Longe
dali, Jennifer caminha por entre escombros rumo à única igreja que se manteve
em pé após os ataques militares.
—Preciso
chegar lá o mais rápido possível! — pensa ela caminhando por entre montanhas de
pedras de concreto. — Vou tirar essa
história a limpo de uma vez por todas!
Ela
caminha por alguns minutos e finalmente chega a uma enorme igreja, com grandes
abóbodas e estátuas de santos em sua entrada. Um longo tapete vermelho cobre as
escadarias que levam ao interior da nave. Ela bate na porta e não demora muito
um homem magro e de feições envelhecidas a abre.
—
O que veio fazer aqui hoje? — pergunta espantado o homem.
—
Eu quero falar com o padre Antonini. — responde rapidamente. — Me deixe entrar!
É urgente!
—
Calma filha, ele está ocupado no momento. Se puder esperar.
—
Eu espero sim. Não tem problema...
No
prédio em que os outros residem, Miguel acorda e sente a falta de Jennifer ao
seu lado. Ele a chama diversas vezes, mas não obtém resposta. Então se levanta
e sai para procurá-la pelos cômodos do prédio. Após alguns minutos procurando
ele se depara com uma das empregadas e a pergunta:
—Você
viu a Jennifer? ― seu olhar estava carregado de preocupação.
—
Eu a vi saindo há uns vinte minutos atrás em direção a igreja. — responde a
mulher. ― E estava sozinha.
—
Droga! — resmunga Miguel. — Obrigado.
Ele
sai correndo e segue pelo corredor dos dormitórios e bate várias vezes na porta
do quarto de Gabriel. Assim que Gabriel responde, Miguel abre a porta sem
esperar e Raguel está sentada nos pés da cama.
—
Você?! — se pergunta surpreso, Raguel olha para ele e quando vai responder,
Miguel de imediato diz: — Não precisam me explicar nada! Até porque não é da
minha conta. Vocês são adultos e já sabem o que fazem. E o que eu vim fazer
aqui é mais importante e urgente do que isso! — e prossegue: — A Jennifer foi
para a igreja ver o padre!
—
Com certeza ela foi tirar aquela história a limpo. — fala Gabriel.
—
E ela nem está em condições de sair caminhando por aí! — comenta Raguel
meneando a cabeça. — O que você tem em mente?
—
Irmos atrás dela! — responde. — É a única coisa que me passa pela cabeça nesse
momento.
—
Então vamos chamar o Rafael. Força extra sempre é bem vinda. — recomenda
Gabriel.
—
Eu faço isso. — fala Raguel se levantando da cama. ― Me esperem aqui.
Nisso
a porta do quarto se abre e Rafael responde:
—
Não é necessário. Eu a vi saindo e a segui até próximo da igreja. E tenho
algumas informações não muito boas para transmitir.
—
Aconteceu alguma coisa com ela? — pergunta avidamente Miguel. — Responde!
—
Não. — responde ele. — Não tem nada a ver com ela. Ela chegou bem lá. Mas o que
me preocupa é o que pude observar nas redondezas da igreja. Eu parei de
segui-la há uns cem metros da igreja e assim, há bastante pessoas vestidas de
preto e portando armas de fogo e armas brancas nos arredores.
—
Como assim?! — pergunta Gabriel. — Tipo uma fortaleza?
—
Exatamente. — responde Rafael. — E achei isso bastante estranho. E se vocês
estão pensando em ir atrás dela, é bom se prepararem para sermos parados no
caminho. Não vi muitos lugares nos quais podemos nos aproximar sem sermos
vistos.
—
Sempre há um lugarzinho, nem que apenas um de nós avance e abra caminho para os
outros. — comenta Raguel.
—
O que você quer dizer com isso? — pergunta Miguel. — Matá-los?!
—
Claro que não! Isso seria nosso último recurso. — responde. — Mas um bom golpe
na cabeça os bota para dormir. E então podemos roubar as roupas e as usarmos.
—
Boa idéia! — fala Miguel se apoiando na parede e levando a mão ao flanco
direito.
―
Ainda sente desconfortos, né? ― fala Raguel.
―
Me dói um pouco, sim. Mas é uma dor suportável.
―
Tem certeza? ― pergunta Gabriel.
―
Sim, tenho.
Nisso,
gritos de socorro e de pavor ecoam pelos corredores do prédio e pelas ruas.
―
Mas que gritaria é essa? ― pergunta Rafael.
―
Vamos olhar! ― responde rapidamente Gabriel.
Eles
saem correndo pelo corredor e chegam à área externa, onde dezenas de pessoas
correm pelas ruas gritando.
―
Eles ultrapassaram as defesas!
―
Estão vindo com tudo para cima de nós! Parecem máquinas mortíferas!
―
Eles quem?! ― se pergunta Miguel.
―
Só podem ser os zumbis seu cabeçudo! ― responde Gabriel dando um leve tapa na
nuca de Miguel.
―
Ouch! Não precisa me dar tapas! ― fala Miguel. ― Eu acabei esquecendo eles
devido aos últimos acontecimentos e a calmaria daqui.
Uma
garotinha se aproxima deles e diz:
―
Nos ajudem. Eles estão avançando rapidamente!
Gabriel
se agacha e colocando as mãos sobre os ombros dela responde:
―
Nós iremos ajudar sim. Agora corra para um lugar seguro.
―
Obrigada. ― Agradece. E sai correndo.
―
Então, quem vai comigo para o fronte? ― pergunta Gabriel se erguendo.
―
Eu não posso. ― responde Miguel. ― Vou ir atrás da Jenny. Estou com um mau
pressentimento. Não posso deixá-la sozinha nesse momento.
―
Entendo. ― fala Gabriel. ― E eu não iria deixar você ir mesmo. Vá ajudá-la. Nós
daremos um jeito aqui.
―
Eu irei com o Miguel. ― Raguel faz a sua escolha. ― Ele não sabe fazer nada
sozinho.
―
Então eu irei com o Gabriel. ― fala Rafael. ― Vou pegar as minhas coisas e
correr para lá!
―
Estou indo com você!
Gabriel
e Rafael saem correndo para dentro do prédio e Miguel olha para Raguel e diz:
―
Vamos indo.
―
Mas você não vai pegar a sua... ― e olha para baixo. ― espada... Quando foi
que...
―
Ela estava ao lado da porta do meu quarto. Quando passamos a peguei. E a sua
arma? ― Raguel abre o sobretudo e há duas pistolas em sua cintura. ― Precavida.
―
Sempre fui.
―
É bom ser assim. ― e pergunta: ― Vamos?
―
Claro. ― ela responde calmamente.
E
eles saem caminhando em direção ao local que os levará até a igreja. Longe
dali, já há alguns metros de onde os zumbis estão entrando, Gabriel e Rafael
estão em pé sobre uma grande rocha empunhando suas armas ― Gabriel carrega duas
pistolas e Rafael duas barras de ferro.
―
Esse sentimento antes de enfrentar essas criaturas... estava sentindo falta
disso. ― comenta Rafael. ― Esse frio na barriga e leve aperto no peito... fazem
com que eu me sinta vivo.
―
Nesse mundo, nos sentirmos vivos é o principal. ― e então aponta para os
zumbis. ― Sem isso, nos tornaremos eles.
―
E essa é a última coisa que eu quero que aconteça. ― concordo. ― Por isso
preciso matá-los para evitar que eu me torne um deles.
―
Ainda com esse pensamento? ― fala Gabriel levando a mão ao ombro do amigo. ―
Você jamais vai conseguir exterminar com todos eles. Deve haver milhares,
bilhões deles espalhados pelo mundo. Seria uma luta sobre-humana.
―
E quem disse que eu sou humano? Brincadeira! ― ele olha para Gabriel e sorrindo
se lança na direção dos zumbis. ― Bankai!
―
Não tinha nada melhor para dizer? ― pergunta Gabriel, já disparando suas
pistolas e derrubando alguns zumbis a frente.
―
Eu sempre quis dizer isso! ― responde golpeando as cabeças dos zumbis que estão
ao seu redor.
Gabriel
derruba mais alguns zumbis com tiros certeiros em suas cabeças e sorrindo diz:
―
Se eu estivesse com uma espada gritaria Leiken.
―
Heheheh! Seria engraçado! ― e golpeia alguns zumbis. ― Falando nisso, lembra da
história do Passat cor de rosa?
―
Cara, você nunca esquece as bobagens que o Miguel inventava! ― e se vira
rapidamente e atira na cabeça de um zumbi, fazendo o cérebro da criatura jorrar
pela nuca. ― Dávamos muitas risadas!
―
Época de ouro! ― grita Rafael.
―
Oh menino exagerado! ― murmura Gabriel.
Há
alguns quilômetros dali, Miguel e Raguel continuam seguindo em direção a
Igreja.
―
Quanta destruição... ― comenta Raguel enquanto caminha sobre montanhas de
escombros. ― Os militares foram cruéis com nossa capital.
―
Parece que eles não devem ter se importado muito se haviam pessoas vivas
enquanto lançavam suas bombas dos aviões... ― e pensa: ― As esperanças de um
dia encontrar meus pais diminui a cada dia que passa. Droga! ― e olha para os
lados.
―
Se perdeu em pensamentos?
―
Não ― responde ―, estou apenas observando a área. Parece que vi um movimento
mais a frente. ― e aponta para o local.
―
Vamos nos esconder atrás daquele monte. ― fala indicando para uma pequena
formação de pedras. Eles correm até o local indicado e Raguel continua: ― Seja
o que for, vamos esperar uma melhor visualização para podermos identificar o
que é.
―
Concordo. ― e senta no chão. ― Espero que esteja tudo bem com a Jenny...
―
Não se preocupe, daqui a pouco estaremos juntos com ela. ― e aproveita para dar
uma espiada. ― Humm?! ― avista uma pessoa alta arrastando alguma coisa.
―
O que você está vendo? ― pergunta curioso.
―
Não sei ao certo ― responde ―, mas parece ser uma pessoa bem alta e está
arrastando alguma coisa. Mas vamos esperar mais um pouco antes de tirarmos
conclusões equivocadas.
Nisso,
um corpo passa voando sobre o local em que eles estão alojados e cai há alguns
metros à frente gerando um baque seco.
―
Mas que merda é essa?! ― se pergunta Miguel.
Raguel
assustada olha para o corpo e ao fitar os longos cabelos ensangüentados sente
sua espinha gelar e murmura:
―
N-Não...
―
O que foi? ― pergunta Miguel. ― O que te assustou tanto nesse corpo?
―
Não acredito que ele ainda não percebeu... ― pensa Raguel sentindo seu corpo
todo tremer. ― Meu Deus!
Miguel
olha mais atentamente para o corpo e seus olhos são tomados por lágrimas e
então ele sai correndo na direção do corpo que está desfalecido há alguns
metros dali. Miguel cai de joelhos no chão e agarra o corpo em seus braços e ao
virá-lo vê o rosto de Jennifer quase que deformado e com seus olhos vidrados.
―
NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!! ― um grito que parece ter vindo
do interior da sua alma ecoa por todos os cantos. Um grito que carrega dor,
tristeza, ódio, impotência, raiva e muitos outros sentimentos. ― Minha pequena.
― e pega na mão dela, onde sente que os ossos de todos os dedos estão
quebrados. ― Eu... o que fizeram com você? ― e passa a mão no rosto dela,
acariciando-o.
Raguel
olha para Miguel e se levanta. Lágrimas escorrem de seus olhos. Ela então se
vira para a direção de onde veio o corpo e avista um homem alto, usando
farrapos de roupa e completamente sujo.
―
Eu vou te matar! ― sussurra Raguel sacando suas pistolas. E então salta sobre o
monte de pedras. ― Não importa quem você seja, eu vou te matar! Eu vou te
matar! ― fala deixando toda a sua raiva aflorar.
E
sai correndo na direção do homem disparando suas pistolas.
Miguel
permanece alheio ao que acontece ao seu redor. E sem tirar os olhos de
Jennifer, ele lentamente desembainha sua espada e em prantos diz:
―
Me desculpe por isso. Mas não quero que você se torne um deles.
E
enterra sua espada na cabeça dela. Lágrimas, soluços, choro, tudo misturado é o
único som que Miguel ouve. Ele então segura a cabeça dela e puxa a espada e
novamente agarra a mão dela e com um movimento rápido corta o dedo em que se
encontra o anel que ele a deu de presente. ― Esse foi meu presente de
aniversário de namoro... ― Ele retira o anel do dedo dela e coloca em seu dedo
mindinho e então a deita lentamente no chão e se levanta.
―
Eu vou te vingar e então volto aqui para te buscar e te levar para um lugar
seguro. ― fala com a voz firme e um pouco rouca.
E
então, Raguel passa voando ao lado dele e cai no chão levantando poeira. Miguel
sai caminhando lentamente em direção a ela e sente algo ser jogado logo atrás
de si. Ele pára e ao se virar, vê a cabeça de Raguel jogada aos seus pés.
―
Eu já não tenho mais lágrimas para derramar... ― e passa a mão sobre os olhos ―
o amor da minha vida... e agora você, uma pessoa que encontrei no meu caminho e
que se tornou minha grande amiga e que me ajudou a ficar vivo até agora. Eu
devo muito a vocês duas. Mas nesse momento, eu não tenho mais vontade de ficar
vivo. E como meu último ato nessa vida vou vingar vocês duas. É uma promessa! ―
e ergue sua espada que emite um brilho igual a uma lágrima recém caída.
―
Ops! Parece que matei a sua amiga. ― fala o homem. ― Me desculpe por isso, mas
ainda não aprendi a dosar a minha força.
Sem
se virar, Miguel ordena com voz firme:
―
Cale a sua boca! ― e aperta a mão contra a empunhadura da espada. ― Eu vou
quebrar cada osso do seu corpo e depois arrancarei a sua cabeça! E eu juro que
irei adorar ouvir cada osso se partindo junto com seus gritos de dor.
―
Veremos quem irá quebrar os ossos de quem. ― e dá um passo a frente. ― Nenhuma
das duas conseguiu sequer me arranhar. Porque você conseguiria algo?
―
Você nunca deveria ter encostado em nenhuma delas! ― e vira-se para o homem o
fitando nos olhos. ― Nunca! Está me ouvindo? ― seu olhar de ódio seria capaz de
matar quem os olhasse por muito tempo, mas aquele homem em sua frente parecia
não se importar muito com isso.
―
E quem você pensa que é para falar assim comigo? ― e faz uma pausa momentânea.
― Você não passa de um grão de areia perto de mim! Eu sou Abramalech!
―
Eu vou te dizer quem eu sou! ― e solta um longo suspiro. ― Eu me chamo Miguel!
E a garota de cabelos castanhos que você matou era a minha namorada! Seu
desgraçado!
―
Miguel? Heh. ― sorri. ― Eu vou adorar te matar!
Miguel
empunha sua espada, flexiona sua perna direita e salta na direção de Abramalech
com a espada apontada para o peito deste. Ele apenas sorri e se joga na direção
de Miguel já preparado para desferir um soco. Quando os dois estão quase se
golpeando, uma luz cegante surge no céu e tudo no planeta é paralisado.
―
Chega! ― uma voz rouca ecoa por todo o planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário