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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Como Surgiu Um Mundo em Caos

A versão original é completamente diferente da que estou escrevendo hoje. Não foram muitas coisas escritas, apenas duas páginas e meia no Word. Mas o suficiente para ter vontade de escrever algo um pouco mais próximo da realidade de como seria um holocausto zumbi. E pegando como base os quatro personagens criados anteriormente, reescrevi de forma diferente e alterei um pouco a personalidade de cada um, e claro, o local onde tudo acontece. Era para ser no Japão, então após pesquisar muito resolvi então fazer onde conheço muito melhor, primeiramente na minha cidade e depois onde a imaginação chegar. A história anterior começaria um ano mais ou menos após os zumbis terem se erguido e o planeta estaria na mão de alguns poucos governos que há uns 3 meses haviam entrado em guerra utilizando tropas mercenárias e de suas próprias nações. Haveria equipes altamente treinadas para destruição de zumbis entre muitas outras coisas. Então comecei a ver que quando chegasse há um certo ponto tudo pararia de fazer sentido, porque o legal de ver os personagens tendo de sobreviver a cada dia é que torna a leitura gostosa. E ela não faria isso, porque haveriam megalópoles cercadas por altos muros e soldados as protegendo de cima de suas torres com tecnologia de ponta, um mundo muito fácil de sobreviver. Então joguei todas essas primeiras idéias fora e comecei algo novo, mas me baseando na premissa principal que é a sobrevivência. E para mostrar como seria essa história, aqui vai a única parte escrita:


                Três homens possivelmente recém saídos da adolescência chegam a uma cidade completamente destruída na região de Tohoku. Tudo virou ruínas, os prédios, as casas, verdadeiros amontoados de pedaços de tijolos e pedras. E é possível avistar pedaços mutilados de corpos espalhados por todos os lados. Um dos homens que pelo seu modo de vestir parece ser de uma família proeminente no cenário da alta sociedade, caminha até uma das casas destruídas e avista um corpo de uma criança mutilada e diz:
— Malditos zumbis!!! Essa praga se alastra feito um vírus! É como se eles tivessem aprendido a se organizar e caçar em bandos. Pobres pessoas, nem devem ter visto o que as atingiram.
— Cara, o que a gente está fazendo aqui? — fala outro dos homens, usando roupas um pouco mais simples, mas mesmo assim, de marcas finas e de requinte. — Não há mais nada para se fazer. Inclusive já limparam o local com uma bomba A.R.E.A.
— Downey, mesmo assim, ainda quero ter esperanças de encontrar alguém vivo.
— É muito tarde para isso, Steve, já limparam a área. E mesmo que alguém tenha sobrevivido, o Esquadrão Tático de Resposta Rápida já teria matado devido ao perigo de contagio.
                Nisso, o outro homem, que está usando um sobretudo  preto e bandana na cabeça, mexe num PDA e com um tom de voz mais alta diz:
— O pessoal, vamos cair fora daqui! Não sabemos se ainda haverá mais ataques ou se há equipes mercenárias por aqui. E duvido que o meu piloto vá querer continuar mais tempo por aqui. O helicóptero é um alvo fácil.
— Tá bom, Frank, vamos pessoal. — fala Steve.
                Então houvesse uma grande explosão vinda da direção onde o helicóptero pousou e Frank diz:
— Tomara que não seja o que eu estou pensando!
Eles saem correndo na direção da explosão e se escondem atrás de uns destroços para ver o que aconteceu. E quando Frank olha na direção do helicóptero este está em chamas e uns dez homens usando roupas pretas e capuzes estão em volta dos destroços.
— Droga! — fala Frank. ­— Há uma equipe usando roupas escuras e capuzes em volta do helicóptero. ­— Ele vira-se então para os outros e continua. ­— E a explosão que ouvimos foi do helicóptero, destruíram a nossa única chance de sair daqui.
— Deixa eu ver que equipe é essa. — fala Downey caminhando para o local onde estava Frank. — Merda! São os soldados da Divisão Tática Anti-Infecção, vi uma reportagem sobre eles há um ano. Eles possuem um sistema de rastreio que pode nos achar em qualquer lugar num raio de quinhentos metros deles. Então é bom começarmos a correr para bem longe daqui!
Os soldados começam a se movimentar e a sair do local onde está o helicóptero e uma forte chuva começa a cair. Então os três começam a correr e um dos soldados, que usa óculos especiais que indicam o local e a distância que seres vivos ou mortos se encontram os rastreia e com movimentos de mão transmite para os outros as coordenadas que os três estão. Então um dos soldados pega de suas costas um lança-misseis, se abaixa e atira na direção em que eles estão correndo.
— Merda!!! — grita Steve olhando para trás. — Tem um míssil vindo na nossa direção!!!
Nisso houvesse um som de tiro e o míssil explode em pleno ar. Então o barulho de motor de moto pode ser ouvido e sai de trás dos escombros em alta velocidade uma moto negra sendo pilotada por uma pessoa trajando roupas de couro pretas e um capacete com o desenho de uma caveira. Ela vai em direção aos três e ao se aproximar a pessoa vira para eles e grita:
 — Precisam de ajuda rapazes? — a voz ouvida é feminina.
— Sim. — responde Steve.
Então essa pessoa manobra a moto velozmente e vai em direção aos soldados. Eles se espalham e começam a atirar e ela continua indo em direção a eles em linha reta. Os três param de correr e Downey diz:
— Que mulher louca!
 Ao se aproximar dos soldados ela salta da moto e começa a atirar, derruba dois deles com tiros na cabeça e quando a moto se aproxima de outros quatro soldados, ela atira na moto que explode e lança esses soldados longe que caem com seus corpos pegando fogo. Ao atingir o chão a garota joga suas armas fora e pega mais duas que estavam na cintura e abre os braços girando o corpo derrubando mais dois soldados com tiros na cabeça. Então ela fica parada apenas olhando para os lados e quando um soldado se ergue detrás de uns escombros ela atira perfurando o olho dele e a bala atravessa o crânio matando o outro soldado que estava atrás se preparando para lançar um míssil. Os dois caem mortos no chão.
Então a garota pega as armas que ela jogou no chão e diz:
— Lá se foi minha moto. Agora terei que andar a pé. — ela tira o capacete e olha na direção que estavam os três amigos e abana para eles. — Espero que eles venham até aqui, porque eu não irei até lá.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um Mundo em Caos - 04

Após saírem da casa e atravessarem a multidão de mortos-vivos que se acumularam na rua e nos arredores, Miguel consegue sair da cidade e agora dirige pela interestadual BR 116. A cada metro que eles percorrem precisam desviar de algum carro incendiado, capotado ou que foi abandonado em um momento de desespero. Sem falar também nas dezenas de carros acidentados com seus ocupantes ainda dentro, só que agora transformados em amontoados de ossos. Miguel desvia de um carro e um zumbi surge bem ao lado do carro, ele olha para o zumbi e este possui a metade do crânio destroçado com metade de seu cérebro exposto. Miguel então percebe uma coisa que até então eles ainda não tinham se dado conta, o cérebro da criatura está intacto. Enquanto o restante do corpo está apodrecendo a cada segundo que passa, o cérebro continua em perfeitas condições. Ele então olha para Raguel e ela parece estar com seus pensamentos bem distantes dali, e para não incomodá-la com teorias escabrosas ele pensa em outra maneira de acordá-la de seus pensamentos. Uma coisa que no momento o está causando certo desconforto:
— Tem alguma coisa salgada para comermos? Meu estômago está roncando.
— Tem salgadinho lá atrás. — responde. — Vou pegar. — Raguel se esgueira por entre os bancos e chega ao porta-malas, procura em algumas sacolas e encontra um pacote de Fandangos sabor presunto. — Achei um Fandangos, pode ser?
— Claro. — responde. — Com a minha fome comeria um boi.
Raguel pula para o banco de trás e alcança o pacote de salgadinhos para Miguel e diz: — Vou ficar aqui atrás brincando com o filhote.  — Ela pega o filhote no colo e fica fazendo carinho nele.
— Você não está com fome? — pergunta Miguel.
— Não. Enquanto eu estava arrumando as coisas nas malas achei uns pacotes de bolacha e devorei todos.
— Hummm... então terei que comer este pacote de salgadinhos sozinho.
— Como se fosse muito difícil. — fala Raguel sorrindo. — Ainda mais sendo de presunto.
— É verdade, não é nem um pouco. — responde Miguel abrindo o pacote de salgadinhos.
Após alguns minutos rodando eles chegam à divisa do bairro São Luís com o bairro Mathias Velho e Miguel é obrigado a parar, pois o caminho está bloqueado por veículos virados na pista. A divisa dos dois bairros é simbolizada por um viaduto que atravessa a Avenida Getúlio Vargas, BR 116, a linha do trem e do outro lado a Avenida Guilherme Schell. Esse viaduto possui acessos e saídas para as duas avenidas e também para a BR 116 no sentido Canoas, Porto Alegre. Nesses acessos e saídas há vários carros abandonados e acidentados inviabilizando a passagem de qualquer veículo. A única passagem para continuar seguindo para canoas seria atravessar para a outra pista da BR 116 e continuar desviando dos carros. Mas para isso seria necessário quebrar a mureta de concreto que divide as duas pistas, algo impensável para ser feito mesmo com ferramentas. Pois o barulho atrairia a atenção de qualquer morto-vivo nas proximidades, além de outras criaturas ou animais que por ventura estejam no raio de alcance do som que seria produzido. Fora o tempo que seria necessário para isso. Sem esquecer também que há vários zumbis perambulando pela auto-estrada e ficar exposto a ataques é querer contar demais com sorte de não ser mordido e automaticamente infectado.
E como a estrada está bloqueada por um tanque de guerra e vários carros virados ao longo da pista, Miguel decide sair do carro e tentar achar uma alternativa.
— É perigoso você sair. — fala Raguel pulando para o banco do carona. — Já contei 13 zumbis próximos a nós.
— Eu preciso encontrar uma alternativa, não podemos ficar parados aqui esperando uma providência divina.
— Eu vou com você então. — Raguel pega o seu bastão no chão do carro e abre a porta.
Miguel também sai do carro e fecha a porta logo em seguida. ­— Eu vou procurar do outro lado um carro que esteja funcionando. — Fica perto de mim dando cobertura. Porque vou estar preocupado com outra coisa e posso não perceber a aproximação de alguma criatura.
— Pode ficar tranqüilo que não vou sair de perto de você.
Eles pulam a mureta de proteção e passam a olhar os carros que estão abandonados e em boas condições. Após olharem vários carros, tentar fazer funcionar, Miguel se apóia na porta de uma BMW 320i de cor branca e diz:
— Tá complicado. Não consegui achar um que ainda esteja com um pouco de carga na bateria.
Nisso um zumbi aparece rastejando por debaixo do carro e Raguel grita: ­— Cuidado! — Miguel pula para frente e ela esmaga a cabeça do zumbi batendo com o bastão. — Mais um para a minha coleção.
— Quer me matar de susto? — fala Miguel. — Quase fiquei sem saber o que fazer.
— Mas fez certo, isso é que importa agora.
Então olhando para frente ele avista uma Ford Edge preta, com sua grande grade frontal com três laminas horizontais cromadas deixando transparecer uma cara de má, abandonada e aparentemente perfeita. Ele olha para Raguel e diz para ela acompanhar ele. Os dois se aproximam do carro e ele puxa a maçaneta da porta e ela abre. — Opa. — diz ele. — Uau, como é linda. Tem até teto-solar panorâmico. — ele senta no banco do motorista e avista a chave ainda na ignição. — Esse crossover vai ter que funcionar. — ele gira a chave e o motor liga, mostrando todo o ronco das suas vinte e quatro válvulas. — Esse motor V6 vai ser a nossa salvação. — ele olha então para Raguel e diz: — Entra aí, vou levar ele mais para perto da Marea.
Ele manobra o crossover e o deixa o mais próximo possível de onde deixou o outro carro. Mas ainda precisam percorrer uma distância de trinta metros para chegarem ao outro carro. Ele mexe no painel do carro e aperta o botão de abertura da tampa do porta-malas, esta se abre e eles descem do carro e retiram tudo que há dentro jogando no chão.
— Agora vamos trazer tudo que tem lá para cá. — fala Miguel caminhando a passos rápidos.
Raguel o segue e eles começam a trazer as coisas que estavam no porta-malas da Marea para o Edge. Nisso, o filhote pula do carro e começa a latir em frente a três zumbis que saíram de trás de um carro que está parado ao lado da Marea. Raguel volta correndo e grita para Miguel: — Socorro! Eles vão matar o nosso filhote!
Miguel vira-se para ela e volta correndo também. Então um dos zumbis agarra o filhote com suas mãos frias e pútridas e Raguel solta um grito de desespero que faz vários outros zumbis se virarem para a direção que eles estão. O zumbi então leva o filhote em direção a boca escancarando seus dentes podres quando é atingido por um tiro na cabeça e cai no chão soltando o filhote. Raguel sai correndo em direção aos zumbis e golpeia um deles com o bastão, mas acerta o braço quebrando os ossos e o zumbi parece nem se importar em ter seus ossos moídos, a única coisa que ele deseja agora é devorar a carne dela. Então mais dois tiros são ouvidos com um pequeno intervalo entre eles e os dois zumbis caem no chão com seus cérebros destroçados. Raguel pega o filhote no colo e Miguel fica olhando para os lados para ver se encontra quem atirou nos zumbi, então um grito vindo do alto do viaduto faz os dois olharem para cima e verem um homem grisalho usando roupa de kevlar preto segurando um rifle: — Levem suas coisas para o outro carro que eu dou cobertura para vocês!
Os dois carregam as coisas que faltavam para o Ford Edge e o homem dá cobertura para eles atirando nos zumbis que tentam se aproximar. Após Carregarem tudo entram no carro e Miguel o liga e já segue em frente. Então o homem que os ajudou aparece ao lado do crossover pilotando uma Twister e grita: Me sigam!
Miguel faz sinal de positivo com o dedo polegar erguido e segue o homem. Eles rodam um pouco e chegam a um posto de gasolina. O homem pára a moto e Miguel faz o mesmo com o carro. O homem caminha até o crossover e Miguel abre a porta descendo do carro.
— Muito obrigado por ter nos ajudado. — fala Miguel.
— Não precisa agradecer. É em momentos assim que precisamos nos unir. A propósito, — fala esticando a mão para Miguel. — me chamo Francisco Castelo e você?
— Miguel. — responde apertando a mão do homem.
Raguel desce do carro e diz: — Eu me chamo Raguel. Prazer.
Francisco acena com a cabeça para ela e diz:
— Foi sorte eu ter encontrado vocês, estava vindo para buscar gasolina. Só avistei vocês porque ouvi os gritos e agi rápido.
— Foi muita sorte a nossa. — fala Raguel sorrindo.
— E como está o cãozinho? — pergunta ele.
— Bem, graças a você. — responde. — Muito obrigada.
— Só fiz aquilo que vocês fariam por mim. Mas para onde vocês estão indo? — pergunta Francisco mexendo nas bombas de combustível.
— Estou indo procurar dois amigos meus que moram aqui em Canoas. — responde Miguel indo abrir a tampa do combustível. — Depois não sei.
— Tem se comunicado com eles?
— Não, — responde já enchendo o tanque do carro. — desde que as transmissões cessaram que não tenho nenhuma notícia deles. Mas tenho certeza que estão bem.
— É isso aí. Nunca perder a fé. — sorri o homem.
Miguel termina de encher o tanque e fecha a tampa do combustível. — Seria bom se tivesse tonéis ou garrafas para levar combustível extra.
— Lá na loja de conveniência tem bastante garrafas. Coca-cola de três litros aos montes. — fala Francisco.
Miguel agradece e vai junto com Raguel buscá-las. Eles entram na loja de conveniência e se deparam com muitas bebidas, desde refrigerantes a whiskys. E também bolachas, salgadinhos, balas, biscoitos entre outras guloseimas. Francisco os segue e diz para levarem o que puderem, porque dependendo do lugar que estiverem podem não haver provisões. Os dois concordam e passam a levar de tudo para o carro. Então passam a esvaziar as garrafas de três litros e as encher com gasolina. Eles vão até o depósito e esvaziam exatas trinta garrafas e Francisco as enche para eles e as acomoda no porta-malas do carro de forma a não se misturarem com o restante das coisas. Ele pega um papelão e coloca entre as garrafas e os alimentos e roupas.
— Tá cheinho esse porta-malas, hein? — fala Francisco.
— Vai durar um bom tempo. — responde Miguel.
— Uma dica para vocês, — segue Francisco. — não é porque estão com o porta-malas cheio de alimentos que vocês devem desperdiçar. Comam apenas quando estiverem realmente com fome e não apenas para matar um desejo. Nada dura para sempre.
Raguel olha para Miguel e então responde para Francisco: — Eu sei. Ia conversar isso com Miguel depois. Ele adora viver comendo.
— Racionem. Vocês vão precisar depois e poderão não ter num momento de verdadeira necessidade.
Concorda Miguel ainda salientando que não apenas a comida deve ser economizada, mas também o que pegaram de bebida e água. Porque encontrar água limpa e potável vai ser uma das coisas mais difíceis mais a frente. Francisco então caminha até sua moto e diz:
— Já vim fazer o que eu queria. — mostrando as garrafas de gasolina amarradas ao banco da moto. — E agora vou voltar para a minha cidade.
— Para onde você está indo? — pergunta Miguel.
— Morretes. — responde subindo na moto. — Tenho um pequeno sitio por lá bem protegido. Se um dia quiserem aparecer estão convidados.
— Obrigado. — agradece Miguel. — Dependendo do que acontecer daqui para frente podemos aparecer sim.
— Isso aí, não se façam de rogados em pedir ajuda. Já considero vocês amigos e contarei a minha família do casal que encontrei nas minhas andanças. Então Miguel, cuide bem da sua namorada, a proteja de qualquer coisa. Ela parece ser uma pessoa muito boa. Minha filha iria adorar ela. Vocês parecem ser quase da mesma idade, minha filha tem dezessete anos e você?
— Eu tenho dezoito. — responde Raguel.
— Viu, quase da mesma idade. — Francisco liga a moto e como despedida diz: — Vejo vocês em breve no meu sitio. Tchau! — acelera sua moto indo embora pela BR 116.
— Cara gente fina. — elogia Miguel. — Vamos embora?
— Vamos. — responde Raguel caminhando em direção ao carro. — Ele achou que fossemos um casal. Será que parecemos um?
— Talvez pela nossa amizade e proximidade que adquirimos desde que nos conhecemos ele pensou isso. — responde Miguel entrando no carro.
— Pode ser. — fala Raguel sorrindo e olhando pela janela enquanto o posto vai ficando para trás pelo retrovisor.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Em Algumas Horas Capítulo 04 no Ar!!!

Em algumas horas o Capítulo 04 estará no ar, e para não perder o velho costume.... aí vai:

Após saírem da casa e atravessarem a multidão de mortos-vivos que se acumularam na rua e nos arredores, Miguel consegue sair da cidade e agora dirige pela interestadual BR 116. A cada metro que eles percorrem precisam desviar de algum carro incendiado, capotado ou que foi abandonado em um momento de desespero. Sem falar também nas dezenas de carros acidentados com seus ocupantes ainda dentro, só que agora transformados em amontoados de ossos. Miguel desvia de um carro e um zumbi surge bem ao lado do carro, ele olha para o zumbi e este possui a metade do crânio destroçado com metade de seu cérebro exposto. Miguel então percebe uma coisa que até então eles ainda não tinham se dado conta, o cérebro da criatura está intacto. Enquanto o restante do corpo está apodrecendo a cada segundo que passa, o cérebro continua em perfeitas condições. Ele então olha para Raguel e ela parece estar com seus pensamentos bem distantes dali, e para não incomodá-la com teorias escabrosas ele pensa em outra maneira de acordá-la de seus pensamentos. Uma coisa que no momento o está causando certo desconforto:
— Tem alguma coisa salgada para comermos? Meu estômago está roncando.
— Tem salgadinho lá atrás. — responde. — Vou pegar. — Raguel se esgueira por entre os bancos e chega ao porta-malas, procura em algumas sacolas e encontra um pacote de Fandangos sabor presunto. — Achei um Fandangos, pode ser?
— Claro. — responde. — Com a minha fome comeria um boi.
Raguel pula para o banco de trás e alcança o pacote de salgadinhos para Miguel e diz: — Vou ficar aqui atrás brincando com o filhote.  — Ela pega o filhote no colo e fica fazendo carinho nele.
— Você não está com fome? — pergunta Miguel.
— Não. Enquanto eu estava arrumando as coisas nas malas achei uns pacotes de bolacha e devorei todos.
— Hummm... então terei que comer este pacote de salgadinhos sozinho.
— Como se fosse muito difícil. — fala Raguel sorrindo. — Ainda mais sendo de presunto.
— É verdade, não é nem um pouco. — responde Miguel abrindo o pacote de salgadinhos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um Mundo em Caos - 03

O dia está amanhecendo e Miguel acorda com uma onda de barulhos vindos da rua. Ele está deitado em um sofá próximo à cama onde Raguel ainda dorme. Sonolento, ele levanta e caminha até a janela para averiguar o que são esses barulhos que o tiraram de seu sono. Ao olhar pelo vidro, se depara com uma visão simplesmente aterradora, inimaginável para ele até então. Centenas de zumbis cambaleantes estão amontoados em frente à casa, e outros mais seguem o mesmo caminho. As grades que compõem a cerca que protegem o pátio antes eram retas, agora estão inclinadas em direção a casa, Miguel parece sentir que as ponteiras das grades estão apontando para ele.
Os grunhidos que antes eram quase imperceptíveis, agora se tornam altos, os zumbis sentiram a presença dele na casa, ou mesmo viram ele no alto da janela. Para quem ouve parece uma suplica de dor, os grunhidos se assemelham a gemidos, um som rouco devido à podridão das cordas vocais. Miguel então sai da janela e caminha a passos rápidos em direção a cama chamando por Raguel.
— O que houve? — pergunta ela ainda abrindo os olhos.
— Estamos cercados. — responde ele com um tom de voz baixa.
— Como assim?
— Ouve o barulho vindo da rua. — Miguel fica a olhar para Raguel e quando ele percebe a feições do rosto dela mudarem, ele continua, — Há centenas de zumbis amontoadas aqui em frente, a única coisa que nos separa deles são as grades do muro.
— Não pode ser! Como eles sabem que estamos aqui? — indaga ela levantando. — Não havia nenhum nos arredores quando chegamos ontem à noite.
— Não sei, mas o fato é que nos encontraram e agora precisamos sair daqui.
Então ela caminha até a janela e vê com seus próprios olhos aquela multidão de mortos-vivos que se aglomeram cada vez mais em frente às grades da casa. Ela sente um frio na espinha e a sensação de como se eles a fitassem com seus olhos mortos sedentos para devorarem a carne dos ocupantes da casa.
— O que vamos fazer? — pergunta ela colocando as mãos no vidro da janela.
Miguel se aproxima dela e responde: — Achar uma maneira de sairmos vivos daqui, porque essa grade não vai agüentar muito tempo e logo eles invadirão a casa. — então ele caminha até outra janela e fica olhando para o portão, e ­— Acho que tem uma maneira de sairmos daqui. Mas vou precisar da sua ajuda. — conclui olhando para Raguel.
— E o que você tem em mente?
— Reforçar o carro — e após uma pequena pausa conclui, — e passar arrancando o portão e atropelar tudo o que cruzar a nossa frente.
— E como pretende fazer isso?
— Reforçando a frente do carro. Eu vi vários pedaços de madeira, ferro e outras coisas na sua garagem. Então o que eu pensei foi — fala Miguel pegando um papel e uma caneta e começando a desenhar conforme vai falando. — Vou abrir quatro buracos no capô e colocar quatro pedaços de madeira em vertical, exatamente como desenhei aqui. Depois pegarei outras duas madeiras um pouco maiores e vou pregar sobre essas na horizontal, entendeu?
­— Sim. — responde ela.
— Então vou abrir um buraco de cada lado do pára-choque e vou passar uma madeira e pregar mais duas na horizontal em direção a frente do carro. Tá dando pra entender direitinho no desenho? — ela responde que sim e ele continua, — Feito isso, vou usar a madeira de cima da sua mesa da cozinha e pregar nessa quatro madeiras que estão na horizontal e criar uma espécie de parede.
— E acha que isso vai funcionar?
— Tem que funcionar. — responde largando o papel e a caneta na escrivaninha. — É a única alternativa que temos.
— E quando vai começar a fazer isso?
— Agora mesmo.
— Então espera eu trocar de roupa que eu vou te ajudar. De pijama fica meio complicado.
— Espero lá em baixo, vou ir procurando as coisas que eu preciso e já aproveito pra dar comida para o filhote. ­— fala saindo do quarto.
Miguel desce até a garagem e o filhote vem correndo brincar aos seus pés, ele brinca um pouco e aproveita para encher um potinho de ração. O filhote pára para comer e Miguel começa a procurar por um martelo. Ele acha então o martelo sobre uma estante e o separa colocando em cima do capô do carro. Então ele olha para os lados e pensa: ­— Preciso de uma serrinha para poder cortar o capô.
Raguel já trocou de roupa e está em frente ao espelho arrumando o cabelo: ­— O mundo em ruínas e eu aqui cuidando do meu visual. Como se alguém fosse perceber com tudo isso que está acontecendo. — ela arruma o cabelo de forma que fica com uma pequena franja cobrindo parte da testa e o restante do cabelo penteado para trás parecendo uma onda de fogo descendo por suas costas. Ela desce as escadas e então caminha até a garagem e encontra Miguel rabiscando o capô do carro com um giz branco. — Ainda desenhando? — pergunta.
— É para cortar de forma correta e não cometer nenhum erro. — responde sem tirar a atenção do que está fazendo. — O meu projeto precisa ser firme para não ceder, então não posso deixar folgas e nem falhas. A nossa sobrevivência depende disso.
— Hummm, então no que posso ajudar? — pergunta colocando a mão sobre o ombro dele.
Ele vira-se para ela e notando a mudança no penteado diz: — Ficou muito bonita com esse penteado, te deu um ar de inocência. E claro, seus olhos verdes ficaram ainda mais belos.
— Obrigada. — responde e logo em seguida pensa: — E eu achando que ninguém notaria uma diferença sequer em mim não importando o que eu fizesse. Ele parece tão diferente de todas as pessoas que eu conheci quando o mundo ainda era normal. O olhar dele possui um carinho to grande... — então ela tem seus pensamentos invadidos por uma pergunta: — Está tudo bem? — A pergunta a tira do fundo de seus pensamentos e a faz acordar: — Tudo bem. Só estava pensativa.
— Quer compartilhar comigo o que estava pensando? — pergunta. — É que lhe perguntei três vezes se estava tudo bem.
— Não era nada importante.
— Está certo. — então ele sorrindo diz: — Quer me ajudar?
— É claro! — responde ela com um sorriso no rosto. — O que eu posso fazer?
— O que você sabe fazer?
— Muitas coisas. Sempre gostei de acompanhar meu pai nas reformas aqui de casa ou então quando ele resolvia botar a mão na massa nos projetos que ele aceitava.
— O que ele fazia?
— Ele é engenheiro civil e arquiteto. — responde. — Trabalhava na construção civil. Era dele o projeto do shopping aqui da cidade. Uma pena não ter dado tempo de concluir. Iria ficar muito bonito.
— E você ficou bem quietinha quando eu estava fazendo aquele desenho tosco.
— Heheh... mas ficou bom. A idéia era sua, como eu iria me intrometer?
— Idéias são bem vindas e sempre que você tiver uma eu quero que me conte, tá bom?
— Tá.
— Nós somos uma equipe agora, eu poderia dizer uma dupla, mas nos considero muito maiores que apenas duas pessoas. — fala Miguel com as mãos nos ombros de Raguel. — Nós somos o maior time que existe no mundo! Eu e você!
Raguel ouve atentamente a cada palavra dita por Miguel e sente sua vontade de sobreviver renovadas. No interior de sua alma ela sente que enquanto os dois permanecerem juntos serão invencíveis. Então ela sorri para Miguel o abraçando forte e bem próximo de seu ouvido diz:
— Você é incrível. Muitas vezes pensei em desistir, em deixar meu corpo sucumbir a escuridão que o mundo oferece hoje. Mas desde que nos conhecemos sinto minha força de vontade crescendo, meu instinto de sobrevivência se renovando. Vamos terminar de construir o seu projeto e destruir esses zumbis.
Miguel alegremente responde:
— Sairemos daqui até o meio-dia.
Os dois então começam a trabalhar de forma árdua na construção do projeto de Miguel. Enquanto Raguel termina de cortar as madeiras, ele já está serrando o capô. Ela então entrega as madeiras para Miguel e ele já as coloca no capô reforçando-as na parte de baixo. Raguel termina de cortas outras madeiras e diz: — Terminei aqui. Vou desmontar a mesa da cozinha e já te trago mais madeiras. — Miguel agora está abrindo os buracos nas laterais do pára-choque e responde: — Ótimo, daqui a pouco vou precisar da madeira que fica em cima da mesa, que eu acho que seria a tampa da mesa, mas não tenho certeza. — Raguel se encaminha para a cozinha e passa a desmontar a mesa. Em alguns minutos a mesa está completamente desmontada e ela passa a levar as madeiras para a garagem. A invenção de Miguel está quase pronta, faltando apenas a tampa da mesa. Os dois então carregam essa parte juntos e alguns minutos depois terminam de montar a tal parede criada por Miguel.
— Conseguimos. — fala Raguel cansada.
— Agora preciso fechar a parte em que quebrei o vidro. Pensei em utilizar aquela grade que está jogada ali no canto. Vou prender ela na porta com bastante arame e poderemos sair daqui.
— Quer ajuda nessa parte? — pergunta Raguel indo buscar a grade. — Tem arame na primeira gaveta do armário.
Miguel pega o arame na gaveta e Raguel entrega para ele a grade. Miguel então abre o porta-malas e diz para ela: ­— Em alguns minutos sairemos daqui, então eu gostaria que você pegasse tudo que julgar necessário levarmos. Porque é bem provável que não mais voltemos aqui.
— Vou pegar algumas roupas minhas e alguns lençóis, cobertores, não quero que passemos frio.
— Certo. Eu vou terminar de arrumar aqui e quando você voltar estaremos prontos para sair.
Eles passaram tanto tempo dentro de casa sem olhar para a rua que nem sequer perceberam que o acúmulo de mortos-vivos na frente da casa e nas ruas próximas chega a quase milhares. Se fosse visto de cima, iria parecer um monte de formigas quando se mexe em um formigueiro. E o número de seres putrefatos aumenta a cada minuto que passa.
Raguel procura por duas malas de viagem e ao achá-las as enche com roupas, lençóis, cobertores e toalhas. Então ela pensa: — Será que não falta mais nada? Acho que não. Isso é tudo que precisamos. — então ela pega as duas malas de viagem e desce rapidamente para a garagem. Miguel já estava com tudo pronto. Estava apenas esperando por ela. — Peguei tudo que precisamos. — diz ela.
Ele coloca as malas no porta-malas e o fecha. Então olhando para ela e pergunta:
— Está pronta para encarar os monstros que nos esperam lá fora?
— Com você ao meu lado estou pronta para encarar qualquer coisa. — responde ela.
— Então vamos abrir a porta da garagem e dar o fora daqui. — fala Miguel caminhando até a porta de ferro da garagem.
Ele destranca a porta e a levanta revelando novamente o mundo lá fora. As grades estão tapadas de zumbis criando um bloco maciço de corpos putrefatos a frente deles. Então Miguel faz sinal para Raguel entrar no carro. Ela entra rapidamente e ele então fica por mais alguns segundos encarando os zumbis e então vira de costas para eles e caminha em direção ao carro. Miguel gira a chave do carro e ouve o ronco subir, ele então engata a primeira marcha e começa a acelerar devagar o carro. Ao se aproximar do portão começa a empurrá-lo para frente e então engata a segunda marcha e pisa um pouco mais no acelerador. O conta-giros sobe para três mil RPM e o portão se rompe com a força do carro e ele passa a empurrar os zumbis. Conforme o carro vai avançando os zumbis vão sendo empurrados para as laterais e alguns caem e as rodas do carro passam por cima. Raguel assustada diz:
— Não parecia tantos olhando da janela hoje de manhã. Será que vamos conseguir?
— Precisamos conseguir. — responde Miguel. — Tente não olhar para eles, feche seus olhos e deixe comigo.
Miguel vai avançando aos poucos e percebe que a tampa da mesa está se rompendo, então pensa: — Por favor, não quebre antes de sairmos daqui. — As mãos dos zumbis tentam atravessar a grade que ele colocou no lugar do vidro e a forçam para dentro. Miguel pisa um pouco mais forte no acelerador e o carro passa a andar mais rápido, mas mesmo assim ele sente o carro ser empurrado pela massa de zumbis a frente. Então ao chegar ao final da rua ele consegue avistar uma clareira entre os zumbis e acelera o carro com tudo o jogando sobre os zumbis. Quando ele consegue chegar a clareira avista uma rua vazia e vira o volante para direita e faz o carro cantar pneus e desaparece em alta velocidade deixando os zumbis para trás.
Então ele olha para Raguel e diz:
— Conseguimos! Deixamos eles para trás!
Ela abre os olhos e ao ver que não há sequer um zumbi em volta do carro, sorri e abraça Miguel com tanta força que ele diz: ­— Tá me sufocando... — Ela sorri e dá um beijo no rosto dele e o agradece por tê-los tirado de lá. Miguel reduz a velocidade do carro e olha para ela e diz que agora eles vão para Canoas em busca dos amigos dele. Que quanto mais pessoas capazes de resistir aos zumbis juntos melhor. E que os amigos dele são pessoas capazes de resistir ao Apocalipse bíblico várias vezes. Ela sorri e diz que se ele está dizendo isso ela acredita e que vai ajudá-lo no que ele decidir fazer. E assim eles seguem rumo a Canoas pela BR 116.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Essa Semana Ainda Capítulo 03 No Ar!!!

Seguindo a empolgação que senti escrevendo o 2º capítulo, já está quase pronto o 3º capítulo. No momento estou lapidando ele. Escrevendo algumas coisas para dar mais sentindo, tirando outras que ficaram bem fora do contexto. Tentando criar um clima de pavor e ao mesmo tempo de ação aos personagens. Então como de costume, segue aí o começo do próximo capítulo (que ainda pode sofrer alterações para ficar mais interessante):


O dia está amanhecendo e Miguel acorda com uma onda de barulhos vindos da rua. Ele está deitado em um sofá próximo à cama onde Raguel ainda dorme. Sonolento, ele levanta e caminha até a janela para averiguar o que são esses barulhos que o tiraram de seu sono. Ao olhar pelo vidro, se depara com uma visão simplesmente aterradora, inimaginável para ele até então. Centenas de zumbis cambaleantes estão amontoados em frente à casa, e outros mais seguem o mesmo caminho. As grades que compõem a cerca que protegem o pátio antes eram retas, agora estão inclinadas em direção a casa, Miguel parece sentir que as ponteiras das grades estão apontando para ele.
Os grunhidos que antes eram quase imperceptíveis, agora se tornam altos, os zumbis sentiram a presença dele na casa, ou mesmo viram ele no alto da janela. Para quem ouve parece uma suplica de dor, os grunhidos se assemelham a gemidos, um som rouco devido à podridão das cordas vocais. Miguel então sai da janela e caminha a passos rápidos em direção a cama chamando por Raguel.
— O que houve? — pergunta ela ainda abrindo os olhos.
— Estamos cercados. — responde ele com um tom de voz baixa.
— Como assim?
— Ouve o barulho vindo da rua. — Miguel fica a olhar para Raguel e quando ele percebe a feições do rosto dela mudarem, ele continua, — Há centenas de zumbis amontoadas aqui em frente, a única coisa que nos separa deles são as grades do muro.
— Não pode ser! Como eles sabem que estamos aqui? — indaga ela levantando. — Não havia nenhum nos arredores quando chegamos ontem à noite.
— Não sei, mas o fato é que nos encontraram e agora precisamos sair daqui.
Então ela caminha até a janela e vê com seus próprios olhos aquela multidão de mortos-vivos que se aglomeram cada vez mais em frente às grades da casa. Ela sente um frio na espinha e a sensação de como se eles a fitassem com seus olhos mortos sedentos para devorarem a carne dos ocupantes da casa.
— O que vamos fazer? — pergunta ela colocando as mãos no vidro da janela.

Aí galera que tá acompanhando deixem seus comentários!!!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um Mundo em Caos - 02

O dia começou com um calor escaldante, mas agora as nuvens começam a tomar conta do céu e o azul que antes o pintava, agora se torna aos poucos cinza escuro. Aquela sensação de abafado começa a se dissipar e uma brisa gelada passa a soprar.
— O tempo está mudando. — fala Miguel olhando para o céu. — Em breve vai chover forte.
— Então antes que escureça ainda mais precisamos pegar o que viemos buscar e sair o mais rápido possível das ruas.
— Concordo, vamos entrar então. ­— fala Miguel enquanto desembainha sua espada. — Está pronta?
— Sim. — responde Raguel empunhando o bastão.
Os dois atravessam a rua e entram no hipermercado pelo estacionamento que fica no subsolo. O cheiro de podridão parece tomar conta do ar e os dois levantam a gola de suas camisas tapando o nariz e a boca. Há vários carros estacionados e alguns batidos de forma que é possível perceber que o acidente ocorreu quando tentavam sair do local. Olhando mais a frente é possível ver alguns restos de corpos destroçados já em decomposição.
— Que nojo! — fala Raguel passando ao lado de um corpo com a cabeça destroçada e parte do cérebro espirrado no chão cheio de vermes.
— Tente não ficar olhando que é pior.
­— Claro, vou ignorar o que está a minha volta em tudo quanto é lugar. O problema é que até agora eu evitei chegar muito perto de um cadáver.
— Vamos continuar. — sussurra Miguel entrando por uma porta de vidro que dá acesso as escadas rolantes que levam a parte superior onde fica o hipermercado.
Eles passam em frente a uma loja de roupas, as famosas surf shops, e Raguel comenta:
­— Seria uma boa idéia pegarmos algumas roupas depois.
— Pensamos nisso mais tarde. Nosso foco principal é outro.
Eles param em frente às escadas rolantes e avistam corpos caídos sobre elas, alguns ainda com carne e outros já completamente sem, apenas uns amontoados de ossos. Então eles sobem as escadas abaixados e quando chegam lá em cima podem ver a praça de alimentação logo à frente e a direita as caixas do hipermercado ainda com mercadorias em cima e claro, mais corpos espalhados pelo chão.
— Precisamos pegar um carrinho. — fala Raguel olhando para os lados.
Miguel se vira para a esquerda e diz:
— Esse aqui vai servir, pegamos outro mais a frente.
Ele sai empurrando o carrinho e Raguel avista outro vazio e o pega. O hipermercado é cheio de corredores divididos por seções, cada uma correspondendo a um tipo de alimento, outro a bebidas, eletroeletrônicos e utensílios em geral. Miguel pára e fica olhando em direção aos corredores e pergunta para Raguel em qual corredor iriam primeiro, ela olha para ele e responde: — Vamos seguindo a ordem e depois voltamos. ­— Então eles começam a seguir em frente bem devagar, seguindo passo a passo como se fossem encontrar um morto-vivo à frente. O primeiro corredor a entrarem é o de limpeza, Raguel pega alguns produtos de limpeza e panos. E eles seguem em frente entrando no próximo corredor que é o de higiene pessoal. Miguel sai catando várias coisas e coloca no carrinho dela.
— Porque está colocando no meu? — pergunta ela.
— Acho melhor assim. Não misturamos com alimento.
Eles passam por alguns corredores que julgam não ter nada que possam precisar e chegam à parte de enlatados. Miguel larga o carrinho e diz:
­— Pegue tudo que você achar necessário. Você fica desse lado do corredor e eu do outro. Largue tudo no meu carrinho.
— Tá bom.
Eles juntam tudo que julgam necessários e colocam no carrinho, fazem isso várias vezes. Então partem para o próximo corredor onde pegam bastante biscoitos, salgadinhos e chocolates. O carrinho de Miguel já está quase cheio. Então Raguel diz:
— Não temos alternativa. Vamos largar no meu também. Dane-se ficar tudo junto. Na atual condição que estamos não podemos ficar escolhendo como vamos fazer as coisas, se fosse em outra época seria cabível, hoje não é mais.
Miguel concorda e então eles continuam pegando mais coisas nos próximos corredores, pegam leite de caixinha, refrigerantes, ração para o filhote, açúcar, sal e muitas outras coisas. Enchem os dois carrinhos e então Miguel olhando para as janelas diz:
— Já está chovendo.
— Estávamos tão entretidos em busca dessas coisas que nem nos demos conta. — sorri Raguel.
— Que sorriso bonito. — elogia Miguel. — É bom ver que ainda a lugar para um belo sorriso nesse mundo. — Raguel agradece e ele continua, — Pensei que nunca mais veria um novamente.
— Pois viu. — fala ela passando a mão nos cabelos. — Mas agora precisamos sair daqui. Não confio nesse lugar.
— Estava pensando exatamente nisso. Para onde vamos? — indaga ele.
— Para onde você estava indo quando o encontrei? — pergunta ela.
— A procura dos meus amigos em Canoas. — responde. — Ia seguir até a linha de trem e depois rumar para lá.
— Certo. Acho que podemos fazer isso amanhã. Já está escuro demais para pegarmos a estrada. ­— diz apontando para a janela. — E a chuva não ajuda em nada, só ajuda a piorar. Estava pensando, que tal irmos para a minha casa e passarmos a noite lá? Amanhã rumamos para Canoas e com o dia claro será mais fácil de enxergar o que nos espera a cada rua.
— Você tem razão. Vamos para a sua casa e amanhã seguimos em frente.
Nisso o filhote começa a latir e eles ouvem barulhos vindo de dois corredores atrás. Miguel pega a espada que estava em cima do carrinho e diz:
— Faz o filhote parar de latir que eu vou ver o que é. Não sai daqui.
— Tá bom. — responde ela pegando o filhote na mochila.
Miguel sai caminhando bem devagar com a espada em punhos e pára quando chega ao fim do corredor e espia para ver se enxerga alguma coisa, mas não vê nada. Então ele vira-se para trás e faz sinal para Raguel que vai seguir em frente. Ela apenas faz sinal com a cabeça que sim. Miguel passa pelo próximo corredor e quando encosta-se nas prateleiras para espiar ouve um grunhido bem próximo de onde ele está e de repente ao seu lado surge uma cabeça putrefata com nacos de carne cheias de vermes e partes do crânio amostra. O zumbi cambaleante vira-se para Miguel e seus olhos sem expressão, frios como a morte o fitam de forma ameaçadora. Então instintivamente ele crava a espada pelo glóbulo ocular do zumbi fazendo-a atravessar o cérebro da criatura e este cair com seu corpo apodrecido ao chão. Ele retira a espada do crânio da criatura e ao olhar para frente pode ver vários zumbis se dirigindo em sua direção.
— Merda! — pensa ele voltando correndo.
Raguel vê ele voltar correndo e com a espada suja e pergunta:
­— O que houve?
— Zumbis! — responde. — Vários deles, muitos, uma dezena! Não sei de onde saíram. Vamos sair logo daqui.
Raguel coloca o filhote novamente na mochila e segura o carrinho e os dois saem correndo pelos corredores do hipermercado cada um com seu carrinho lotado de coisas. E mais a frente avistam mais zumbis e então vêem de onde eles estão vindo, da rua, por outra entrada. Eles desviam do caminho por onde estão vindo os zumbis e passam por entre os caixas do hipermercado e seguem rumo as escadas rolantes. Eles as descem rapidamente e chegam ao subsolo. Miguel olha para todos os lados e não avista nenhum zumbi. Então eles correm em direção à saída e na rua avistam mais zumbis.
— Eles estão vindo de todos os lados! — fala Raguel apavorada.
— Esquece eles! Precisamos ser rápidos e guardar tudo o que pegamos.
Eles chegam até o carro e Miguel abre a porta e procura pela alavanca que abre o porta-malas que fica ao lado do banco na parte de baixo. Ele a acha, puxa a alavanca e abre o porta-malas. Volta correndo para trás do carro e os dois começam a jogar tudo lá dentro. E cada segundo que passa os zumbis se aproximam mais dos dois. Raguel vê que eles estão perto demais e diz:
— Termina de carregar o carro que eu vou me livrar deles!
— Não, fica aqui!
— Faz o que eu estou dizendo! — fala ela com voz firme. ­— Eu sei me virar. — e sorri para ele.
Até então Raguel nunca havia entrado em confronto com um zumbi, pelo seu corpo passava uma sensação de ansiedade e medo. Mas eram sensações que ela não deixava aflorarem. Então ela corre em direção a um dos zumbis e ergue seu bastão e ao girá-lo no ar acerta em cheio a cabeça do zumbi fazendo este cair violentamente no chão com seu crânio afundado. Então ela sorri ao se ver sair triunfante de seu primeiro combate e se enche de coragem para ir para cima dos outros. Miguel olha para ela e só pensa em terminar de carregar o carro e correr para ajudá-la. Raguel derruba mais três zumbis e em questão de segundos se vê cercada por eles de uma maneira que não consegue mais ver seu parceiro de aventura. Ela ergue o bastão e pensa: — Se vou morrer, não vou dar o gostinho do medo para eles. ­— E nisso vê dois zumbis caírem no chão e Miguel aparecer em sua frente.
— Vamos! — fala ele estendendo a mão para ela.
Ela segura a mão dele e os dois saem correndo em direção ao carro. No caminho Miguel derruba um zumbi com uma espada na têmpora o fazendo voar ao chão. Eles chegam ao carro e ela entra e fecha a porta. Então ele dá a volta, entra e gira a chave. O motor ronca, e então ele engata a primeira marcha e pisa fundo no acelerador e os dois saem dali o mais rápido que podem. Raguel respira fundo e então olha para Miguel e com um sorriso no rosto diz:
— Obrigada por salvar minha vida. Te devo uma.
— Não me deve nada. — fala Miguel encostando a mão na dela. — Seu sorriso já pagou qualquer divida que você poderia ter comigo por mais de uma vida.
— Não seja bobo. — fala ela virando o rosto em direção a janela e sorrindo.
­— Sério. — diz ele vendo o rosto dela pelo reflexo da janela. — Você me mostrou algo além de uma boca querendo me devorar. Mas um sorriso. Faz meses que eu não sei o que é isto realmente. Apenas imaginava para não ficar louco e ter algo para me fazer lembrar como era as coisas antes do mundo virar de cabeça para baixo. Se alguém deve alguma coisa aqui, esse alguém sou eu.
— O seu jeito de falar é diferente de todas as pessoas que conheci, eu sinto sinceridade na sua voz. É como se nos conhecêssemos há milênios. Antes mesmo da aurora dos tempos.
Miguel sorri e com um tom de voz suave diz:
— Obrigado. Depois de tanto tempo estou me sentindo vivo novamente.
— E para se sentir mais vivo ainda pegue a próxima rua a esquerda que eu vou lhe mostrar o caminho da minha casa. Quando chegarmos lá vou fazer algo para comermos. Peguei macarrão, carne enlatada e molho. Vou fazer uma janta bem gostosa e vamos encher a barriga até não agüentarmos mais.
Ela segue mostrando o caminho para ele e os dois chegam alguns minutos depois a casa dela. Uma grande casa de alvenaria com janelas verdes que fica protegida por um muro feito de grades grossas e altas. Eles colocam o carro na garagem e se ajeitam na casa. E antes e após o jantar eles conversam, brincam e dão muitas risadas, é como se já se conhecessem há tempos, talvez houvesse um pouco de verdade naquelas palavras que ela disse e que fizeram Miguel tão feliz. Ou talvez então não houvesse nada de especial, apenas palavras ditas num momento de agradecimento. Mas o certo é que fizeram um bem muito grande para os dois. Depois de meses sozinhos, essa será uma noite de sono em que ambos dormirão o sono dos justos. Terão de companhia a alegria que um trouxe para o outro e a certeza de que não estarão mais sozinhos enquanto um proteger o outro. Pois foi isso que fizeram hoje e que tornou essa ligação tão profunda entre eles possível.
O mundo pode estar em pedaços, mas enquanto houver ainda um pingo de vida na terra, milagres acontecerão.