudo que estou lhe dizendo é verdade. Cada palavra. Agora cale a boca e me ouça! Você deve estar achando tudo isso muito divertido, matar zumbis, guerrear contra outras pessoas e lutar por uma causa que acham ser justa. Mas eu vivi isso e lhe garanto que o futuro é obscuro. Não existirão lados, será cada um por si.
— Não fala besteira. Meus amigos e eu continuaremos sempre juntos.
— Que sonho você tem, mas a vida não é assim. Sinceramente, eu nem deveria estar falando com você. A regra é que jamais devemos interagir com nossos “eu”, “você” passados. E estou quebrando essa regra para lhe dar um aviso. Eu precisava falar com você, não podia deixar o futuro ser o que é. Isso irá prevenir que certas pessoas morram.
— Porque você não fala de uma vez o que é. Você anda muito em volta e não fala o que veio fazer. Ah, que ótimo! Agora estou discutindo com meu sonho! Maravilha!
— Eles jamais permitiriam que eu lhe contasse. Isso me levaria à morte, seria executado assim que voltasse. Mas sutilmente lhe deixarei uma mensagem, não se preocupe. Essas mortes estão mais próximas do que você imagina.
— Não, ninguém vai morrer! Eu não vou deixar! Meus amigos podem sempre contar comigo para protegê-los!
— Contarem com você? Mas como? Ainda não entendeu? Não vai sobrar muita coisa. E tenho certeza que eles ficarão sabendo disso da pior maneira possível.
— Eu não entendo. Isso parece tão surreal e ao mesmo tempo está me fazendo sentir mal. E ainda não consegui entender a sua mensagem.
— Apenas lembre-se da primeira palavra que falei após cada interrupção sua. Essa última não conta. Lhe desejo toda a sorte do mundo e faça por merecer esse meu sacrifício. Esse ato me fez envelhecer muitos anos. Então quando chegar o momento certo você vai se lembrar dessas palavras, meu velho amigo. Agora vá...
— ...
Miguel acorda algemado a um cano de ferro em um banheiro imundo, — Onde o cheiro de fossa empesteia o ar. — com seus azulejos brancos beirando o marrom, suas privadas cheias de imundícies e seus mictórios transbordando de urina.
— ... Ai minha cabeça. Tudo parece girar ao meu redor. — resmunga abrindo lentamente os olhos. — Jennifer, onde você está? — ao abrir completamente os olhos se dá conta de onde está e então ao tentar se mexer percebe que está algemado com as mãos para trás e preso há um cano. — Merda! Preciso me concentrar e raciocinar direito. Mas minha cabeça parece estar completamente fora do lugar. Até sonhos sem sentido eu tive! Onde será que está a Jenny? Se eu estou vivo ela também está. Não, chega! Preciso organizar meus pensamentos. Sem isso não conseguirei raciocinar de forma correta, estou muito desorientado. — então ele cruza as pernas e fecha os olhos e passa a inspirar e expirar lentamente.
Alguns minutos depois dois homens se aproximam da porta e vêem Miguel de olhos fechados e pernas cruzadas e um deles comenta:
— Esse cara está meditando?! Que retardado.
— Não importa o que ele esteja fazendo, vamos levá-lo para o chefe.
Eles entram no banheiro e ao se aproximarem de Miguel dizem:
— Acorda aí maluco. Você foi convidado pelo chefe a dar um passeio até a sala dele.
— Sai do nirvana, senão a gente te acorda a chutes.
— Não é preciso. — fala Miguel. — Estou ouvindo seus comentários desde que vocês chegaram. Vocês são muito barulhentos.
— Se afasta aí da parede pra gente poder te soltar.
— Mas não tente nenhuma gracinha ou te matamos aqui. — ameaça com uma arma apontada para Miguel.
Miguel se afasta da parede e o homem abre a algema.
— Agora se levante bem devagar.
Miguel se ergue do chão bem devagar observando os dois homens. Ele percebe que apenas um deles está armado, e que o outro não carrega nenhum tipo de armamento.
— Vire-se de costas! — ordena o homem.
— Ok. — obedece Miguel.
Nisso, ele gira o corpo acertando um chute na mão do homem que está armado, jogando a arma longe.
— Desgraçado! — esbraveja o homem. — Pega ele, Carlos! — e sai correndo atrás da arma.
Miguel então golpeia Carlos com dois socos no rosto e ao passar por ele, o acerta uma cotovelada na nuca. O homem cai no chão e Miguel corre em direção ao outro. Este está quase pegando a arma no chão e ao se virar diz:
— Saco!
Miguel já está com o punho erguido em direção ao homem e só tem o trabalho de descer sua mão com toda a força e acertar o nariz do homem que se esmigalha nos dedos dele. O homem leva a mão ao rosto, mas nem tem tempo de se lamentar e já tem sua mandíbula quebrada por um potente chute. Miguel então segura o braço do homem e o quebra deixando seus ossos expostos. Da boca do homem saem apenas grunhidos indistintos.
— Vocês mexeram com as pessoas erradas. — fala Miguel com um leve sorriso no canto dos lábios. — E agora vão ter o que merecem.
Ele segura a cabeça do homem com as duas mãos e a gira até ouvir os ossos do pescoço se partindo. Então se vira para Carlos e diz:
— Agora é a sua vez!
Carlos se arrasta pelo chão e se encolhe na parede.
— Hunf, isso tudo é medo? — pergunta Miguel caminhando em direção a ele. — Até pouco tempo atrás vocês pareciam bastante confiantes.
— Não chega de perto de mim! — pede o homem.
— Farei melhor. — e muda sua face ficando com um ar terrível. Como se tivesse sido tomado por um ódio milenar.
Ele acerta um chute no rosto do homem que se choca contra a porta de um dos banheiros. Miguel então pega o homem pelos cabelos e o arrasta até um dos mictórios e enfia a cara dele na urina.
— Está gostando? Tem gosto de suco? — pergunta ironicamente. Então ergue a cabeça do homem da urina e bate ela com toda a força no mictório, o quebrando e fazendo a urina se espalhar pelo chão.
Sangue escorre do rosto do homem que está todo machucado e cheio de cortes. Miguel joga ele no chão e o chuta várias vezes.
— Onde está a garota que estava junto comigo? — pergunta. — Se responder eu posso poupar a sua inútil vida.
— E-Eu não sei.
— Mentira! — e pega novamente o homem pelos cabelos e o arrasta até um dos banheiros. — Está sentindo esse cheiro? É merda! Que tal experimentar? — e enfia a cara do homem dentro da privada. — Come que é gostoso! — ele enfia cada vez mais a cara do homem na merda e a mexe lá dentro. Então puxa e pergunta: — E agora, vai me responder?
— S-Sim.
— Então desembucha!
— Ela está no terceiro andar. Quarta porta a direita. Mas não sei se ela está sozinha lá. É tudo o que sei.
— E pra onde iam me levar?
— Pro segundo andar.
— Obrigado. — agradece Miguel. — Agora não se levante. Fique com a cara aí até eu sair. Depois você pode ir embora.
— O-Obrigado, senhor. — agradece o homem. — E-Eu juro que vou embora e nunca mais volto aqui.
Miguel sacode levemente sua cabeça e aquele sorriso diabólico no canto da boca parece querer dizer algo. Ele então pisa no pescoço do homem com tanta força que o esmaga contra a borda da privada. E continua a pisar até ouvir o barulho dos ossos quebrando.
— Achou mesmo que eu ia deixar você viver? Eu não acreditei. — ele caminha até o outro homem e pega a arma no chão e a coloca no coldre. E lentamente segue em direção ao terceiro andar.
Em um dos apartamentos do terceiro andar, Jennifer está sentada em uma cadeira de ferro com suas mãos amarradas para trás e seu corpo preso por cordas. Ela se encontra sentada no meio da sala e ao redor há respingos de sangue pelo chão.
— Já acordou? — pergunta um homem negro e alto.
Ela está com a cabeça inclinada para baixo e seu rosto está coberto pelos seus longos cabelos.
— Ai, ai, parece que ainda não. — ele coloca a mão no queixo dela e ergue levemente sua cabeça e a golpeia com toda a força. — Espero que agora você acorde e possamos conversar um pouquinho mais.
Sangue espirra pelo chão. Jennifer ergue sua cabeça e seu cabelo escorre para trás deixando seu rosto à mostra. Ela está com vários hematomas pelo rosto e alguns pequenos cortes e arranhões, tanto no rosto quanto nos lábios. Os mais visíveis são um corte profundo sobre o nariz e no supercílio esquerdo. Ela encara o homem e sangue pinga de sua boca indo lentamente atingir o chão.
— Não adianta ficar me encarando. Devia ter pensando antes de nos atacar. Achou mesmo que nunca seria pega? Ninguém tem cem por cento de sucesso sempre. Uma hora a casa cai. E nesse exato momento meus homens devem estar levando seu namoradinho para a sala de tortura. Vocês desejarão terem morrido quando eu terminar a tortura! E implorarão por suas vidas!
— Nada que você faça irá nos fazer implorar por coisa alguma! — se impõe Jennifer. — Você não passa de um grão de areia para nós!
— Belas palavras, menina, mas não acha que na sua atual condição elas soam um tanto fora de contexto? Vou lhe contar uma coisa. Você conhece realmente aquele padre? Sabe qual a verdadeira fé que move ele? — Jennifer nada responde. — Foi o que eu imaginava. Você deve achar que é a primeira que ele usa para esse tipo de empreitada, mas lhe respondo que não. Já houve outros e outras, isso mesmo. Antes mesmo desta porcaria de apocalipse acontecer, as garras desse padre já estavam por cima de muitas cidades. Ah, e mais uma coisa, o nome dele não é Antonini como ele diz aos sete ventos.
— Acha mesmo que eu vou acreditar em cada palavra que você está dizendo? Essa história que está contando não faz o menor sentido!
— Não me interrompa porque eu ainda não terminei. Eu estava aonde mesmo? Óh sim, no nome do padre. Então, o verdadeiro nome dele é Graffiacane. Antonini pertenceu a outro padre e este era negro, não branco de feições italianas. Antonini era meu irmão adotivo! E aquele bosta o assassinou e assumiu o seu lugar quando este mundo enlouqueceu! E você faz tudo que ele manda. Se você soubesse os reais motivos por trás dos ideais dele tenho certeza que se mataria por ter obedecido às ordens dele cegamente. Mas antes disso irei tirar a sua vida.
O homem aponta uma pistola para ela e nesse momento Miguel entra pela porta e diz:
— Não hoje e nem nunca!
Miguel dispara a arma várias vezes contra o homem que cai no chão com sangue vertendo por cada um dos buracos feitos pelos projeteis que atingiram seu corpo. Miguel joga a arma fora e corre até Jennifer.
— Você está bem? Tive tanto medo que tivesse acontecido alguma coisa com você.
— Apesar da surra e da dor acho que to legal.
— Vou te desamarrar e quando voltarmos cuidarei dos seus ferimentos. Você está muito machucada.
Miguel a desamarra e a ajuda a se levantar. Ela se apóia nele e olhando para os lados vê os equipamentos deles sobre um banco de madeira.
— Vamos pegar as nossas coisas e sair daqui. — fala Jennifer.
Alguns minutos antes...
Raguel, Rafael e Gabriel chegam ao prédio onde estão Jennifer e Miguel. E estão usando as roupas que Jennifer deixou em seus roupeiros:
Raguel está com seu cabelo preso para trás e usando roupas escuras. Ela usa uma jaqueta-armadura — constituída por: protetor das costas com protetor lombar ajustável e oito vértebras articuladas nas costas (casquilhos); protetor de ombros e cotovelos; protetor para o pescoço. — na cor preta com detalhes em vermelho. Possui zíper frontal e é bem justa ao corpo. Suas mãos são protegidas por luvas táticas semi-dedo na cor vermelha. As suas costas há um suporte onde carrega um bastão de ferro. Usa calça legging de lycra com spandex bem justo delineando suas curvas na cor preta. Coldre tático em cada uma das coxas com duas pistolas Taurus PT-100 e munições atreladas aos suportes do cinto. Está calçando botas Alpine Stars Supertech R — é uma bota construída em micro-fibras, super flexível, com caneleira injetada em poliuretano, proteções que se estendem por toda a bota no mesmo material da caneleira, zíper de fechamento diagonal e um fecho rápido na parte superior — na cor preta com detalhes em vermelho.
Gabriel e Rafael usam roupas semelhantes às de Raguel com algumas diferenças. Suas jaquetas-armadura são totalmente pretas sem detalhes, Suas luvas são pretas também. Carregam o mesmo tipo de armamento. Suas calças são estilo cargo na cor preta. E usam o mesmo tipo de bota, porém sem detalhes em vermelho. Gabriel também possui um bastão atrelado as suas costas e Rafael leva consigo duas machadinhas Tomahawk feitas em uma peça robusta de aço inox e cabo em jacarandá — Elas estão em coldres na sua cintura.
— O estrago foi feio. — comenta Raguel. — Eu nunca vi tanta matança na minha vida. Foi só seguir os corpos e chegamos aqui.
— Não sei o que deu naqueles dois, mas eles viraram assassinos. São pessoas que eles mataram e não zumbis. Eu ainda não sei o motivo, mas é certo que foi a Jennifer que trouxe o Miguel junto. — fala Gabriel.
— Vocês devem ter ouvido nas ruas as pessoas comentando sobre a mulher de preto, a viúva, a vingadora, entre tantos outros nomes, não é? — eles respondem que sim e Rafael continua, — E sabem quem é essa pessoa?
— Talvez. — responde Gabriel. — As pessoas nas ruas falam muitas coisas sem sentido.
Raguel apenas meneia sua cabeça.
— Essa pessoa é a Jennifer. — Rafael responde sua própria pergunta. — As pessoas a respeitam de uma forma absurda, como se ela fosse a salvadora da humanidade. Liguem os pontos. Outro fato, lembram que umas pessoas foram visitar ela? Então, essas pessoas é que dão as ordens a ela. O que eles fizeram aqui foi seguindo ordens de alguém.
— Então isso quer dizer que recrutaram ela para matar pessoas?! — questiona Raguel um tanto espantada. — Que horror! E pelo que eu pude entender querem que façamos a mesma coisa. Pois até roupas nos deram. Mas eu não vou aceitar isso!
— Mas parece que ela faz isso por um bem maior. — comenta Rafael. — As pessoas comentam que antes dela acabar com o líder árabe e seus seguidores, eles viviam num horror sem fim. Eram torturadas, apanhavam por nada e precisavam se prostituir. Agora vivem na paz. Não sei se realmente a classifico como uma assassina ou a coloco no patamar de libertadora.
— É muito difícil de aceitar certas coisas. — fala Raguel.
— Mas Miguel entendeu e seguiu junto dela até aqui. — coloca Gabriel. — Talvez devêssemos ouvir o que ela tem a dizer e depois decidimos o que fazer.
— Ele tem razão. — concorda Rafael.
E nisso eles ouvem vários tiros vindo dos andares superiores prédio.
— Vamos ligeiro! — fala Rafael saindo correndo.
Os três entram no prédio e sobem as escadas e vasculham porta por porta no primeiro andar e Rafael abre a porta do banheiro e se depara com os dois homens mortos.
— Miguel... — sussurra.
— Vamos! — grita Gabriel na escada.
— Já vou!
Eles sobem para o segundo andar e também vasculham todos os apartamentos, mas não encontram ninguém. E seguem para o terceiro andar onde encontram Miguel e Jennifer caminhando no corredor.
— Finalmente encontramos vocês! — exclama Rafael. — Está tudo bem?
— Já estivemos melhores, meu amigo. — responde Miguel.
— Nossa. — se espanta Raguel. — Você está muito machucada, Jennifer. Eles lhe bateram?
— Um pouco. — responde. — Mas vocês demoraram, hein?
Rafael esboça um sorriso e diz:
— Demoramos em entender o recado. Devia ter sido menos sutil e mais direta.
— Daí não teria graça. — fala Jennifer.
— Mas o importante é que vocês estão bem. — fala Gabriel. — Agora iremos voltar e ver esses seus ferimentos. Vocês são doidos! Enfrentaram um exército sozinhos.
— Nunca estamos sozinhos. — aponta Jennifer para um prédio. — Olhem para o topo daquele prédio mais distante.
Eles olham e vêem duas pessoas vestidas de preto saírem correndo.
— Quem são? — pergunta Raguel.
— Outra hora eu explico, falar está me fazendo sentir dor.
Gabriel olha para Miguel e diz:
— Deixa que eu a carrego em minhas costas. Leve o meu bastão.
Gabriel ergue Jennifer em suas costas e eles aceleram o passo cruzando o território o mais rápido que podem. Várias pessoas ficam nas janelas dos prédios observando eles passarem pelas ruas. Outras se aglomeram nos becos. Mas nada dizem, não proferem uma única palavra como sempre aconteceu quando Jennifer libertou os outros territórios. Desta vez é apenas um silêncio fúnebre que os acompanha, como se eles estivem num enterro.
— Eu nunca vi um silêncio tão grande. — pensa Jennifer. — E sei que não é por causa da chuva. Algo está errado aqui. E agora as palavras que aquele homem me disse não saem da minha cabeça.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta Miguel olhando para Jennifer.
— Não. — responde ela.
— É que você está olhando para os lados com um olhar diferente. — comenta.
— Não é nada não. Apenas cansaço.
Rafael olha para ela e percebe que algo mudou em suas feições. E que não é boa coisa.
Eles então atravessam as galerias do esgoto e chegam ao outro território onde algumas pessoas os esperam na saída do bueiro. Dois homens de branco agarram Jennifer e a levam para dentro do prédio. As outras pessoas ajudam os quatro que ficaram. Eles entram também no prédio e se dirigem para os seus quartos. Porém, quando Miguel adentra seus aposentos Jennifer não está lá, mas logo em seguida uma mulher bate na porta e diz que ela foi levada para outro lugar para ter seus ferimentos tratados. Miguel agradece e a mulher sai. Ele então troca de roupas e vai para a sala onde Raguel já o aguarda.
— Precisamos conversar. — fala ela.
— Saquei.
— E com a gente junto. — fala Rafael entrando na sala junto com Gabriel.
Miguel coloca as mãos no rosto e sentando no sofá diz:
— Agora? Eu estou cansado. Dolorido. E sinceramente, não estou afim de papo. Quero apenas ficar em silêncio.
— Mas a gente ainda vai ter essa conversa. — fala Rafael. — Senão hoje, outro dia. Mas você não vai fugir dela. E nem a Jennifer.
— A gente vai explicar tudo para vocês, mas não hoje, beleza?
— Ok. — concorda Rafael. — Vamos pessoal.
Eles saem da sala e Miguel fica sozinho sentado no sofá bastante pensativo.