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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Um Mundo em Caos - 40


Como dois jatos supersônicos, Miguel, carregando Jennifer nos braços, e Raguel, voando ao seu lado, cruzam o Oceano Atlântico rumo à Rússia. Ao chegarem a Europa, são obrigados a desviarem seu caminho devido à alta radiação que está sendo carregada pelos ventos.
Vindo de Roma, o homem de vestes negras é o primeiro a chegar à Rússia. Ele cruza a fronteira rompendo a barreira do som e em segundos, é enviada uma dezena de aviões da Força Aérea Russa ao seu encalço. Quando os aviões o encontram, seus pilotos não acreditam no que vêem. Um homem voando acima das nuvens e com dois pares de asas sob suas costas? Só pode ser ilusão, pensam eles. Mas a verdade é que não é ilusão ou delírio. O homem que cruza os céus na mesma velocidade dos mais modernos jatos supersônicos é um Arcanjo, um ser dotado de divindade. Com um aperto de botão, vários mísseis são lançados contra ele. O Arcanjo se esquiva de cada um dos mísseis e ataca os aviões com uma fúria avassaladora. Ele rasga a fuselagem com as mãos e arranca as asas e os motores, os jatos despencam dos céus e explodem ao atingirem o solo. E quanto mais adentra a Rússia, mais artilharia encontra pelo caminho.

Palácio da Primeira-Ministra, Moscou.
Em frente ao palácio, a primeira-ministra Yulia, conversa com um homem africano alto, com cerca de um metro e oitenta de altura, muito forte. Seus cabelos são negros, lisos e bem compridos, sua pele é escura e seu olhar mostra-se atento a tudo e sua expressão é séria. Ele usa uma armadura reluzente e em uma das mãos carrega uma lança.
— Os Arcanjos estão próximos? — pergunta Yulia.
— Sim — responde —, mas não se preocupe que irei lhe proteger de qualquer investida da parte deles. E também não acredito que todos consigam chegar até aqui. Deixei dois demônios de minha total confiança à espera deles. E quando o seu poder for liberado com o soar da primeira trombeta, eu e meus caídos iremos assolar esse planeta com a total destruição de suas principais fontes de energia.
— Fico feliz em ouvir isso, Belial, e tenho certeza que você irá cumprir com a sua palavra. — e olha para os lados procurando algum sinal dos Arcanjos. — E pode ter certeza que também cumprirei com a minha parte do acordo. Só ainda não entendi porque o odeia tanto.
— É uma longa história. Mas deixemos isso para depois que tudo estiver acabado.
— Está certo. Então vamos apenas apreciar o momento que se aproxima.
— Hummm... Parece que chegaram ao meu primeiro caído. — comenta Belial.

Miguel e Raguel cruzam as fronteiras da Rússia, e avistam ao longe, uma figura encapuzada, com gigantescas asas negras. Eles param em pleno ar e ficam a observar a criatura.
— Parece que já nos esperavam. — comenta Raguel. — A linha de frente já está a postos.
— Sabe quem é ele? — pergunta Miguel. — Eu nunca vi esse demônio antes.
— É Beliel, o antigo rei do Inferno. — responde. — Camael e eu o enfrentamos a mais de dois mil anos e desde então ele estava desaparecido. Só gostaria de entender porque ele está aqui.
— Demônios associados aos Cavaleiros? — supõe Jennifer.
—Pode ser, mas com qual intenção? Eles não têm nada a ganhar com isso. — fala Raguel.
— A não ser que haja mais alguém por trás. — fala Jennifer. — Eu até pensei em uma criatura, mas não consigo ver seus propósitos em tal ato.
— Lúcifer? — pergunta Raguel.
Jennifer assente com a cabeça em sinal positivo.
— Não creio que meu irmão se associaria a eles. — responde Miguel. — Ele teria muito mais a perder do que ganhar.
— Pode ser. — fala Raguel. — Mas vindo dele eu não duvidaria de nada. O Rei Caído é traiçoeiro.
— Eu tenho certeza que ele não está por trás disso. Ele almeja muito mais do que uma Terra devastada. — justifica. — Ele quer um reino, não um monte de entulhos.
— Você o conhece melhor que nós. — reconhece Raguel. — Talvez tenha razão.
— Pode acreditar nas minhas palavras, eu sei o que estou falando. E tenho uma suspeita de quem possa ser. E se for quem eu estou pensando, nós três juntos jamais conseguiremos derrotá-lo.
— E quem é? — pergunta Raguel. — É demônio ou...
Nisso, a criatura se lança em vôo e pára bem em frente ao trio.
— Resolvi vir até vocês já que não param de conversar. E eu me pergunto se estão conversando sobre a minha pessoa, ou sobre quem irá me enfrentar? Hummm?
— Nem uma e nem outra. — responde Miguel. — Demônios são tão insignificantes que nem perdemos nosso tempo conversando sobre vocês. Temos assuntos melhores para debater.
— Estamos no fim dos tempos e você sempre arrogante. — comenta Beliel. — Mas uma nova era vai começar e não haverá lugar para vocês. Seremos apenas nós demônios.
— Você acha mesmo que os Cavaleiros do Apocalipse deixarão sobrar alguma coisa? Quando eles surgem não sobra nada, essa é a profecia. — fala Raguel. — E ao final de tudo eles voltam ao pó.
— Vocês não sabem da missa a metade. E em breve começará a chuva e vocês entenderão o que eu estou falando. Por dois mil anos eu esperei ansiosamente por esse momento e vou arrancar as asinhas de vocês e depois assistirei de camarote o que está por vir. O céu irá cair e não haverá nada que vocês possam fazer para evitar isso.
— Do que você está falando? — Pergunta Raguel.
— Cheguem aonde vocês querem ir e saberão. — responde Beliel. — Da minha parte as informações cessam por aqui.
Raguel olha para Miguel e diz:
— Não podemos ficar perdendo tempo aqui. Nosso tempo é curto e precisamos impedir o Cavaleiro. Vocês seguem em frente que eu me encontro com vocês em seguida.
Beliel nada diz e apenas sorri.
— Tem certeza? — pergunta Miguel.
— Tenho sim. — responde. — Eu dou conta desse estorvo. E sozinha eu luto melhor. Você sabe disso.
— Está certo. — concorda Miguel. — Mas mesmo assim, se cuide.
— Vou me cuidar. Agora vão. — sorri. — Já estão me atrapalhando.
Miguel abre as asas e Jennifer sorri para Raguel. Como um piscar de olhos, Miguel sai voando dali rompendo a barreira do som e deixando um rastro estrondoso por onde passa.
— Agora somos apenas você e eu. — fala Beliel. — E assim como há dois mil anos atrás, irei lhe espancar, só que desta vez não terá a ajuda daquele anjo intrometido. E então irá morrer.
— Ah, cale a boca! — fala Raguel, golpeando o rosto de Beliel.
O estrondo do golpe afundando o rosto de Beliel é ouvido longe. Beliel é lançado em direção ao chão e Raguel voa em direção a ele e na queda, o agarra pelas asas.
— Me solte! — esbraveja Beliel.
— Eu vou lhe soltar, mas antes vou fazer algo que há anos desejo.
Raguel apóia os pés nas costas do demônio e puxa suas asas para trás. O som de carne se rasgando e ossos se partindo é ouvido. Beliel urra de dor e com o rasgar de carne, suas asas são arrancadas e ele despenca no ar. Uma trilha de sangue vai ficando para trás. Com um sorriso de satisfação, a mulher-Arcanjo observa a queda do demônio rumo ao solo. Como um pedaço de carne, o demônio atinge o chão abrindo uma cratera. Sangue e fezes espirram para todos os lados. Raguel desce em direção a Beliel como um falcão ao ver a presa caminhando em meio ao campo. Ela pousa ao lado dele e fica observando o corpo destroçado do demônio.
— Não era bem isso que você esperava, não é? Mas eu mudei muito nesses dois mil anos. Naquela época eu era apenas um anjo em começo de vida e você era o Rei do Inferno — recorda —, hoje sou um Arcanjo e você não é nada. E assim morrem os orgulhosos, numa poça de sangue e fezes.
Raguel joga as asas do demônio no chão e abre suas asas. E quando vai sair voando, o demônio balbucia:
— Você está orgulhosa desta vitória, certo? Mas a derrota de vocês será extremamente dolorosa e eu vou...
— Você não vai nada, pois está morto. E eu não sei o que vocês estão tramando, mas iremos impedir o que quer que seja. — e chuta uma pedra sobre o corpo do demônio. — Olhando para você, eu não sei se sinto pena ou nojo. E não sei se deixo você apodrecendo assim ou se jogo terra sobre você para dá-lo um enterro decente... Às vezes eu me odeio por ser tão certinha.
Raguel junta um punhado de terra no chão e joga sobre o corpo de Beliel.
— Você não merece, mas eu vou enterrar seu corpo. Eu fui ensinada que todos merecem um enterro digno, mesmo que seja um demônio.
Raguel se agacha e passa a jogar punhados de terra para dentro da cratera.

Miguel segue voando sobre os céus da Rússia quando uma criatura alada de longos cabelos negros se alinha ao lado dele. Miguel olha para o lado e uma mulher de pele escura, olhos rajados de vermelho e dentes afiados, voa na mesma velocidade que ele. Jennifer a observa por alguns segundos e pede para Miguel pousar. Ele pousa suavemente e ela dá alguns passos para longe dele e diz:
— Me deixe aqui. Você é o único que pode deter esse Cavaleiro do Apocalipse! Eu sei que posso encarar esse demônio! Vá, eu ficarei bem.
— Não posso lhe deixar sozinha aqui. — fala olhando para cima, onde a mulher-demônio está planando bem acima deles. — Não posso sequer pensar na possibilidade de lhe perder. Eu a enfrentarei.
— Você não pode.
— Como assim? Não posso?!
— Ela é o demônio da sedução, seu nome é Naamah. — responde. — Já li sobre ela em uma das bibliotecas de Constantinopla. E você sendo homem cairia no jogo dela. Por isso somente eu posso detê-la. Entendeu?
— Entendi sim. Mas não quero que você fique. Ao contrário de nós, você é totalmente humana. Que chances você teria contra um demônio? Há uma diferença muito grande de força entre vocês. — alerta.
— Mas você deve me deixar aqui. — fala, determinada. — Se existe destino, esse é o meu. Eu preciso fazer algo que me traga orgulho novamente, eu preciso desse momento para mim. Tente me entender. Na minha cabeça, a era de glória dos deuses está bastante viva. A cada segundo eu me lembro de mais feitos maravilhosos. Eu preciso lutar sozinha.
— Mas eu não quero. — ele se nega mais uma vez em aceitar.
Jennifer o abraça fortemente e diz em seu ouvido:
— Eu não vou perder meu querido. E lhe encontro onde você estiver, é uma promessa. E você sabe que eu jamais quebrei uma promessa que fiz.
— Eu sei. E entendo o que está me dizendo, eu só não queria lhe deixar, mas vou aceitar o seu pedido. — e aconselha: — Quando estiver lutando, não hesite em matá-la, pois ela não hesitara em fazer o mesmo com você.
— Vou lembrar do seu conselho quando a hora chegar. — e sorri. — Agora vá. Uma contenda me espera aqui.
— Então eu te espero no Palácio da Primeira-Ministra para comemorarmos a nossa vitória.
Miguel a beija na testa e alça vôo passando ao lado da mulher-demônio, e desaparece no azul do céu. Jennifer fica encarando a mulher por um tempo e esta desce em alta velocidade e pousa ao lado da ex-deusa.
— Então quer dizer que você não possui mais nada de especial. — fala Naamah. — É apenas uma simples humana hoje em dia.
— Simples eu não diria. — rebate. — Passei meses lutando contra criaturas horrendas e homens muito mais fortes que eu e sobrevivi a cada um. Acho que se eu fosse simplória não estaria prestes a lutar contra você. — justifica.
— É verdade. Mas isso não a qualifica a enfrentar demônios. E ter pedido para seu namorado Arcanjo ir embora foi um grande erro da sua parte.
— É o que estamos prestes a descobrir.
— Essa luta não vai durar um minuto. — e as asas da mulher são recolhidas ao corpo de forma grotesca. Os ossos vão se quebrando e as asas vão murchando até virar uma gosma negra fétida que é sugada pelo corpo. — Seria covardia demais lutar com o auxilio das minhas asas, vamos deixar essa luta de igual para igual. — fala sorridente.
— “Igual para igual”?! — pensa Jennifer. — Acho que ela quis ser sarcástica. Mas não posso ficar me perdendo em pensamentos, a qualquer...
Nisso, a mulher ataca lateralmente com uma cotovelada, Jennifer consegue defender e contra-ataca com um chute. Naamah salta para trás, escapando do alcance do golpe e diz:
— Gostei de você. Quase me acertou. Acho que será divertido! — seu tom de voz é esfuziante.
Naamah ataca Jennifer com um chute, mas esta se abaixa, e o golpe passa em branco. Jennifer sobe com o punho em riste preparando um gancho. Naamah segura a mão dela e sorrindo a golpeia com um chute no flanco esquerdo. Jennifer solta um leve gemido e envolve a perna direita de Naamah com o braço esquerdo e usando o braço direito desfere dois socos na perna da mulher. Naamah cai no chão e Jennifer se joga sobre ela e começa a golpeá-la com socos no rosto sem parar. Sangue negro espirra sujando o rosto e as roupas de Jennifer. Jennifer a golpeia como se estivesse possuída por uma fúria sobre-humana. Sangue cada vez mais espesso respinga no rosto de Jennifer. Mas nisso, Naamah agarra os braços de Jennifer e a joga para o lado. Jennifer rola pelo chão de terra batida e com um movimento rápido de pernas se ergue do chão.
— Era para ela estar desacordada. — pensa Jennifer, limpando o rosto que está sujo de sangue.
— Pensou que seria tão fácil assim? — fala Naamah se erguendo do chão. Seu rosto está todo deformando e sangue negro escorre pelos cortes abertos. — Agora é que a verdadeira diversão começa.
Jennifer nada responde.
A fisionomia de Naamah muda, seu rosto adquire feições de loucura e da cintura ela desenrola duas finas cordas com uma estrela de quatro pontas em cada. As estrelas brilham de tão afiadas.
— Essas duas cordas são meus brinquedos favoritos. Está vendo estas estrelas em suas pontas? Elas cortam carne como se fosse faca quente na manteiga. E estão famintas pelo gostinho do sangue humano, pois já faz séculos que elas não sabem o que é isso.
Jennifer apenas encara Naamah enquanto esta fala.
— Ai, ai. — e sacode a cabeça. — Você podia ser mais falante. Cansa ficar falando sozinha.
— Não tenho nada para falar. — e pensa: — Será que o Miguel já está enfrentando o Cavaleiro? Não posso ficar pensando nisso, tenho um demônio na minha frente e não posso perder o foco.
— Pffffff. — suspira. — Chega de brincadeiras. — e começa a girar as cordas sobre a cabeça.
Jennifer assume posição de combate e Naamah arremessa as cordas em alta velocidade na direção dela. As estrelas viajam numa velocidade que os olhos humanos não conseguem sequer enxergar e cravam nos ombros de Jennifer ficando com apenas uma das pontas de fora.
— Argh! — Jennifer solta um urro de dor e arqueia o corpo para trás, esticando as cordas.
— Dói, não é? Mas isso é apenas o começo do seu martírio. Você disse para o Arcanjo que esse era o seu destino e que você precisava lutar sozinha. Um erro em minha opinião. Não existe destino, cada um faz o seu caminho. E lutar sozinha comigo foi burrice. Eu sou um demônio, muito superior em força aos humanos. Nem todos os demônios são poderosos, eu nem sou uma das mais poderosas. Existem demônios que são dez vezes mais fortes que eu e outros ridiculamente fracos. Mas os fracos não sobem para o campo de batalha, eles são usados para nos entreter e cuidar de certos afazeres. Talvez você possuísse alguma chance se tivesse cruzado com esses demônios mais fracos, mas eu, eu sou muito mais forte que você, e isso significa que você irá morrer pelas minhas mãos. E acredite em mim, será melhor assim. Você não irá querer ver o que está para acontecer. A chuva será sangrenta.
— Chuva?! Será mais um dilúvio? — pensa intrigada em meio à dor que sente. — O que você está querendo dizer com chuva? — sua curiosidade é maior que a dor e o sangue que escorre dos dois ferimentos.
— Isso é um segredo que só nós, os demônios do Apocalipse, sabemos.
— Demônios do Apocalipse?!
— Isso mesmo. — responde. — Apesar de todas as informações que hoje existem, há certas coisas que ficam ocultas por milênios. Nós os demônios do Apocalipse, só surgimos quando o primeiro Cavaleiro desperta, somos uma espécie de escudo deles. — explica. — Pois até o soar da primeira trombeta ele é tão humano quanto você. Mas após isso, ele desperta o seu verdadeiro poder e a nós é dado o poder de destruir a Terra como bem entendermos. Claro que temos um líder que barganha com esse Cavaleiro certas concessões para termos privilégios. E foi o que ele fez. Só estamos esperando o soar da primeira trombeta para pormos nosso plano em curso.
— E o que vocês barganharam? — pergunta.
— Segredo, minha querida, segredo. — responde. — Acho que já falei demais. Está na hora de acabarmos com isso.
E começa a puxar as cordas, o que conseqüentemente puxa o corpo de Jennifer junto. Jennifer segura as cordas e força seu corpo para trás. Mas a mulher-demônio é muito mais forte que ela e com um forte movimento de braços, joga Jennifer para frente que cai de bruços no chão. Naamah olha para os lados e avista algumas árvores após uma rodovia de asfalto. Ela passa a arrastar Jennifer e atravessa a rodovia. Jennifer se debate tentando resistir a força de Naamah, mas nada consegue fazer.
— Pare de tentar resistir! Eu já lhe disse que sou muito mais forte que você! Esse seu esforço é inútil!
— Nada que eu faça é inútil! — rebate. — Não vou deixar que você me mate!
— Não há nada que você possa fazer para impedir isso. Nem que você passasse mil anos batalhando sem parar, conseguiria me derrotar. Seus esforços são uma perda de tempo, menina!
Jennifer nada responde. Naamah se aproxima de uma árvore alta e salta sobre um galho bem grosso e puxa Jennifer em direção a árvore a deixando de costas para o tronco.
— Sabe o que é legal de ser um demônio?
— Serem feios?
— Heheh. Tentando ser engraçada antes da morte? Mas lhe digo que não é isso. É que somos cheios de surpresas.
Naamah leva uma das mãos à barriga e uma gosma negra começa a sair e a tomar a forma de uma espada negra extremamente afiada. A mulher-demônio segura o cabo da espada e a puxa como se estivesse embainhada. A lâmina brilha em contato com a luz do sol e com um rápido movimento, Naamah atravessa o tronco da árvore com a espada e perfura as costas de Jennifer, fazendo a ponta da espada sair na barriga dela. Sangue quente jorra molhando a terra e as raízes da árvore.
— Esse golpe foi fatal. — avisa, retirando a espada e a jogando no chão. — Só que você não irá morrer agora — explica —, mas ficará agonizando enquanto a sua vida vai se esvaindo diante dos seus olhos. E eu vou aproveitar para me divertir enquanto isso.
Naamah dá a volta em torno da árvore e pára em frente à Jennifer.
— Você golpeou meu rosto sem se preocupar em como eu ficaria, então farei o mesmo com você. E a diferença é que eu sou muito mais forte e o estrago será bem maior.
Naamah começa a socar o rosto de Jennifer sem dó. Ao primeiro golpe, o sangue já espirra no rosto da mulher demônio que lambe os lábios sujos com o morno liquido que corre nas veias dos humanos.
— O seu sangue tem um gosto bem diferente. — comenta. — Deve ser devido a sua linhagem. É tão exótico... Tão, delicioso.
E os golpes são desferidos com mais selvageria. Os ossos do rosto de Jennifer começam a se partir e a perfurar a carne, abrindo verdadeiras crateras no rosto dela, onde o sangue escorre em profusão. Naamah se delicia com o que está acontecendo e em aparente transe, diz:
— Nós demônios iremos dominar esse mundo! Seremos os verdadeiros donos dele! O Céu irá cair aos nossos pés! Seremos reis!
Em meios aos golpes, Jennifer balbucia:
— Sua cobiça vai acabar te matando mais cedo do que imagina.
— Não diga bobagens! — exclama. — Nós vivemos na mais pura escuridão até esse momento e nada, simplesmente nada, irá impedir de caminharmos livremente por essas terras poeirentas!
E golpeia Jennifer com vários socos.
— Você não nos conhece. — murmura. — Eu posso até morrer aqui, mas com certeza o Miguel e seus amigos irão exterminar você como o lixo desprezível que é! — ruge, puxando suas últimas forças. — Vocês não merecem sequer pisar esses pés imundos nesse mundo maravilhoso!
— Tola! — esbraveja, caminhando em direção a espada. — Cansei de seus insultos. — e agarra a espada no chão. — Irei cortar a sua cabeça e dar fim a essa sua vida medíocre! Não sei o que acontece quando se mata uma ex-deusa, mas você irá descobrir isso para mim. — e pára em frente à Jennifer com a espada erguida na diagonal.
Jennifer fecha os olhos e balbucia:
— Adeus Miguel. Te amo...
Sangue explode em todas as direções e ossos e pedaços de carne voam pelo chão. Jennifer é banhada pelo sangue da mulher-demônio e ao abrir os olhos, vê Raguel parada bem na sua frente.
— Raguel...
— Cheguei bem a tempo de salvar o seu pescoço. — fala Raguel. — Se eu não conseguisse o Miguel não iria me perdoar. Agora vamos soltar você e dar um jeito de curar esses seus ferimentos, pois o seu rosto está uma lástima. — comenta.
Jennifer sorri com o comentário da amiga.
— Para eu tirar essas estrelas do seu ombro será dolorido. — avisa. — Consegue agüentar?
— Sim. — responde sussurrando.
— Ok.
Raguel segura as cordas e as puxa, fazendo as estrelas rasgarem a carne de dentro para fora e saírem de onde estavam. Sangue espirra e Jennifer cai de joelhos no chão. Raguel a envolve em seus braços e um brilho incandescente envolve as duas. As árvores ao redor são queimadas devido ao calor gerado e se desmancham em montes de cinzas. O brilho vai diminuindo aos poucos e ao cessar, Jennifer está sem nenhum ferimento, mas ainda continua suja com o próprio sangue e com o sangue de Naamah.
— Como está se sentindo? — pergunta Raguel.
— Como se eu nunca tivesse apanhado tanto. — responde sorrindo e se erguendo do chão. — Obrigada.
— De nada. Acha que está preparada para talvez outra luta?
— Com certeza. — responde determinada. — Cada luta é um aprendizado diferente.
Raguel sorri e diz:
— Então vamos ao encontro de Miguel. Com certeza ele já deve ter chegado lá.
— Se ele já chegou, deve estar enfrentando outro demônio, o líder desses que enfrentamos.
— Como assim?
— Ela me falou que eles se chamam demônios do Apocalipse e que existe um líder que barganhou com esse Cavaleiro alguma coisa. — responde. — Mas ela não me disse o que. Mas logo depois ela falou que eles seriam os reis desse mundo. Deve ter alguma ligação.
— Eu nunca ouvi falar sobre eles. — comenta. — Eu nunca soube da existência de tais demônios. Nada fica oculto dos mais sábios do Paraíso e nunca ninguém me falou nada.
— Ela disse que certos segredos ficam ocultos. — acrescenta.
— Não estou gostando nada disso. — e olha em direção aonde a emanação da aura de Miguel vem. — Pelo menos ainda sinto a aura do Miguel intacta. Mas também sinto uma aura bem fraca, quase se esvaindo, bem próxima da morte. Só que não consigo identificar de quem é.
— Então vamos para lá. — fala Jennifer.
— Certo!
Jennifer envolve os braços ao redor do pescoço de Raguel e esta abre suas asas, e um estrondo é seguido após seu vôo.

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