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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um Mundo Em Caos - Capítulo 31


As horas passam e o fim da tarde se aproxima. Uma forte chuva começa a cair sobre a região metropolitana de Porto Alegre, algo normal no mês de julho. E com as nuvens tapando o céu, o dia torna-se um pouco mais escuro e os carros já trafegam pelas ruas com os faróis ligados. Raguel caminha apressada por entre as ruas, sem um guarda-chuva, ela usa um jornal para tentar se proteger. Mas que não está adiantando muito. É visível o quanto sua roupa está ensopada. Ela dobra uma esquina e passa em frente a uma sorveteria, até tem vontade de entrar para se proteger um pouco daquela chuva gelada, mas prefere seguir em frente já que seu destino está perto agora. Ela caminha mais alguns minutos e chega em frente a uma casa com um belo jardim e uma varanda onde repousa uma cadeira de descanso. Ela abre o pequeno portão de ferro e entra. Assim que sobe os degraus que levam a varanda, está em frente a uma porta de ferro com um grande vidro em seu centro. E então, ela toca a campainha. Após alguns segundos de espera, uma sorridente senhora abre a porta.
— Sim? Em que posso ajudá-la?
— Hã... Oi, meu nome é Raguel — se apresenta um pouco envergonhada. — e eu estive aqui junto com o Rafael no dia que ele trouxe o Miguel.
— Ah sim, agora estou lembrando. Você o ajudou a levar o Miguel para quarto. — e sorri. — Entre, por favor.
— Com licença. — fala Raguel entrando.
Raguel entra na casa e já está na sala. Uma sala ampla, com sofás e poltronas muito bem posicionados, uma mesa no centro, algumas estantes com livros e garrafas de bebidas, e nas paredes alguns quadros familiares.
— Você quer esperar aqui ou ir até o quarto dele? — pergunta a senhora.
— Melhor eu ir até lá, assim evita que ele fique se esforçando.
— Você lembra onde fica?
— Sim, terceira porta no corredor. Certo?
— Isso mesmo. Pode ir lá. E eu vou providenciar uma toalha para você se secar e já levo lá.
— Obrigada. — agradece sorrindo.
Raguel sobe as escadas até o segundo andar e bate na porta onde é o quarto do Miguel. Após alguns segundos, ele responde: “Pode entrar”. Ela abre a porta, e ele está deitado na cama lendo um manga e ouvindo Avantasia num Mini-System que se encontra ao lado da cama.
— Que mordomia, hein?
— Raguel?! — exclama Miguel, surpreso. — Achei que depois daquele dia não veria mais você. Já que liguei diversas vezes e você não me atendeu.
— Eu estava com uns problemas para resolver, então não estava atendendo ninguém. — mente, ocultado a verdade a qual havia dito a Rafael mais cedo. — E você, como está se sentindo?
— Estou bem. — e senta na cama. — Apesar dos machucados e algumas pequenas fraturas. Acho que no máximo em quinze dias já estarei pronto para outra. — e olha Raguel de cima a baixo. — Nossa! Você está molhada, hein? Quer umas roupas minhas?
— Obrigada, mas vou esperar sua mãe trazer a toalha. Daí eu aceito.
— Você quem sabe.
— Então — começa. —, aquele monstro foi o segundo demônio que vimos e enfrentamos. Contra o primeiro, bom, você lembra o que aconteceu. Então o fato é que vivemos lado a lado com demônios e anjos, concorda?
— Calma. — e respira. — É muita informação de uma vez só. Anjos?! — pergunta um tanto incrédulo. — Foi isso mesmo que eu ouvi?
— Sim, eu falei claramente, anjos. — repete um tanto contrariada.
— Já é difícil acreditar que existem demônios. Agora você me vem com anjos? — a pergunta sai um tanto irônica. — Por acaso algum apareceu lá?
— Não, nenhum. — responde com o semblante sério. — Mas é como eu havia dito ao Rafael, se existem demônios, então obrigatoriamente devem existir anjos. — sua voz sai determinada, pois ela acredita piamente no que está dizendo.
— Se você acredita, quem sou eu para dizer o contrário. — e então muda levemente de assunto. — E como saímos de lá? — pergunta intrigado. — Pois até agora não consegui entender isso. Você e o Gabriel o derrotaram?
— Nem em um milhão de anos conseguiríamos esse feito. — responde. — Ele desistiu de lutar e me mandou embora. Você e o Gabriel estavam desmaiados no chão. Disse para eu pegar vocês e sumir de lá. E quando eu disse que queria o corpo da Anane, ele simplesmente me respondeu que iríamos ter notícias dela em breve. E no dia seguinte ela foi encontrada viva.
— Eu vi o jornal nesse dia. Nem consigo acreditar ainda. Por um lado valeu à pena ter ido até lá. Conseguimos salvá-la. — e sorri. — Isso me deixou muito feliz.
Nisso a mãe de Miguel entra no quarto trazendo a toalha que havia prometido.
— Lhe trouxe a toalha para você poder se secar. — e a entrega a Raguel. — Quer ir ao outro quarto fazer isso? — pergunta.
— Ela vai fazer aqui mesmo, mãe. — interpela Miguel. E a mãe dele arregala os olhos. — Eu vou emprestar umas roupas minhas para ela e vou esperar do lado de fora do quarto, ta? Não precisa me olhar com essa cara. Eu não sou um pervertido.
E Raguel solta um riso.
— Eu sei que não, meu filho.
— Mas pela cara que fez antes parecia. E mãe, não esquece que eu sou namorado da Jennifer. Eu sou um homem comprometido.
— Homem? Hahaha! — gargalha. — No máximo um menino ainda. — e sai pela porta.
Raguel novamente dá risadas.
— E tá rindo do que?
— Nada não, homenzão! — e solta gargalhadas.
— Eu devia te deixar molhada. Mas como sou um cavalheiro, vou pegar umas roupas minhas pra te emprestar, sua ingrata. — Miguel caminha até o guarda-roupa e escolhe umas mudas de roupas para ela. Larga em cima da cama e diz: — Só escolher a que lhe servir melhor. Vou estar ali no corredor.
— Ok. — e assim que Miguel sai, ela fecha a porta.
Raguel começa a se despir lentamente e a primeira peça de roupa que tira é a blusa e logo em seguida o sapato e a calça. Ficando apenas com suas roupas de baixo. Seu corpo é muito bonito, levemente musculoso, mas bastante feminino com traços de delicadeza. Alguns pequenos hematomas se espalham por seu braço direito — lembrança de sua última luta. —. Ela caminha lentamente até o espelho que fica na porta do guarda-roupa e vira-se de costas para ele. Em suas costas, duas cicatrizes na vertical cortam a escapula em ambos os lados. E então ela pensa: “Eu só gostaria de saber por que estou com essas malditas cicatrizes em minhas costas. Eu nunca as tive. Mistérios que eu adoraria desvendar”. Após isso, ela pega a toalha em cima da cama e começa a secar seu corpo. Seca novamente, ela escolhe uma calça de moletom e uma camisa com uma estampa da banda Kiss e as veste. Logo em seguida, abre a porta do quarto.
Miguel olha para ela e comenta:
— Ficou bonita. Heheh.
— Seu bobo. — e agradece com o rosto ruborizado: — Obrigada. Também gostei.
— Então senta aí e vamos conversar. — fala Miguel sentando na cama.
Raguel senta próxima dele e comenta:
— Como é bom estar seca e quentinha novamente.
— Se quiser se enrolar no cobertor sinta-se a vontade. Minha casa é sua casa.
— Vou fazer isso então. — e puxa o cobertor para cima, encolhendo as pernas e encostando-se na parede. — Sabe — e retoma a conversa que estavam tendo anteriormente. —, o Rafael me falou uma coisa hoje que está me fazendo pensar nisso até agora.
— E o que é? — pergunta Miguel intrigado.
— Ele acha que podemos estar vivenciando o Apocalipse. — responde. — Até citou a passagem da Bíblia em que o cavaleiro de nome Morte surge. Parando um pouquinho para pensar até que faz bastante sentido. E isso me deixou preocupada demais, porque se estamos vivendo os últimos dias do ser humano na Terra o que vai ser quando tudo acabar? Para onde iremos? Até hoje eu nunca tinha parado para pensar nisso efetivamente, sabe, para mim era algo distante e que sinceramente não fazia nenhum sentido. Mas então quando enfrentamos aquele demônio — faz uma pequena pausa e respira fundo. —, ele me socou tanto que eu sentia os ossos da minha face se quebrando e a dor era insuportável. Eu fiz as minhas necessidades na roupa! — exclama. — E então — faz mais uma pausa e lágrimas começam a escorrer de seus olhos. —, ele começou a torcer minha cabeça e a última coisa que eu lembro foi de não sentir mais meu corpo e tudo então escureceu. Eu havia morrido. Para ele foi tão fácil. Essa lembrança nunca me sai da cabeça. — e começa a chorar profundamente.
— Eu... — Miguel se aproxima dela e a envolve em seus braços, abraçando-a apertado.
Raguel encosta sua cabeça no ombro dele e o abraça. E assim eles ficam por alguns minutos.
— Você é tão quentinho. — Raguel comenta delicadamente. — Sua pele é tão gostosa de tocar.
— Deve ser porque você está com frio por causa do banho de chuva que tomou. — e toca na ponta do nariz dela. — Gelado, viu?
— Deve ser por isso mesmo. — e sorri, se afastando dele. — Obrigada por me acalmar. O seu abraço foi de grande ajuda.
— Bom, pelo visto esse assunto deixou você bastante deprimida. Que tal conversarmos sobre outra coisa?
— Não. Tem algo que eu preciso lhe contar. Ainda não falei sobre isso com ninguém.
— E o que é? — as palavras instigaram a sua curiosidade.
— Lembra que quando estávamos lutando contra o Mandrágora eu fui jogada no vitral?
— Mandrágora?!
— Esse era o nome dele. Foi o que ele me falou. Mas me deixe terminar de falar. — Miguel assente com a cabeça. — Então, eu acabei desmaiando com a pancada, mas quando eu acordei e olhei para o lado de fora, você não tem noção do que eu vi! Eu vi literalmente o Inferno na minha frente. O céu era vermelho e havia um sol negro o iluminando. Nuvens negras como o carvão, cinzas e fumaça subiam ao céu. E havia muitas, mas muitas tempestades de raios no céu. Era como se ao entrarmos naquela Igreja tivéssemos sido jogados em outra dimensão.
— É muita informação em pouco tempo, me deixa assimilar tudo antes que eu enlouqueça. — fica em silêncio por alguns segundos. — Demônios, Inferno... o que mais falta? — exclama.
— Me explicar tudo o que está acontecendo! — dispara Jennifer entrando no quarto. — Oi Raguel. — e a olha de cima a baixo.
— Oi. — cumprimenta de volta.
Jennifer puxa uma cadeira e senta.
— Eu andei conversando com o Rafael, fui visitar o Gabriel e vocês estão me escondendo algumas coisas. Porque vocês estão agindo muito estranho! — afirma. — E o principal, essa historinha de terem sido atacados por uma gangue é difícil de engolir! E sabem por quê? Por que depois de tudo o que passamos, uma simples gangue seria mais fácil de detonar do que tirar pirulito de criança! — e encara os dois. — Então parem de achar que sou uma idiota e comecem a me explicar tudo! Desde o começo! — exige, com o tom de voz bastante áspero.
— Ok. — fala Miguel concordando em contar tudo para a namorada.
Ele começa primeiramente falando sobre a visão que teve com o velho em frente ao colégio, e sobre a conversa que teve com Gabriel. Além das diferenças entre a Porto Alegre que lembrava e a que viu quando foi a Igreja. Raguel também fala sobre o velho e logo depois, ela e Miguel falam sobre o que aconteceu na Igreja e o porquê de Gabriel estar internado no hospital. E finalizando, Raguel fala sobre a conversa com Rafael no colégio e sobre ter visto o Inferno.
— Uau! — Exclama Jennifer. — Nem sei o que dizer. É tanta informação que... Uau! Preciso digerir isso tudo.
— Foi exatamente isso que eu senti. — comenta Miguel.
— Mas vocês realmente acreditam que estamos vivendo o Apocalipse? — indaga Jennifer.
— Eu estava um pouco incrédulo. — fala Miguel seriamente. — Mas depois de toda essa conversa que tivemos novamente e ligando algumas coisas, realmente passou a fazer um pouco mais de sentido. Há muitos acontecimentos provando isso e a presença de seres sobrenaturais só colocam mais lenha na fogueira.
— Mas até agora vocês só viram um. — comenta Jennifer.
— Não se esqueça daquele primeiro que enfrentamos no apocalipse zumbi. — relembra Miguel. — O que infelizmente matou você naquela ocasião e que eu acabei não podendo enfrentá-lo devido ao que ocorreu.
— Lembro-me muito bem dele. — fala Jennifer. — Era uma criatura com poderes sobre-humanos. Acho que nunca comentei isso com vocês, mas o vi rasgar um homem ao meio na minha frente. Nunca tinha visto tamanha violência em toda a minha vida. Mas porque vocês não me contaram isso antes e não me deixaram ir junto com vocês? — pergunta.
— Foi como eu disse antes — Miguel começa a responder. —, eu estava intrigado e o Gabriel acabou vindo aqui e me convidou para irmos até a Igreja. Não foi que eu não quis lhe contar nada, o fato é que ocorreu tudo rápido demais. E sinceramente, você só seria machucada, porque de nós você é a única que sabe lutar bem. E certamente iria querer enfrentá-lo e até algo pior poderia ter acontecido.
— Bom, vendo por este lado você tem razão. — fala Jennifer. — Eu estava tão brava com você por causa disso, mas...
Repentinamente um estouro é ouvido e as luzes se apagam transformando a noite em trevas. Um forte vendaval começa a soprar do lado de fora e o som das árvores sacudindo pode ser ouvido. Relâmpagos começam a cruzar os céus iluminado a noite por poucos segundos.
— Uma tempestade repentina?! — indaga Jennifer.
— Precisamos ir a um lugar! — fala Miguel repentinamente. — Estou com uma sensação estranha, um aperto no peito. Não sei explicar.
— E iremos aonde? — pergunta Raguel.
— Aonde deveríamos estar nesse exato momento. Não podemos deixá-lo sozinho. Depois de tudo o que passamos nesses últimos dias, uma vingança seria mais óbvia do que andar para frente.
— Não tenho tanta certeza. — opina Raguel. — Mas se você acha isso pode contar comigo ao seu lado.
— Então iremos todos juntos. — fala Jennifer. — Se isso que você está sentindo se concretizar precisará de toda a força disponível.
— Então vamos nessa! — fala Miguel.

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