Jennifer se apóia na porta e
inclina-se para frente respirando fundo.
— O som que eles emitem vem de todos
os lados do corredor. E o cheiro de sangue é insuportável!
—Conseguiu ver algum? — pergunta
Raguel.
— Somente sombras, nada mais que
isso. — responde. — Mas eram muitas.
Miguel dá um longo suspiro e então
diz:
— Desliguem as lanternas. Preciso
deixar meus olhos se acostumarem com a escuridão.
— O que você pensa que vai fazer? —
pergunta Jennifer já sabendo o plano dele. — Enlouqueceu de vez?!
— Façam o que eu estou mandando. Por
favor! — fala ele.
— Se jogar no meio dessas criaturas
na escuridão é loucura! — berra Jennifer. — Nunca achei que ser um suicida era
o seu forte!
— Eu nunca fui normal. — fala
calmamente. — Desde criança eu sempre gostei do perigo. Lembra-se de como eu sempre
me metia com os mais fortes que eu?
— Lembro sim. — responde Jennifer. —
E você sempre os vencia, não importando o quão maior que você eles eram.
— Então — e sorri para ela. —,
confie em mim novamente como você costumava fazer quando éramos crianças. — e
segura carinhosamente as mãos dela. — Eu não vou te decepcionar.
Jennifer olha para ele e desliga a
lanterna que está em sua arma. Raguel faz a mesma coisa.
— Obrigado. — Miguel agradece.
— Confiamos em você. — fala Raguel.
— Posso não ter convivido com você quando criança, mas o pouco tempo que passei
ao seu lado me fez confiar nas suas palavras, confiar nas suas atitudes e o
principal, acreditar que não importa o desafio, você sempre voltará.
Miguel sorri e então diz:
— Obrigado mesmo pela confiança que
vocês têm em mim. E eu juro não decepcioná-las. — ele caminha até a porta e
encosta a mão na maçaneta. — Assim que eu terminar irei bater duas vezes na
porta e somente com isso vocês a abrirão. Caso contrário, permaneçam aqui e se
possível fujam o mais rápido possível.
— Apenar retorne inteiro. — fala
Jennifer.
— Prometo que voltarei. — responde e
abre a porta.
Assim que Miguel sai, Jennifer fecha
a porta e a tranca com a chave.
— Seja o que Deus quiser. — sussurra
Jennifer.
Miguel agora está no corredor
cercado por dezenas de mortos-vivos. Mas para a sua sorte, uma grande janela no
fim deste corredor permite a entrada da luminosidade da lua o que o ajuda a ver
as sombras das criaturas se movendo ao seu redor.
— Como eu estava com saudade dessa
sensação. — pensa. — Apesar de ser maravilhoso conviver com as pessoas que amo,
essa sensação de perigo me faz sentir vivo. —
e dá uma rápida olhado ao redor e exclama: — Podem vir seus fedorentos!
Miguel movimenta o facão com a mesma
leveza que faria sua espada dançar no ar. Um chute é desferido e o facão corta
a escuridão fazendo sangue jorrar pelos ares. O facão gira no ar e uma cabeça
sai rolando pelo chão. Urros ecoam pelo corredor e os movimentos de Miguel se
tornam mais frenéticos. Sangue jorra para todos os lados e pedaços de corpos
voam pelo corredor. Mas aos poucos sua respiração vai ficando mais ofegante com
o passar do tempo.
Dentro da pequena sala, Raguel
pergunta:
— Será que está tudo bem com ele?
— Enquanto ainda ouvirmos o som do
facão cortando o corpo dessas criaturas pode ter certeza que sim. — responde
Jennifer. E pensa longo em seguida: — Vamos Miguel, força!
Miguel está levemente inclinado e
sua respiração está bastante forte.
— Vamos! Eu sei que ainda há mais de
vocês! Venham de uma vez!
Alguém vem correndo em sua direção
velozmente, o urro gélido e obscuro se espalha pelo corredor. Miguel arqueia o
corpo e gira o facão em sua mão. Quando a criatura se aproxima, ele se abaixa e
decepa as pernas ela. O morto-vivo sai rolando pelo chão e vai de encontro a
parede. Um baque seco é ouvido.
— Pelo visto você é o último. —
comenta Miguel caminhando até o morto-vivo. — Bom, vou lhe dar uma morte
rápida. — e parte a cabeça do zumbi com um golpe de seu facão. — Acabou. — fala
suspirando.
Duas batidas são ouvidas na porta e
Jennifer corre até ela e a abre. Miguel entra na sala com sua respiração
bastante ofegante e diz:
— Não prometi que voltava?
— Prometeu sim. — fala Jennifer com
alegria na voz.
— Eu sempre cumpro com minhas
promessas. — e continua: — Enfim, o corredor está limpo e podemos seguir em
frente.
— Que ótimo. — fala Raguel ligando a
lanterna em sua beretta e iluminando Miguel.
Suas roupas estão tingidas de
vermelho e de seus cabelos escorre sangue como se fosse água.
— Meu Deus! — exclama Jennifer. —
Você está coberto de sangue. — e liga a lanterna.
— Eu sei. — fala Miguel. — Mas não
temos tempo para ficar discutindo sobre isso. Cada segundo que passa pode
colocar o Gabriel mais em perigo!
— Apenas limpe-se um pouco. — fala
Raguel entregando umas gazes para ele.
Miguel usa as gazes para limpar os
cabelos e o rosto e logo em seguida eles seguem pelo corredor — que está
coberto de sangue, corpos e pedaços de corpos.
— Eu exterminei vários deles, mas é
sempre bom manter cuidado a qualquer barulho ou aonde pisamos. — alerta Miguel.
Elas concordam e eles seguem com
Raguel na retaguarda, Jennifer iluminando o caminho e Miguel mais a frente. Eles
passam por várias portas e viram a esquerda no corredor. Diferentemente do
corredor anterior, este é mais iluminado devido aos grandes vitrais e com isso
a luz da lua penetra mais intensamente no ambiente. Eles seguem caminhando e de
repente o som de vidro quebrando toma a atenção deles. A janela pouca coisa
atrás deles estoura de fora para dentro, e uma forma nervosa invade o corredor,
a criatura é maior que um ser humano e, além disso, cheira a um matadouro num
dia de sol quente. A criatura urra e sai correndo em disparada na direção
deles. Raguel atira, mas erra o tiro e a criatura salta sobre eles atingindo
Jennifer com seus braços. Jennifer atinge dolorosamente a parede deixando a
espingarda cair no chão. E então a criatura se vira na direção de Miguel.
— Oh droga! — exclama Miguel.
Um violento rosnado ecoa pelo
corredor e a criatura ataca Miguel. Suas grandes mãos o pegam pelo pescoço e o
cheiro de podre toma conta de suas narinas. Miguel segura firme o facão e o
enterra no abdômen da criatura, uma gosma pútrida escorre pelo facão e banha a
mão de Miguel. Num rápido movimento, ele abre o abdômen do ser e o intestino da
criatura cai pelo chão. Com tal atitude de Miguel, a criatura aumenta ainda
mais a pressão sob o pescoço do humano e o ergue no ar.
Raguel mira no corpo da criatura,
mas hesita em atirar devido a proximidade desta com Miguel. Jennifer sai
catando sua espingarda no chão e nisso, outro vidro estoura de fora para dentro
e um cachorro salta para dentro do corredor rosnando enfurecido. Raguel ilumina
a criatura e o cachorro está sem a pele com seus músculos e parte dos ossos
expostos. Com a luz da lanterna iluminando sua face, o cachorro muda a sua
atenção em direção a Raguel. Esta respira fundo e encara o cachorro que neste
momento está rosnando com seus dentes a mostra.
Jennifer encontra a espingarda
próxima aos cacos de vidro e a pega e liga a lanterna. E nisso, o cachorro sai
correndo na direção de Raguel.
— Eu não posso errar! — exclama
enquanto aperta o gatilho da beretta.
Ela atira uma, duas, três vezes e
todos os tiros atingem em cheio o cachorro, mas não o fazem reduzir a
velocidade nem por um instante. E então, um poderoso disparo é ouvido e o
cachorro sai rolando pelo chão com sangue manchando o gélido piso. Seus membros
se debatem por alguns instantes e então a criatura fica imóvel deitada no chão.
As duas reconhecem como sendo a contração muscular de um morto. E rapidamente
se viram na direção onde Miguel e a outra criatura estão.
— Atire nos pés dele! — manda
Jennifer.
Raguel mira nos pés da criatura e
dispara vários tiros, até que então a criatura cede e acaba desabando no chão e
conseqüentemente largando Miguel, que cai com um baque seco. Jennifer sem
pensar duas vezes corre em direção a criatura e dispara sua espingarda em
direção a cabeça do ser. O tiro faz com que o crânio da criatura exploda em
centenas de pedaços e várias pequenas partes de cérebro se espalhem pelo chão. Miguel
aliviado leva as mãos ao pescoço e não encontra nenhum ferimento, apenas sente
a dor da pressão que foi exercida sob o mesmo.
— Você está bem? — pergunta
Jennifer.
— Estou sim. — responde. — Obrigado
mais uma vez. — e ergue-se do chão. — Vamos em frente, pelo visto é perigoso
ficarmos expostos a estas janelas.
— Concordo. — fala Raguel.
— Então vamos. — fala Miguel saindo
correndo pelo corredor.
Eles chegam ao final do corredor e
finalmente encontram a outra escadaria. Entreolham-se rapidamente e sobem as
escadas correndo. Passam pelos próximos andares e finalmente chegam ao 9º andar
e encontram uma porta metálica trancada.
— E agora? — pergunta Raguel. —
Precisamos passar por ela se quisermos chegar até o Gabriel.
— Eu tenho uma idéia. — expõe
Jennifer. — Só não sei se vocês irão aceitar.
— Qualquer idéia é bem vinda. — fala
Miguel. — Diga-a.
— Bom, o que eu pensei foi em
amarrarmos uma granada no alto da porta e então puxarmos o pino dela. A
explosão com certeza será suficiente para derrubar a porta.
— Você tem razão. — concorda Miguel.
— Vamos fazer isso. Não temos tempo a perder.
Miguel ergue Jennifer do chão e a
ajuda a alcançar o topo da porta. Com a ajuda da corda que Miguel trazia
amarrada ao cinto, ela consegue prender a granada e então Miguel a traz de
volta ao chão.
— Tudo pronto. — expressa Jennifer.
— Está presa bem firme na porta.
— Ok. — fala Miguel. — Desçam um
lance de escadas que eu vou retirar o pino e já corro até vocês.
— Certo. — elas falam ao mesmo
tempo.
As duas fazem o que Miguel pede e
então ele puxa o pino da granada e corre na direção delas e as abraça de forma
que as protege da explosão que irá acontecer. Segundos depois, a granada
explode fazendo o chão e as paredes tremerem e jogando pedaços de concreto para
todos os lados e levantando uma cortina de poeira.
Alguns minutos antes.
— Estamos quase chegando! — fala
Camael enquanto abre uma porta.
— Eles foram mais rápidos do que
pensamos. — comenta Surya seguindo logo atrás. — Precisamos ser mais rápidos do
que eles se quisermos chegar antes!
E sobem correndo uma escadaria.
— Malditos demônios! — pragueja
Camael. — O que eles pretendem fazer com ele? Todos sabem o que acontece quando
um de nós é contaminado por um morto-vivo! Praga! Uma criatura nem anjo e nem
demônio surge da transformação e passa a julgar ambos os lados e sentenciar
aqueles que considera culpados. E seu poder é muito maior do que qualquer um de
nós! Em uma luta, essa nova criatura pode devastar uma Legião inteira!
— Eu sei! — exclama Surya. — O
Arcanjo Miguel já enfrentou um desses e o conseguiu derrotar com a ajuda do
Lorde Metatron.
— Mas hoje o Miguel não sabe que é
um Arcanjo e o Lorde Metatron está sumido desde que veio a Terra na época de
peste negra. — explica. — Por isso não podemos deixar algo assim acontecer!
— Bom, estamos quase chegando ao 9º
andar! — fala Surya.
— Então permaneça sempre atrás de
mim. — avisa Camael. — Nada de ruim pode acontecer a você! Já que dependendo do
que acontecer, você é nossa única salvação! — alerta.
— Nada de ruim vai acontecer comigo
enquanto você for o meu protetor. Eu sinto isso!
Camael sorri e eles chegam a uma
porta de metal. Ele gira a maçaneta e a porta se abre. Ao entrar em um longo
corredor cheio de portas em toda sua extensão, o gemido característico dos
mortos-vivos é ouvido.
— Eu já esperava por isso. — fala
Camael com certa tranqüilidade na voz. — Apenas os mortos-vivos bloqueiam nosso
caminho. Pelo visto, os demônios resolveram debandar daqui.
As criaturas ouvem a voz de Camael e
se viram na direção dele e de Surya.
— Já nos perceberam. — comenta Surya.
— Eu vi. — ele fala e então olha
para Surya. — Fique aqui e não saia até que todos esses mortos-vivos estejam
definitivamente mortos. Ok?
— Entendido. — ela responde.
Camael ajeita o terno e caminha
lentamente na direção dos zumbis. As criaturas urram ferozmente e se lançam num
ataque frenético na direção dele. Camael toma a posição de luta e passa a
desferir socos e chutes em todas as direções. Seus golpes são tão potentes que
rasgam os zumbis ao meio, partem membros, crânios, esfacelam ossos e um rio de
sangue passa a se formar no chão.
Surya apenas observa o seu amigo
celestial lutar.
Após mais alguns minutos de luta,
todos os mortos-vivos estão destroçados e definitivamente mortos. E Camael está
parado no meio do corredor lavado de sangue. Surya caminha até ele e o elogia:
— Você luta muito bem.
— Obrigado. — agradece. — Agora vamos
até o quarto onde ele está.
Nisso, uma das janelas na outra
extremidade do corredor se quebra e um vendaval adentra o ambiente. E seguindo
esse vendaval, uma criatura alada entra pela janela e pousa no chão. Camael
instintivamente pára na frente de Surya.
— Ora, ora, eu sabia que esses
mortos-vivos não dariam conta de vocês. Por isso resolvi vir pessoalmente dar
um fim na medíocre existência de seres como vocês e continuar com o planejado.
— Quem é você? — pergunta Camael
dando um passo a frente.
A criatura suspira e então responde:
— Eu sou Zavebe, um dos generais de
Samyaza.
— E Samyaza por acaso está aqui na
Terra? — pergunta Camael intrigado.
— Eu nem deveria lhe responder isso.
— fala Zavebe. — Mas como sou educado não deixarei sua pergunta sem uma
resposta. E a resposta é não. Samyaza não está aqui na Terra. Ele continua
administrando suas Legiões no Inferno.
Por um instante, Camael se sentiu
aliviado com a resposta dada pela criatura. Mas em seguida se pôs em posição de
combate.
— E o que ele quer com aquele
garoto? — pergunta Camael.
— Isso não diz respeito a mim e nem
a você. — responde Zavebe. — Samyaza só responde a um ser e você sabe muito bem
quem é.
— Sei sim. — fala Camael.
— Então saia da minha frente e
deixe-me levar o que vim aqui buscar. — fala Zavebe.
— Você sabe que não posso deixá-lo
levar aquele garoto. — avisa Camael. — Mesmo ele não sendo mais quem ele
costumava ser e representar, ainda continua sendo um de nós.
— Eu imaginava que você não me
deixaria passar. Então terei que destroçar vocês dois para isso. — e sorri. — O
que eu não faço pelo meu reino. — e fica em posição de combate.
Nisso, uma explosão atinge a parede
e uma porta metálica golpeia Zavebe o rasgando ao meio e arremessando seus
pedaços pela janela junto com entulhos e poeira. E após alguns segundos,
Miguel, Jennifer e Raguel passam pelo buraco aberto na parede. Camael olha para
Surya e diz:
— São eles.
— Mas só há dois Arcanjos. — comenta
Surya.
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