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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um Mundo em Caos - 06

        Conforme vai passando o tempo Miguel sente cada vez mais o peso do sono e do cansaço tomar conta de seu corpo. Mas ele sabe que precisa agüentar mais um pouco, não por ele, mas pelas pessoas que agora estão sob seus cuidados. E não falta muito para as três horas, apenas mais alguns minutos.
Então Miguel olha para as garotas e pensa: — Preciso permanecer acordado. Prometi para mim mesmo que as protegeria de qualquer coisa — ele levanta e caminha até a porta de vidro. — Por muito tempo na minha vida pensei incontáveis vezes que seria um nada, mas hoje posso provar para mim e para quem estiver ouvindo meus pensamentos que sim, eu sou alguém. Nesses dois dias que passaram consegui proteger uma pessoa que estou gostando muito de ter próxima a mim e também fui capaz de ajudar a Anane. — ele encosta suas mãos no vidro e olhando para cima continua, — Foi preciso sair daquela casa para começar a acreditar em mim, mas às vezes, ainda sinto um pouco daquela loucura percorrer minhas veias. Sinto vontade de conversar sozinho, ainda consigo enxergar ao meu lado meus amigos imaginários. Mas não preciso mais deles. Tenho pessoas reais ao meu lado. Então por favor, meu Deus, continue me dando forças para continuar seguindo em frente e não deixe esse seu filho fraquejar.
Nisso Raguel acorda com o relógio de Miguel despertando debaixo de seu travesseiro e ainda sonolenta fica tateando para achá-lo. Ela o encontra e então aperta o botão lateral desligando o despertador. — Essas horas passaram muito rápidas, ainda estou verde de sono. — ela senta na cama e esfrega seus olhos para conseguir enxergar melhor na penumbra que permeia o interior do shopping. — Está acordado Miguel? — pergunta.
— Estou sim. — responde. — Mas não sei ainda por quanto tempo.
— Bom, pode ir dormir. Agora eu assumo o lugar de sentinela. ­— fala sorrindo.
— Valeu. — responde Miguel indo deitar.
Raguel senta aos pés da cama e percebe que Miguel já está dormindo. — Coitado. Ele merece um descanso. — pensa. — Mas ficar confinada aqui dentro me causa arrepios. Se bem que lá fora seria muito pior. Pelo menos aqui me sinto protegida perto de Miguel. Ele é uma pessoa tão legal, doce... — ela passa a relembrar dos momentos que passaram juntos, desde o segundo em que se encontraram até o atual momento e com isso boas horas se passam. — Nossa, já está começando a ficar claro.
E nisso, ao erguer o olhar do ponto fixo em que ela havia se focado e passar a percorrer as vitrines das lojas à frente, ela consegue visualizar perfeitamente uma pessoa de manto vermelho e capuz bem próximo de onde eles estão. Essa pessoa está apoiada ao lado de um caixa eletrônico como se a montar vigia sobre cada movimento deles.
Raguel sente seu coração bater aceleradamente e um sentimento de pavor começa a tomar conta de seu ser fazendo-a gritar de forma desesperada.
Seu grito faz Miguel e Anane saltarem de suas camas.
— O que houve? — pergunta Miguel sacando sua espada instintivamente.
Raguel se abraça nele e com sua cabeça encostada em seu peito responde:
— Eu vi uma pessoa.
— Onde?
— Ali. — aponta ela para a vitrine da loja. — Vi pelo reflexo do vidro.
Miguel e Anane percorrem com os olhos o reflexo produzido pela vitrine, mas nada encontram.
— Onde estava exatamente essa pessoa? — questiona Anane.
— Ao lado do caixa eletrônico. — responde Raguel encolhida no colo de Miguel. — Estava usando um manto vermelho e capuz. Não pude ver seu rosto.
— Deve ter sido a sua imaginação, — fala abraçando ela. — isso tende a ocorrer quando estamos estressados ou mesmo com medo. Não há nada lá. Não é, Anane?
— Sim.
— E como está o seu machucado? — pergunta Miguel.
— Melhor, não está mais doendo.
— Mas eu tenho certeza do que vi. — fala Raguel. — Ele estava lá.
— Nós olhamos e não havia nada lá. Mas me deixe levantar para olhar direito. — ele levanta e o filhote pula para cima da cama e fica sentado ao lado de Raguel. — Vou te convencer de que não havia nada lá.
Ele caminha até o vidro da loja e fica olhando para o corredor e ao olhar para a parte de cima, avista um vulto vermelho mover-se velozmente de trás de um quiosque da Wall Street em direção a loja da TIM.
— Merda! — diz ele cerrando os dentes. — Você estava certa, Raguel, acabei de ver um vulto vermelho se movimentar lá para cima. Realmente não estamos sozinhos aqui.
— E o que vamos fazer? — pergunta Anane.
— Não sei. Mas precisamos nos certificar o que ou quem está realmente nos observando. — diz pegando a espada em cima da cadeira. — Abre à porta Anane, eu vou dar uma verificada. E vocês ficam aqui. Não quero ninguém me seguindo. Entenderam?
— Sim. — responde Anane abrindo a porta.
— Tenha cuidado, por favor. ­— fala Raguel abraçando o filhote.
— Pode deixar, — fala saindo pela porta. — vou me cuidar.
Miguel sorri para Raguel e segue em frente. Ele ergue a espada até a altura dos ombros e segue corredor acima caminhando vagarosamente. Ele chega ao corredor da loja TIM, olha para os lados e não avista nada. Há esta hora, a luz já adentra o shopping e o ilumina perfeitamente, — Está tão claro aqui dentro que me faz pensar se não é essa situação que nos está fazendo ver coisas que não existem? — pensa ele. Então após um suspiro profundo volta a seguir corredor acima.
 Nisso, o som de pratos quebrando ao cair ao chão corta o silêncio do ambiente fazendo ecoar seu som por toda a extensão do shopping. Miguel então percebe que o eco vem mais forte em direção da praça de alimentação e sussurrando diz: — Agora eu pego você seja quem for.
Ele sai correndo pelo corredor e ao chegar à praça de alimentação não avista ninguém. Então segue caminhando por entre as mesas e olhando para cada corredor formado pela disposição das mesmas. Sem perceber, ele acaba por chutar levemente um prato que estava partido em pedaços, mas que gera um som desagradável. ­— Droga! — pensa ele. — Isso é hora para ser desastrado? Mas seja lá o que for que esteja nos espionando passou por aqui. Aquele barulho só pode ter vindo desse prato.
Ao erguer seu olhar em direção a frente ele vê uma pessoa extremamente alta utilizando um manto de cor vermelho sangue sair de trás da pilastra há alguns passos a sua frente. Seu rosto está coberto pelo capuz deixando apenas parte de sua face aparecendo, exatamente sua boca onde é possível notar sua espessa barba. Miguel dá um passo para trás e o homem vira-se para ele. E nisso, outros dois surgem de trás de outras pilastras frustrando qualquer tentativa que fuga que pudesse haver. Eles também utilizam mantos com capuzes, porém, as cores de suas vestes são negras como a noite. E o que os diferencia além de suas estaturas são os detalhes em suas roupas. Um deles possui de cada lado dos ombros uma cruz branca e o outro uma cruz vermelha que percorre toda a extensão de seu capuz.
Miguel ergue sua espada, mas sente seu corpo querer paralisar, seu coração parece querer sair do peito com a violência que cada batimento reproduz. O medo insiste em tomar conta de seu corpo, seu olhar antes aventureiro agora se torna o olhar da caça ao ver-se encurralada por seu caçador. Então uma gota gelada de suor escorre por seu rosto e parece levar uma eternidade até atingir o chão. O homem de manto vermelho então sorri e lança-se em sua direção, Miguel nada pode fazer além de tomar a mesma atitude. E ao se aproximar o suficiente, gira a sua espada no ar e golpeia o homem em seu flanco esquerdo, — Consegui! — comemora olhando para cima. A altura de Miguel é quase desprezível perto da altura de seu adversário, que deve facilmente passar dos dois metros de altura. E Miguel tendo apenas um metro e setenta e um de altura sente-se pequeno perto da muralha que enfrenta.
Quando ele faz o movimento para puxar a espada sente como se ela estivesse presa ao corpo do homem. Então ele tenta novamente e vê sangue escorrer pela lâmina da espada, — Feri ele mesmo. — pensa. Mas o homem então sorri para ele arreganhando sua bocarra e deixando amostra seus dentes amarelados. E sem que Miguel tenha a menor chance de se defender, é golpeado em seu flanco direito e esquerdo pelos outros dois homens. Ele sente seus punhos rasgando a carne de seu corpo e cai de joelhos ao chão cuspindo sangue. E o homem a sua frente o golpeia com um chute no rosto fazendo-o sair rolando pelo chão.
— Ahhhh que dor!!! Meu Deus!!! — grita Miguel ao sair rolando pelo chão. Seu olho esquerdo sangra em profusão e ao olhar para frente com seu olho direito, vê o homem distanciar seu braço do corpo e a espada cai ao chão. E ele então entende porque a espada parecia estar presa: o homem a segurou forçando o braço contra o corpo impedindo que ele a puxasse de volta.
Então o homem que possui a cruz vermelha desenhada sobre o capuz caminha até Miguel e o ergue pelo pescoço. Os outros dois se aproximam e o de manto vermelho diz:
­— Agarrem-no pelos braços. Vou dar uma lição que ele jamais esquecerá.
Os dois homens de manto negro agarram Miguel pelos braços e o erguem. E o que ordenou sorri e prostrasse perante eles e começa a golpear Miguel com socos nos flancos e diafragma. Cada golpe faz Miguel expelir sangue pela boca que se espalha pelo chão. E por último, desfere quatro socos em seu rosto fazendo Miguel desmaiar.
E nisso, o som dos golpes é silenciado e um homem grisalho com uma cicatriz sob seu olho direito e usando um manto vermelho com uma enorme cruz branca percorrendo toda a extensão frontal de suas vestes adentra a praça de alimentação a passos imponentes. O silêncio é cortado por sua voz rouca e firme que diz:
— Astaroth, o que significa isso?
— Uma pequena punição a ele Mestre. ­— responde o homem de manto vermelho sangue.
— E vocês dois participaram disso. — fala o Mestre olhando para os outros dois. — Baallberith, você sabe como eu detesto violência gratuita.
— Mas Mestre, ele mereceu isso no momento em que pôs suas patas imundas em nosso santuário. Nós deveríamos matá-lo agora. — responde o homem com a cruz vermelha sobre o capuz. — Não concorda comigo, Yekun?
— Sim. — responde o outro homem. — Mas devemos obedecer às palavras do Mestre. O que ele disser é o que faremos. O Mestre é a verdade e a justiça nesse mundo.
— Obrigado Yekun. E o que faremos é levar esse homem até seus companheiros e façamos eles se entregarem pacificamente. Não quero mais saber de violência na minha santa casa.
— Maldito Asmodeu. — pensa Astaroth, dizendo em seguida: — Certo Mestre faremos como o Senhor desejar.
— Os estarei esperando na praça central. Agora vão.
Astaroth agarra Miguel pelos cabelos e o arrasta pelos corredores. Quando estão bem próximos da loja onde as garotas estão ergue Miguel no ar e o arremessa contra o vidro. Miguel se choca violentamente contra o vidro o manchando com seu sangue. Raguel ao ver Miguel cair desfalecido ao chão grita desesperadamente chamando por ele, mas seu corpo permanece inerte, o que faz com que ela entre ainda mais em desespero e passe a socar os vidros com toda a sua força. Suas mãos começam a se ferir com cada golpe dado e seu sangue passa a marcar cada soco que ela desfere. Seus olhos derramam lágrimas cada vez com mais intensidade. Então Baallberith surge caminhando com uma marreta e golpeia o vidro o quebrando e atingindo Raguel, que é jogada para trás e cai desmaiada sobre a cama com sua cabeça sangrando.
— Havia outra garota além dessa. — fala Yekun. — Quando eles chegaram eu pude ver claramente que eram três pessoas.
— Então olhe debaixo das camas, eles adoram se esconder assim. — ordena Astaroth.
Yekun se abaixa e olha por todas as camas e nada vê, — Ela deve ter saído daqui e deixado esta sozinha. — então ele se levanta e agarra Raguel a colocando sobre o ombro. — É querida, você foi traída por sua amiguinha. Enquanto ela se safou você ficou aqui.
Os três saem dali carregando Miguel e Raguel. Eles chegam até a entrada do shopping que no seu centro possui vários bancos de madeira dispostos de forma a criar um quadrado que lembra muito uma praça. E um pouco afastado há algumas jaulas que provavelmente serviam para prender animais não muito grandes. O Mestre caminha até eles e ordena que prendam os dois em jaulas separadas. Yekun informa sobre a outra garota e ele manda que a procurem e levem ela até ele, — Traidores merecem uma morte mais lenta, por isso quero que a tragam até mim. — diz ele quando questionado por Astaroth.
Astaroth e Yekun jogam os dois dentro das jaulas e as trancam com grandes cadeados e saem à procura de Anane. Miguel está bastante machucado e seus ferimentos ainda sangram. E ele balbucia algumas palavras falando da final de um jogo de futebol, provavelmente está delirando devido aos ferimentos causados a seu corpo.

5 comentários:

  1. nossa cara ta ficando demais
    vc escreve muito bem Parabens pela história

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  2. Obrigado.

    E tem muita coisa boa pela frente. Amanhã já saíra um novo capítulo.

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  3. Caraca maluko muito bom so achei estranho esse pessoal novo,sao o que? templarios rsrsrsrs mesmo assim ta otimo,sai o capitulo novo a que horas amanha ?

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  4. Não são Templários (que por sinal acho foda!), mas nos próximos capítulos será explicado o que eles são. Mas o que posso adiantar é que é algo que surgiria no caso de uma catastrofe como essa.

    Tá programado para as 15:40 de amanhã e segunda-feira no mesmo horário sai outro capítulo. Serão dois capítulos um pouco diferentes, com uma abordagem remetendo ao passado do Miguel.

    Achei bem legal escrever. Queria mostrar ele num mundo normal. Mas não pense que é parado. É bem agitado.

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