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sábado, 7 de julho de 2012

Um Mundo em Caos - Capítulo 27


Miguel levanta da cadeira onde está sentado.
De súbito, um palhaço ― bem alto e corpulento, diga-se de passagem, ― dobra em um dos corredores e começa a atravessar a praça de alimentação de ponta a ponta.
― Odeio palhaços! ― resmunga Miguel. Para ele, palhaços são criaturas horrendas e pavorosas.
― Eu os acho até engraçadinhos. ― comenta Jennifer.
― Tudo para você é engraçadinho. ― retruca, olhando para ela.
— Ah, nem tudo. — rebate. — Você com essa carranca, por exemplo, é horrendo.
— Hahaha... — ri ironicamente. — Tem algo errado nesse palhaço. Não sei, é como se eu já o tivesse visto.
O palhaço vai descendo por entre os corredores de mesas e ao olhar para as mesas reservadas de um fast-food à direita, sorri, e se encaminha para lá. Miguel em pé ao lado da mesa não tira os olhos dele, segue cada movimento que o palhaço faz. O palhaço saltitando, se aproxima de Anane e retira do bolso uma rosa e entrega para ela.
— Para uma linda menina.
— Obrigada. — agradece sorrindo e pega a rosa.
— Deixe para me agradecer depois. — sorri maliciosamente. — A sua vida começa agora.
— Não entendi.
E sua amiga que está ao lado observa atenta ao diálogo dos dois.
— Você vai entender em... — e começa uma contagem. — um... dois... três.
Anane revira os olhos e cai da cadeira atingindo o chão de forma seca e está babando copiosamente e se debatendo.
— Ele fez algo com ela! — exclama Miguel correndo por entre as mesas.
— Socorro! — grita a amiga de Anane ajoelhada ao lado dela. — Alguém em ajude!
Próximo dali, Gabriel e Rafael que estavam sentados em uma das mesas — no centro da praça de alimentação — bebendo e conversando se levantam para ver o que é aquela menina gritando por ajuda. E nisso, visualizam Miguel correndo por entre as mesas e saltando sobre algumas cadeiras e indo em direção aos gritos.
— Você viu o que eu vi? — pergunta Gabriel.
— Sim — responde. —, será que tem algo a ver com tudo isso que está acontecendo?
— Se tem eu não sei, mas se o Miguel saiu correndo para ver ou ajudar, é o que iremos saber. Vamos lá.
E saem caminhando apressados em direção aos gritos. Miguel empurra o palhaço para o lado e se joga de joelhos no chão e sai deslizando em direção a Anane. Sem pensar duas vezes, ele a ergue um pouco do chão colocando um de seus braços por baixo do pescoço dela. Ao olhar para o rosto de Anane, ele observa que os olhos dela emitem uma expressão de pavor e está com a boca retorcida e babando. Miguel rapidamente olha para o palhaço e diz:
— O que você fez com ela, seu monstro?
O palhaço rapidamente responde:
— Ora, eu não fiz nada com essa garota. Apenas entreguei uma rosa para ela e então ela teve esse ataque.
Miguel não se convence nem um pouco com a resposta dada pelo individuo e indaga:
— Nós nos conhecemos, não é?
— Você deve estar louco! — exclama. — Nunca vi mais gordo!
Miguel volta então a sua atenção para Anane.
— O que ele fez com você, minha amiga... — cochicha próximo ao rosto dela. — Fala comigo, Anane.
A amiga estranha ao ouvir aquele rapaz estranho dizer o nome de sua amiga. Nesse tempo, Anane já parou de se debater e babar. Está apenas desmaiada.
— Você a conhece? — pergunta.
— É uma longa história. — responde sem nem sequer olhar para a garota.
— É que ela disse que não lhe conhecia quando você sorriu para ela antes.
— É que já faz muitos anos. — dá uma resposta qualquer. — Ela nem deve mais se lembrar de mim.
Nisso, Anane acorda de súbito gritando:
— Eu não posso morrer aqui! Maldito demônio! — e desfere um soco na face de Miguel. Este mal movimenta a cabeça para o lado. Ao olhar melhor, ela o reconhece. — Miguel... você voltou para me ajudar? — e sorri.
— Você me reconheceu. — fala alegremente. — Na verdade, eu nem sei o que lhe dizer. Mas você está viva e sem nenhum ferimento.
— Eu... estava enfrentando aqueles demônios e então eu fui ferida e... O que são todas essas pessoas me olhando? — pergunta percorrendo o ambiente com os olhos.
— Bom, você teve um tipo de ataque, sei lá, e parece que isso fez você se lembrar de tudo.
— Deixe eu me levantar. — fala ela se apoiando no chão e levantando. — Eu não estou entendendo nada. O mundo voltou ao normal?
As pessoas olham para os dois de forma estranha, devem estar achando que os dois são loucos. Nisso, dois funcionários do shopping se aproximam ofegantes e um deles pergunta:
— Onde está à garota que está passando mal?
— Era eu. — responde Anane. — Mas já estou bem. Hã, foi minha pressão que baixou. — mente. — E este rapaz me ajudou. Obrigado por terem vindo. Mas agora está tudo bem mesmo.
Os funcionários vão embora e a amiga dela a olha.
— Ane! — exclama a amiga. — O que vocês estão conversando? Achei que não o conhecesse.
— O Miguel? Conheço sim. — responde. — Mas eu não estava lembrada dele. — e sorri. — Eu vou sair para conversar com ele e colocar a nossa conversa em dia. Você não se importa, né, Bruna?
— Hã, não. — responde Bruna aceitando o pedido da amiga.
Anane segura o braço de Miguel e sai caminhando com ele.
— Eu quero saber tudo o que aconteceu.
Então Jennifer se aproxima dos dois e Miguel faz um pequeno sinal com os olhos para ela e Jennifer passa pelos dois como se não o conhecesse. Observando isso, Rafael diz:
— Tem a ver sim com tudo que está acontecendo. Viu o sinal que ele fez para a Jennifer? Ela passou pelos dois como se nem o conhecesse. Vamos sentar por perto e tentar ouvir a conversa dos dois.
Eles dão a volta na praça de alimentação e sentam numa mesa atrás de onde Miguel e Anane sentaram e ficam virados de costas para os dois. Miguel resume todos os acontecimentos desde o dia em que viu a Anane morrer e esta o ouve atentamente.
— E a Raguel, você já a encontrou depois que tudo voltou ao normal?
— Ainda não. Na verdade ainda não a procurei. Mas eu sei onde ela mora.
— E será que ela vai se lembrar de você? Porque eu não lembrava até ter aquele ataque.
— E falando nisso — Miguel muda a sua expressão. —, o que aquele palhaço lhe disse?
— Eu não lembro direito, mas foi algo como se a minha vida começasse a partir de agora. — responde um pouco confusa. — E ele me deu uma rosa também.
— Eu vi ele lhe dar essa rosa. Mas não a encontrei. Percorri tudo com meus olhos, mas não consegui enxergá-la pelo chão. Muito estranho aquele palhaço.
Eles continuam sua conversa e então Jennifer pára em frente a Gabriel e Rafael e diz:
— Mas que bonito, hein! Ouvindo a conversa dos outros.
Gabriel quase dá um salto da cadeira.
— Pssstttt! Fala baixo!
Jennifer senta ao lado deles e pergunta:
— E como está indo a conversa dos dois?
— Sanou algumas dúvidas que tínhamos. Hã, você sabe sobre o que, né? — pergunta Gabriel.
— Claro que sei. — responde Jennifer. — Eu me lembro de tudo. Ela é que por algum motivo não se lembrava de nada. E pelo visto vocês também se lembram de tudo. — Eles assentem com a cabeça. — Bom.

Uma semana se passa. E a época de chuva do mês de julho começa.
Em um longo corredor com várias portas e armários enfileirados, Miguel está parado em frente a um destes armários guardando alguns livros. O corredor possui paredes verdes com alguns cartazes pendurados e o teto tem várias lâmpadas florescentes que o mantém bastante iluminado.
— Com tudo de volta ao normal, o colégio seria inevitável. — pensa. — Droga! ­— exclama em voz alta. — uma mão toca firme o ombro dele. — Jenny?
— Não é ela não mariquinha!
Pela voz Miguel o reconhece de imediato.
— Tiago. Eu devia ter imaginado. — pensa. — Tinha até me esquecido dele. — e fecha o armário.
— Olha pra mim quando eu falar com você! — e o puxa pela camisa, virando-o em sua direção.
Miguel apenas o encara sem dizer uma única palavra. Talvez ele nem tenha muito que dizer depois do que passou durante meses, já que as ameaças desse valentão hoje são risíveis. Dignas de pena.
— Está com tanto medo assim que não sai uma palavra da sua boca? Não sabia que causava todo esse medo em você? Maricas!
Miguel agarra os braços de Tiago e o empurra. Tiago dá alguns passos para trás e fica surpreso com a força com que Miguel o empurrou.
— Eu não tenho medo de você. — finalmente resolve falar. — Nunca tive. Pra falar a verdade, nem vale a pena encostar em você. Um pobre coitado que se aproveita dos mais fracos achando que as garotas acham isso legal. Hunf! Você é patético! — e vira-se de costas e sai caminhando com as mãos no bolso.
Tiago começa a tremer de raiva e lágrimas escorrem de seus olhos. Ele nunca havia sido tão humilhado, por ninguém e muito menos por alguém que ele considerava inferior.
— Volta aqui seu merda! Eu ainda não acabei com você!
Miguel nem liga para as palavras que são vociferadas por Tiago e continua caminhando sem olhar para trás. As feições no rosto de Tiago mudam para total raiva e ele se lança de forma frenética para cima de Miguel.
— Eu queria evitar isso, mas não vai ter jeito. — pensa tirando as mãos dos bolsos e cerrando os punhos.
Quando Tiago se aproxima, desfere um soco com a intenção de atingir a cabeça de Miguel pelas costas. Mas este simplesmente se esquiva e golpeia com toda a sua força o estômago de Tiago, o fazendo urrar de dor e cair de joelhos no chão. Nisso, uma das portas do corredor se abre e Jennifer sai caminhando. Ao ver Tiago de joelhos na frente de Miguel sai correndo em direção aos dois.
— Não tente lutar comigo, você não vai conseguir. E eu também não quero brigar, quero apenas ficar em paz. — fala Miguel. — Me deixe em paz.
Tiago levanta a cabeça e olha em direção a Miguel e diz:
— Isso só acaba quando você não levantar mais. Vou te ensinar que jamais deve encostar em mim! E agora você não terá mais golpes de sorte!
— Ah, cale a boca! — esbraveja Miguel desferindo um chute no rosto de Tiago que o faz sair rolando pelo chão.
— Você ficou louco, Miguel? — grita Jennifer. — Aqui não é lugar de brigar! Você pode ser expulso do colégio!
— Eu fui obrigado a pôr um ponto final nisso. — responde. — Ele me atacou e eu revidei. E eu também estou cansado de ver ele se dando bem pelos corredores! Isso foi mais do que merecido!
— Tá, vamos sair daqui antes que toque o sinal e todos vejam. — fala pegando na mão de Miguel e o puxando.
Mas antes de sair Miguel vira-se para trás e diz:
— Nunca mais mexa com ninguém ou todos saberão que você apanhou de mim! E eu terei o prazer de fazer isso na frente de todos! — e sussurra: — Otário.
Os dois saem dali com Jennifer o puxando rapidamente pela mão. Ao chegarem na frente do colégio, uma chuva torrencial castiga as ruas e poças de água começam a se formar nas depressões do asfalto. Nas laterais das ruas, pequenos córregos já se formam.
— Que tempo estranho. — comenta Miguel. — Mesmo sendo a época de chuvas, a meteorologia não informava nada sobre chuva hoje. Seria frio, mas sem chuva.
— Mas por sorte eu trouxe um guarda-chuva. — fala Jennifer o pegando na mochila e logo em seguida abrindo para proteger os dois. — Não é muito grande, mas pelo menos não ficaremos encharcados.
Um som alto de trovão seguido de um clarão cegante estremece o chão. Nuvens negras passam a tomar cada vez mais os céus e o dia aos poucos vai escurecendo.
— Vamos embora antes que essa chuva piore! — exclama Jennifer olhando para Miguel.
Mas este nem ouve o que ela diz, ele está olhando fixamente para a esquina no outro lado da rua. Onde um homem de sobretudo escuro e um sorriso no rosto está parado sendo banhado por toda a chuva que cai dos céus. É um homem aparentando uns quarenta anos de idade, uma barba já grisalha, e com sua mão direita se apóia em uma bengala de madeira.
— Miguel, está me ouvindo? — e dá uma sacudida nele. — Miguel?!
— Oi? O que aconteceu? — fala Miguel olhando para ela como se saísse de um transe. — Parou a chuva?
Jennifer apenas o olha sem entender o porquê dele estar perguntando essas coisas.
— Não, não parou. — responde. — Você está bem?
— Você viu aquele homem que estava parado do outro lado da rua?
— Homem? Que homem? Não havia ninguém lá! Você estava aí parado olhando para aquele muro com cara de paisagem. — e envolve o braço de Miguel com o dela e sai caminhando puxando ele.
 — Mas eu vi. — responde olhando para trás. — Havia um homem barbudo com um sobretudo escuro me olhando. E ele sorriu.
— Deve ter sido efeito do clarão que o trovão causou e você achou que viu alguém. Isso acontece. Não fique tão impressionado com essas coisas.
— Mas...
— Vamos nos apressar para não ficarmos ainda mais molhados.
E Miguel dá mais uma olhada pra atrás e pensa:
— Eu tenho certeza do que vi. Havia alguém ali sim, não foi alucinação minha! Agora só não entendo porque a Jenny agiu dessa forma. Depois de tudo que passamos... Ou será que apenas eu vi? Depois penso nisso...

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