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sábado, 21 de janeiro de 2012

Um Mundo em Caos - 26

― Miguel! Miguel! ― uma voz feminina doce e aguda ecoa por um corredor cheio de quadros. ― Você tem visita!
― Não quero acordar... ― murmura e vira-se para o lado. Então de súbito senta-se na cama e diz em voz alta: ― Mãe? ― e olha para os lados. ― Meu quarto? O que está acontecendo? Meus amigos... A Jenny e a Raguel... Eu estava para enfrentar o Abramalech e então acordei. ― e levanta-se da cama. ― Será que eu morri? ― tira a camiseta e pára na frente do espelho. ― Eu estava cheio de cicatrizes, arranhões e hematomas. E agora não tenho mais nada, nenhum ferimento sequer... Será que foi tudo um sonho? Não, não pode ser. Era muito real. Droga! Vou descer e ver quem é. Depois penso melhor nisso.
― Não irei chamar outra vez, Miguel!
― Já estou descendo mãe! ― e pensa: ― Minha mãe está viva? ― e um sorriso toma conta de sua face.
Passam-se alguns minutos e Miguel desce uma pequena escada que leva para o andar de baixo. E assim que chega na sala, alguém salta no colo dele e o abraça bem forte.
― Eu estava morrendo de saudades de você! ― fala uma voz calorosa e amável muito bem conhecida por Miguel. ― E achei que nunca mais fosse lhe ver!
― Os jovens de hoje são tão exagerados. ― comenta a mãe de Miguel. ― Você esteve aqui ontem à tarde Jenny.
― É que eu sinto muita saudade dele. ― admiti. ― E cinco minutos para mim já é uma eternidade.
Miguel fica olhando para ela e as palavras parecem não querer sair de sua boca. E em seus pensamentos ele diz:
― Agora ela está abraçada em mim e... Se o que aconteceu foi um sonho... e diga-se de passagem, um longo sonho. Eu dou graças a Deus! Porque ter ela viva ao meu lado e os meus pais é o que me faz querer viver novamente.
― Bom, eu vou deixar vocês sozinhos. ― fala a mãe de Miguel se retirando da sala.
Miguel envolve Jennifer em seus braços e diz:
― Como é bom ver você! Eu tive um sonho tão real e achei que nunca mais iria sentir novamente esse teu abraço.
― Eu também tive um sonho. ― e olha diretamente nos olhos de Miguel. ― Um péssimo sonho! Um pesadelo na verdade! Eu sonhei que o mundo tinha se tornado um lugar horrível para se viver. Onde mortos-vivos andavam pelas ruas e nós éramos obrigados a exterminá-los para podermos continuar vivos. E você, eu, o Gabriel e o Rafael estávamos juntos. E havia uma garota chamada Raguel conosco.
Miguel franze as sobrancelhas e dá alguns passos pela sala e vira-se para Jennifer e comenta o que ela falou.
― Eu tive um sonho com as mesmas pessoas, a mesma história e você, como vou dizer... ― ele hesita por alguns segundo e: ― havia sido torturada e assassinada por um cara gigantesco chamado Abramalech.
― Miguel... ― fala, com suavidade e ele ergue a cabeça. ― Eu lembro cada detalhe do que aconteceu, cada osso do meu corpo sendo quebrado e da dor que eu sentia. ― e fecha os olhos como se sentisse a dor da qual falou e então os abre e continua. ― Mas quando eu senti meus olhos se fechando e tudo finalmente escurecendo, logo depois disso eu acordei deitada na minha cama. E vim o mais rápido possível para cá. E você e eu termos sonhado a mesma coisa... Eu não sei explicar, a não ser dizer que ou foi tudo um sonho e a nossa ligação é tão grande que conseguimos sonhar a mesma coisa. Ou então que nesse exato momento estamos mortos e fomos para algum lugar onde está sendo possível ter esta nova vida.
― Eu já pensei nisso, mas não faz muito sentido. ― fala discordando do que ela disse. ― Porque eu olhei a data de hoje é exatamente o dia em que aconteceu o primeiro ataque de um zumbi que foi noticiado. Então, ou foi um sonho, ou uma força maior acabou com tudo que veio depois daquele dia. No caso de hoje.
― Você acha que foi... Deus? ― pergunta um pouco espantada devido ao que ele falou.
― Não sei... nunca acreditei muito nisso. Sempre fui meio cético quanto a isto. ― admiti. ― Mas agora estou sinceramente inclinado a acreditar que existe uma força superior nesse mundo. E outra, eu lembro que hoje eu não era tão forte quanto estou. E eu adquiri muita força naqueles mais de três meses. ― e passa a mão no braço dela. ― E você também. Então, sinceramente, não pode ter sido um sonho. Tudo aquilo foi real. Tudo o que vivemos e presenciamos foi extremamente aterrorizante e real. E eu não sei se vou conseguir viver normalmente. Acho que vou ter que me acostumar com a vida como era antes.
― Eu te ajudo. ― fala Jennifer sorrindo. ― E mais uma coisa, porque só nós dois lembramos o que aconteceu?
― Como assim? ― pergunta Miguel.
― Os meus pais e nem os seus pais lembram-se de nada daquela época. Eu fiz umas perguntinhas para sondar e nada. Não obtive um lapso de lembrança vindo deles.
― Estranho. ― e pára para refletir e diz: ― E será que o Gabriel e o Rafael se lembram de algo?
― Só indo falar com eles para saber. ― responde.
― Verdade. ― fala com voz suave, mas que logo em seguida se tornam mais austeras. ― Vivemos grandes aventuras naquela loucura. Vi pessoas morrendo também. Uma garota que ajudou a Raguel e eu foi morta por uns loucos no Shopping de Canoas. Sem ela não teríamos conseguido sair de lá com vida e eu nunca teria encontrado você e os guris.
― Você se arriscou muito. ― relembra. ― Você e os nossos amigos lutaram ao meu lado numa luta que nem era de vocês. Uma luta em que eu acreditava estar fazendo o certo ― sua voz sai em um tom melancólico ―, mas eu estava matando pessoas inocentes. Tudo em nome daquele maldito! E eu me arrependo de ter colocado vocês em perigo por minha causa.
― Calma. ― e a abraça. ― Tudo aquilo já passou. ― e pensa: ― Assim eu espero. ― e continua: ― Agora vamos nos focar no presente e no futuro. E tentar esquecer aqueles dias. ― e toma em suas mãos as dela. ― Teremos novamente vidas felizes ao lado de nossos pais e de quem gostamos.
― Você está certo. ― meneia a cabeça concordando com ele. ― Vou tentar não ficar pensando nisso.
― Vamos dar uma volta? ― pergunta com um sorriso gentil.
― Vamos sim. ― responde com um sorriso que ilumina o olhar de Miguel. ― E aonde iremos?
― Não sei, agora há tantos lugares para ir. ― e aperta suavemente as mãos dela. ― Vou deixar que você faça essa escolha. O que me diz?
― Eu aceito. ― responde.
Algumas horas depois, os dois estão chegando ao Canoas Shopping.
― Que sensação estranha. ― fala Miguel, com a voz um pouco tensa e melancólica. ― Esse lugar me traz algumas recordações nada boas.
― Assim como você me disse, eu lhe direi agora. ― fala Jennifer, com a voz doce como um beijo. ― O que aconteceu deixou de existir, mas sei que ainda continua em nossas mentes. Mas o importante é pensarmos no presente e no futuro, e tentarmos esquecer o que aconteceu. Sei que é difícil, mas precisamos.
― Suas palavras acalentam meus pensamentos. Te amo por isso. ― e segura firmemente as mãos dela.
― Eu sei. ― concorda. ― E também te amo. Agora, vamos comer alguma coisa? Estou morrendo de fome! ― sorri.
Enquanto caminham até a praça de alimentação, Miguel fica recordando de tudo o que aconteceu a cada passo que dão e sente uma angustia tomar conta de si. E seus olhos observam cada movimento, cobrem cada metro a sua frente e ao redor.
― Essas pessoas sorrindo como se nada tivesse acontecido. ― pensa. ― Parece tudo tão errado. ― suspira profundamente. ― Me acostumei tanto com aquela sensação de perigo que não consigo me desligar. Estou até procurando algo de estranho entre as pessoas. É, estou procurando um zumbi. Hunf...
― No que está pensando? ­― tem seus pensamentos interrompidos pela pergunta de Jennifer.
― Em nada. ― responde, e pensa: ― Não vou ficar preocupando ela com meus problemas. ― e continua: ― Apenas observando as pessoas.
― Qualquer coisa me diga. E caso não esteja se sentindo bem aqui podemos ir para outro lugar.
― Está tudo bem. Não se preocupe.
E ela retribui com um sorriso.
Eles se dirigem até o Burger King, onde fazem seus pedidos com uma atendente loira. Após alguns minutos de espera, seus pedidos são entregues.
― Precisamos achar um lugar para sentarmos. ― fala Jennifer.
― Tem um pessoal se levantando ali. ― e aponta para a mesa. ― Vamos ficar lá.
Após acomodarem suas coisas na mesa, Miguel diz:
― Vou ir pegar o refri para nós, o que vai querer?
― Eu quero uma Coca. E com bastante gelo.
― Pode deixar. ― E sai caminhando.
Ao se aproximar da máquina onde servem os refrigerantes, ele olha de relance para uma mesa ao fundo e avista uma garota loira com traços familiares conversando com outra garota. ― Será? ― pensa. ― Seus olhos voltam a olhar a garota e para sua surpresa: ― Anane? Eu não acredito! ― um sorriso se forma em seus lábios involuntariamente na direção da mesa onde as garotas estão.
E na mesa, Anane retribui o sorriso e a sua amiga pergunta curiosa:
― Para quem está sorrindo?
― Não sei. ― responde. ― Olha disfarçadamente para trás e veja se você reconhece. Ele está pegando refri.
A amiga vira levemente a cabeça para trás e vê Miguel. E então comenta:
― Mas é um gato. E está lhe dando mole!
― Pára com isso! ― e seu rosto fica corado. ― Nem sei quem é. Mas não sei por que, mas tem algo familiar nele. Só não consigo explicar o que é.
― Hummm! Será o destino? ― e se abraça ao ar. ― Eu ia lá e dava meu telefone.
― Boba! Jamais eu faria isso. ― Anane a censura, e logo em seguida sorri para retirar a rispidez das palavras. ― Mas que ele é lindo isso é.
E então Miguel enche os dois copos de refrigerante e sai caminhando satisfeito com o que viu. Parece que parte do peso que ele estava carregando até agora se foi e um suspiro de satisfação parte de sua boca e se espalha pelo ar.
Jennifer olha para ele e vê aquele pequeno sorriso em seus lábios e intrigada pergunta:
― Até pouco tempo atrás você estava todo emburrado. O que aconteceu para a sua fisionomia mudar tanto?
― Eu vi algo, ou melhor, eu vi alguém se divertindo com uma amiga e fiquei feliz em saber que essa pessoa está viva. ― responde com um brilho diferente no olhar.
― Você está falando daquela menina que morreu aqui? ― Jennifer ouvira a história inúmeras vezes, mas nunca a conheceu. E toma um gole de refrigerante. ― Que você me contou tantas vezes?
― Sim, ela mesma.
― E ela te reconheceu? ― pergunta ávida pela resposta.
― Parece que não. ― responde um pouco decepcionado. ― Ela apenas sorriu, mas deve ter sido um reflexo por eu ter sorrido ao vê-la.
― Você sorriu para ela? ― pergunta enciumada.
― Eu não sorri para ela ― responde ―, sorri ao ver que ela estava bem. Apenas isso. Não seja boba.
E nisso, um casal de cantores começam a entoar canções que fazem suas vozes se espalharem pela praça de alimentação.
― Que coisa linda! ― fala Jennifer efusivamente. ― Dá vontade de cantar junto!
― Essa música é bonita mesmo. ― Miguel concorda com ela.
De repente, ele começa a ouvir risadas em alto tom vindo de algum lugar atrás deles. Ao tentar olhar, sua visão é bloqueada por um mezanino ― coberto por flores ― que há logo atrás de sua cadeira.
― Droga! ― Exclama.
― O que foi? ― pergunta Jennifer.
― Estou ouvindo umas risadas familiares vindo de algum lugar aqui atrás, mas não quero me levantar para olhar. ― responde. ― Porque se não for quem estou pensando que é, vai parecer que estou incomodado com as risadas e querendo censurá-los. ― explica.
― Então deixa que eu olho! ― fala com paixão. ― Sempre fui metida mesmo!
Ela se ergue lentamente da cadeira e passa a procurar com os olhos de onde vinham as risadas. E foi questão de tempo até seus olhos pairarem sobre dois rostos bastante conhecidos.
― Acho que já sei de onde vêm as suas risadas familiares. ― fala olhando para Miguel.
― São eles? ― pergunta esperando por uma resposta positiva.
E a resposta vem rapidamente:
― Sim, são eles.
Um sorriso de satisfação toca os lábios de Miguel.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um Mundo em Caos - 25 (Revisto)




Longe dali, Jennifer caminha por entre escombros rumo à única igreja que se manteve em pé após os ataques militares.
—Preciso chegar lá o mais rápido possível! — pensa ela caminhando por entre montanhas de pedras de concreto.  — Vou tirar essa história a limpo de uma vez por todas!
Ela caminha por alguns minutos e finalmente chega a uma enorme igreja, com grandes abóbodas e estátuas de santos em sua entrada. Um longo tapete vermelho cobre as escadarias que levam ao interior da nave. Ela bate na porta e não demora muito um homem magro e de feições envelhecidas a abre.
— O que veio fazer aqui hoje? — pergunta espantado o homem.
— Eu quero falar com o padre Antonini. — responde rapidamente. — Me deixe entrar! É urgente!
— Calma filha, ele está ocupado no momento. Se puder esperar.
— Eu espero sim. Não tem problema...
No prédio em que os outros residem, Miguel acorda e sente a falta de Jennifer ao seu lado. Ele a chama diversas vezes, mas não obtém resposta. Então se levanta e sai para procurá-la pelos cômodos do prédio. Após alguns minutos procurando ele se depara com uma das empregadas e a pergunta:
—Você viu a Jennifer? ― seu olhar estava carregado de preocupação.
— Eu a vi saindo há uns vinte minutos atrás em direção a igreja. — responde a mulher. ― E estava sozinha.
— Droga! — resmunga Miguel. — Obrigado.
Ele sai correndo e segue pelo corredor dos dormitórios e bate várias vezes na porta do quarto de Gabriel. Assim que Gabriel responde, Miguel abre a porta sem esperar e Raguel está sentada nos pés da cama.
— Você?! — se pergunta surpreso, Raguel olha para ele e quando vai responder, Miguel de imediato diz: — Não precisam me explicar nada! Até porque não é da minha conta. Vocês são adultos e já sabem o que fazem. E o que eu vim fazer aqui é mais importante e urgente do que isso! — e prossegue: — A Jennifer foi para a igreja ver o padre!
— Com certeza ela foi tirar aquela história a limpo. — fala Gabriel.
— E ela nem está em condições de sair caminhando por aí! — comenta Raguel meneando a cabeça. — O que você tem em mente?
— Irmos atrás dela! — responde. — É a única coisa que me passa pela cabeça nesse momento.
— Então vamos chamar o Rafael. Força extra sempre é bem vinda. — recomenda Gabriel.
— Eu faço isso. — fala Raguel se levantando da cama. ― Me esperem aqui.
Nisso a porta do quarto se abre e Rafael responde:
— Não é necessário. Eu a vi saindo e a segui até próximo da igreja. E tenho algumas informações não muito boas para transmitir.
— Aconteceu alguma coisa com ela? — pergunta avidamente Miguel. — Responde!
— Não. — responde ele. — Não tem nada a ver com ela. Ela chegou bem lá. Mas o que me preocupa é o que pude observar nas redondezas da igreja. Eu parei de segui-la há uns cem metros da igreja e assim, há bastante pessoas vestidas de preto e portando armas de fogo e armas brancas nos arredores.
— Como assim?! — pergunta Gabriel. — Tipo uma fortaleza?
— Exatamente. — responde Rafael. — E achei isso bastante estranho. E se vocês estão pensando em ir atrás dela, é bom se prepararem para sermos parados no caminho. Não vi muitos lugares nos quais podemos nos aproximar sem sermos vistos.
— Sempre há um lugarzinho, nem que apenas um de nós avance e abra caminho para os outros. — comenta Raguel.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta Miguel. — Matá-los?!
— Claro que não! Isso seria nosso último recurso. — responde. — Mas um bom golpe na cabeça os bota para dormir. E então podemos roubar as roupas e as usarmos.
— Boa idéia! — fala Miguel se apoiando na parede e levando a mão ao flanco direito.
― Ainda sente desconfortos, né? ― fala Raguel.
― Me dói um pouco, sim. Mas é uma dor suportável.
― Tem certeza? ― pergunta Gabriel.
― Sim, tenho.
Nisso, gritos de socorro e de pavor ecoam pelos corredores do prédio e pelas ruas.
― Mas que gritaria é essa? ― pergunta Rafael.
― Vamos olhar! ― responde rapidamente Gabriel.
Eles saem correndo pelo corredor e chegam à área externa, onde dezenas de pessoas correm pelas ruas gritando.
― Eles ultrapassaram as defesas!
― Estão vindo com tudo para cima de nós! Parecem máquinas mortíferas!
― Eles quem?! ― se pergunta Miguel.
― Só podem ser os zumbis seu cabeçudo! ― responde Gabriel dando um leve tapa na nuca de Miguel.
― Ouch! Não precisa me dar tapas! ― fala Miguel. ― Eu acabei esquecendo eles devido aos últimos acontecimentos e a calmaria daqui.
Uma garotinha se aproxima deles e diz:
― Nos ajudem. Eles estão avançando rapidamente!
Gabriel se agacha e colocando as mãos sobre os ombros dela responde:
― Nós iremos ajudar sim. Agora corra para um lugar seguro.
― Obrigada. ― Agradece. E sai correndo.
― Então, quem vai comigo para o fronte? ― pergunta Gabriel se erguendo.
― Eu não posso. ― responde Miguel. ― Vou ir atrás da Jenny. Estou com um mau pressentimento. Não posso deixá-la sozinha nesse momento.
― Entendo. ― fala Gabriel. ― E eu não iria deixar você ir mesmo. Vá ajudá-la. Nós daremos um jeito aqui.
― Eu irei com o Miguel. ― Raguel faz a sua escolha. ― Ele não sabe fazer nada sozinho.
― Então eu irei com o Gabriel. ― fala Rafael. ― Vou pegar as minhas coisas e correr para lá!
― Estou indo com você!
Gabriel e Rafael saem correndo para dentro do prédio e Miguel olha para Raguel e diz:
― Vamos indo.
― Mas você não vai pegar a sua... ― e olha para baixo. ― espada... Quando foi que...
― Ela estava ao lado da porta do meu quarto. Quando passamos a peguei. E a sua arma? ― Raguel abre o sobretudo e há duas pistolas em sua cintura. ― Precavida.
― Sempre fui.
― É bom ser assim. ― e pergunta: ― Vamos?
― Claro. ― ela responde calmamente.
E eles saem caminhando em direção ao local que os levará até a igreja. Longe dali, já há alguns metros de onde os zumbis estão entrando, Gabriel e Rafael estão em pé sobre uma grande rocha empunhando suas armas ― Gabriel carrega duas pistolas e Rafael duas barras de ferro.
― Esse sentimento antes de enfrentar essas criaturas... estava sentindo falta disso. ― comenta Rafael. ― Esse frio na barriga e leve aperto no peito... fazem com que eu me sinta vivo.
― Nesse mundo, nos sentirmos vivos é o principal. ― e então aponta para os zumbis. ― Sem isso, nos tornaremos eles.
― E essa é a última coisa que eu quero que aconteça. ― concordo. ― Por isso preciso matá-los para evitar que eu me torne um deles.
― Ainda com esse pensamento? ― fala Gabriel levando a mão ao ombro do amigo. ― Você jamais vai conseguir exterminar com todos eles. Deve haver milhares, bilhões deles espalhados pelo mundo. Seria uma luta sobre-humana.
― E quem disse que eu sou humano? Brincadeira! ― ele olha para Gabriel e sorrindo se lança na direção dos zumbis. ― Bankai!
― Não tinha nada melhor para dizer? ― pergunta Gabriel, já disparando suas pistolas e derrubando alguns zumbis a frente.
― Eu sempre quis dizer isso! ― responde golpeando as cabeças dos zumbis que estão ao seu redor.
Gabriel derruba mais alguns zumbis com tiros certeiros em suas cabeças e sorrindo diz:
― Se eu estivesse com uma espada gritaria Leiken.
― Heheheh! Seria engraçado! ― e golpeia alguns zumbis. ― Falando nisso, lembra da história do Passat cor de rosa?
― Cara, você nunca esquece as bobagens que o Miguel inventava! ― e se vira rapidamente e atira na cabeça de um zumbi, fazendo o cérebro da criatura jorrar pela nuca. ― Dávamos muitas risadas!
― Época de ouro! ― grita Rafael.
― Oh menino exagerado! ― murmura Gabriel.
Há alguns quilômetros dali, Miguel e Raguel continuam seguindo em direção a Igreja.
― Quanta destruição... ― comenta Raguel enquanto caminha sobre montanhas de escombros. ― Os militares foram cruéis com nossa capital.
― Parece que eles não devem ter se importado muito se haviam pessoas vivas enquanto lançavam suas bombas dos aviões... ― e pensa: ― As esperanças de um dia encontrar meus pais diminui a cada dia que passa. Droga! ― e olha para os lados.
― Se perdeu em pensamentos?
― Não ― responde ―, estou apenas observando a área. Parece que vi um movimento mais a frente. ― e aponta para o local.
― Vamos nos esconder atrás daquele monte. ― fala indicando para uma pequena formação de pedras. Eles correm até o local indicado e Raguel continua: ― Seja o que for, vamos esperar uma melhor visualização para podermos identificar o que é.
― Concordo. ― e senta no chão. ― Espero que esteja tudo bem com a Jenny...
― Não se preocupe, daqui a pouco estaremos juntos com ela. ― e aproveita para dar uma espiada. ― Humm?! ― avista uma pessoa alta arrastando alguma coisa.
― O que você está vendo? ― pergunta curioso.
― Não sei ao certo ― responde ―, mas parece ser uma pessoa bem alta e está arrastando alguma coisa. Mas vamos esperar mais um pouco antes de tirarmos conclusões equivocadas.
Nisso, um corpo passa voando sobre o local em que eles estão alojados e cai há alguns metros à frente gerando um baque seco.
― Mas que merda é essa?! ― se pergunta Miguel.
Raguel assustada olha para o corpo e ao fitar os longos cabelos ensangüentados sente sua espinha gelar e murmura:
― N-Não...
― O que foi? ― pergunta Miguel. ― O que te assustou tanto nesse corpo?
― Não acredito que ele ainda não percebeu... ― pensa Raguel sentindo seu corpo todo tremer. ― Meu Deus!
Miguel olha mais atentamente para o corpo e seus olhos são tomados por lágrimas e então ele sai correndo na direção do corpo que está desfalecido há alguns metros dali. Miguel cai de joelhos no chão e agarra o corpo em seus braços e ao virá-lo vê o rosto de Jennifer quase que deformado e com seus olhos vidrados.
― NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!! ― um grito que parece ter vindo do interior da sua alma ecoa por todos os cantos. Um grito que carrega dor, tristeza, ódio, impotência, raiva e muitos outros sentimentos. ― Minha pequena. ― e pega na mão dela, onde sente que os ossos de todos os dedos estão quebrados. ― Eu... o que fizeram com você? ― e passa a mão no rosto dela, acariciando-o.
Raguel olha para Miguel e se levanta. Lágrimas escorrem de seus olhos. Ela então se vira para a direção de onde veio o corpo e avista um homem alto, usando farrapos de roupa e completamente sujo.
― Eu vou te matar! ― sussurra Raguel sacando suas pistolas. E então salta sobre o monte de pedras. ― Não importa quem você seja, eu vou te matar! Eu vou te matar! ― fala deixando toda a sua raiva aflorar.
E sai correndo na direção do homem disparando suas pistolas.
Miguel permanece alheio ao que acontece ao seu redor. E sem tirar os olhos de Jennifer, ele lentamente desembainha sua espada e em prantos diz:
― Me desculpe por isso. Mas não quero que você se torne um deles.
E enterra sua espada na cabeça dela. Lágrimas, soluços, choro, tudo misturado é o único som que Miguel ouve. Ele então segura a cabeça dela e puxa a espada e novamente agarra a mão dela e com um movimento rápido corta o dedo em que se encontra o anel que ele a deu de presente. ― Esse foi meu presente de aniversário de namoro... ― Ele retira o anel do dedo dela e coloca em seu dedo mindinho e então a deita lentamente no chão e se levanta.
― Eu vou te vingar e então volto aqui para te buscar e te levar para um lugar seguro. ― fala com a voz firme e um pouco rouca.
E então, Raguel passa voando ao lado dele e cai no chão levantando poeira. Miguel sai caminhando lentamente em direção a ela e sente algo ser jogado logo atrás de si. Ele pára e ao se virar, vê a cabeça de Raguel jogada aos seus pés.
― Eu já não tenho mais lágrimas para derramar... ― e passa a mão sobre os olhos ― o amor da minha vida... e agora você, uma pessoa que encontrei no meu caminho e que se tornou minha grande amiga e que me ajudou a ficar vivo até agora. Eu devo muito a vocês duas. Mas nesse momento, eu não tenho mais vontade de ficar vivo. E como meu último ato nessa vida vou vingar vocês duas. É uma promessa! ― e ergue sua espada que emite um brilho igual a uma lágrima recém caída.
― Ops! Parece que matei a sua amiga. ― fala o homem. ― Me desculpe por isso, mas ainda não aprendi a dosar a minha força.
Sem se virar, Miguel ordena com voz firme:
― Cale a sua boca! ― e aperta a mão contra a empunhadura da espada. ― Eu vou quebrar cada osso do seu corpo e depois arrancarei a sua cabeça! E eu juro que irei adorar ouvir cada osso se partindo junto com seus gritos de dor.
― Veremos quem irá quebrar os ossos de quem. ― e dá um passo a frente. ― Nenhuma das duas conseguiu sequer me arranhar. Porque você conseguiria algo?
― Você nunca deveria ter encostado em nenhuma delas! ― e vira-se para o homem o fitando nos olhos. ― Nunca! Está me ouvindo? ― seu olhar de ódio seria capaz de matar quem os olhasse por muito tempo, mas aquele homem em sua frente parecia não se importar muito com isso.
― E quem você pensa que é para falar assim comigo? ― e faz uma pausa momentânea. ― Você não passa de um grão de areia perto de mim! Eu sou Abramalech!
― Eu vou te dizer quem eu sou! ― e solta um longo suspiro. ― Eu me chamo Miguel! E a garota de cabelos castanhos que você matou era a minha namorada! Seu desgraçado!
― Miguel? Heh. ― sorri. ― Eu vou adorar te matar!
Miguel empunha sua espada, flexiona sua perna direita e salta na direção de Abramalech com a espada apontada para o peito deste. Ele apenas sorri e se joga na direção de Miguel já preparado para desferir um soco. Quando os dois estão quase se golpeando, uma luz cegante surge no céu e tudo no planeta é paralisado.
― Chega! ― uma voz rouca ecoa por todo o planeta.