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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Um Mundo Em Caos - 38


O Arcanjo vira-se para Asmodeus e revela ser Miguel, em sua forma Celeste e em toda a sua plenitude de poderes. O Arcanjo se ergue, e movimenta os braços e mãos, ao mesmo tempo em que os olha com admiração. Raguel e Jennifer estão caídas, desmaiadas.

— Fazia tempo que eu não sentia esse calor envolver meu corpo. São tantas lembranças a cada pensamento, tantas emoções que não consigo compreender todas. Lembro-me da minha vida celeste, de Florença, Masyaf e Constantinopla, Tóquio, Cracóvia, Veneza, Amsterdã e, finalmente a minha vida atual. Vi nações surgirem e desaparecerem, assim como presenciei a mudança econômica mundial. Vi guerras causadas por ganância e ódio ao próximo. Fiz coisas boas e ruins, mas não me arrependo de nada. Eu era humano e assim como um, estava fadado a errar. — divaga. — Mas agora as coisas mudaram, eu sinto fluir através do meu corpo toda a minha essência divina. — e olha para Asmodeus. — Passei séculos sem usar um pingo da minha energia, e lhe garanto, esse poder está transbordando através de mim. Então se pensa em lutar comigo, sinto lhe informar, mas você jamais será capaz sequer de me atingir.

— Miguel, Miguel, Miguel, Miguelzinho. Eu não fui escolhido como um dos cinco príncipes do Inferno a toa. Nós príncipes somos os mais próximos de Lúcifer em poder. Eu diria que a nossa força se aproxima da força de um Serafim. — fala confiante. — E eu realmente estava esperando por isso. Há séculos aguardo por esse momento. Agora terá graça enfrentá-lo. Vou arrancar as suas asas uma após a outra.

Miguel baixa a cabeça e então diz:

— Venha.

— Isso será muito fácil. — pensa Asmodeus, cerrando os punhos e então avançando sobre Miguel.

Os golpes são dados com toda a sua força. O prédio inteiro treme e as ruas são atingidas por uma onda de energia que vai arrancando o asfalto por quadras. Casas são demolidas por vendavais e algumas construções tombam, tamanha é a onda de energia liberada pelo impacto dos golpes. Mas Miguel continua parado sem se mover, é como se os golpes não estivessem surtindo o menor efeito contra ele. Asmodeus percebe e hesita por um instante, o que leva Miguel a segurar as mãos do demônio. Durante os segundos que transcenderam o ataque, Miguel foi protegido durante todo o tempo por um campo de energia mística, uma espécie de telecinese. Técnica onde o atacado projeta a sua força criando um muro de energia que o protege de golpes de variados tipos.

— Como eu havia lhe dito anteriormente, os seus golpes sequer me atingem. Portanto, a sua vida de maldades termina por aqui. — e um potente soco é desferido.

Asmodeus é atingido no rosto e sai deslizando pelo chão, e em sua trajetória vai abrindo uma vala no piso. Aturdido, ele se escora nas laterais da pequena cratera e ameaça se levantar. Miguel impulsiona as pernas e sai voando em direção a Asmodeus, e começa a golpeá-lo violentamente. O chão começa a rachar e os dois caem no andar de baixo.

Jennifer ergue a cabeça e surpresa, exclama:

— O que aconteceu?

Raguel senta-se no chão e olhando para os lados, avista uma pena branca pousada ao seu lado.

— Eu tenho uma breve idéia do que pode ter nos protegido.

E mostra a pena para Jennifer.

— Um anjo. Mas qual deles? — Jennifer também se senta no chão e logo em seguida, procura com os olhos e encontra Camael caído próximo a um buraco no piso. — Aquele que começou lutando não foi. Ele continua desmaiado. — com mais uma rápida olhada, não encontra Miguel e nem Surya. — Onde está o Miguel?

Nisso, o andar todo treme e o som de golpes é ouvido.

— Há alguém lutando lá embaixo. — constata Raguel.

As duas se levantam do chão e saem caminhando em direção ao buraco no piso.

Próximo dali, em um dos quartos, Surya está parada em frente a cama onde Gabriel está se recuperando.

— Parece que Miguel já acordou. Agora me pergunto se realmente devo lhe acordar também. Tenho um péssimo pressentimento a respeito disso. — e caminha ao redor da cama. — Sei que tenho ordens para lhe devolver toda a sua memória e recuperar a sua divindade, mas isso também pode levar a uma luta entre os dois Arcanjos. Você não quis salvar a mulher de Miguel e ele se enfureceu por isso, o atacando em seu castelo. Tenho certeza que foi isso que desencadeou o desejo dele em se tornar humano. Mas quem sou eu para querer adivinhar os acontecimentos vindouros. Não sou nenhuma profetisa para isso. Então, seja o que Deus quiser.

Surya coloca as duas mãos sobre o corpo de Gabriel e este passa a emitir uma forte luz dourada. Em segundos, dois pares de asas surgem em suas costas e os ferimentos que havia em seu corpo desaparecem. Gabriel abre os olhos e fita Surya por longos segundos.

— Você é a última pessoa que eu esperava ver por aqui, Querubim. — e leva as mãos à cabeça. — Ah, essas lembranças estão me esmagando. São muitas informações para serem assimiladas tão rapidamente. — e senta-se na cama. — Faz essa profusão de lembranças cessarem.

— Não posso. Isso faz parte do seu renascimento. Nesse momento sua vida humana está se mesclando com a sua vida divina. Não sei o que você está sentindo, mas creio que deva ser angustiante.

— Mortes, guerras, sofrimentos... É tão difícil de acreditar que eles fizeram tudo isso sem nem ao menos terem sido tentados pelo demônio.

— É o livre arbítrio. — comenta Surya.

— Onde está o Miguel? Ainda não consigo sentir a presença dele e, nem a sua.

— Você ainda precisa de um tempinho para recuperar todos os seus sentidos celestiais. E quanto ao Miguel, ele está enfrentando o Asmodeus.

— Você o deixou ir sozinho?

E um estrondo é ouvido.

— Acho que ele está indo muito bem. — fala Surya.

— Mesmo assim. Ele está enfrentando um dos príncipes do Inferno. Essas criaturas são poderosas demais até para nós Arcanjos. Eu preciso ir ajudá-lo.

Gabriel salta da cama e se dirige em direção à porta do quarto.

No andar de baixo, Miguel continua a golpear Asmodeus por mais alguns segundos e então segura os dois braços do demônio e os arranca com a maior facilidade. Asmodeus berra de dor e Miguel joga os braços dele longe. Sangue negro jorra em profusão. Com isso, a diferença de poderes se revela abissal.

— Lembra que você fez o mesmo com Ezequiel? Só estou retribuindo na mesma moeda. — e pisa no peito do demônio.

— Não, não, não! — se expressa Asmodeus, já temendo que o pior aconteça consigo. — Me deixei ir e eu juro que não volto mais a perturbá-lo! Eu lhe dou a minha palavra. Eu-Eu não quero morrer! Tenha misericórdia!

— Você entregou Arádia e eu para que fossemos mortos. Falhou e tentou nos matar. Porque eu deveria ter misericórdia de você?

— Me perdoe. — suplica o demônio.

— Sabe o que dizem sobre os demônios? Que não se deve confiar no que eles dizem quando estão apavorados. — profere.

— Por favor. — implora Asmodeus, olhando Miguel nos olhos.

— Não se preocupe que serei rápido. — avisa. — Ah, e antes que eu me esqueça, mande lembranças a Lilith por mim. — seu pedido soa sarcástico.

Miguel segura Asmodeus pelos ombros e começa a forçar os braços um para cada lado, a pele começa a se romper e o som dos ossos partindo é ouvido. Então a pele se rompe completamente e o demônio é dividido em dois. Uma cachoeira de sangue lava o chão e as paredes do corredor. Miguel satisfeito com o que fez, joga os pedaços do demônio no chão. Os pedaços do corpo do demônio se retraem e a pele enruga velozmente. A pele então se cola aos ossos e seca. Miguel solta um leve sorriso e salta de volta ao andar de cima. O salto é sucedido de uma explosão no andar de baixo que sacode o piso...

 

Asmodeus finalmente está morto.

O escolhido como um dos cinco príncipes do inferno ainda em épocas imemoráveis não mais existe. O filho de Adão e Lilith, que foi gerado quando Lilith ainda era esposa de Adão e ambos viviam no paraíso, deixou de existir.

Em uma caverna escura no fundo do Inferno, uma figura sinistra derrama lágrimas. Caim, seu melhor amigo e filho de Lúcifer e Eva (a segunda mulher de Adão), e também príncipe no Inferno, lamenta o fim de seu amigo-irmão. Ambos foram os primeiros primogênitos da história humana, ambos foram condenados aos domínios infernais. E ambos são os príncipes de seus respectivos círculos, porém agora, apenas um dos domínios ainda possui o seu príncipe.

 

Miguel salta para o andar superior e dá de cara com Gabriel parado em meio ao corredor. Jennifer e Raguel estão mais afastadas olhando atônitas para o Arcanjo.

— Bem vindo Miguel. — fala Gabriel. — Bom trabalho em destruir o demônio.

— Não preciso de suas congratulações. — retruca Miguel. — A não ser que tenha mudado.

As vozes dos Arcanjos soam como uma música, uma canção orquestrada por centenas de instrumentos, mas que a qualquer momento podem explodir em notas violentas.

Jennifer, aturdida com a visão de Miguel transformado em um dos Arcanjos, segura as mãos de Raguel e diz:

— Então aquele demônio estava certo, não somos quem sempre pensamos ser. As nossas vidas então não passam de mentiras. Durante todo esse tempo não passamos de fantoches dos anjos?

— Calma minha amiga, deve haver alguma explicação para tudo isso. — fala Raguel tentando acalmar Jennifer.

— Não! Eles nos usaram! Nos trataram como brinquedos! — exclama Jennifer indignada.

— Cale a boca, mulher! — esbraveja Gabriel a olhando. — A sua voz já está me irritando.

Miguel dá um passo à frente e diz:

— Mesmo tendo convivido comigo por séculos, vejo que a sua arrogância celestial continua. Por um momento pensei que tivesse mudado e se tornado alguém compreensivo e bondoso. As lembranças que tenho acerca de nossas vidas passadas me mostram uma amizade acima de qualquer coisa, mas agora vejo que me enganei. A sua verdadeira face é essa.

— Também tenho lembranças de nossa amizade mundana, mas a minha missão é muito maior que isso. Eu não pedi para virar um humano. Ele fez isso contra a minha vontade! Me chamou em seu palácio e antes que eu pudesse me defender a minha vida mudou completamente. Ao contrário do que dizem, eu não pedi para cair. — e dá uma breve olhada para Jennifer. — E essa bruxa deveria ter morrido naquela época. Se você não tivesse se intrometido e sido ajudado por Camael, não estaríamos falando sobre isso. Essa maldita pagã merece queimar no Inferno!

— Meça as suas palavras antes de falar de Ar... Jennifer! Ela é muito mais pura do que você jamais será! — rebate. — Você pode ser um Arcanjo, Gabriel, mas é tão sujo e impiedoso quanto um demônio!

— Como ousa falar assim comigo? — reage furioso. — Eu vou te destruir Miguel!

Nisso, Surya se aproxima de Raguel e Jennifer, e encosta as suas mãos nas duas. Um brilho incandescente as envolve e então as duas caem de joelhos de chão. A expressão de Raguel transmuta e milagrosamente as suas asas começam a surgir em suas costas. Primeiramente um par de asas surge e, logo em seguida, o segundo par. Uma profusão de lembranças cai sobre si como uma tempestade. Raguel leva as mãos à cabeça e solta um berro que estremece o prédio. Jennifer caída ao seu lado estremece em dor e cai desmaiada.

Surya deixa suas asas aparecerem e alerta:

— Se algum de vocês ousar atacar o outro, eu serei obrigada a intervir. E lhes garanto que será doloroso para ambos.

— Mas...

— Sem “mas”, Gabriel, deixe Miguel ir! — ordena Surya. — Não podemos impedi-lo. Ele é livre para fazer o que quiser. Todos aqui foram agraciados com o livre arbítrio, inclusive eu. Então podemos infringir algumas regras.

Gabriel vira o rosto para o lado e Miguel passa por ele. Miguel lentamente se agacha próximo de Jennifer e a agarra nos braços. Ele caminha até a janela e faz um sinal com a cabeça para Surya, se despedindo, e então se joga, alçando vôo logo em seguida.

— Até o dia do Juízo Final, ou antes. — sussurra Surya.

 

Miguel voa até o topo de um prédio e deita Jennifer no chão. Após ele ficar alguns minutos sentado ao lado dela, caminha até o parapeito e senta-se, olhando para baixo.

— Ola Miguel. — uma voz masculina e serena o cumprimenta.

Sem se movimentar para ver quem é, Miguel retribui a gentileza.

— Ola. — e continua. — Eu já esperava por sua visita.

— Parece que você finalmente entendeu que os Arcanjos não são seres confiáveis, principalmente o Gabriel. E posso lhe garantir uma coisa, ele não pensaria duas vezes em matar a sua amada, se isto fizesse com que você continuasse no Céu. Mas na verdade eu não vim até aqui para ficar discutindo sobre acontecimentos passados. Eu vim para lhe pedir desculpas.

— Desculpas sobre? — pergunta Miguel curioso.

A pessoa que conversa com Miguel sai das sombras e revela ser um homem não muito alto, de corpo esbelto, cabelos negros, lisos e compridos. Sua pele é morena clara, e seus olhos são negros e penetrantes. Suas vestes são escuras como a noite. Mas uma semelhança gritante com Miguel fica evidente conforme ele vai se aproximando.

— Sobre o que o Príncipe Asmodeus fez com você. — responde. — Mas antes de qualquer coisa, eu quero lhe dizer que sempre repudiei as atitudes dele. Infelizmente antes mesmo de eu assumir o trono do Inferno, ele já era um dos grandes lá e sempre foi difícil conte-lo. Eu já o havia proibido de se aproximar de você, só que ele sempre fez o que quis e sabia como ninguém esconder a sua presença dos meus sentidos.

— Não gaste a sua língua comigo. De bondoso você não tem nada.

— Posso não ser bondoso ou benevolente — reconhece —, mas sei colocar a família acima de qualquer outra coisa. Mesmo você tendo me expulsado do Paraíso, ainda continuamos sendo irmãos e o amo como tal. Já lhe perdoei pelo que fez. Você estava seguindo as regras e agiu conforme a lei. Mas permita-me lhe explicar o ocorrido com Asmodeus.

— Se assim deseja, continue.

O homem senta ao lado de Miguel no parapeito do prédio e começa a falar:

— Asmodeus sempre nutriu um ódio perverso por você, um ódio doentio eu diria. Desde a época em que caçávamos juntos os Nephilins.

— Me lembro de muitos desses híbridos. — recorda. — Alguns eram tão poderosos quanto os nossos mais valorosos anjos guerreiros.

— Também me lembro de alguns. — e continua. — Então numa dessas caçadas você matou os dois únicos filhos dele. Apesar das origens, ele se sentiu atraído por uma humana e a tomou como esposa. Por mais surreal que possa parecer, ele abandonou o Inferno e veio morar na Terra. Mas naquele dia fatídico, você sem querer, fez renascer o mais cruel, perverso e terrível demônio já existente. Nós o derrotamos e o jogamos de volta ao Inferno, mas o ódio dele só foi o alimentando mais e mais.

— Era o nosso dever limpar a Terra daquelas criaturas. — justifica.

— Eu sei que era. — concorda. — E não estou dizendo que deveríamos ter feito o contrário e nos recusado a obedecer às ordens que nos foram dadas. O que quero dizer é que ajudamos a chegar ao ponto que chegou. Somos os únicos culpados do que aconteceu a você. Eu tentei interceder a seu favor quando subi ao trono, mas Asmodeus sempre foi irredutível quanto ao seu desejo de vingança.

— Imagino que tenha tentando, sim.

— Eu estou falando a verdade Miguel. Quando Asmodeus veio a Terra e tentou assassiná-lo em Florença, eu em pessoa liderei um séquito de anjos caídos e caçamos Asmodeus por todo o Inferno. Levamos séculos para percorrer tudo e infelizmente não o encontramos. Porém, recentemente eu fiquei sabendo de um culto satânico que desejava trazer de volta alguns anjos caídos e demônios. Foi então que eu entendi tudo. Asmodeus havia se tornado humano e viveu por séculos escondido aqui na Terra. E ele não estava sozinho durante esse tempo todo. Dezenas de caídos o acompanharam nessa empreitada.

— Você quer dizer que ele sozinho conseguiu convencer dezenas de caídos a o acompanharem? Isso não lhe faz lembrar-se de algo semelhante?

— É diferente. — responde. — Você sabe quais eram os meus motivos. Eu sempre me senti traído por Deus. E de fato ele me traiu. Mas não quero falar sobre isso. Enfim — retoma —, com a ajuda de um necromante eles tiveram seus poderes escondidos e assim passaram séculos vivendo em meio aos humanos sem nunca serem descobertos.

— Para quem se considera o Senhor do Submundo, você deixou a desejar nesse ponto.

— Ora, Miguel, eu não sou perfeito. Também possuo falhas. — confessa.

— Quem diria que você um dia assumiria isso.

— As pessoas mudam, porque nós Arcanjos também não poderíamos?

— Você tem razão. — concorda Miguel.

O homem sorri e continua.

— Bom, hoje eu fiquei sabendo de tudo isso quando enfim conseguimos capturar um caído e ele nos contou tudo.

— Creio que ele não fez isso por vontade própria. — acrescenta.

— O Inferno tem seus meios de extrair as informações que deseja.

— Sei que tem.

— Infelizmente não consegui chegar a tempo de impedir Asmodeus de chegar perto de você. Mas fico feliz que tenha recuperado a sua parte Celestial a tempo de derrotá-lo. Fico muito feliz mesmo.

— Conhecendo você como eu conheço, não veio apenas me contar isso e pedir desculpas.  O que você quer realmente?

— Eu quero que voltemos a ser a família que éramos antes de eu ser expulso. Quero poder voltar a chamá-lo de irmão e juntos podemos dar uma lição nesses Arcanjos que eles jamais esquecerão. E mais, poderemos salvar o mundo do que está por vir.

— Você está me convidando para ir para o Inferno com você?

— Aquele lugar não é para você. Um Celestial da sua estirpe jamais se acostumaria com os lamentos e gritos de dor diários. Em pouco tempo você enlouqueceria e se tornaria uma ameaça para todos nós. — constata. — O que lhe proponho é que continue levando a sua vida normalmente e quando chegar a hora me estenda a sua mão. Como irmãos fazem. É só isso que lhe peço.

— Eu...

Nisso, Miguel é interrompido pela chegada de Jennifer.

— Está na hora de ir. — fala o homem se levantando.

Jennifer o olha e um frio sobrenatural gela a sua espinha. Apesar da coloração diferente dos olhos e cabelos, o rosto era igual ao de seu amado. O homem sorri para ela, e a elogia:

— Muito linda você.

— O-Obrigada. — agradece gaguejando.

O homem pára em pé no parapeito e diz:

— Pense no que lhe falei. Quando chegar a hora você saberá.

E então se joga do prédio e numa explosão mística desaparece em meio à queda.

Jennifer caminha até Miguel e antes que possa lhe perguntar qualquer coisa, o Arcanjo se adianta e responde:

— Quem você viu aqui era o meu irmão gêmeo, Heilel Ben-Shachar, o Lúcifer.

Jennifer é surpreendida por algo que jamais pensou em sua vida. Por instantes estava na presença do Senhor das Trevas, o Arcanjo Maligno. E a semelhança entre eles não podia ser apenas coincidência. Alguma ligação deveria haver entre os dois, mas nunca pensou que seria isso. Miguel nunca havia lhe contado que o irmão que expulsou do Paraíso era o próprio Lúcifer. Apavorada com que Miguel lhe disse, ela fica paralisada com tal informação. Mas o Arcanjo a abraça amorosamente e lhe explica parte da história dele e de seu irmão. Jennifer então compreende parte dos segredos do Paraíso e lhe faz uma última pergunta:

— O que ele quis dizer com: “quando chegar a hora você saberá”?

— Loucuras da cabeça dele. — mente. — O Inferno é um lugar que acaba com o pouco da sanidade que você possui. Não se preocupe com isso.

Jennifer o abraça mais firme e então fica observando o céu.

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