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Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um Mundo em Caos - 11


— Precisamos olhar esse ferimento no seu peito. Ele continua sangrando. — fala Raguel.
— O ferimento pode esperar. Segue em frente que eu me viro aqui.
Miguel tira a camisa, a dobra e a pressiona contra o peito. Os dois continuam seguindo pela Avenida Guilherme Schell e Raguel quebra o silêncio dizendo:
— Ela mal nos conhecia e se sacrificou pela gente. Gostaria de ter conhecido mais ela, conversado mais com ela.
— Isso não importa mais. — fala Miguel. — Ela confiou em nós quando a salvamos. E eu prometi que iria proteger vocês duas e não consegui salvá-la. Eu fracassei. Que ótima pessoa eu sou, não?
— Não se sinta culpado, acredito que ela não iria gostar disso. — segurando a mão de Miguel. — Não havia nada que se pudesse fazer. Se não fosse por ela todos estaríamos mortos.
— Não é isso. — fala colocando as mãos no rosto. — Houve outra pessoa que prometi proteger e também falhei. Vi esta pessoa morrer em frente aos meus olhos.
— Quem?
Miguel permanece alguns segundos em silêncio, suspira alto e então responde:
— Minha namorada... Jenny.
— Sinto muito.
— Não há porque, você não a conhecia.
— Ahn... e como aconteceu? — pergunta. — Mas se não quiser responder eu vou entender.
— Respondo sim. Preciso falar para alguém. Ficar guardando isso somente para mim está me corroendo por dentro como um câncer em estágio final. Então... — suspira, — eu a vi morrer quando ainda tínhamos internet. Estávamos conversando via MSN e então ela precisou ver alguma coisa no quarto e... de repente ouvi barulhos estranhos e então ela gritou tão alto. Um grito de pavor. E então um grito de dor e sangue voou na lente da webcam e tudo silenciou. Caiu a conexão e não voltou mais. Por uma semana fiquei esperando por ela. Um sinal que fosse. E então no oitavo dia desisti. Me conformei.
— Eu realmente não sei o que dizer para lhe confortar. Me desculpe.
— Não esquenta. — fala, e para fugir do assunto, diz: — Só nos resta agora seguir o plano inicial. Mesmo que seja à noite.
— Você quer ir atrás dos seus amigos?
— Sim. Eu sei o quanto falei dos perigos de andar a noite, mas não há outra alternativa. Não sei onde poderemos nos esconder e ficarmos parados no mesmo local não é a melhor das alternativas. Então vamos seguir em frente.
— Ok. Só me diz as coordenadas.
— Certo. Assim ocupo a minha cabeça com outras coisas.
Eles seguem adiante e Miguel mostra a ela o caminho a ser seguido. Quando chegam ao centro de Canoas ela sobe a rua do colégio Auxiliadora e contornando a quadra, segue a Rua Dr. Barcelos que fica mais abaixo. Eles estranham a cidade estar tão vazia naquele ponto. Não haver carros parados no meio da rua ou mesmo capotados ou queimados como viram quando seguiam pelo centro da cidade.
— Parece que houve uma evacuação coordenada nessa parte da cidade. Mas o mais estranho é não haver mortos perambulando por aqui.
— Pra onde será que foram levadas as pessoas que residiam por aqui?
— Não faço a menor idéia. Mas se estão num lugar seguro, isso é o que importa.
Continuam seguindo em frente e então chegam ao viaduto da Independência, atravessam para o outro lado da cidade e Miguel diz para ela seguir a direita numa rua paralela a Avenida Getúlio Vargas. Seguindo este caminho eles irão cruzar o bairro Fátima.
A cada avanço a imagem começa a mudar e a destruição passa a ditar o caminho deles. Alguns mortos-vivos em pontos isolados passam a surgir.
— Estamos entrando em território hostil. — fala Miguel olhando para o banco traseiro. — Ela trouxe até a minha mochila. Obrigado onde quer que você esteja. — ele pega a mochila e tira de dentro dela um revolver calibre quarenta e cinco. — Agora você vai ser o meu parceiro. Sem minha espada você é a segunda alternativa.
Raguel olha para ele e espantada pergunta:
— Da onde você tirou uma arma? A roubou?
— É claro que não. — responde rapidamente. — Esta arma, uma Smith & Wesson modelo 1917, em calibre .45ACP, é herança de família. Pertenceu primeiramente ao meu avô, Pedro Martinez, em 1937. Depois passou para o meu pai e na ausência dele ficará comigo.
— Interessante. Desde que ela funcione, tá bom.
— Ela funciona, sim.
Eles atravessam o bairro Fátima e chegam ao bairro Niterói. Que é o bairro de Canoas que faz divisa com Porto Alegre. Miguel dá as coordenadas para Raguel e ela segue por uma rua vertical a qual estavam seguindo.
— E aí, estamos muito longe ainda? — pergunta ela.
— Não muito... — responde. — Entra nessa rua a direita. — ela entra na rua e se depara com uma horda de zumbis. — Paca, cutia, tatu não!
— O quê?! Isso foi um código? — pergunta ela.
 — Não. Apenas uma forma de me expressar pra atual situação.
— Que bom. E o que faremos?
— Dá a ré e continua subindo a rua, entramos na próxima.
Ela faz o que Miguel disse e a próxima rua não está tão cheia de zumbis. Apenas alguns que são facilmente atropelados.
— Na próxima você entra à direita e desce até mais ou menos metade da quadra. Mas vai devagar.
Conforme vão avançando, mais e mais zumbis vão aparecendo.
— Essas criaturas podem ser burras, mas não são tão estúpidas assim. — fala Miguel. — Tem pessoas aqui. O número deles é muito grande para não haver alimento aqui.
Os zumbis se batem contra o carro e arranham a lataria com suas unhas podres. Então Miguel avista duas grandes árvores e diz:
— É ali, a casa do Rafael.
Raguel estaciona o carro no meio da rua e os zumbis começam a caminhar na direção deles.
— Não podemos ficar muito tempo parados aqui. — comenta Raguel. — O que vamos fazer? Descer e olhar?
— Se descermos, viraremos jantar com certeza. Vou ter que arriscar outra alternativa. Barulhenta, mas vai ser o jeito. Abre o teto-solar.
Raguel aperta o botão e o teto-solar se abre. Miguel joga a camisa no assoalho do carro e se ergue ficando em pé com mais da metade do seu corpo para fora do carro. Ele aponta a arma para a cabeça de um zumbi que está bem próximo deles e diz:
— Vamos ver do que vocês são feitos. — e aperta o gatilho.
O tambor da arma gira e a agulha atinge a cápsula fazendo está gerar uma reação interna e então liberar o projétil que toma o rumo que Miguel havia mirado. A cabeça do zumbi simplesmente explode quando é atingida pelo projétil. Pedaços do seu cérebro voam no pára-brisa.
— Eca. — fala Raguel.
O barulho gerado pelo disparo faz com que os zumbis que estão nos arredores tomem o rumo em direção a este. Miguel então derruba mais dois zumbis estourando suas cabeças. Ele parece se divertir com o que está fazendo.
E nisso, de cima da árvore salta um homem segurando uma barra de ferro. E ele está usando roupas escuras e uma máscara de hockey.
— Se querem chamar a atenção, essa com certeza não é a melhor forma. — sua voz sai abafada devido à máscara.
Ele golpeia alguns zumbis na cabeça, rachando seus crânios.
— O que vocês querem?
— Estou procurando meus amigos. — responde Miguel. — Um deles reside nessa casa. — e então dá dois disparos derrubando mais dois zumbis.
— Qual o nome de seu amigo? — pergunta o homem golpeando outros zumbis.
— Rafael Morgan
— Não conheço. É melhor vocês irem embora daqui.
— Mas eu conheço e você também o conhece, Gabriel.
— Miguel. Sempre você. — ele então dá dois assovios curtos.
O portão se abre e Gabriel diz:
— Entrem rápido.
Raguel manobra o carro e entra no pátio. Gabriel entra logo em seguida e dá um assovio curto e o portão se fecha. Miguel abre a porta do carro e caminhando com dificuldades vai ao encontro de seu amigo.
— Você está vivo!
— Sim. — fala Gabriel tirando a máscara.
Miguel o abraça e em seguida desmaia. Gabriel o segura e grita:
— Rafael, venha rápido aqui!
Raguel desce do carro e corre até Miguel.
— Ele desmaiou. — fala Gabriel.
— Vocês tem um kit de primeiros socorros? Eu preciso cuidar urgentemente dele.
— Mas o que aconteceu?
— É uma longa história.
Rafael abre a porta da casa e Gabriel diz:
— Pega o kit de primeiros socorros e leva pra sala. O Miguel tá muito ferido.
— O Miguel?!
— Isso cara, agora vai rápido, meu!
Gabriel pega Miguel no colo e o leva para dentro de casa. O filhote pula do carro e segue Raguel. Eles entram e Raguel fecha a porta. Gabriel deita Miguel no sofá e ao olhar o ferimento no peito de seu amigo diz:
— Com quem foi que ele brigou? Isso aqui é um corte de faca extremamente afiada. Parece até um corte cirúrgico de tão perfeita a simetria.
— Foi um cara de uma seita religiosa. Nós entramos anteontem no shopping para passar a noite e fomos atacados.
— Eram apenas vocês dois?
— Não. — responde. — Havia mais uma pessoa conosco, o nome dela era Anane. Deu sua vida para que pudéssemos sair de lá.
— Sinto muito.
Então Rafael volta com o kit, panos e um pequeno recipiente com água.
— Peguei água para limparmos o ferimento dele, seja lá qual for... Meu Deus! — se apavora ao olhar para o corte no peito de Miguel. — O que é isso?
— Tentaram matar o nosso amigo. Uma seita de malucos. — fala Gabriel.
— Desgraçados.
Raguel pega um pano e molha na água e começa a passar no ferimento, o limpando. Depois ela pega álcool e diz para Gabriel: — Segura ele. É provável que ele acorde com o que eu vou fazer. — ela despeja álcool no ferimento e Miguel acorda soltando um urro de dor.
Gabriel e Rafael o estão segurando, mas ele desmaia novamente. Raguel deixa bem limpo o ferimento e pergunta:
— Vocês tem agulha e linha?
— Sim. — responde Rafael.
— Trás que eu vou precisar.
Rafael vai buscar e Gabriel sorri para ela e pergunta:
— Você ajudando meu amigo me faz lembrar uma pessoa muito especial para ele.
— A Jenny... — conclui ela.
— Sim. Ele te contou?
— Sim.
— Deve ter sido barra para ele... Mas a gente está conversando e eu nem perguntei seu nome. Que falta de educação a minha.
— Me chamo Raguel.
— Eu sou o Gabriel e o eunuco aí é o Rafael.
— Tu vai ver o eunuco. — fala Rafael entregando a agulha e a linha para Raguel.
Ela sorri e então ajeita a linha na agulha e começa a costurar o corte no peito de Miguel. Enquanto ela faz isso, ele acorda por duas vezes, mas desmaia em seguida. Alguns bons minutos depois ela termina.
— Agora ele precisa descansar e evitar esforços físicos.
— Onde aprendeu a fazer isso? — pergunta Rafael.
— Assistir Plantão Médico ajudou bastante. — responde ela.
— Essa é das nossas. — fala Gabriel.
— Então moça, — fala Rafael. — não quer descansar um pouco? A gente cuida dele.
— Adoraria. E meu nome é Raguel.
— E o meu o engraçadinho aqui falou antes.
Sorri Gabriel.
— O quarto é a terceira porta a direita. Tenha um bom descanso. — fala Rafael.
— Obrigada. — fala Raguel seguindo em direção ao quarto.
Gabriel tapa Miguel com um edredom e puxa uma cadeira para perto do sofá. Rafael senta ao lado dele e os dois começam a conversar. Raguel fecha a porta do quarto e deita na cama. Ela fica por um tempo olhando para o teto e acaba adormecendo.

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