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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Um Mundo em Caos - 09


A noite cai sobre Canoas e a lua toma conta do céu banhando o interior do shopping com sua luz. Que apesar de pouca, consegue iluminar o local onde se encontram as jaulas que prenderam Miguel e Raguel.
Miguel então salta dentro da jaula e acorda falando sozinho, falando de seus amigos, sobre ter revivido um dia de sua vida através de um sonho. Raguel o vê acordar falando frases que para ela não fazem sentido e então pergunta:
­— Está tudo bem?
— Raguel? Acho que sim. — responde. — Mas meu corpo dói. — então ela passa a mão sobre seu olho ferido, — Ai. Espero ainda enxergar desse olho um dia. — então olhando para Raguel pergunta: — Eles machucaram você?
— Não. Eu estou bem.
— E a Anane? Cadê ela? — pergunta se arrastando para mais perto das grades onde fica bem próximo a Raguel.
— Ela conseguiu se esconder. — responde.
— Onde? — pergunta curioso.
— Ela se escondeu entre as madeiras dos boxes, você pode olhar que não vê ninguém. É preciso entrar debaixo e olhar para cima para ver ela. Ela ficou lá junto com o filhote.
— Esperta. Foi idéia dela?
— Minha. Pensei que se pegassem você, viriam atrás de nós e alguém teria que ficar para nos tirar dessa enrascada. Depois que você saiu, eu pude ver o vulto de outros dois saindo de uma loja bem em frente e então tive essa idéia.
— Só espero que isso dê certo e ela ao menos tente nos tirar daqui. E afinal, o que são essa gente?
— Não faço a menor idéia. Nunca vi nada igual. Parecem monges.
— Mas monges não saem por aí espancando as pessoas. — então Miguel olha para a testa de Raguel e consegue ver um corte bem próximo a região capilar, — Ei, sua testa está machucada.
— Isso? — responde passando a mão. — Quando um deles quebrou o vidro com uma marreta ela me atingiu e então não me lembro de mais nada. Deve ter sido nessa hora.
— Malditos! O que querem com a gente? E porque nos prenderam que nem animais?
Nisso, eles vêem um deles se aproximando. Ele é baixo e está usando um manto branco e capuz escondendo seu rosto. Ele se aproxima e diz em voz baixa:
— Vocês estão bem?
— Hummm?! Essa voz. — pensa Miguel. — Porque quer saber! Nos aprisionam e vem perguntar se estamos bem?
— Se liga caipira! Sou eu! Já foi difícil encontrar alguém da minha estatura e você ainda dificulta as coisas.
— Como? — indaga Miguel.
— Não tenho tempo para explicações. Apenas me ouçam. Eu vou tentar encontrar a chave. Então não façam nada e muito menos tentem medidas desesperadas. Preciso ser rápida antes que encontrem o corpo do cara que usava essa roupa.
— Claro. — responde Raguel. — Vou segurar o ímpeto do Miguel. — Apenas nos tire daqui, Ane.
Anane se levanta e de repente Astaroth aparece caminhando a passos rápidos. Ela olha para ele e seu corpo congela. Nesse momento ela pensa que tudo que falou para eles foi perdido. Se sente derrotada. Ela então baixa a cabeça e Astaroth diz:
— A encontrou, Gadrel?
                Anane apenas movimenta a cabeça fazendo sinal de negativo. Astaroth se aproxima dela e completa: — Se a achar quero que a traga para mim, entendeu?  Não a leve para Asmodeu. E isso é uma ordem. — Anane sacode a cabeça fazendo sinal de positivo. — Você está um tanto estranho, Gadrel. Já lhe falei que fazer penitências para espiar seus pecados iriam lhe deixar louco. Agora vá.
Anane sai caminhando a passos rápidos e desaparece em uma das esquinas. Astaroth então se aproxima da jaula de Miguel e sorrindo diz:
— Pobre homenzinho de barro, filho de Adão, vocês se acham superiores a nós só porque são os preferidos Dele. Mas eu digo que o reinado de vocês sobre a Terra acabou. Chegou a nossa vez de caminhar sobre ela e nos revelar ao mundo. — ele dá um soco em cima da jaula e continua, — Cansamos de viver nas sombras. Agindo por trás das cortinas. Em poucas horas o seu fim e o dela chegarão. E aquela sua amiguinha, vai aprender a não se esconder de nós. A tudo enxergamos. Ninguém escapa de nossos onipotentes olhos.
— Veremos. — sussurra Miguel.
— Pobrezinho. Já está delirando. — fala Astaroth saindo caminhando.
Quando ele desaparece nas sombras, Raguel olha para Miguel e reprovando sua atitude diz:
— Você ficou louco! Quer colocar tudo por água abaixo!
— Não enche! — fala Miguel visivelmente irritado.
— Eu ainda não tinha visto esse seu lado, e não estou gostando nenhum pouco.
— Como você quer que eu seja? Hummm? Eu estou preso numa jaula! Quer que eu dê cambalhotas e fique sorrindo o tempo todo? Estou me sentindo um animal. Meu corpo dói, devo estar com minhas costelas quebradas devido à dor que estou sentindo e ainda preciso agüentar você reclamando? Não, me poupe de seus discursos.
— Miguel... — sussurra Raguel com seus olhos enchendo de lágrimas.
— Eu devia ter ficado na minha casa, lá eu estava seguro! Se não tivesse encontrado você eu estaria muito bem!
— Não diga isso. — fala Raguel chorando. — Você foi à melhor pessoa que eu já conheci, porque está agindo assim?
— Não vou repetir, tá?  — fala ele gesticulando. —Você não vai conseguir.
Raguel se encolhe num canto longe de Miguel e fica chorando. Então ele olha para ela e com o semblante entristecido pensa: — É melhor assim, se a Anane nos soltar quero você bem longe de mim. O que vou fazer não quero que você veja. Seus olhos são puros de mais para me ver perdendo o controle, pois sei que vou adorar. Vou morrer também, mas vou levar ele comigo. — Então Miguel se encosta nas grades e baixa sua cabeça e volta no tempo. Lembrando o que aconteceu no dia posterior ao sonho que teve e acaba por adormecer.
... Os pais de Miguel chegam de viagem e o encontram sentado no sofá assistindo o vídeo da partida da final nacional. O pai de Miguel é um homem alto, grisalho e de 50 anos de idade. E sua mãe não é muito alta, possui longos cabelos castanhos escuros e tem 40 anos.
— E aí filhão, como foi o jogo? — pergunta o pai dele.
— Campeões nacionais!!!
O pai dele o agarra pelo pescoço e diz:
— Eu não te falei!!! Apesar de eu torcer pelo outro time sabia que vocês seriam os campeões! Meus parabéns, moleque!!!
— Valeu!!!
A mãe dele dá um beijo em seu rosto e diz:
— Você jogou muito bem meu filho! Eu pude ver o jogo, pena que seu estava numa reunião e perdeu o espetáculo que você proporcionou aos torcedores. Você é um anjo de chuteiras.
— Obrigado mãe, nem sei o que dizer.
Então o pai dele interrompe dizendo:
— Mas não esqueça que agora você tem a universidade para se dedicar também. Faça meu investimento valer à pena, hein?
— Pode deixar! Depois de vencer esse campeonato a facul é fichinha.
— Não vai pensando que é fácil assim, não. E mais uma coisa, duvido que não houvesse ninguém lá te observando de algum outro time ou mesmo do exterior. Dizem as más línguas que o England Patriots está precisando de um bom Running Back, e eu sei que você faz milagres no gramado.
— Ah pára, pai, não viaja, bem capaz que eles iriam me querer. Sou brasileiro, não tenho futuro lá. E por enquanto vou me dedicar ao meu time e se aparecer algo o senhor pensa a respeito. Afinal, é isso que os empresários fazem.
— Vou pensar, sim.
— Bom pai, to indo pro quarto, qualquer coisa dá um grito. — Miguel sobe as escadarias e vai para o seu quarto que fica no segundo andar.
Então a mãe dele diz:
— Que maldade, Tomas, porque não contou para o menino?
— Não, Asonia, espere mais um pouco, ainda preciso rever umas clausulas. Quero total segurança para o nosso filho.
Então um dia se passa e Miguel está caminhando pelas ruas de Porto Alegre, para ser mais exato, nas mediações da estação Rodoviária, segurando um buquê de rosas. Possivelmente indo em direção ao centro da cidade. Pois sua cidade é Esteio, ficando um pouco mais ao norte. Mas mesmo caminhando uma distância considerável, ele está sorrindo, sorrindo como se estivesse indo ao encontro da mais bela das mulheres. E a cada rua e esquina que ele passa, seu sorriso aumenta cada vez mais, parecendo um misto de alegria e euforia.
— Tomara que ela goste das rosas... — pensa ele um pouco apreensivo, mas ao mesmo tempo inundado de alegria. — Foram as mais lindas que eu achei. Nem sei como a mãe conseguiu fazer um buquê tão lindo com o que tínhamos em casa. Tudo parece um sonho. E a Jennifer um sonho maior ainda! A mãe estava certa, ela é a garota dos meus sonhos!
Enquanto ele caminha pelas ruas, duas viaturas da polícia passam por ele em alta velocidade em direção ao centro. E ultimamente, isso é algo comum nesta grande cidade.
— Porque eu não peguei um ônibus? — pensa. — Chegar ao centro da cidade é tão demorado. Bem que o pai avisou que eu iria me atrasar. Até falou que eu poderia usar a Mercedes, mas ainda acho que chego antes da Jenny, só preciso apertar o passo e economizo uns trocados pro sorvete.
Alguns minutos depois, ele chega ao ponto de encontro e sua garota está lá.
— Você demorou. — comenta Jennifer. — Achei que não gostasse mais de mim?
— Jamais! Você é o brilho dos meus olhos!
— Então quer dizer que a nossa ida ao maior shopping da nossa cidade ainda está de pé, né, Miguel?
— Com certeza! Mas antes eu preciso ir ao banco pegar um dinheiro.
— Achei que você tivesse trazido.
— Essa cidade é muito perigosa pra andar com dinheiro por aí. Mas posso te pagar um sorvete no caminho. O que acha?
— Eu vou adorar!
— Mas antes, tenho uma coisa pra lhe dar.
— O quê?
— Isso. — fala Miguel entregando o buquê de rosas. — Gostou?
— Amei!!! — fala Jennifer segurando o buquê. — São lindas!!!
­— Mereço um beijo, não?
­— Merece. — fala Jennifer o beijando.
Os dois saem caminhando e cruzam por pessoas de todas as classes e estilos. Por prédios de diferentes arquiteturas e tamanhos. É uma cidade convidativa ao passeio, pois sua forma, seu povo, sua alegria com todo o tipo de apresentações de rua a torna única.
— Olha Miguel! — fala Jennifer apontando para um pequeno carro parado no acostamento de uma rua. — O carrinho do sorvete!
— Vamos lá!
Os dois caminham até o carrinho do sorvete e ele compra dois cascões de morango e chocolate, um para ele e outro para ela.
— Você conhece bem os meus gostos, hein? Sabe que gosto de morango.
— É que eu fiz a lição de casa. Heheheh... ­— riem os dois.
Então eles saem em direção ao banco da cidade que não fica muito longe de onde os dois estão. E pelo caminho, Miguel é cumprimentado por muitas pessoas que estiveram no jogo, palavras de apoio, abraços e até um beijo no rosto ele recebeu. Coisas simples, mas que o deixaram ainda mais feliz.
— Estou tão feliz de estar aqui com você! — fala Jennifer sorrindo para Miguel. — Nem parece que finalmente estamos juntos. Cada vez que saímos juntos parece à primeira vez. É sempre o que eu sinto.
Miguel sorri e diz:
— Eu me sinto igual! É como um sonho!
— Então me dá um beijinho para comemorar. — fala Jennifer fechando os olhos.
Miguel a beija e nisso alguém dá um tapa em suas costas, Miguel vira-se e é Gabriel, um de seus grandes amigos.
— E aí, cabeçudo, curtindo as férias? Oi Jenny.
— Oi. — cumprimenta Jennifer.
— Tem que ser, curtindo as férias com essa pessoa linda ao meu lado.
— Finalmente. — fala Gabriel. — Pensei muitas vezes quando você ia deixar de ser cego e perceber ela do seu lado.
— Deixei de ser cego depois do jogo. Ei, — fala Miguel olhando para uma banca de revistas, — Será que já saiu à nova edição da Dragon Slayer?
— Não sei, cara, vamos lá olhar.
— Vocês meninos e suas brincadeiras.
Os três atravessam a rua e procurando pela revista, Jennifer acaba por pegar o jornal e chama os dois: — Vejam isso aqui.
— O quê? — pergunta Miguel. — Caramba. Vi ontem à noite pela televisão os comentários, mas não achei que tivesse sido assim.
— Tenso, cara. — comenta Gabriel. — Mas olha a outra notícia, agora estamos sendo atacados por grupos canibais também. Onde isso tudo vai chegar?




          
         — O mundo fica cada dia mais louco. — fala Jennifer.
— Pois é. — fala Gabriel. — Bom, galerinha, tenho que ir nessa. Fiquei de encontrar a Lúcia, ela pediu umas dicas de musculação e eu vou acompanhar ela na academia.
— A gente se fala outra hora então. Ou então liga para o Rafael e marca um jogo de RPG, e aí me dêem um toque que eu apareço.
— Falou. Tchau pro cês.
Gabriel vai embora e Miguel e Jennifer passeiam pela cidade até chegar ao banco e nisso, dois homens usando roupas de cor preta passam pelos dois e impedem a entrada das pessoas no banco.
— Ei, qual é? — reclama Miguel.
Mais três homens chegam e junto com eles alguns policiais que entram no banco com armas em punho.
— O que está rolando aí? — pergunta Miguel.
— Alguns clientes que enlouqueceram e estão atacando as pessoas lá dentro. Por isso ninguém pode entrar.
                E então tiros são dados dentro do banco e alguns minutos depois um policial sai e pede que não deixem ninguém entrar. E do meio da multidão que se formou em frente ao banco um homem louco salta em cima de Jennifer.
— Cuidado Jenny!!! — grita Miguel a abraçando e acertando uma cotovelada na cara do homem que cai no chão grunhindo.
Um policial se aproxima e o homem o agarra pelo pé e outro policial atira duas vezes em sua cabeça.
— Não!!!! ­— grita Jennifer desesperada largando o buquê de rosas que cai ao chão.
Miguel está abraçado nela de costas para o lado de onde vem os tiros e nas suas costas respingam sangue da cabeça do homem.  Então o policial chuta o homem e diz:
— É assim que se acaba com eles.
No chão, espalhado entre as rosas estão pedaços do cérebro do homem junto ao seu sangue. Alguns minutos se passam e o som da sirene das ambulâncias misturado com o som das viaturas da policia já podem ser ouvidos e Miguel diz:
— Vamos embora daqui.
Miguel olha nos olhos de Jennifer e então toda a demonstração de força que ela tentava expor vem abaixo e lágrimas caem de seus tristes e amargos olhos. Que antes eram mais brilhantes que o raiar do sol e que agora se tornaram mais escuros que uma noite de tempestade. Jennifer está aparentemente em choque. Então uma senhora se aproxima dos dois e olhando para Miguel diz:
— Me acompanhem, essa mocinha precisa se recuperar do que passou.
Jennifer é levada para o hospital Moinhos de Vento onde ela é tratada por uma médica muito bondosa. E durante todo o tempo que permanece no hospital sendo tratada e também no trajeto, em nenhum momento ela solta a mão de Miguel.
Eles ficam mais um tempo no hospital e o pai de Jennifer vai buscá-la. Mas como ela não quer sair de perto de seu namorado, o pai dela não vê outra alternativa senão aceitar o que sua filha deseja e leva os dois para a casa de Miguel. Chegando lá ele conversa com os pais de Miguel e diz que no caso de precisarem de qualquer coisa é só ligarem para seu celular. Eles se despedem e Miguel leva Jennifer para seu quarto. Ela pergunta se ele tem velas e ele responde que sim, então ela pede e ele entrega o pacote para ela. Jennifer então acende duas velas e se ajoelha rezando para seu anjo protetor. Após um banho rápido, os dois se deitam e ela adormece abraçada em seu amado. O cansaço tomou conta dos dois de uma maneira que eles simplesmente não acordaram uma única vez durante a noite. E assim não puderam acompanhar a tragédia que aconteceu enquanto à noite imperava sobre a cidade.
O dia amanhece e Miguel acorda com seu televisor ligado no Bom Dia Rio Grande.
— Que horas são?
— Sete horas. — responde Jennifer.
— É muito cedo, volta a dormir. — fala ele tapando a cabeça.
— Olha o que está dando no noticiário, Miguel.
— Mal meus olhos ficam abertos.
E no noticiário:
...durante a madrugada, o Hospital Moinhos de Vento  teve seu terceiro andar completamente destruído pelas chamas que tiveram início as duas horas. — fala a apresentadora do telejornal com uma expressão de tristeza. — E parece não haver sobreviventes...
— Que loucura. — fala Miguel. — Não é o andar para onde levaram as pessoas que foram atacadas dentro do banco?
— Sim. — responde Jennifer.
— Sinistro.
E o noticiário continua:
...as buscas tiveram início logo que o fogo foi controlado pelos bombeiros as três e meia. Mas apenas corpos carbonizados foram encontrados. As esperanças de encontrar algum paciente vivo são remotas e...
— Amor, vamos dormir. — fala Miguel abraçando Jennifer. — Já passamos por muita coisa ontem. Sei que você fica triste com essas coisas, eu também fico, mas é melhor você descansar. A gente assiste depois no Jornal do Almoço.
— Tá bom. — fala Jennifer desligando o televisor. — Te amo, sabia?
— Também te amo. Me abraça forte...
Nisso, Miguel é acordado de seu sonho a chutes por Astaroth. Este então agarra Miguel pelas pernas e o puxa para fora da jaula. Raguel acorda e grita para que ele solte Miguel. O homem sorri e diz:
— Calma, a próxima é você.

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