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sábado, 21 de janeiro de 2012

Um Mundo em Caos - 26

― Miguel! Miguel! ― uma voz feminina doce e aguda ecoa por um corredor cheio de quadros. ― Você tem visita!
― Não quero acordar... ― murmura e vira-se para o lado. Então de súbito senta-se na cama e diz em voz alta: ― Mãe? ― e olha para os lados. ― Meu quarto? O que está acontecendo? Meus amigos... A Jenny e a Raguel... Eu estava para enfrentar o Abramalech e então acordei. ― e levanta-se da cama. ― Será que eu morri? ― tira a camiseta e pára na frente do espelho. ― Eu estava cheio de cicatrizes, arranhões e hematomas. E agora não tenho mais nada, nenhum ferimento sequer... Será que foi tudo um sonho? Não, não pode ser. Era muito real. Droga! Vou descer e ver quem é. Depois penso melhor nisso.
― Não irei chamar outra vez, Miguel!
― Já estou descendo mãe! ― e pensa: ― Minha mãe está viva? ― e um sorriso toma conta de sua face.
Passam-se alguns minutos e Miguel desce uma pequena escada que leva para o andar de baixo. E assim que chega na sala, alguém salta no colo dele e o abraça bem forte.
― Eu estava morrendo de saudades de você! ― fala uma voz calorosa e amável muito bem conhecida por Miguel. ― E achei que nunca mais fosse lhe ver!
― Os jovens de hoje são tão exagerados. ― comenta a mãe de Miguel. ― Você esteve aqui ontem à tarde Jenny.
― É que eu sinto muita saudade dele. ― admiti. ― E cinco minutos para mim já é uma eternidade.
Miguel fica olhando para ela e as palavras parecem não querer sair de sua boca. E em seus pensamentos ele diz:
― Agora ela está abraçada em mim e... Se o que aconteceu foi um sonho... e diga-se de passagem, um longo sonho. Eu dou graças a Deus! Porque ter ela viva ao meu lado e os meus pais é o que me faz querer viver novamente.
― Bom, eu vou deixar vocês sozinhos. ― fala a mãe de Miguel se retirando da sala.
Miguel envolve Jennifer em seus braços e diz:
― Como é bom ver você! Eu tive um sonho tão real e achei que nunca mais iria sentir novamente esse teu abraço.
― Eu também tive um sonho. ― e olha diretamente nos olhos de Miguel. ― Um péssimo sonho! Um pesadelo na verdade! Eu sonhei que o mundo tinha se tornado um lugar horrível para se viver. Onde mortos-vivos andavam pelas ruas e nós éramos obrigados a exterminá-los para podermos continuar vivos. E você, eu, o Gabriel e o Rafael estávamos juntos. E havia uma garota chamada Raguel conosco.
Miguel franze as sobrancelhas e dá alguns passos pela sala e vira-se para Jennifer e comenta o que ela falou.
― Eu tive um sonho com as mesmas pessoas, a mesma história e você, como vou dizer... ― ele hesita por alguns segundo e: ― havia sido torturada e assassinada por um cara gigantesco chamado Abramalech.
― Miguel... ― fala, com suavidade e ele ergue a cabeça. ― Eu lembro cada detalhe do que aconteceu, cada osso do meu corpo sendo quebrado e da dor que eu sentia. ― e fecha os olhos como se sentisse a dor da qual falou e então os abre e continua. ― Mas quando eu senti meus olhos se fechando e tudo finalmente escurecendo, logo depois disso eu acordei deitada na minha cama. E vim o mais rápido possível para cá. E você e eu termos sonhado a mesma coisa... Eu não sei explicar, a não ser dizer que ou foi tudo um sonho e a nossa ligação é tão grande que conseguimos sonhar a mesma coisa. Ou então que nesse exato momento estamos mortos e fomos para algum lugar onde está sendo possível ter esta nova vida.
― Eu já pensei nisso, mas não faz muito sentido. ― fala discordando do que ela disse. ― Porque eu olhei a data de hoje é exatamente o dia em que aconteceu o primeiro ataque de um zumbi que foi noticiado. Então, ou foi um sonho, ou uma força maior acabou com tudo que veio depois daquele dia. No caso de hoje.
― Você acha que foi... Deus? ― pergunta um pouco espantada devido ao que ele falou.
― Não sei... nunca acreditei muito nisso. Sempre fui meio cético quanto a isto. ― admiti. ― Mas agora estou sinceramente inclinado a acreditar que existe uma força superior nesse mundo. E outra, eu lembro que hoje eu não era tão forte quanto estou. E eu adquiri muita força naqueles mais de três meses. ― e passa a mão no braço dela. ― E você também. Então, sinceramente, não pode ter sido um sonho. Tudo aquilo foi real. Tudo o que vivemos e presenciamos foi extremamente aterrorizante e real. E eu não sei se vou conseguir viver normalmente. Acho que vou ter que me acostumar com a vida como era antes.
― Eu te ajudo. ― fala Jennifer sorrindo. ― E mais uma coisa, porque só nós dois lembramos o que aconteceu?
― Como assim? ― pergunta Miguel.
― Os meus pais e nem os seus pais lembram-se de nada daquela época. Eu fiz umas perguntinhas para sondar e nada. Não obtive um lapso de lembrança vindo deles.
― Estranho. ― e pára para refletir e diz: ― E será que o Gabriel e o Rafael se lembram de algo?
― Só indo falar com eles para saber. ― responde.
― Verdade. ― fala com voz suave, mas que logo em seguida se tornam mais austeras. ― Vivemos grandes aventuras naquela loucura. Vi pessoas morrendo também. Uma garota que ajudou a Raguel e eu foi morta por uns loucos no Shopping de Canoas. Sem ela não teríamos conseguido sair de lá com vida e eu nunca teria encontrado você e os guris.
― Você se arriscou muito. ― relembra. ― Você e os nossos amigos lutaram ao meu lado numa luta que nem era de vocês. Uma luta em que eu acreditava estar fazendo o certo ― sua voz sai em um tom melancólico ―, mas eu estava matando pessoas inocentes. Tudo em nome daquele maldito! E eu me arrependo de ter colocado vocês em perigo por minha causa.
― Calma. ― e a abraça. ― Tudo aquilo já passou. ― e pensa: ― Assim eu espero. ― e continua: ― Agora vamos nos focar no presente e no futuro. E tentar esquecer aqueles dias. ― e toma em suas mãos as dela. ― Teremos novamente vidas felizes ao lado de nossos pais e de quem gostamos.
― Você está certo. ― meneia a cabeça concordando com ele. ― Vou tentar não ficar pensando nisso.
― Vamos dar uma volta? ― pergunta com um sorriso gentil.
― Vamos sim. ― responde com um sorriso que ilumina o olhar de Miguel. ― E aonde iremos?
― Não sei, agora há tantos lugares para ir. ― e aperta suavemente as mãos dela. ― Vou deixar que você faça essa escolha. O que me diz?
― Eu aceito. ― responde.
Algumas horas depois, os dois estão chegando ao Canoas Shopping.
― Que sensação estranha. ― fala Miguel, com a voz um pouco tensa e melancólica. ― Esse lugar me traz algumas recordações nada boas.
― Assim como você me disse, eu lhe direi agora. ― fala Jennifer, com a voz doce como um beijo. ― O que aconteceu deixou de existir, mas sei que ainda continua em nossas mentes. Mas o importante é pensarmos no presente e no futuro, e tentarmos esquecer o que aconteceu. Sei que é difícil, mas precisamos.
― Suas palavras acalentam meus pensamentos. Te amo por isso. ― e segura firmemente as mãos dela.
― Eu sei. ― concorda. ― E também te amo. Agora, vamos comer alguma coisa? Estou morrendo de fome! ― sorri.
Enquanto caminham até a praça de alimentação, Miguel fica recordando de tudo o que aconteceu a cada passo que dão e sente uma angustia tomar conta de si. E seus olhos observam cada movimento, cobrem cada metro a sua frente e ao redor.
― Essas pessoas sorrindo como se nada tivesse acontecido. ― pensa. ― Parece tudo tão errado. ― suspira profundamente. ― Me acostumei tanto com aquela sensação de perigo que não consigo me desligar. Estou até procurando algo de estranho entre as pessoas. É, estou procurando um zumbi. Hunf...
― No que está pensando? ­― tem seus pensamentos interrompidos pela pergunta de Jennifer.
― Em nada. ― responde, e pensa: ― Não vou ficar preocupando ela com meus problemas. ― e continua: ― Apenas observando as pessoas.
― Qualquer coisa me diga. E caso não esteja se sentindo bem aqui podemos ir para outro lugar.
― Está tudo bem. Não se preocupe.
E ela retribui com um sorriso.
Eles se dirigem até o Burger King, onde fazem seus pedidos com uma atendente loira. Após alguns minutos de espera, seus pedidos são entregues.
― Precisamos achar um lugar para sentarmos. ― fala Jennifer.
― Tem um pessoal se levantando ali. ― e aponta para a mesa. ― Vamos ficar lá.
Após acomodarem suas coisas na mesa, Miguel diz:
― Vou ir pegar o refri para nós, o que vai querer?
― Eu quero uma Coca. E com bastante gelo.
― Pode deixar. ― E sai caminhando.
Ao se aproximar da máquina onde servem os refrigerantes, ele olha de relance para uma mesa ao fundo e avista uma garota loira com traços familiares conversando com outra garota. ― Será? ― pensa. ― Seus olhos voltam a olhar a garota e para sua surpresa: ― Anane? Eu não acredito! ― um sorriso se forma em seus lábios involuntariamente na direção da mesa onde as garotas estão.
E na mesa, Anane retribui o sorriso e a sua amiga pergunta curiosa:
― Para quem está sorrindo?
― Não sei. ― responde. ― Olha disfarçadamente para trás e veja se você reconhece. Ele está pegando refri.
A amiga vira levemente a cabeça para trás e vê Miguel. E então comenta:
― Mas é um gato. E está lhe dando mole!
― Pára com isso! ― e seu rosto fica corado. ― Nem sei quem é. Mas não sei por que, mas tem algo familiar nele. Só não consigo explicar o que é.
― Hummm! Será o destino? ― e se abraça ao ar. ― Eu ia lá e dava meu telefone.
― Boba! Jamais eu faria isso. ― Anane a censura, e logo em seguida sorri para retirar a rispidez das palavras. ― Mas que ele é lindo isso é.
E então Miguel enche os dois copos de refrigerante e sai caminhando satisfeito com o que viu. Parece que parte do peso que ele estava carregando até agora se foi e um suspiro de satisfação parte de sua boca e se espalha pelo ar.
Jennifer olha para ele e vê aquele pequeno sorriso em seus lábios e intrigada pergunta:
― Até pouco tempo atrás você estava todo emburrado. O que aconteceu para a sua fisionomia mudar tanto?
― Eu vi algo, ou melhor, eu vi alguém se divertindo com uma amiga e fiquei feliz em saber que essa pessoa está viva. ― responde com um brilho diferente no olhar.
― Você está falando daquela menina que morreu aqui? ― Jennifer ouvira a história inúmeras vezes, mas nunca a conheceu. E toma um gole de refrigerante. ― Que você me contou tantas vezes?
― Sim, ela mesma.
― E ela te reconheceu? ― pergunta ávida pela resposta.
― Parece que não. ― responde um pouco decepcionado. ― Ela apenas sorriu, mas deve ter sido um reflexo por eu ter sorrido ao vê-la.
― Você sorriu para ela? ― pergunta enciumada.
― Eu não sorri para ela ― responde ―, sorri ao ver que ela estava bem. Apenas isso. Não seja boba.
E nisso, um casal de cantores começam a entoar canções que fazem suas vozes se espalharem pela praça de alimentação.
― Que coisa linda! ― fala Jennifer efusivamente. ― Dá vontade de cantar junto!
― Essa música é bonita mesmo. ― Miguel concorda com ela.
De repente, ele começa a ouvir risadas em alto tom vindo de algum lugar atrás deles. Ao tentar olhar, sua visão é bloqueada por um mezanino ― coberto por flores ― que há logo atrás de sua cadeira.
― Droga! ― Exclama.
― O que foi? ― pergunta Jennifer.
― Estou ouvindo umas risadas familiares vindo de algum lugar aqui atrás, mas não quero me levantar para olhar. ― responde. ― Porque se não for quem estou pensando que é, vai parecer que estou incomodado com as risadas e querendo censurá-los. ― explica.
― Então deixa que eu olho! ― fala com paixão. ― Sempre fui metida mesmo!
Ela se ergue lentamente da cadeira e passa a procurar com os olhos de onde vinham as risadas. E foi questão de tempo até seus olhos pairarem sobre dois rostos bastante conhecidos.
― Acho que já sei de onde vêm as suas risadas familiares. ― fala olhando para Miguel.
― São eles? ― pergunta esperando por uma resposta positiva.
E a resposta vem rapidamente:
― Sim, são eles.
Um sorriso de satisfação toca os lábios de Miguel.

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