— Esse silêncio me causa arrepios. —
comenta Raguel.
— A mim também. — fala Jennifer compartilhando
do mesmo sentimento da amiga.
Miguel permanece em silêncio e abre a porta do
carro e sai.
— Não vai dizer nada? — pergunta
Jennifer saindo do carro.
— Psst! — faz sinal para ela ficar
quieta.
Raguel sai do carro e gesticula para
Jennifer perguntando o que houve. Jennifer dá de ombros em sinal de que não
sabe. Miguel olha para as duas e pede em voz baixa:
— Vamos entrar, mas façam silêncio,
por favor. Não trouxemos nada para nos defender ou atacar, então é bom sabermos
primeiramente o que está acontecendo aí dentro e se há algum perigo. Mas
precisamos saber disso antes que saibam de nós, por isso é preciso fazer
silêncio total antes de entrarmos. Estão de acordo?
— Claro. — respondem ao mesmo tempo.
Eles saem caminhando em direção a
entrada do estacionamento e passam por baixo da cancela. Caminham vagarosamente
por entre os carros, vez ou outra se escondendo atrás de algum e chegam à porta
principal do hospital. Uma grande porta dupla de vidro que se encontra
levemente aberta. Miguel dá uma rápida olhada para dentro do Hall de entrada e
não vê nada além dos balcões de informação e dos bancos e poltronas de espera.
Apesar da escuridão da noite, a luz da lua ainda ilumina mesmo que pouco a grande
sala. Miguel olha para as duas e diz:
— Me esperem aqui que eu já volto.
— Aonde você vai? — pergunta
Jennifer.
— Vou dar uma olhada aqui dentro e
já volto. — responde. — Não saiam daqui.
— Me deixe ir com...
— Não. — fala Miguel interrompendo
Jennifer. — Nenhuma de vocês vai comigo. Assim que eu ver que está tudo limpo,
eu volto aqui e seguimos juntos.
— Tá bom, mas se cuida lá dentro. —
pede Jennifer.
— Se cuide mesmo — fala Raguel. —, e
qualquer coisa grite.
— Podem deixar. — e adentra o vão da
porta.
Miguel entra caminhando
vagarosamente pelo Hall principal, mas não vê nada de estranho além do vazio e
do silêncio que permeia o ambiente. Ele caminha mais um pouco e chega a uma
porta dupla de madeira. Ao abrir a porta, a luz da lua adentra o recinto e ele
se depara com um longo corredor cheio de portas e as feições de seu rosto
mudam. O corredor que Miguel entra está forrado de corpos com suas carnes
acinzentadas sob a pálida luz da lua, com exceção dos incontáveis espirros de sangue
nas paredes. Miguel pára por um momento, observando as sombras, analisando o
ambiente antes de se afastar da porta e prosseguir. Conforme ele vai avançando,
a escuridão vai se tornando mais dessa a ponto dele não conseguir enxergar mais
nada a frente.
— Seguir adiante vai ser mais
complicado do que eu pensava. — pensa. — Melhor voltar e tentar um caminho
diferente. Preciso chegar ao Gabriel o mais rápido possível! — exclama em
pensamento. — Esses corpos espalhados pelo chão e esse sangue nas paredes estão
me deixando muito preocupado. O que está acontecendo aqui?
Nisso, ele houve passos mais a
frente e tristes gemidos ecoando pelo corredor. Sem pensar duas vezes sai
correndo em direção ao hall de entrada e sente os passos ecoarem atrás de si na
mesma velocidade que os seus.
— O que quer que seja está vindo
correndo atrás de mim. — pensa enquanto salta sobre alguns corpos que estão no
chão. — Preciso chegar à porta o mais rápido que eu puder. — e acelera as
passadas sem olhar para trás.
Ele entra no Hall de entrada e corre
até a porta de entrada e sem sair vira-se em direção a porta de madeira e fica
observando.
— Jennifer. — suspira asperamente,
com medo de gritar, com medo do que possa estar à espreita.
— O que foi? — ela pergunta se
aproximando do vão.
— Eu acho que começou tudo de novo.
— responde com tristeza na voz.
— Tudo o que? — pergunta. — Não
estou te entendendo.
E a porta de madeira se abre.
— Aquilo. — responde Miguel
apontando para a porta.
Um homem com a face mortalmente
pálida e sangue escorrendo de seus lábios podres entra no Hall de entrada. Sua
roupa azulada está pintada de sangue. A criatura olha para Miguel e solta um
rugido seguido de uma corrida desenfreada na direção dele. Miguel sai pelo vão da
porta e a criatura se joga sobre ele com os braços esticados como os de um
sonâmbulo. As mãos podres o agarram fortemente pelos ombros e a criatura investe
em sua garganta. Mas antes que esta pudesse fincar seus dentes no alvo,
Jennifer chuta sua cabeça com toda a força que possui e a criatura solta Miguel
e sai rolando para o lado. Raguel estica sua mão na direção de Miguel e este a
agarra e ergue-se do chão.
— Obrigado. — agradece com um leve
sorriso e vira-se para Jennifer. — Você me salvou mais uma vez. Obrigado. Achei
que desta vez eu viraria jantar de zumbi.
— Eu jamais deixaria isto acontecer.
— fala enquanto olha para a criatura se mexer no chão. E então pisa várias
vezes sobre a cabeça do zumbi fazendo-a explodir. Sangue e pedaços do cérebro respingam
longe, e o corpo fica inerte no chão. — E quem tentar encostar em você terá o
mesmo fim dessa criatura repugnante!
Raguel dá uma olhada ao redor, espia
pelo vão da porta e propõe:
— Precisamos procurar alguma coisa
que possamos utilizar para nos defender deles. Pedaços de ferro, qualquer coisa
dura o suficiente para estourar a cabeça deles. Pois no soco e chute não iremos
muito longe.
— Ela tem razão. — concorda
Jennifer. — Mas não creio que teremos muita sorte em achar isso por aqui.
— Pelo menos uma coisa eu achei —
fala Miguel revirando o corpo do homem. —, ou melhor, algumas. — e elas se
aproximam dele. — Peguei uma pistola e algumas munições com ele. — e as mostra.
— Olhei melhor para a roupa dele e me lembrei que é a roupa que os seguranças
utilizam aqui. Então resolvi olhar melhor para ver se não tinha alguma coisa
que poderíamos usar. — explica. — Inclusive em um dos bolsos tem uma chave de
carro.
— Que bom que você achou essa arma.
— comenta Raguel. — Mas como vamos saber de que carro é essa chave? — pergunta.
— Há tantos carros aqui.
— Simples. — e aponta o alarme na
direção do estacionamento e aperta o botão. Ao longe um carro dá duas buzinadas
e pisca as luzes externas. — Fácil, não? — e tira o coldre da cintura do homem
e o ajusta em seu cinto, colocando a pistola ali.
Eles correm até o carro e Miguel
abre a porta do motorista.
— Procurem por tudo! — ele exclama.
Elas abrem as portas do carro e
procuram por tudo. Em baixo dos bancos, no porta-luvas, rebatem o banco
traseiro para ver se tem algo escondido, mas nada encontram. Miguel puxa a
alavanca que abre o porta-malas e o ouve destrancar. Eles caminham até a parte
de trás do carro e Miguel abre a tampa do porta-malas.
— Uau! — exclamam juntos.
Dentro do porta-malas há uma
espingarda e munição para a mesma, assim como munição para a pistola que Miguel
havia encontrado no corpo do segurança, uma beretta mais uma caixa de munição
para a mesma, alguns cassetetes — dos modelos antigos fabricados em madeira —, dois
facões, duas lanternas pequenas, pilhas, cinco granadas, além de alguns fios, variados
tipos de cordas e outras tranqueiras.
— Eu vou pegar a munição para a
pistola, um cassetete e um facão. — fala Miguel. — E vocês decidam aí o que
cada uma vai levar. Eu já escolhi.
Miguel prende o facão e o cassetete
na cintura usando um pedaço de corda fina e guarda a caixa de munição no bolso
da jaqueta. E enquanto isso, Raguel e Jennifer escolhiam o que cada uma iria
levar. Jennifer pegou a espingarda, guardou as munições nos bolsos da jaqueta e
da calça, pegou uma lanterna e a amarrou no cano da espingarda utilizando um
fio de metal, prendeu um cassetete na cintura e por último pegou duas granadas
e quatro pilhas e as espalhou pelos bolsos. Raguel ficou com a beretta e
guardou a caixa de munições no bolso da calça cargo, assim como as pilhas e as
três últimas granadas. E assim como fez Miguel, prende o facão e o cassetete na
cintura. E por último amarra a lanterna no cano da arma.
— Prontas? — pergunta Miguel.
As duas acenam concordando que sim e
ligam as lanternas.
— Então vamos! — exclama Miguel
seguindo em direção a entrada do hospital.
Os três entram no Hall de entrada e
Raguel pergunta:
— Seguiremos por onde?
— Eu fui por aquele corredor ali a
frente e foi de onde aquele zumbi saiu. — responde. — E, além disso, está cheio
de corpos espalhados pelo chão. E como sabemos que o Gabriel está no quarto
920, acho melhor irmos pelas escadas e não desviarmos nosso caminho até lá.
Eles começam a subir as escadas — de
uso restrito dos funcionários. — e nada de anormal acontece até se depararem
com a escada bloqueada no 5º andar. Parte dela desmoronou bloqueando a passagem
para o andar de cima. Mas deixando livre o acesso a porta que leva para o 5º
andar. Miguel suspira e desamarra o facão, o empunhando como se fosse sua velha
espada que se perdeu.
— Bom, toda a atenção é pouco agora.
— alerta Miguel. — Fiquem ligadas em qualquer barulho, qualquer movimento,
enfim, em qualquer coisa que considerarem suspeitas. Como já vimos lá embaixo,
estamos em ambiente hostil. Para eles nós somos a refeição. E sinceramente, eu
não quero fazer parte desse banquete. — e sorri para quebrar a tensão do
momento. — Eu vou abrir a porta, me dêem cobertura.
Miguel abre a porta e um homem cai
em cima dele, exalando um pútrido hálito em seu rosto. Sem esperar por isso,
ele acaba deixando seu facão cair no chão. Raguel rapidamente mira na cabeça da
criatura e dispara duas vezes a beretta fazendo o ser ir ao chão. Miguel se
afasta e respira fundo, tentando não vomitar. Raguel se posiciona na porta e
Jennifer vai até Miguel.
— Está tudo bem? — ela pergunta.
— Está sim. — responde se
recompondo. — Eu fui pego de surpresa... — e faz uma pausa. — Malditos
mortos-vivos! Malditos demônios! Malditos deuses! Porque eles têm que destruir
nossas vidas assim? Por quê? Não somos peões numa mesa de xadrez! Somos seres
humanos, merda! — desabafa. — Eu juro! Juro mesmo! Que se um dia eu encontrar
Deus ou Lúcifer eu mato eles com minhas próprias mãos! Se para eles isso é diversão,
para nós é tortura! Por isso eu jamais os vou perdoar! Jamais! — exclama em voz
alta.
— Calma. — pede Jennifer. —
Lembre-se do que você nos disse logo que chegamos aqui.
— Que fizéssemos silêncio — recorda.
—, eu lembro. Mas é que é difícil segurar certas coisas.
— Eu sei que é. Mas precisamos nos
manter firmes. — fala Jennifer pegando o facão no chão. — Ainda temos um bom
caminho pela frente e não podemos fraquejar agora.
— Não estou fraquejando, droga! — rebate,
pegando o facão da mão de Jennifer. — Só estou cansado dessa merda toda! Já não
bastava tudo o que passamos antes? Ainda querem que nos arrebentemos ainda
mais! Saco!
E sai caminhando em direção a porta.
Raguel abre espaço e Miguel passa por ela e entra num escuro corredor com
detalhes em madeira nas paredes. Ele continua seguindo em frente sendo
acompanhado de perto pelas duas. Ele chega a uma porta de metal que fica na
parede da direita e gira a maçaneta, mas não consegue abrir a porta.
— Está trancada. — exclama.
— Deve haver outra mais a frente. —
comenta Raguel. — Vamos seguindo, parece ser longo este corredor.
Eles seguem em frente e o corredor
vira a esquerda, após mais alguns passos chegam a uma porta de madeira
esverdeada. Miguel se aproxima da porta e vira-se para elas e diz:
— Eu vou abrir a porta me encostando
na parede, atirem em qualquer uma das criaturas que entrarem aqui!
— Ok! — elas respondem.
Miguel gira a maçaneta da porta lentamente
e elas apontam as armas para frente. Ao abrir a porta, um curto gemido é ouvido
e um zumbi adentra o corredor. O morto-vivo está todo sujo de sangue e seu
intestino está pendurado através de um rasgo na barriga. Jennifer dá um passo a
frente e aperta o gatilho da espingarda. O tiro destroça a cabeça do zumbi
jogando pedaços de crânio e cérebro para todos os lados. Miguel leva as mãos ao
rosto para se proteger dos respingos de sangue e dos pedaços da cabeça do zumbi
que voaram nele.
— Nojento! — ele exclama tirando um
pedaço de cérebro da manga da jaqueta.
— Deixem que eu vou na frente agora!
— avisa Jennifer tomando a dianteira e atravessando a porta.
Ela entra em uma sala retangular com
algumas estantes com frascos de produtos médicos, esparadrapos, entre outras
coisas. Ela ilumina um pouco mais a sala e avista uma mesa mais a frente e uma
porta ao lado desta mesa.
— Poderíamos pegar algumas coisas
para usarmos no caso de nos machucarmos. — comenta Raguel. — Há bastante coisas
úteis aqui.
— Mas infelizmente não temos como
carregar nada. — fala Miguel. — Nem mochilas trouxemos e nossos bolsos estão
cheio de munições, pilhas ou granadas. Para levarmos alguma coisa teremos que
deixarmos outras. E eu não aconselho a isso.
— Nem eu. — concorda Jennifer. —
Precisamos de toda a munição possível. — e caminha em direção a porta.
Ela gira a chave e abre a porta
lentamente, ao iluminar o próximo ambiente, se depara com um grande e largo
corredor. O cheiro de sangue fresco inunda o local e gemidos e grunhidos são
ouvidos. Jennifer fecha a porta rapidamente e vira-se na direção de seus
amigos.
— Temos companhia e não são poucas!
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