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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um Mundo em Caos - Prólogo


Cara, eu devo estar ficando louco! E vocês devem estar se perguntando o porquê disso, não é? Mas não se assustem, da forma em que o mundo se encontra hoje, conversar sozinho é a melhor maneira de não ficarmos loucos. E tudo porque de uns meses para cá o mundo mudou completamente. Antes vivíamos de forma louca também, correndo para lá e para cá, nos esbarrando nas pessoas nas ruas, e hoje nem podemos nos esbarrar em ninguém, senão a chance de nos tornamos iguais a eles é bem grande. Ou então de levarmos um tiro ou uma facada antes que possamos proferir qualquer palavra que mostre que somos diferentes dessas criaturas. E estou falando sério.
Mas vou contar como tudo aconteceu, ou simplesmente como eu fiquei sabendo que as coisas aconteceram, porque ninguém explica realmente as causas, motivos, razões ou mesmo as circunstâncias dessa insurgência. Presidentes, governadores, todos, apenas diziam se tratar de uma epidemia e que logo seria controlada. Nas duas primeiras semanas até deu pra engolir essa historinha pra boi dormir. Mas com o tempo foi se exigindo maiores explicações e o que diziam? Não podemos falar a respeito, é confidencial. A merda já estava no ventilador. A Agência Sanitária não conseguiu tomar o controle e o mau tomou as ruas.
Foi num belo domingo, eu estava na rua lavando o meu carro com a porta da garagem aberta e então um homem cambaleando desceu a rua com sangue em suas roupas. Ele apenas grunhia, eram sons ininteligíveis. Então um de meus vizinhos se aproximou dele para ver o que estava acontecendo e foi imediatamente atacado por esta pessoa, teve seu pescoço mordido e caiu no chão se debatendo com seu sangue jorrando para cima. Uma cena horrível de se ver, e essa pessoa, criatura, ou, seja lá o que era naquele dia, se virou para mim e as outras pessoas que víamos a cena e estava mastigando um pedaço do pescoço do meu vizinho. E parecia estar gostando disso, pois mastigava com uma gana, uma vontade, como se não comesse há anos.
E então ele veio cambaleando em nossa direção e um outro vizinho veio de dentro de casa com uma arma, um trinta e oito, e acertou dois tiros no peito nessa criatura e ela simplesmente deu dois passos para trás e continuou vindo em nossa direção. Impossível, não? E nisso o vizinho que havia sido mordido se levantou e grunhindo também veio cambaleando em nossa direção. Eles se transformavam rapidamente. Era preciso apenas alguns minutos para que seus corpos voltassem à ativa. Eu então tirei a chave do carro da ignição, fechei a porta e corri para dentro da garagem e tranquei a porta. Seja lá o que fosse aquilo, não iria me pegar. Então ouvi mais tiros e de repente gritos, mas não gritos comuns, e sim gritos de dor.
Apavorado, eu liguei a televisão para ver se havia alguma noticia sobre o que estava acontecendo e um plantão ao vivo de Porto Alegre mostrava a cidade num caos total. Para quem ainda não sabe, eu moro em Esteio. A repórter não sabia explicar o que estava acontecendo, a única coisa que ela disse e fez sentido naquele momento foi: “Os mortos andam. O Apocalipse finalmente chegou até nós.” E eu acreditei, não sou religioso, mas naquele momento fazia muito sentido.
Procurei a bíblia que foi do meu pai para ler sobre o Apocalipse e esta passagem me apavorou: "E, havendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do quarto animal, que dizia: Vem, e vê. E olhei, e eis um cavalo amarelo e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste e com as feras da terra." Isso fez gelar a minha espinha. Seria mesmo o Apocalipse da Bíblia? Seria realmente o dia do Juízo Final? O mundo iria acabar? Eram tantas perguntas sem respostas naquele dia. Mas então os dias foram passando e nem sinal dos outros três cavaleiros do Apocalipse. Eu estava tão ansioso para vê-los. Eu estava realmente ficando louco naqueles dias.
Durante as semanas que se passaram as únicas coisas que se tinha para fazer era ficar em casa, era o que o governo pedia até que tudo fosse normalizado. Eu confesso que não consegui ficar em casa nos primeiros dias e saía sempre para encontrar meus amigos e minha namorada e juntos bolávamos maneiras de nos protegermos em nossas casas. Confesso que foi divertido enquanto durou.
Fiz um grande estoque de comida em minha casa que duraria um bom tempo, idéia do Gabriel, saqueei um grande supermercado para fazer isso. Então tinha tudo o que eu precisava. Na televisão as notícias ficavam piores a cada dia que se passava e alguns países da Europa e quase todos os países da África não existiam mais. A America do Sul estava caótica, alguns países se tornaram verdadeiras fortalezas, onde quem cruzasse a fronteira era morto, exatamente igual ao que acontecia ao se cruzar a fronteira do México com os EUA. Cara, isso tava tenebroso.
Chegou o dia então que sair de casa era fatal. Meus amigos, minha namorada e eu passamos a nos falar apenas pela internet. Usávamos o MSN ou algum programa de teleconferência. Então se passou um mês e algumas emissoras saíram do ar, claro que as menores foram as primeiras a serem atingidas, muitas devido à morte de seus funcionários, e o pior, ao vivo. Foram imagens aterrorizantes, pela internet era possível acompanhar tudo o que acontecia no mundo pelo You Tube, mas isso também não durou muito, em dois meses a rede caiu e não voltou mais. Apesar da torcida que era grande, mas isso não adiantou e a rede realmente não voltou.
E antes da rede cair, presenciei minha namorada ser morta por um bando de zumbis que invadiram a casa dela. A transmissão estava ruim, a imagem distorcida, mas foi possível ouvir os gritos dela e o vermelho do sangue manchar a webcam. Não gosto de lembrar disto. Sempre tento esconder num canto da minha mente e deixar lá. Isso me entristece, me faz sentir fraco por não poder ter salvado ela. Fui fraco. Deveria ter trazido ela para morar comigo. Mas o que está feito, está feito. Não volta mais. Pobre Jenny.
Então aos poucos as notícias ficaram cada vez mais escassas, não era possível saber como estavam os amigos e parentes. Se ainda estavam vivos. Até antes de a internet sair do ar era possível se comunicar pelo MSN, Skype, entre outras formas. Mas agora, a era das trevas tinha voltado. Não se ouvia mais vozes, apenas o som da morte, aqueles malditos grunhidos dos zumbis. Demorou muito para se chamar essas criaturas de zumbis, no começo soava engraçado, parecia que estávamos num jogo de RPG, todo mundo participando. Mas hoje, ao se ouvir zumbis, não é mais tão engraçado.
Não importa quantos dados se jogue e tirei seis, não vai lhe salvar de ser mordido e se tornar um deles.
Gostaria de saber como estão meus pais. Trinta dias após esta zona ter começado eles decidiram ir a Porto Alegre encontrar seus parentes. Eu preferi ficar cuidando de casa. E então uns quarenta minutos depois que eles saíram vi na televisão que a capital teria seu centro bombardeado por caças F-5 e Migs. Tentei ligar, mas então percebi que os telefones estavam mudos. Quero acreditar que eles estão bem.
Às vezes sinto um pouco de medo do que o futuro ainda reserva, um pouco não, sinto muito medo. Muitas vezes passo a noite acordado esperando que algum ou vários zumbis arrebentem a minha porta e entrem na minha casa e me devorem. Há um tempo isso soaria tão surreal. Iria parecer quando eu e meus amigos ficávamos sentados no pátio imaginando como seria um ataque de zumbis e como nos defenderíamos. Mas hoje, muitas daquelas conversas serviram para alguma coisa. Estou bem protegido, apesar do medo que sinto às vezes.
Já faz três meses desde que isso tudo começou, a comida está acabando, a água, o refrigerante. Será que ainda há alguma coisa nos supermercados? Não custaria nada ir ver, talvez a minha vida, mas isso podemos negociar. Heheheh. Realmente estou ficando louco preso nesta casa. Preciso sair daqui, procurar pessoas reais para conversar, não dá mais para ficar criando amigos imaginários a cada dia e vê-los morrer para um zumbi esfomeado. É isso que eu faço, a cada dia tenho um amigo diferente, e como ele não tem corpo físico não pode se defender dos zumbis e acaba morrendo no final do dia. Sei que isso é ilógico, pois se ele não tem corpo físico é óbvio que um zumbi não iria devorar ele, mas como ele é meu amigo imaginário eu é que digo como ele vai morrer. Sou um assassino por isso? Já matei muitos amigos imaginários... Não vou ficar pensando nisso.
Voltando a gravar esta mensagem, chegou o dia de finalmente sair desta casa e ganhar as ruas. Não sei o que vou encontrar lá fora, tá certo, vou encontrar milhões de zumbis, mas não é a isso que me refiro, digo as pessoas. Se é que vou encontrar alguma ou se ainda não estão escondidas dentro de suas casas esperando essa merda toda acabar. Mas eu não vou ficar esperando, preciso comer e não agüento mais viver feito um prisioneiro na minha própria casa. Preciso procurar meus amigos, meus pais, as pessoas que conheci, talvez ainda estejam vivas. Quem sabe. Conheci pessoas que seriam capazes de sobreviver a um holocausto nuclear, um holocausto zumbi é fichinha para eles.
Tenho minhas armas comigo, sim, uma arma de fogo com munição e uma espada, não pensaram que eu seria louco o suficiente para sair por aí com pedaços de pau e barras de ferro, pensaram? Ainda não enlouqueci a esse ponto. O mundo pode ter se tornado um grande manicômio do lado de fora da minha casa. Mas aqui dentro ainda tento manter o pouco de sanidade que ainda é possível se ter. Então... deixo essa mensagem para quem vier a minha casa, ou para o caso de eu estar morto e nunca mais voltar e as pessoas no futuro saibam o que aconteceu por aqui.
Fomos atacados por zumbis de verdade. Não é um sonho de um louco ou uma gravação para um filme. Esta é a nossa vida. Meu nome é Miguel e encerro por aqui.

2 comentários:

  1. nossa, isso ta maneiro

    so queria saber como ele conseguiu espadas e armas de fogo u.u

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  2. Valeu pelo comment! Vai ser explicado no 2º capítulo como ele conseguiu as armas.

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