Licença Creative Commons
Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://ummundoemcaos.blogspot.com.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um Mundo em Caos - 01

Depois de meses trancado em sua casa, Miguel resolve finalmente sair para um mundo em que os mortos dominam as ruas e devoram aqueles que se arriscam a caminhar por um mundo que agora os pertence. Um mundo que eles reivindicaram assim que saíram de seu sono eterno e voltaram a caminhar e se alimentar da carne dos vivos.
— Cara que pandemônio! — pensa consigo, há muitos cadáveres em decomposição e ossadas espalhadas pelas ruas. Casas e carros destruídos, muitos carros capotados, outros incendiados, mas nenhum sinal de outro ser vivo além dele, — Não imaginava que tinha chegado a esse nível. Devia ter saído de casa antes das coisas terem chegado a esse ponto. E se restou apenas eu nessa droga de mundo? Com certeza não viverei muito tempo, não assim. Mas antes de ficar pensando nessas coisas, vou atrás de meus amigos e ver se eles ainda estão vivos. Se eu sobrevivi, eles também. Tenho certeza disso!
Miguel continua a seguir em frente e ao olhar para trás já enxerga sua casa ficando distante e pensa em como a vida era boa antes de tudo isso começar. Talvez agora estivesse saindo para comprar pão ou para ir ao trabalho. Mas logo esses pensamentos somem de sua cabeça e ele volta a ficar alerta olhando para os lados e pensa: — Ué, cadê os zumbis? Para onde foram todos? Se não estão aqui... será que foram pra alguma outra cidade?
Enquanto pensava para onde foram os cadáveres putrefatos dos mortos que andam, não percebeu a aproximação de algo que tocou sua perna. De imediato deu um pulo para frente e puxou a espada da cintura e quando ia golpear o que o tocou viu que era um filhote de cachorro ainda pequeno, com uma pelagem espessa e de cor bege.
— Quase que eu acertei você coisinha peluda. ­— diz ele se abaixando em direção ao filhote, ­— O que está fazendo sozinho na rua? Hummm? Não vai me dizer, não é? Já imaginava. Hehehe... quer me acompanhar? — ele pega o filhote no colo e ao olhar para a espada lembra-se do dia em que a viu pela primeira vez. ­— Vou te contar uma pequena história amiguinho. Está vendo esta espada? Comprei ela numa dessas casas de caça e pesca, é uma réplica de uma katana, bonita não? Eu acho, você não achou? Que pena. Mas quando comprei não queria apenas para enfeite, queria poder usá-la em alguma ocasião, um churrasco, sei lá. Então mandei fazer uma lâmina real e que foi colocada no cabo desta, claro que mandei reforçar para não quebrar. Era uma réplica que virou uma espada de verdade. E eu quase machuquei você com ela. Deveria ter mais cuidado ao andar por aí.
E assim seguiu Miguel pelo seu bairro contando histórias para o seu novo amigo. Após um bom tempo de caminhada ele se depara com várias ruas fechadas com ônibus virados.
— Uma barricada? Não gostei, talvez seja essa a explicação do porque eu ainda não ter encontrado ninguém no meu caminho. Bom amiguinho, vamos nos preparar. ­— Miguel coloca o filhote na mochila e começa a subir pela lateral do ônibus.
Ao chegar ao topo e olhar, não avista nada de diferente do que seus olhos se acostumaram a ver nessas horas que já está caminhando. Muita destruição e nada de mortos-vivos. Então ele ergue a cabeça e diz: — Cara, isso tá ficando tenso. Cadê todo mundo? OLÁÁÁÁÁÁ!!!!!!! — Grita bem alto, — Espero que agora alguém tenha me ouvido.
Miguel pula para o outro lado e continua sua caminhada em direção ao centro da cidade. Cada passo que dá parece que o sol vai ficando cada vez mais quente. Tudo começou no mês de agosto, inverno ainda, agora é novembro e alguns dias a temperatura pode chegar a 40 graus, hoje é um desses dias. Péssimo para se ficar andando debaixo do sol.
— Como está quente! — pensa ele, — Preciso de água, muita água.
Miguel senta no chão e pega o filhote da mochila e coloca ele no chão próximo a seus pés: ­— Quer água também? — o filhote fica olhando para ele e ele tira da mochila uma garrafa pet de 2 litros e coloca um pouco de água num pote e coloca no chão. — Pode beber, você parece estar com muita sede. ­— e logo em seguida toma um gole na própria garrafa.
Ele olha para cima e ao ver aquela imensidão azul dá graças a Deus por ainda estar vivo.
­— Como o céu é lindo. Obrigado por me deixar ver isso mais uma vez.
Miguel fala como se fosse à última vez que veria o céu na sua desgraçada vida. Ele abre mais a mochila e dá uma olhada para ver se trouxe tudo que iria precisar. Gases, esparadrapo, faca, garfo, um pratinho, uma panela, garrafa, copo, uma caixa de munição, entre outras coisas. Ele pensa um pouco e chega à conclusão de que ali está tudo o que vai precisar.
— Então, já tomou sua água? — pergunta olhando para o filhote. Ele pega o pote do chão, joga fora o que sobrou de água e o guarda na mochila. — Você também vem para a mochila, por sorte ela é térmica então você não sente tanto calor aí dentro. E vai ficar nessa parte em separado pra poder colocar sua cabeça pra fora e respirar.
Miguel coloca a mochila nas costas e segue seu rumo em direção ao centro da cidade para que possa seguir rumo à casa de seus amigos. Ele segue uma longa avenida que vai direto ao centro da cidade e termina junto à linha do metrô que corta a cidade na horizontal. Mas no momento ele ainda está na metade do caminho, e anteriormente esse trajeto levava uns cinqüenta minutos para ser percorrido completamente. Mas hoje, pode levar o dobro do tempo, pois não se sabe o que pode estar atrás da próxima esquina, do próximo muro ou até mesmo atrás de um carro. Miguel se aproxima cuidadosamente de alguns carros para ver se pode utilizar algum, mas nenhum deles está em condições de ser utilizado. Então ele decide deixar pra lá e segue seu caminho a pé mesmo.
De repente ele ouve barulhos vindo de trás do muro dá próxima esquina. Então rapidamente desembainha sua espada e segura ela e vai caminhando bem devagar encostado no muro.
— Se for um zumbi vou atravessar a cabeça dele feito um pudim! — pensa consigo.
Miguel segue passo a passo e quando chega bem na esquina espia para ver o que é, enxerga uma menina ruiva mexendo em um carro. Ele ergue a cabeça e pensa: — O que será que eu faço? Ela pode ser louca ou sei lá. Maldita dúvida! — ele pensa mais um pouco e decide sair de trás do muro e caminhar até ela. — Ola! — fala em voz alta.
A garota se vira rapidamente e levanta um pedaço de pau e diz:
— Pode vir seu maníaco que eu parto você em dois! Não tenho medo de você!
— Calma. — diz Miguel levantando os braços e dando dois passos para trás. — Não sou nenhum maníaco. Me chamo Miguel e estou indo em direção ao centro e você quem é?
— Ainda não te conheço para dizer meu nome, mas se conseguir abrir a porta deste carro penso na sua pergunta.
— Tá ok! ­— responde Miguel guardando a espada e caminhando na direção dela. Ao se aproximar ele olha o rosto dela e fica atônito ao ver tamanha beleza naquela garota perdida na rua. — Vamos tentar abrir essa Marea Turbo. — Miguel pega uma camisa na mochila, enrola na mão e soqueia o vidro até quebrar e diz: — Fácil, viu?
— Se fosse pra fazer isso eu tinha feito! — retruca ela. — A minha intenção era manter o carro intacto!
— Foi mal. — diz ele saindo caminhando ao redor do carro e passando a mão no capô onde fica a grade da entrada de ar.
— Bom que você sabe! — diz ela olhando para ele. — Só não vai me dizer que se apaixonou pelo carro?
— Respondo que não. Porém acho muito lindo esse carro. O design dele é atemporal na minha opinião. E levando em conta que eu abri o carro, não da forma que você queria, mas abri. Qual seu nome? — pergunta Miguel.
— Raguel. ­— responde ela. — Estranho esse nome, não é? Às vezes penso no que meus pais estavam pensando quando me deram ele.
— Eu não achei nada feio, diferente, exótico talvez, mas não feio.  E você falou dos seus pais, aonde eles estão? ­— Nisso começam a sair barulhos estranhos da mochila dele.
­— O que você tem aí? — pergunta ela curiosa.
Miguel tira a mochila das costas e de dentro do bolso externo pega o filhote e mostra a ela.
— Que lindinho! — Fala ela pegando o filhote no colo. ­ — Eu vou carregar ele daqui pra frente!
— Como assim?! — pergunta Miguel.
— Calma, daqui para frente seremos parceiros. — diz ela apertando a mão dele. — Então viajaremos juntos para onde quer que você vá.
— Tá, mas porque você vai carregar ele?
— Porque eu sou menina e ele é muito fofinho para ficar com um lunático que nem você. — responde ela sorrindo.
— Seremos parceiros você disse antes?!
— Sim. — responde ela. — Algum problema?
Miguel ergue sua cabeça em direção ao céu e pensa consigo: passei três meses sozinho na minha casa sem conversar com ninguém e hoje encontro essa garota e nem sei se estou fazendo a coisa certa. Bom, se estiver tudo errado em breve eu saberei.
— Ei! Acorda aí! ­— fala ela dando um tapa nas costas dele. — Vamos sair daqui? Ficar parados no mesmo lugar não vai adiantar muita coisa e eu vi um grupo de zumbis não muito longe daqui. É melhor apressarmos o passo. — então ela joga a mochila dela para dentro, entra no carro e olha para ele fazendo sinal de “você vai entrar ou vai ficar aí pensando na vida?”.
— Tá certo. — responde Miguel dando a volta no carro e entrando pela outra porta.
— Eu estava pensando, — segue ela. ­— Esse carro é uma perua, então o que acha de passarmos num supermercado bem grande?
— Ótima idéia! ­— responde ele girando a chave do carro e ouvindo o roncar daquele motor Fivetech de cinco cilindros e vinte válvulas. ­— Parece uma orquestra o som desse motor! Vamos nessa!
Miguel, Raguel e o filhote saem dali em alta velocidade com a ajuda do carro. Enquanto ele segue pelas ruas e aproveita para refazer uma pergunta que ainda não foi respondida.
— Você não me respondeu uma pergunta.
— Qual? — pergunta ela segurando o filhote no colo e fazendo carinho no focinho dele
— Onde estão seus pais.
— Ah, eles estavam viajando quando tudo virou de cabeça para baixo. A última notícia que tive é que estavam na Itália há dois meses atrás. Depois caíram as linhas telefônicas e não tive mais contato com eles. Mas acredito que estão bem. E os seus?
­— Já são falecidos. — responde olhando para o lado.
— Hummm. Desculpe a pergunta.
— Não tem problema. Não tinha como você saber.
Alguns minutos depois chegam a um grande supermercado que fica bem próximo a linha do metrô, onde há várias revendas de automóveis ao redor. Eles olham para o estabelecimento e suas janelas de vidro estão quebradas e há sangue espalhado pelas paredes.
— O que você acha? — pergunta Miguel.
— Não sei. Talvez encontremos o que não queremos aí dentro, — responde fechando a mão. ­— mas precisamos do que há no interior dele. E você tem a sua espada e eu tenho meu taco, então acho que não teremos problemas.
— Tem certeza? — pergunta uma última vez.
— Tenho sim. O que eu e você carregamos não é o suficiente para nos alimentarmos por longos dias e é arriscado ficarmos entrando em tudo quanto é supermercados. Podem haver perigos que nem imaginamos.
— Então vamos nessa. — fala Miguel desviando dos carros parados na rua e estacionando em frente ao supermercado.
Eles descem do carro e Miguel coloca sua mochila nas costas e desembainha sua espada. Raguel coloca o filhote dentro da mochila dela, coloca em suas costas e segura seu bastão. Então Miguel olha para ela e diz:
— Vamos entrar.

4 comentários:

  1. putz, essa sencação de "onde estão os zumbis" me gelou a espinha!

    ResponderExcluir
  2. Essa era a intenção. Passar a sensação de "onde estão os zumbis?", "porque eles não aparecem?". Mas já irão aparecer.

    ResponderExcluir
  3. boa, buscar alimentos, mas da onde ele tirou a arma e a munição?

    ResponderExcluir
  4. Herança de família. Experiência própria. Heheh. Mas a que eu tenho é um 38 cano longo fabricado em 1904, mas não funciona.

    ResponderExcluir