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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Um Mundo em Caos - 05

Eles chegam ao centro de Canoas pela BR 116 e então Miguel pega a saída para a Avenida Getúlio Vargas e passa em frente à entrada de trás do Conjunto Comercial e segue entrando pela Rua Muck. Há vários carros estacionados nas laterais das ruas e zumbis caminham pelas calçadas e pelas ruas sem um rumo aparente. Os prédios parecem estar vazios, muitos com vidros quebrados, portas arrombadas e pichados. Quanto mais Miguel avança, eles podem perceber o caos ao qual a cidade foi submetida. Os prédios da prefeitura e dos correios foram transformados em escombros, à frente, do outro lado da rua havia outrora uma praça, agora destruída e cravejada de corpos ao chão com um tanque de guerra ao centro. Mais a frente o posto de gasolina que ocupava toda uma esquina agora está destruído e corpos carbonizados se espalham pelas ruas como formigas. Miguel retoma então o caminho de volta a BR 116.
Raguel olha para ele e com os olhos emaranhados diz:
­— Porque tudo isso está acontecendo? Há esta hora essas ruas estariam cheias de pessoas. Cheias de vida. Mas tudo o que estamos vendo são corpos espalhados pelo chão, mortos caminhando por aí. Isto não é vida.
Miguel permanece em silêncio, pois não consegue encontrar palavras que possam confortar o que Raguel está sentindo no momento. Ela olha para ele desejando que alguma palavra ou gesto faça com que o que ela está sentindo desapareça e aquela sensação que sentia anteriormente volte a inundar seu corpo e alma. Miguel quer dizer algo e passa a se sentir culpado pelas palavras terem o abandonado na hora em que ele mais precisa delas. Então quando ele entende o que realmente precisa dizer, pára o carro no meio da rua e Raguel olha para ele sem entender muito bem e ele a abraça forte e diz:
— Às vezes eu não sei bem o que dizer, mas enquanto permanecermos juntos eu vou te proteger de qualquer coisa até o mundo voltar a ser o que era antes. Eu prometo isso a você.
— Muito obrigada. ­— agradece Raguel sorrindo. — Você é uma pessoa muito especial para mim.
Então um grito feminino ecoa no ar tirando os dois do momento em que estavam mergulhados: — Socorro. — Miguel imediatamente vira-se para frente e vê uma garota loira atravessando a rua mancando e com o rosto todo ensangüentado. — Precisamos ajudá-la! — fala Raguel desesperada. A garota então tropeça e cai de joelhos ao chão e eles vêem do que ela estava fugindo, dezenas de zumbis saem de trás da esquina e seguem em direção a ela, suas mãos se esticam tentando alcançá-la para arrancar sua carne dos ossos. Então Miguel acelera o crossover e atropela meia dúzia de mortos-vivos e coloca o carro entre os mortos e sua futura vitima. Raguel desce do carro rapidamente e diz: — Venha conosco! Nós te ajudaremos! ­— A garota olha para ela e Raguel estende sua mão e pega à mão da garota e a ajuda a levantar. Miguel abre a porta de trás do lado direito e a garota entra. Então ela fecha a porta e Raguel entra rapidamente e Miguel sai dali acelerando o carro bruscamente.
— Muito obrigada. — agradece a garota. — Vocês... vocês salvaram a minha vida. Eu nem sei como agradecer.
— O fato de você estar viva e termos conseguido lhe salvar já significa muito para nós. — fala Miguel.
Raguel vira-se para trás e pergunta:
— Você está machucada? Esse sangue no seu rosto...
— Não é meu, é da minha amiga que estava comigo. Ela não conseguiu... — a voz fica cada vez mais embargada e ela completa: — ficou presa lá atrás e eu tentei ajudar, mas não consegui. Eles apareceram e estraçalharam-na na minha frente. Como se ela não fosse nada! Como se ela fosse uma folha de papel! E eu não pude fazer nada para pará-los. Eram muitos.
— Sinto muito. — fala Raguel.
— Mas eles não me causaram nenhum ferimento. Me machuquei quando pulei um muro. E nem consegui olhar ainda.
O silêncio por um instante toma conta do interior do carro e Miguel o quebra dizendo:
— Precisamos achar um lugar para ficar. Está escurecendo e as ruas não são muito convidativas. E também precisamos ver esse seu ferimento. Sabe de algum lugar em que poderíamos ficar?
— Não sei. — responde. — Eu não sou daqui. Eu estava de passeio na casa da minha amiga quando tudo mudou drasticamente. Eu sou de Campinas.
— E qual seu nome? — pergunta Raguel.
— Anane. Mas podem me chamar de Ane. Meus pais tinham uma visão um pouco diferente do convencional em relação à religião. Então me deram esse nome.
Raguel sorri e diz:
— Miguel, você é o único que possui um nome normal.
— Isso é você que está dizendo. ­— fala Miguel. — Mas ainda precisamos encontrar um lugar para ficar. Vamos nos focar.
— E se fossemos para o Shopping? — opina Anane explicando. — Lá tem bastante espaço, um supermercado onde poderemos nos alimentar e possíveis lugares onde poderemos dormir.
— Ela tem razão. — fala Raguel.
Miguel pensa por uns instantes e responde:
— Pode ser perigoso o caminho até lá. Porque bem dizer teremos que atravessar boa parte da cidade. Estamos agora passando pelo viaduto da Independência, terei que retornar pela Victor Barreto e depois pegar a Avenida Guilherme Schell até o Shopping. Vai ser um longo caminho.
— Então se apresse. — fala Raguel sorrindo.
Miguel então faz o caminho que havia comentado que seria necessário para chegar ao shopping. Durante o trajeto o que eles vêem é muita destruição. Alguns prédios estavam reduzidos a escombros, postos de gasolina que explodiram, outros completamente vandalizados, e muitos, mas muitos mortos-vivos perambulando pelas ruas. Miguel chega à entrada frontal do Canoas Shopping Center e os portões estão trancados com grossas correntes de ferro e enormes cadeados.
— Alguém aqui sabe abrir cadeados? — pergunta Miguel. ­— Porque eu não sei.
­— Eu não. — responde Raguel.
— Eu sei. — responde Anane um pouco constrangida. — Aprendi pra poder fugir de casa à noite e conversar com meus amigos. Os portões eram altos com ponteiras afiadas e sobre o muro havia cacos de vidros. O que tornava a escalada meio complicada. Então um primo meu ensinou.
— E porta também sabe? — pergunta Miguel.
— Sim.
— Ótimo. — comemora ele abrindo a porta do carro. — Então se vamos ficar no shopping, vamos ter que entrar agora.
Anane desce do carro e pega no bolso dois pequenos e finos grampos metálicos. Ela se aproxima do cadeado e utiliza os dois grampos para abrir a fechadura. Miguel se aproxima dela e passando sua mão sobre o ombro dela pergunta:
— Isso é muito demorado?
— Não, — responde. — já abri.
— Profissional. — sorri ele.
Eles empurram o portão, Raguel entra com o carro e fecham novamente o portão. Há alguns carros abandonados pelo estacionamento e conforme eles vão avançando — Raguel dirigindo o carro e Miguel e Anane caminhando um pouco a frente. — eles vêem alguns corpos pelas vias do estacionamento já bastante decompostos. Provavelmente já estão ali à bem mais de um mês. Anane fica um pouco mais próxima de Miguel caminhando bem junto ao corpo dele. Eles chegam à entrada principal do shopping — uma grande porta de vidro com desenhos talhados nela. — Raguel estaciona o carro bem em frente e se junta aos dois.
— Finalmente aqui. — fala Raguel abraçando Miguel carinhosamente. — Agora só precisamos entrar.
— Esse tipo de porta eu não sei abrir. — comenta Anane. — Só quebrando.
— Mas acho que sei por onde poderemos entrar. — diz Miguel caminhando em direção ao carro. — Venham. Vamos entrar pelo setor de carga e descarga.
Miguel os leva até lá ­— alguns metros à frente. — e a porta desse setor é uma grande porta de ferro trancada com fechadura. Anane olha para ela e sorrindo diz:
— Essa é fácil. Já abri várias assim.
Miguel e Raguel se olham enquanto Anane caminha em direção a porta. Raguel comenta com ele se o que Anane falou sobre saber abrir fechaduras é realmente verdade, se a finalidade de seu conhecimento seria somente mesmo para fugir de casa. Miguel dá de ombros e comenta que o que ela fazia antes, hoje não tem mais a menor importância. E que ela estando junto deles pode ser de grande ajuda, pois nunca se sabe quando ficarão encurralados com uma porta trancada a sua frente e que pode ser a única saída para continuarem vivos.
Anane destranca a porta e chama por eles: — Vão ficar aí parados? Tá aberta à porta.
Os dois descem do carro — Raguel com o filhote no colo. — e Miguel tranca as portas e guarda a chave no bolso. Os três entram no shopping e em questão de minutos — após atravessarem alguns corredores por onde é feito e embarque e desembarque — estão no interior do mesmo.
Logo a frente há uma loja de roupas esportivas, caminhando para a esquerda tem o cinema e mais algumas lojas de roupas e calçados. E caminhando para a direita há a praça de alimentação e mais a frente lojas de roupas, calçados, brinquedos, artigos esportivos, informática entre outras. No corredor abaixo há o supermercado e mais algumas lojas e um fliperama. O segundo andar está em construção como pôde ser verificado por quem transitava pelas ruas que o cercam.
Olhando para a esquerda Anane percebe um movimento no segundo corredor vertical. — Alguma coisa se movimentou no corredor lá em frente. — aponta ela.
Miguel dá um passo à frente e olhando para o mesmo corredor em que Anane avistou a movimentação pergunta:
— Chegou a ver o que era?
— Não. — responde. — Só consegui ver uma sombra escura.
— Certo. Eu vou ver o que é. — fala Miguel sacando sua espada e largando a mochila no chão. — Fiquem esperando aqui.
— Cuidado. — fala Raguel demonstrando preocupação. — Miguel então sorri e segue em frente.
Miguel caminha passo a passo pelos corredores com sua espada em punho. — Seja o que for, apareça de uma vez. — sussurra ele. Ao chegar próximo ao corredor Miguel vai se esgueirando pela parede e espia para ver se enxerga algo, mas o corredor está vazio. E nisso ele sente uma mão tocar seu ombro e salta para frente caindo sentado no chão. — Ouch!!! Quer me matar de susto!!! — exclama Miguel olhando para Raguel e se levantando.
— Não era a minha intenção. Mas a Ane e eu não queríamos ficar lá sozinhas.
— Verdade. — fala Anane.
— Mas eu disse para vocês ficarem lá. — fala Miguel visivelmente irritado. — E se eu tivesse instintivamente cravado a espada em você, Raguel, como ia ser? Por sorte eu estava pensando em outra coisa, se estivesse concentrado em algo perigoso teria acontecido uma tragédia.
— Desculpa. — pede Raguel.
— Dá próxima vez façam exatamente o que eu disser.
Miguel caminha até o centro do corredor e fica olhando para os lados para ver se consegue ver alguma movimentação. Mas não há nada, apenas o silêncio. Então ele olha para elas e diz:
— Vamos ficar naquela loja de colchões esta noite. Tenho comida e água aqui na mochila, então não precisaremos nos preocupar com isso por hoje. A nossa única preocupação será vigiarmos durante a noite. — ele continua explicando o que tem em mente e segue em direção a loja. — O que eu proponho é nos alimentarmos agora, olhar o ferimento da Ane e vocês duas irem dormir enquanto eu fico de vigia. — ele olha no relógio e continua, — Agora são oito e meia, então uma de vocês teria que acordar às três horas e assumir o posto. Alguém? — pergunta ele enquanto Anane destranca a porta da loja.
— Eu. — responde Raguel. — A Ane precisa descansar, então amanhã ela fica de vigia. Vamos dar um descanso para ela.
Eles entram na loja e Anane tranca a porta. Miguel acha mais conveniente antes de qualquer coisa cuidar do ferimento de Anane, ele pede para olhar e ela mostra o ferimento que há nas costas. É apenas um corte não muito profundo, Raguel limpa a ferida e faz um curativo. Seu tornozelo está bem, foi apenas uma leve torção. Após isso eles se alimentam e Miguel assume seu posto de vigia. As garotas deitam nas camas e alguns minutos depois adormecem.
Miguel fica caminhando de um lado para o outro segurando sua espada e a girando no ar. — Que sensação estranha. Com essa escuridão parece que estou sendo vigiado. Ah, droga, porque estou pensando nisso. — Ele então senta em uma cadeira e fica esperando as horas passarem.

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