Como dois jatos supersônicos,
Miguel, carregando Jennifer nos braços, e Raguel, voando ao seu lado, cruzam o
Oceano Atlântico rumo à Rússia. Ao chegarem a Europa, são obrigados a desviarem
seu caminho devido à alta radiação que está sendo carregada pelos ventos.
Vindo de Roma, o homem de vestes
negras é o primeiro a chegar à Rússia. Ele cruza a fronteira rompendo a
barreira do som e em segundos, é enviada uma dezena de aviões da Força Aérea
Russa ao seu encalço. Quando os aviões o encontram, seus pilotos não acreditam
no que vêem. Um homem voando acima das nuvens e com dois pares de asas sob suas
costas? Só pode ser ilusão, pensam eles. Mas a verdade é que não é ilusão ou
delírio. O homem que cruza os céus na mesma velocidade dos mais modernos jatos
supersônicos é um Arcanjo, um ser dotado de divindade. Com um aperto de botão,
vários mísseis são lançados contra ele. O Arcanjo se esquiva de cada um dos
mísseis e ataca os aviões com uma fúria avassaladora. Ele rasga a fuselagem com
as mãos e arranca as asas e os motores, os jatos despencam dos céus e explodem
ao atingirem o solo. E quanto mais adentra a Rússia, mais artilharia encontra
pelo caminho.
Palácio da Primeira-Ministra,
Moscou.
Em frente ao palácio, a
primeira-ministra Yulia, conversa com um homem africano alto, com cerca de um
metro e oitenta de altura, muito forte. Seus cabelos são negros, lisos e bem
compridos, sua pele é escura e seu olhar mostra-se atento a tudo e sua expressão
é séria. Ele usa uma armadura reluzente e em uma das mãos carrega uma lança.
— Os Arcanjos estão próximos? —
pergunta Yulia.
— Sim — responde —, mas não se
preocupe que irei lhe proteger de qualquer investida da parte deles. E também
não acredito que todos consigam chegar até aqui. Deixei dois demônios de minha
total confiança à espera deles. E quando o seu poder for liberado com o soar da
primeira trombeta, eu e meus caídos iremos assolar esse planeta com a total
destruição de suas principais fontes de energia.
— Fico feliz em ouvir isso, Belial,
e tenho certeza que você irá cumprir com a sua palavra. — e olha para os lados
procurando algum sinal dos Arcanjos. — E pode ter certeza que também cumprirei
com a minha parte do acordo. Só ainda não entendi porque o odeia tanto.
— É uma longa história. Mas deixemos
isso para depois que tudo estiver acabado.
— Está certo. Então vamos apenas
apreciar o momento que se aproxima.
— Hummm... Parece que chegaram ao
meu primeiro caído. — comenta Belial.
Miguel e Raguel cruzam as fronteiras
da Rússia, e avistam ao longe, uma figura encapuzada, com gigantescas asas
negras. Eles param em pleno ar e ficam a observar a criatura.
— Parece que já nos esperavam. —
comenta Raguel. — A linha de frente já está a postos.
— Sabe quem é ele? — pergunta
Miguel. — Eu nunca vi esse demônio antes.
— É Beliel, o antigo rei do Inferno.
— responde. — Camael e eu o enfrentamos a mais de dois mil anos e desde então
ele estava desaparecido. Só gostaria de entender porque ele está aqui.
— Demônios associados aos
Cavaleiros? — supõe Jennifer.
—Pode ser, mas com qual intenção?
Eles não têm nada a ganhar com isso. — fala Raguel.
— A não ser que haja mais alguém por
trás. — fala Jennifer. — Eu até pensei em uma criatura, mas não consigo ver
seus propósitos em tal ato.
— Lúcifer? — pergunta Raguel.
Jennifer assente com a cabeça em
sinal positivo.
— Não creio que meu irmão se
associaria a eles. — responde Miguel. — Ele teria muito mais a perder do que
ganhar.
— Pode ser. — fala Raguel. — Mas
vindo dele eu não duvidaria de nada. O Rei Caído é traiçoeiro.
— Eu tenho certeza que ele não está
por trás disso. Ele almeja muito mais do que uma Terra devastada. — justifica.
— Ele quer um reino, não um monte de entulhos.
— Você o conhece melhor que nós. —
reconhece Raguel. — Talvez tenha razão.
— Pode acreditar nas minhas
palavras, eu sei o que estou falando. E tenho uma suspeita de quem possa ser. E
se for quem eu estou pensando, nós três juntos jamais conseguiremos derrotá-lo.
— E quem é? — pergunta Raguel. — É
demônio ou...
Nisso, a criatura se lança em vôo e
pára bem em frente ao trio.
— Resolvi vir até vocês já que não
param de conversar. E eu me pergunto se estão conversando sobre a minha pessoa,
ou sobre quem irá me enfrentar? Hummm?
— Nem uma e nem outra. — responde
Miguel. — Demônios são tão insignificantes que nem perdemos nosso tempo
conversando sobre vocês. Temos assuntos melhores para debater.
— Estamos no fim dos tempos e você sempre
arrogante. — comenta Beliel. — Mas uma nova era vai começar e não haverá lugar
para vocês. Seremos apenas nós demônios.
— Você acha mesmo que os Cavaleiros
do Apocalipse deixarão sobrar alguma coisa? Quando eles surgem não sobra nada,
essa é a profecia. — fala Raguel. — E ao final de tudo eles voltam ao pó.
— Vocês não sabem da missa a metade.
E em breve começará a chuva e vocês entenderão o que eu estou falando. Por dois
mil anos eu esperei ansiosamente por esse momento e vou arrancar as asinhas de
vocês e depois assistirei de camarote o que está por vir. O céu irá cair e não
haverá nada que vocês possam fazer para evitar isso.
— Do que você está falando? —
Pergunta Raguel.
— Cheguem aonde vocês querem ir e
saberão. — responde Beliel. — Da minha parte as informações cessam por aqui.
Raguel olha para Miguel e diz:
— Não podemos ficar perdendo tempo
aqui. Nosso tempo é curto e precisamos impedir o Cavaleiro. Vocês seguem em
frente que eu me encontro com vocês em seguida.
Beliel nada diz e apenas sorri.
— Tem certeza? — pergunta Miguel.
— Tenho sim. — responde. — Eu dou
conta desse estorvo. E sozinha eu luto melhor. Você sabe disso.
— Está certo. — concorda Miguel. —
Mas mesmo assim, se cuide.
— Vou me cuidar. Agora vão. — sorri.
— Já estão me atrapalhando.
Miguel abre as asas e Jennifer sorri
para Raguel. Como um piscar de olhos, Miguel sai voando dali rompendo a
barreira do som e deixando um rastro estrondoso por onde passa.
— Agora somos apenas você e eu. —
fala Beliel. — E assim como há dois mil anos atrás, irei lhe espancar, só que
desta vez não terá a ajuda daquele anjo intrometido. E então irá morrer.
— Ah, cale a boca! — fala Raguel,
golpeando o rosto de Beliel.
O estrondo do golpe afundando o
rosto de Beliel é ouvido longe. Beliel é lançado em direção ao chão e Raguel
voa em direção a ele e na queda, o agarra pelas asas.
— Me solte! — esbraveja Beliel.
— Eu vou lhe soltar, mas antes vou
fazer algo que há anos desejo.
Raguel apóia os pés nas costas do
demônio e puxa suas asas para trás. O som de carne se rasgando e ossos se
partindo é ouvido. Beliel urra de dor e com o rasgar de carne, suas asas são
arrancadas e ele despenca no ar. Uma trilha de sangue vai ficando para trás.
Com um sorriso de satisfação, a mulher-Arcanjo observa a queda do demônio rumo
ao solo. Como um pedaço de carne, o demônio atinge o chão abrindo uma cratera.
Sangue e fezes espirram para todos os lados. Raguel desce em direção a Beliel
como um falcão ao ver a presa caminhando em meio ao campo. Ela pousa ao lado
dele e fica observando o corpo destroçado do demônio.
— Não era bem isso que você
esperava, não é? Mas eu mudei muito nesses dois mil anos. Naquela época eu era
apenas um anjo em começo de vida e você era o Rei do Inferno — recorda —, hoje
sou um Arcanjo e você não é nada. E assim morrem os orgulhosos, numa poça de
sangue e fezes.
Raguel joga as asas do demônio no
chão e abre suas asas. E quando vai sair voando, o demônio balbucia:
— Você está orgulhosa desta vitória,
certo? Mas a derrota de vocês será extremamente dolorosa e eu vou...
— Você não vai nada, pois está
morto. E eu não sei o que vocês estão tramando, mas iremos impedir o que quer
que seja. — e chuta uma pedra sobre o corpo do demônio. — Olhando para você, eu
não sei se sinto pena ou nojo. E não sei se deixo você apodrecendo assim ou se
jogo terra sobre você para dá-lo um enterro decente... Às vezes eu me odeio por
ser tão certinha.
Raguel junta um punhado de terra no
chão e joga sobre o corpo de Beliel.
— Você não merece, mas eu vou enterrar
seu corpo. Eu fui ensinada que todos merecem um enterro digno, mesmo que seja
um demônio.
Raguel se agacha e passa a jogar punhados
de terra para dentro da cratera.
Miguel segue voando sobre os céus da
Rússia quando uma criatura alada de longos cabelos negros se alinha ao lado
dele. Miguel olha para o lado e uma mulher de pele escura, olhos rajados de
vermelho e dentes afiados, voa na mesma velocidade que ele. Jennifer a observa
por alguns segundos e pede para Miguel pousar. Ele pousa suavemente e ela dá
alguns passos para longe dele e diz:
— Me deixe aqui. Você é o único que
pode deter esse Cavaleiro do Apocalipse! Eu sei que posso encarar esse demônio!
Vá, eu ficarei bem.
— Não posso lhe deixar sozinha aqui.
— fala olhando para cima, onde a mulher-demônio está planando bem acima deles.
— Não posso sequer pensar na possibilidade de lhe perder. Eu a enfrentarei.
— Você não pode.
— Como assim? Não posso?!
— Ela é o demônio da sedução, seu
nome é Naamah. — responde. — Já li sobre ela em uma das bibliotecas de
Constantinopla. E você sendo homem cairia no jogo dela. Por isso somente eu
posso detê-la. Entendeu?
— Entendi sim. Mas não quero que
você fique. Ao contrário de nós, você é totalmente humana. Que chances você
teria contra um demônio? Há uma diferença muito grande de força entre vocês. —
alerta.
— Mas você deve me deixar aqui. —
fala, determinada. — Se existe destino, esse é o meu. Eu preciso fazer algo que
me traga orgulho novamente, eu preciso desse momento para mim. Tente me
entender. Na minha cabeça, a era de glória dos deuses está bastante viva. A
cada segundo eu me lembro de mais feitos maravilhosos. Eu preciso lutar
sozinha.
— Mas eu não quero. — ele se nega
mais uma vez em aceitar.
Jennifer o abraça fortemente e diz
em seu ouvido:
— Eu não vou perder meu querido. E
lhe encontro onde você estiver, é uma promessa. E você sabe que eu jamais
quebrei uma promessa que fiz.
— Eu sei. E entendo o que está me
dizendo, eu só não queria lhe deixar, mas vou aceitar o seu pedido. — e
aconselha: — Quando estiver lutando, não hesite em matá-la, pois ela não
hesitara em fazer o mesmo com você.
— Vou lembrar do seu conselho quando
a hora chegar. — e sorri. — Agora vá. Uma contenda me espera aqui.
— Então eu te espero no Palácio da
Primeira-Ministra para comemorarmos a nossa vitória.
Miguel a beija na testa e alça vôo passando
ao lado da mulher-demônio, e desaparece no azul do céu. Jennifer fica encarando
a mulher por um tempo e esta desce em alta velocidade e pousa ao lado da
ex-deusa.
— Então quer dizer que você não
possui mais nada de especial. — fala Naamah. — É apenas uma simples humana hoje
em dia.
— Simples eu não diria. — rebate. — Passei
meses lutando contra criaturas horrendas e homens muito mais fortes que eu e
sobrevivi a cada um. Acho que se eu fosse simplória não estaria prestes a lutar
contra você. — justifica.
— É verdade. Mas isso não a
qualifica a enfrentar demônios. E ter pedido para seu namorado Arcanjo ir
embora foi um grande erro da sua parte.
— É o que estamos prestes a
descobrir.
— Essa luta não vai durar um minuto.
— e as asas da mulher são recolhidas ao corpo de forma grotesca. Os ossos vão
se quebrando e as asas vão murchando até virar uma gosma negra fétida que é
sugada pelo corpo. — Seria covardia demais lutar com o auxilio das minhas asas,
vamos deixar essa luta de igual para igual. — fala sorridente.
— “Igual para igual”?! — pensa
Jennifer. — Acho que ela quis ser sarcástica. Mas não posso ficar me perdendo
em pensamentos, a qualquer...
Nisso, a mulher ataca lateralmente
com uma cotovelada, Jennifer consegue defender e contra-ataca com um chute.
Naamah salta para trás, escapando do alcance do golpe e diz:
— Gostei de você. Quase me acertou.
Acho que será divertido! — seu tom de voz é esfuziante.
Naamah ataca Jennifer com um chute,
mas esta se abaixa, e o golpe passa em branco. Jennifer sobe com o punho em
riste preparando um gancho. Naamah segura a mão dela e sorrindo a golpeia com
um chute no flanco esquerdo. Jennifer solta um leve gemido e envolve a perna
direita de Naamah com o braço esquerdo e usando o braço direito desfere dois
socos na perna da mulher. Naamah cai no chão e Jennifer se joga sobre ela e
começa a golpeá-la com socos no rosto sem parar. Sangue negro espirra sujando o
rosto e as roupas de Jennifer. Jennifer a golpeia como se estivesse possuída
por uma fúria sobre-humana. Sangue cada vez mais espesso respinga no rosto de
Jennifer. Mas nisso, Naamah agarra os braços de Jennifer e a joga para o lado.
Jennifer rola pelo chão de terra batida e com um movimento rápido de pernas se
ergue do chão.
— Era para ela estar desacordada. —
pensa Jennifer, limpando o rosto que está sujo de sangue.
— Pensou que seria tão fácil assim?
— fala Naamah se erguendo do chão. Seu rosto está todo deformando e sangue
negro escorre pelos cortes abertos. — Agora é que a verdadeira diversão começa.
Jennifer nada responde.
A fisionomia de Naamah muda, seu
rosto adquire feições de loucura e da cintura ela desenrola duas finas cordas
com uma estrela de quatro pontas em cada. As estrelas brilham de tão afiadas.
— Essas duas cordas são meus
brinquedos favoritos. Está vendo estas estrelas em suas pontas? Elas cortam
carne como se fosse faca quente na manteiga. E estão famintas pelo gostinho do
sangue humano, pois já faz séculos que elas não sabem o que é isso.
Jennifer apenas encara Naamah
enquanto esta fala.
— Ai, ai. — e sacode a cabeça. — Você
podia ser mais falante. Cansa ficar falando sozinha.
— Não tenho nada para falar. — e
pensa: — Será que o Miguel já está enfrentando o Cavaleiro? Não posso ficar
pensando nisso, tenho um demônio na minha frente e não posso perder o foco.
— Pffffff. — suspira. — Chega de
brincadeiras. — e começa a girar as cordas sobre a cabeça.
Jennifer assume posição de combate e
Naamah arremessa as cordas em alta velocidade na direção dela. As estrelas
viajam numa velocidade que os olhos humanos não conseguem sequer enxergar e
cravam nos ombros de Jennifer ficando com apenas uma das pontas de fora.
— Argh! — Jennifer solta um urro de
dor e arqueia o corpo para trás, esticando as cordas.
— Dói, não é? Mas isso é apenas o
começo do seu martírio. Você disse para o Arcanjo que esse era o seu destino e
que você precisava lutar sozinha. Um erro em minha opinião. Não existe destino,
cada um faz o seu caminho. E lutar sozinha comigo foi burrice. Eu sou um
demônio, muito superior em força aos humanos. Nem todos os demônios são
poderosos, eu nem sou uma das mais poderosas. Existem demônios que são dez
vezes mais fortes que eu e outros ridiculamente fracos. Mas os fracos não sobem
para o campo de batalha, eles são usados para nos entreter e cuidar de certos
afazeres. Talvez você possuísse alguma chance se tivesse cruzado com esses
demônios mais fracos, mas eu, eu sou muito mais forte que você, e isso
significa que você irá morrer pelas minhas mãos. E acredite em mim, será melhor
assim. Você não irá querer ver o que está para acontecer. A chuva será
sangrenta.
— Chuva?! Será mais um dilúvio? —
pensa intrigada em meio à dor que sente. — O que você está querendo dizer com
chuva? — sua curiosidade é maior que a dor e o sangue que escorre dos dois
ferimentos.
— Isso é um segredo que só nós, os
demônios do Apocalipse, sabemos.
— Demônios do Apocalipse?!
— Isso mesmo. — responde. — Apesar
de todas as informações que hoje existem, há certas coisas que ficam ocultas por
milênios. Nós os demônios do Apocalipse, só surgimos quando o primeiro
Cavaleiro desperta, somos uma espécie de escudo deles. — explica. — Pois até o
soar da primeira trombeta ele é tão humano quanto você. Mas após isso, ele
desperta o seu verdadeiro poder e a nós é dado o poder de destruir a Terra como
bem entendermos. Claro que temos um líder que barganha com esse Cavaleiro
certas concessões para termos privilégios. E foi o que ele fez. Só estamos
esperando o soar da primeira trombeta para pormos nosso plano em curso.
— E o que vocês barganharam? —
pergunta.
— Segredo, minha querida, segredo. —
responde. — Acho que já falei demais. Está na hora de acabarmos com isso.
E começa a puxar as cordas, o que
conseqüentemente puxa o corpo de Jennifer junto. Jennifer segura as cordas e
força seu corpo para trás. Mas a mulher-demônio é muito mais forte que ela e
com um forte movimento de braços, joga Jennifer para frente que cai de bruços
no chão. Naamah olha para os lados e avista algumas árvores após uma rodovia de
asfalto. Ela passa a arrastar Jennifer e atravessa a rodovia. Jennifer se
debate tentando resistir a força de Naamah, mas nada consegue fazer.
— Pare de tentar resistir! Eu já lhe
disse que sou muito mais forte que você! Esse seu esforço é inútil!
— Nada que eu faça é inútil! —
rebate. — Não vou deixar que você me mate!
— Não há nada que você possa fazer
para impedir isso. Nem que você passasse mil anos batalhando sem parar,
conseguiria me derrotar. Seus esforços são uma perda de tempo, menina!
Jennifer nada responde. Naamah se
aproxima de uma árvore alta e salta sobre um galho bem grosso e puxa Jennifer
em direção a árvore a deixando de costas para o tronco.
— Sabe o que é legal de ser um
demônio?
— Serem feios?
— Heheh. Tentando ser engraçada antes
da morte? Mas lhe digo que não é isso. É que somos cheios de surpresas.
Naamah leva uma das mãos à barriga e
uma gosma negra começa a sair e a tomar a forma de uma espada negra
extremamente afiada. A mulher-demônio segura o cabo da espada e a puxa como se
estivesse embainhada. A lâmina brilha em contato com a luz do sol e com um
rápido movimento, Naamah atravessa o tronco da árvore com a espada e perfura as
costas de Jennifer, fazendo a ponta da espada sair na barriga dela. Sangue
quente jorra molhando a terra e as raízes da árvore.
— Esse golpe foi fatal. — avisa,
retirando a espada e a jogando no chão. — Só que você não irá morrer agora —
explica —, mas ficará agonizando enquanto a sua vida vai se esvaindo diante dos
seus olhos. E eu vou aproveitar para me divertir enquanto isso.
Naamah dá a volta em torno da árvore
e pára em frente à Jennifer.
— Você golpeou meu rosto sem se
preocupar em como eu ficaria, então farei o mesmo com você. E a diferença é que
eu sou muito mais forte e o estrago será bem maior.
Naamah começa a socar o rosto de
Jennifer sem dó. Ao primeiro golpe, o sangue já espirra no rosto da mulher
demônio que lambe os lábios sujos com o morno liquido que corre nas veias dos
humanos.
— O seu sangue tem um gosto bem
diferente. — comenta. — Deve ser devido a sua linhagem. É tão exótico... Tão,
delicioso.
E os golpes são desferidos com mais
selvageria. Os ossos do rosto de Jennifer começam a se partir e a perfurar a
carne, abrindo verdadeiras crateras no rosto dela, onde o sangue escorre em
profusão. Naamah se delicia com o que está acontecendo e em aparente transe,
diz:
— Nós demônios iremos dominar esse
mundo! Seremos os verdadeiros donos dele! O Céu irá cair aos nossos pés!
Seremos reis!
Em meios aos golpes, Jennifer
balbucia:
— Sua cobiça vai acabar te matando
mais cedo do que imagina.
—
Não diga bobagens! — exclama. — Nós vivemos na mais pura escuridão até esse
momento e nada, simplesmente nada, irá impedir de caminharmos livremente por
essas terras poeirentas!
E
golpeia Jennifer com vários socos.
—
Você não nos conhece. — murmura. — Eu posso até morrer aqui, mas com certeza o
Miguel e seus amigos irão exterminar você como o lixo desprezível que é! — ruge,
puxando suas últimas forças. — Vocês não merecem sequer pisar esses pés imundos
nesse mundo maravilhoso!
—
Tola! — esbraveja, caminhando em direção a espada. — Cansei de seus insultos. —
e agarra a espada no chão. — Irei cortar a sua cabeça e dar fim a essa sua vida
medíocre! Não sei o que acontece quando se mata uma ex-deusa, mas você irá descobrir
isso para mim. — e pára em frente à Jennifer com a espada erguida na diagonal.
Jennifer
fecha os olhos e balbucia:
—
Adeus Miguel. Te amo...
Sangue
explode em todas as direções e ossos e pedaços de carne voam pelo chão.
Jennifer é banhada pelo sangue da mulher-demônio e ao abrir os olhos, vê Raguel
parada bem na sua frente.
—
Raguel...
—
Cheguei bem a tempo de salvar o seu pescoço. — fala Raguel. — Se eu não
conseguisse o Miguel não iria me perdoar. Agora vamos soltar você e dar um
jeito de curar esses seus ferimentos, pois o seu rosto está uma lástima. —
comenta.
Jennifer
sorri com o comentário da amiga.
—
Para eu tirar essas estrelas do seu ombro será dolorido. — avisa. — Consegue
agüentar?
—
Sim. — responde sussurrando.
—
Ok.
Raguel
segura as cordas e as puxa, fazendo as estrelas rasgarem a carne de dentro para
fora e saírem de onde estavam. Sangue espirra e Jennifer cai de joelhos no
chão. Raguel a envolve em seus braços e um brilho incandescente envolve as
duas. As árvores ao redor são queimadas devido ao calor gerado e se desmancham
em montes de cinzas. O brilho vai diminuindo aos poucos e ao cessar, Jennifer
está sem nenhum ferimento, mas ainda continua suja com o próprio sangue e com o
sangue de Naamah.
—
Como está se sentindo? — pergunta Raguel.
—
Como se eu nunca tivesse apanhado tanto. — responde sorrindo e se erguendo do
chão. — Obrigada.
—
De nada. Acha que está preparada para talvez outra luta?
—
Com certeza. — responde determinada. — Cada luta é um aprendizado diferente.
Raguel
sorri e diz:
—
Então vamos ao encontro de Miguel. Com certeza ele já deve ter chegado lá.
—
Se ele já chegou, deve estar enfrentando outro demônio, o líder desses que
enfrentamos.
—
Como assim?
—
Ela me falou que eles se chamam demônios do Apocalipse e que existe um líder
que barganhou com esse Cavaleiro alguma coisa. — responde. — Mas ela não me
disse o que. Mas logo depois ela falou que eles seriam os reis desse mundo.
Deve ter alguma ligação.
—
Eu nunca ouvi falar sobre eles. — comenta. — Eu nunca soube da existência de
tais demônios. Nada fica oculto dos mais sábios do Paraíso e nunca ninguém me
falou nada.
—
Ela disse que certos segredos ficam ocultos. — acrescenta.
—
Não estou gostando nada disso. — e olha em direção aonde a emanação da aura de
Miguel vem. — Pelo menos ainda sinto a aura do Miguel intacta. Mas também sinto
uma aura bem fraca, quase se esvaindo, bem próxima da morte. Só que não consigo
identificar de quem é.
—
Então vamos para lá. — fala Jennifer.
—
Certo!
Jennifer
envolve os braços ao redor do pescoço de Raguel e esta abre suas asas, e um
estrondo é seguido após seu vôo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário