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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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segunda-feira, 7 de março de 2011

Um Mundo em Caos - 22

Ao longe, no alto de uma montanha em meio a um estéril deserto de areia grossa e quente, há um campo verdejante e florido. Com flores de todas as cores e origens. E sob este campo se encontra Miguel e um homem que está de costas para ele trajando vestes brancas. Este homem possui longos cabelos castanhos e suas roupas lembram as vestes usadas em cerimônias do começo do século vinte.
— Não entendo como você ainda não se perguntou onde está? — indaga o homem. — Você olha para os lados, caminha, fica pensativo, mas não me faz nenhuma pergunta. O seu silêncio é um pouco irritante às vezes. Acredito que já lhe falaram isso.
— E por que deveria lhe perguntar alguma coisa? Não está claro? É só olhar para os lados que sei exatamente onde estou. O que mais isto aqui parece senão os Campos Elíseos? Estou morto, simples.
— Acredite em mim, você não está morto. Próximo talvez, mas não de fato. O que vim fazer aqui foi lhe contar algo. Talvez você ache que está delirando ou algo assim, mas lhe garanto que o que vou lhe dizer é muito sério.
— E por que deveria acreditar num sonho?
— Em se tratando de você tenho certeza que irá acreditar em cada palavra que irei lhe dizer. Então ouça bem, e não descarte esse sonho como algo lunático e delirante. Você não sabe a dificuldade que foi chegar até aqui. É difícil lhe encontrar completamente apagado. Bom, deixe-me lhe contar uma coisa, na verdade eu sou um amigo do futuro.
— Essa é a coisa mais imbecil que já ouvi num sonho. Então meu amigo do futuro, me faz um favor, me deixe acordar porque tenho uma pessoa para salvar. Não tenho tempo a perder com sonhos idiotas.
— Tudo que estou lhe dizendo é verdade. Cada palavra. Agora cale a boca e me ouça! Você deve estar achando tudo isso muito divertido, matar zumbis, guerrear contra outras pessoas e lutar por uma causa que acham ser justa. Mas eu vivi isso e lhe garanto que o futuro é obscuro. Não existirão lados, será cada um por si.
— Não fala besteira. Meus amigos e eu continuaremos sempre juntos.
— Que sonho você tem, mas a vida não é assim. Sinceramente, eu nem deveria estar falando com você. A regra é que jamais devemos interagir com nossos “eu”, “você” passados. E estou quebrando essa regra para lhe dar um aviso. Eu precisava falar com você, não podia deixar o futuro ser o que é. Isso irá prevenir que certas pessoas morram.
— Porque você não fala de uma vez o que é. Você anda muito em volta e não fala o que veio fazer. Ah, que ótimo! Agora estou discutindo com meu sonho! Maravilha!
— Eles jamais permitiriam que eu lhe contasse. Isso me levaria à morte, seria executado assim que voltasse. Mas sutilmente lhe deixarei uma mensagem, não se preocupe. Essas mortes estão mais próximas do que você imagina.
— Não, ninguém vai morrer! Eu não vou deixar! Meus amigos podem sempre contar comigo para protegê-los!
— Contarem com você? Mas como? Ainda não entendeu? Não vai sobrar muita coisa. E tenho certeza que eles ficarão sabendo disso da pior maneira possível.
— Eu não entendo. Isso parece tão surreal e ao mesmo tempo está me fazendo sentir mal. E ainda não consegui entender a sua mensagem.
— Apenas lembre-se da primeira palavra que falei após cada interrupção sua. Essa última não conta. Lhe desejo toda a sorte do mundo e faça por merecer esse meu sacrifício. Esse ato me fez envelhecer muitos anos. Então quando chegar o momento certo você vai se lembrar dessas palavras, meu velho amigo. Agora vá...
— ...
Miguel acorda algemado a um cano de ferro em um banheiro imundo, — Onde o cheiro de fossa empesteia o ar. — com seus azulejos brancos beirando o marrom, suas privadas cheias de imundícies e seus mictórios transbordando de urina.
— ... Ai minha cabeça. Tudo parece girar ao meu redor. — resmunga abrindo lentamente os olhos. — Jennifer, onde você está? — ao abrir completamente os olhos se dá conta de onde está e então ao tentar se mexer percebe que está algemado com as mãos para trás e preso há um cano. — Merda! Preciso me concentrar e raciocinar direito. Mas minha cabeça parece estar completamente fora do lugar. Até sonhos sem sentido eu tive! Onde será que está a Jenny? Se eu estou vivo ela também está. Não, chega! Preciso organizar meus pensamentos. Sem isso não conseguirei raciocinar de forma correta, estou muito desorientado. — então ele cruza as pernas e fecha os olhos e passa a inspirar e expirar lentamente.
Alguns minutos depois dois homens se aproximam da porta e vêem Miguel de olhos fechados e pernas cruzadas e um deles comenta:
— Esse cara está meditando?! Que retardado.
— Não importa o que ele esteja fazendo, vamos levá-lo para o chefe.
Eles entram no banheiro e ao se aproximarem de Miguel dizem:
— Acorda aí maluco. Você foi convidado pelo chefe a dar um passeio até a sala dele.
— Sai do nirvana, senão a gente te acorda a chutes.
— Não é preciso. — fala Miguel. — Estou ouvindo seus comentários desde que vocês chegaram. Vocês são muito barulhentos.
— Se afasta aí da parede pra gente poder te soltar.
— Mas não tente nenhuma gracinha ou te matamos aqui. — ameaça com uma arma apontada para Miguel.
Miguel se afasta da parede e o homem abre a algema.
— Agora se levante bem devagar.
Miguel se ergue do chão bem devagar observando os dois homens. Ele percebe que apenas um deles está armado, e que o outro não carrega nenhum tipo de armamento.
— Vire-se de costas! — ordena o homem.
— Ok. — obedece Miguel.
Nisso, ele gira o corpo acertando um chute na mão do homem que está armado, jogando a arma longe.
— Desgraçado! — esbraveja o homem. — Pega ele, Carlos! — e sai correndo atrás da arma.
Miguel então golpeia Carlos com dois socos no rosto e ao passar por ele, o acerta uma cotovelada na nuca. O homem cai no chão e Miguel corre em direção ao outro. Este está quase pegando a arma no chão e ao se virar diz:
— Saco!
Miguel já está com o punho erguido em direção ao homem e só tem o trabalho de descer sua mão com toda a força e acertar o nariz do homem que se esmigalha nos dedos dele. O homem leva a mão ao rosto, mas nem tem tempo de se lamentar e já tem sua mandíbula quebrada por um potente chute. Miguel então segura o braço do homem e o quebra deixando seus ossos expostos. Da boca do homem saem apenas grunhidos indistintos.
— Vocês mexeram com as pessoas erradas. — fala Miguel com um leve sorriso no canto dos lábios. — E agora vão ter o que merecem.
Ele segura a cabeça do homem com as duas mãos e a gira até ouvir os ossos do pescoço se partindo. Então se vira para Carlos e diz:
— Agora é a sua vez!
Carlos se arrasta pelo chão e se encolhe na parede.
— Hunf, isso tudo é medo? — pergunta Miguel caminhando em direção a ele. — Até pouco tempo atrás vocês pareciam bastante confiantes.
— Não chega de perto de mim! — pede o homem.
— Farei melhor. — e muda sua face ficando com um ar terrível. Como se tivesse sido tomado por um ódio milenar.
Ele acerta um chute no rosto do homem que se choca contra a porta de um dos banheiros. Miguel então pega o homem pelos cabelos e o arrasta até um dos mictórios e enfia a cara dele na urina.
— Está gostando? Tem gosto de suco? — pergunta ironicamente. Então ergue a cabeça do homem da urina e bate ela com toda a força no mictório, o quebrando e fazendo a urina se espalhar pelo chão.
Sangue escorre do rosto do homem que está todo machucado e cheio de cortes. Miguel joga ele no chão e o chuta várias vezes.
— Onde está a garota que estava junto comigo? — pergunta. — Se responder eu posso poupar a sua inútil vida.
— E-Eu não sei.
— Mentira! — e pega novamente o homem pelos cabelos e o arrasta até um dos banheiros. — Está sentindo esse cheiro? É merda! Que tal experimentar? — e enfia a cara do homem dentro da privada. — Come que é gostoso! — ele enfia cada vez mais a cara do homem na merda e a mexe lá dentro. Então puxa e pergunta: — E agora, vai me responder?
— S-Sim.
— Então desembucha!
— Ela está no terceiro andar. Quarta porta a direita. Mas não sei se ela está sozinha lá. É tudo o que sei.
— E pra onde iam me levar?
— Pro segundo andar.
— Obrigado. — agradece Miguel. — Agora não se levante. Fique com a cara aí até eu sair. Depois você pode ir embora.
— O-Obrigado, senhor. — agradece o homem. — E-Eu juro que vou embora e nunca mais volto aqui.
Miguel sacode levemente sua cabeça e aquele sorriso diabólico no canto da boca parece querer dizer algo. Ele então pisa no pescoço do homem com tanta força que o esmaga contra a borda da privada. E continua a pisar até ouvir o barulho dos ossos quebrando.
— Achou mesmo que eu ia deixar você viver? Eu não acreditei. — ele caminha até o outro homem e pega a arma no chão e a coloca no coldre. E lentamente segue em direção ao terceiro andar.
Em um dos apartamentos do terceiro andar, Jennifer está sentada em uma cadeira de ferro com suas mãos amarradas para trás e seu corpo preso por cordas. Ela se encontra sentada no meio da sala e ao redor há respingos de sangue pelo chão.
— Já acordou? — pergunta um homem negro e alto.
Ela está com a cabeça inclinada para baixo e seu rosto está coberto pelos seus longos cabelos.
— Ai, ai, parece que ainda não. — ele coloca a mão no queixo dela e ergue levemente sua cabeça e a golpeia com toda a força. — Espero que agora você acorde e possamos conversar um pouquinho mais.
Sangue espirra pelo chão. Jennifer ergue sua cabeça e seu cabelo escorre para trás deixando seu rosto à mostra. Ela está com vários hematomas pelo rosto e alguns pequenos cortes e arranhões, tanto no rosto quanto nos lábios. Os mais visíveis são um corte profundo sobre o nariz e no supercílio esquerdo. Ela encara o homem e sangue pinga de sua boca indo lentamente atingir o chão.
— Não adianta ficar me encarando. Devia ter pensando antes de nos atacar. Achou mesmo que nunca seria pega? Ninguém tem cem por cento de sucesso sempre. Uma hora a casa cai. E nesse exato momento meus homens devem estar levando seu namoradinho para a sala de tortura. Vocês desejarão terem morrido quando eu terminar a tortura! E implorarão por suas vidas!
— Nada que você faça irá nos fazer implorar por coisa alguma! — se impõe Jennifer. — Você não passa de um grão de areia para nós!
— Belas palavras, menina, mas não acha que na sua atual condição elas soam um tanto fora de contexto? Vou lhe contar uma coisa. Você conhece realmente aquele padre? Sabe qual a verdadeira fé que move ele? — Jennifer nada responde. — Foi o que eu imaginava. Você deve achar que é a primeira que ele usa para esse tipo de empreitada, mas lhe respondo que não. Já houve outros e outras, isso mesmo. Antes mesmo desta porcaria de apocalipse acontecer, as garras desse padre já estavam por cima de muitas cidades. Ah, e mais uma coisa, o nome dele não é Antonini como ele diz aos sete ventos.
— Acha mesmo que eu vou acreditar em cada palavra que você está dizendo? Essa história que está contando não faz o menor sentido!
— Não me interrompa porque eu ainda não terminei. Eu estava aonde mesmo? Óh sim, no nome do padre. Então, o verdadeiro nome dele é Graffiacane. Antonini pertenceu a outro padre e este era negro, não branco de feições italianas. Antonini era meu irmão adotivo! E aquele bosta o assassinou e assumiu o seu lugar quando este mundo enlouqueceu! E você faz tudo que ele manda. Se você soubesse os reais motivos por trás dos ideais dele tenho certeza que se mataria por ter obedecido às ordens dele cegamente. Mas antes disso irei tirar a sua vida.
O homem aponta uma pistola para ela e nesse momento Miguel entra pela porta e diz:
— Não hoje e nem nunca!
Miguel dispara a arma várias vezes contra o homem que cai no chão com sangue vertendo por cada um dos buracos feitos pelos projeteis que atingiram seu corpo. Miguel joga a arma fora e corre até Jennifer.
— Você está bem? Tive tanto medo que tivesse acontecido alguma coisa com você.
— Apesar da surra e da dor acho que to legal.
— Vou te desamarrar e quando voltarmos cuidarei dos seus ferimentos. Você está muito machucada.
Miguel a desamarra e a ajuda a se levantar. Ela se apóia nele e olhando para os lados vê os equipamentos deles sobre um banco de madeira.
— Vamos pegar as nossas coisas e sair daqui. — fala Jennifer.
Alguns minutos antes...
Raguel, Rafael e Gabriel chegam ao prédio onde estão Jennifer e Miguel. E estão usando as roupas que Jennifer deixou em seus roupeiros:
Raguel está com seu cabelo preso para trás e usando roupas escuras. Ela usa uma jaqueta-armadura — constituída por: protetor das costas com protetor lombar ajustável e oito vértebras articuladas nas costas (casquilhos); protetor de ombros e cotovelos; protetor para o pescoço. — na cor preta com detalhes em vermelho. Possui zíper frontal e é bem justa ao corpo. Suas mãos são protegidas por luvas táticas semi-dedo na cor vermelha. As suas costas há um suporte onde carrega um bastão de ferro. Usa calça legging de lycra com spandex bem justo delineando suas curvas na cor preta. Coldre tático em cada uma das coxas com duas pistolas Taurus PT-100 e munições atreladas aos suportes do cinto. Está calçando botas Alpine Stars Supertech R — é uma bota construída em micro-fibras, super flexível, com caneleira injetada em poliuretano, proteções que se estendem por toda a bota no mesmo material da caneleira, zíper de fechamento diagonal e um fecho rápido na parte superior — na cor preta com detalhes em vermelho.
Gabriel e Rafael usam roupas semelhantes às de Raguel com algumas diferenças. Suas jaquetas-armadura são totalmente pretas sem detalhes, Suas luvas são pretas também. Carregam o mesmo tipo de armamento. Suas calças são estilo cargo na cor preta. E usam o mesmo tipo de bota, porém sem detalhes em vermelho. Gabriel também possui um bastão atrelado as suas costas e Rafael leva consigo duas machadinhas Tomahawk feitas em uma peça robusta de aço inox e cabo em jacarandá — Elas estão em coldres na sua cintura.
— O estrago foi feio. — comenta Raguel. — Eu nunca vi tanta matança na minha vida. Foi só seguir os corpos e chegamos aqui.
— Não sei o que deu naqueles dois, mas eles viraram assassinos. São pessoas que eles mataram e não zumbis. Eu ainda não sei o motivo, mas é certo que foi a Jennifer que trouxe o Miguel junto. — fala Gabriel.
— Vocês devem ter ouvido nas ruas as pessoas comentando sobre a mulher de preto, a viúva, a vingadora, entre tantos outros nomes, não é? — eles respondem que sim e Rafael continua, — E sabem quem é essa pessoa?
— Talvez. — responde Gabriel. — As pessoas nas ruas falam muitas coisas sem sentido.
Raguel apenas meneia sua cabeça.
— Essa pessoa é a Jennifer. — Rafael responde sua própria pergunta. — As pessoas a respeitam de uma forma absurda, como se ela fosse a salvadora da humanidade. Liguem os pontos. Outro fato, lembram que umas pessoas foram visitar ela? Então, essas pessoas é que dão as ordens a ela. O que eles fizeram aqui foi seguindo ordens de alguém.
— Então isso quer dizer que recrutaram ela para matar pessoas?! — questiona Raguel um tanto espantada. — Que horror! E pelo que eu pude entender querem que façamos a mesma coisa. Pois até roupas nos deram. Mas eu não vou aceitar isso!
— Mas parece que ela faz isso por um bem maior. — comenta Rafael. — As pessoas comentam que antes dela acabar com o líder árabe e seus seguidores, eles viviam num horror sem fim. Eram torturadas, apanhavam por nada e precisavam se prostituir. Agora vivem na paz. Não sei se realmente a classifico como uma assassina ou a coloco no patamar de libertadora.
— É muito difícil de aceitar certas coisas. — fala Raguel.
— Mas Miguel entendeu e seguiu junto dela até aqui. — coloca Gabriel. — Talvez devêssemos ouvir o que ela tem a dizer e depois decidimos o que fazer.
— Ele tem razão. — concorda Rafael.
E nisso eles ouvem vários tiros vindo dos andares superiores prédio.
— Vamos ligeiro! — fala Rafael saindo correndo.
Os três entram no prédio e sobem as escadas e vasculham porta por porta no primeiro andar e Rafael abre a porta do banheiro e se depara com os dois homens mortos.
— Miguel... — sussurra.
— Vamos! — grita Gabriel na escada.
— Já vou!
Eles sobem para o segundo andar e também vasculham todos os apartamentos, mas não encontram ninguém. E seguem para o terceiro andar onde encontram Miguel e Jennifer caminhando no corredor.
— Finalmente encontramos vocês! — exclama Rafael. — Está tudo bem?
— Já estivemos melhores, meu amigo. — responde Miguel.
— Nossa. — se espanta Raguel. — Você está muito machucada, Jennifer. Eles lhe bateram?
— Um pouco. — responde. — Mas vocês demoraram, hein?
Rafael esboça um sorriso e diz:
— Demoramos em entender o recado. Devia ter sido menos sutil e mais direta.
— Daí não teria graça. — fala Jennifer.
— Mas o importante é que vocês estão bem. — fala Gabriel. — Agora iremos voltar e ver esses seus ferimentos. Vocês são doidos! Enfrentaram um exército sozinhos.
— Nunca estamos sozinhos. — aponta Jennifer para um prédio. — Olhem para o topo daquele prédio mais distante.
Eles olham e vêem duas pessoas vestidas de preto saírem correndo.
— Quem são? — pergunta Raguel.
— Outra hora eu explico, falar está me fazendo sentir dor.
Gabriel olha para Miguel e diz:
— Deixa que eu a carrego em minhas costas. Leve o meu bastão.
Gabriel ergue Jennifer em suas costas e eles aceleram o passo cruzando o território o mais rápido que podem. Várias pessoas ficam nas janelas dos prédios observando eles passarem pelas ruas. Outras se aglomeram nos becos. Mas nada dizem, não proferem uma única palavra como sempre aconteceu quando Jennifer libertou os outros territórios. Desta vez é apenas um silêncio fúnebre que os acompanha, como se eles estivem num enterro.
— Eu nunca vi um silêncio tão grande. — pensa Jennifer. — E sei que não é por causa da chuva. Algo está errado aqui. E agora as palavras que aquele homem me disse não saem da minha cabeça.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta Miguel olhando para Jennifer.
— Não. — responde ela.
— É que você está olhando para os lados com um olhar diferente. — comenta.
— Não é nada não. Apenas cansaço.
Rafael olha para ela e percebe que algo mudou em suas feições. E que não é boa coisa.
Eles então atravessam as galerias do esgoto e chegam ao outro território onde algumas pessoas os esperam na saída do bueiro. Dois homens de branco agarram Jennifer e a levam para dentro do prédio. As outras pessoas ajudam os quatro que ficaram. Eles entram também no prédio e se dirigem para os seus quartos. Porém, quando Miguel adentra seus aposentos Jennifer não está lá, mas logo em seguida uma mulher bate na porta e diz que ela foi levada para outro lugar para ter seus ferimentos tratados. Miguel agradece e a mulher sai. Ele então troca de roupas e vai para a sala onde Raguel já o aguarda.
— Precisamos conversar. — fala ela.
— Saquei.
— E com a gente junto. — fala Rafael entrando na sala junto com Gabriel.
Miguel coloca as mãos no rosto e sentando no sofá diz:
— Agora? Eu estou cansado. Dolorido. E sinceramente, não estou afim de papo. Quero apenas ficar em silêncio.
— Mas a gente ainda vai ter essa conversa. — fala Rafael. — Senão hoje, outro dia. Mas você não vai fugir dela. E nem a Jennifer.
— A gente vai explicar tudo para vocês, mas não hoje, beleza?
— Ok. — concorda Rafael. — Vamos pessoal.
Eles saem da sala e Miguel fica sozinho sentado no sofá bastante pensativo.

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