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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um Mundo em Caos - 16

— Olhos bem abertos. Qualquer movimentação que virem me avisem, por favor. — pedi Miguel com uma voz um pouco mais austera.
Eles continuam seguindo em frente e se deparam com um extenso muro feito com pedaços de madeiras, chapas de ferro e grades. Esse muro se une em cada uma das extremidades a dois pequenos prédios abandonados. Gabriel escala o muro e é possível avistar de longe os destroços do viaduto da Conceição. Alguns prédios ainda permanecem em pé, mas com suas estruturas danificadas. E outros bastante danificados restando apenas a metade do que eram. Porém a maioria virou montanhas de entulhos.
— Estamos bem próximos do centro. — avisa ele. — Alguns minutos de caminhada e chegaremos ao Mercado Público. ­— então salta para o outro lado. — E aí? Vocês vêm ou não? — grita do outro lado.
Eles saltam também e Raguel ao olhar para os lados diz:
— Não imaginei que essa parte da cidade estava tão destruída. Seria praticamente impossível seguirmos de carro daqui para frente.
— Verdade. — fala Miguel. — De um jeito ou de outro teríamos que deixar nossas coisas para trás.
E seguem caminhando.
— Aqueles caras falaram sobre árabes. — inicia uma nova conversa Rafael. — Eu não entendi nada.
— Muito menos eu. — fala Miguel. — Aliás, eu não entendi metade do que eles falaram.
— Eles disseram que você não sobreviveria ao território dos árabes. — comenta Gabriel. — A pergunta que fica é o que seriam esses tais árabes.
— Talvez o que a palavra queira dizer. Sem analogias. — fala Raguel. — Mas tenho que dizer que não faz muito sentido.
— Tá, eles falaram em território. — analisa Gabriel. — Soou como se onde estamos agora fosse controlado por árabes. O que sinceramente não faz o menor sentido como a Raguel falou.
— Pode até fazer. — fala Rafael. — Muitos vêm para cá como refugiados políticos, e podem estar controlando uma parte do que sobrou da cidade.
­— Apenas especulações. — fala Miguel. — Não da para ter certeza de nada. E aqueles caras estavam bem altos.
— Até pode ser que estivessem mesmo, mas acho bom ficarmos de olhos bem abertos por aqui. — alerta Rafael.
— Já estamos. — confirma Miguel. — Desde o primeiro ataque que sofremos aqui. O segundo confirma isso.
Eles chegam aos escombros do viaduto da Conceição e começam a subir para chegar ao topo. A subida é bastante íngreme e traiçoeira. A vários pontos possíveis para se segurar e outros bastante suspeitos. Que não passam confiança.
— Aí pessoal, — fala Miguel olhando para eles. — muito cuidado quando chegarem lá em cima. Então antes de se colocarem avista, vamos dar uma bela olhada para ter certeza que estamos seguros. Beleza? — todos concordam. — E cuidando onde se seguram, se sentirem que não a firmeza procurem outro. Não há pressa.
Eles continuam subindo. Então Raguel se apóia em um osso humano e este se parte a fazendo perder o equilíbrio e cair. Ela sai deslizando escombros abaixo e tentando se segurar em alguma coisa, mas não consegue encontrar nada firme que a segure. Então é segurada pelo braço por Gabriel que se esforça para segurá-la e ao mesmo tempo não perder o equilíbrio e cair também.
— Ungh! Tente encontrar algo firme para segurar. Esse pedaço de concreto não vai agüentar muito tempo.
O pedaço de concreto que Gabriel está utilizando para se segurar começa a trincar e Rafael percebe isso.
— Preciso fazer alguma coisa. — pensa.
Então ele olha um pouco para cima e avista o que parece ser a ponta de uma barra de ferro.
— Achei! — pensa.
Ele então salta até essa barra de ferro e consegue se segurar nela por pouco. Miguel percebe o que está acontecendo mais abaixo e em voz alta diz:
— Precisam de ajuda? Posso descer até aí!
— Deixa comigo. — fala Rafael descendo.
Este se aproxima dos dois e segura Raguel pela outra mão e diz:
— Sobe rápido Gabriel antes que essa porcaria se quebre.
Gabriel sobe mais um pouco e então Raguel encontra um ponto firme para se apoiar e solta à mão de Rafael.
— Muito obrigado pela ajuda. Pra vocês dois. — agradece ela.
— É isso que amigos fazem. — fala Rafael.
Então eles conseguem seguir sem mais problemas e ao chegar ao topo param antes de subir e cada um olha em uma direção para ver se enxergam alguma movimentação estranha. Mas não encontram nada. Aparentemente está tudo tranqüilo. Então eles sobem e Miguel pergunta:
— Está tudo bem com vocês? Raguel?
— Comigo tá tudo certinho. — responde ela. — Não precisa se preocupar.
— E com vocês seus jagunços?
— Firme e forte. — responde Rafael.
— Tranqüilo. — fala Gabriel dando tapas na roupa para retirar o excesso de poeira.
Miguel esboça um sorriso e caminha lentamente até o outro lado da montanha de escombros e ao olhar para baixo fica estarrecido com o que vê. Ele então faz sinal para os outros e eles caminham até ele. Raguel que estava com um leve sorriso nos lábios, muda completamente suas feições saindo da alegria e indo ao pavor em segundos. Rafael e Gabriel nada dizem, apenas ficam paralisados com o que vêem. Logo abaixo há simplesmente uma maré de mortos-vivos a perder de vista. As ruas são invadidas por corpos cadavéricos que caminham sem rumo. Dos prédios que ainda resistem em pé, despencam corpos apodrecidos que ao atingirem o chão ou mesmo outros mortos-vivos se despedaçam. E tentando sobreviver entre essa multidão de comedores de carne há um homem lutando bravamente com uma espada em cada mão. Mas a cada zumbi que ele derruba parece que outros dois tomam seu lugar.
Miguel então olha fixamente para o homem e reconhece aquela forma de desferir golpes. Por muitos anos ele viu de perto aquela forma de lutar. Aquela maneira de girar a espada no ar e então desferir um golpe avassalador capaz de cortar qualquer coisa.
— Toushirou!!!
— Quem?! — pergunta Raguel.
— Meu Sensei!
Miguel reconheceu o homem que o ensinou à moderna arte do kendô e sem pensar duas vezes saltou morro abaixo e deslizou por entre as pedras até chegar lá embaixo.
— Sensei!!! — grita tirando sua espada da bainha. — Agüenta firme!
Ele então se mete no meio dos zumbis girando sua espada para todos os lados e derrubando quem encontra pela frente.
Gabriel sorri e diz:
— Ele é louco. Raguel me dê essa barra de ferro que está amarrada a sua mochila. Vou ajudar esse louco antes que ele vire comida de morto-vivo.
Raguel desamarra a barra de ferro e a entrega na mão de Gabriel. Ele então salta lá para baixo e desce deslizando por entre as pedras.
— Eles acabaram de quebrar a regra de não bancar heróis. — comenta Rafael.
— E você não vai ajudá-los? — pergunta Raguel.
— Não tenho como ajudar.  — responde.
Gabriel já chega esmagando crânios com uma gana animal. Então Miguel olha para ele e diz:
— Façamos boa morte!
Gabriel sorri e gira a barra de ferro na horizontal derrubando vários zumbis e abrindo caminho. Miguel decepa algumas cabeças e grita:
— Cuidado onde pisa! Arranquei algumas cabeças!
— ‘Xá comigo. — responde Gabriel.
Este então quando chega ao local que Miguel decepou as cabeças salta sobre elas as esmagando e fazendo seus cérebros espirrarem pelo chão.
— Ponto pra mim!
Miguel vê seu Sensei cada vez mais cansado, sua velocidade não parece mais a mesma. Então ele acelera o passo e passa a utilizar não apenas a arte da espada, mas também suas pernas. Miguel aprendeu também o ninjutsu, a arte da luta dos ninjas. Ele passa a golpear os zumbis pelo caminho com chutes e golpes de espada intercalados. O que acelerou seu avanço. Enquanto isso há alguns passos atrás, Gabriel se vê cada vez mais rodeado de mortos-vivos.
— Porra! Eles não param de vir!
Ele golpeia de um lado, esmurra do outro, gira seu corpo com a barra de ferro estendida e ganha tempo derrubando vários zumbis ao chão.
Raguel e Rafael apenas observam sem poder fazer nada.
— Se tivesse alguma coisa aqui que eu pudesse usar como arma. — pensa Rafael olhando para os lados. Então ele vê um pedaço de concreto com uma barra de ferro na ponta. — Se for da forma que to imaginando isso vai servir.
Ele segura a barra de ferro e ao levantá-la ela é chumbada a um pedaço de concreto que juntos lembram muito a forma de uma marreta.
— Raguel. — diz ele. — Se cuida. Vou ir ajudá-los.
— Como? — pergunta ela.
— Com isso. — responde erguendo sua improvisada marreta.
Ele então desce os escombros e se junta aos seus amigos na luta. E de longe grita:
— Pensaram que eu não vinha me divertir também? Here comes a new challenger!
Eles apenas sorriem e Rafael ergue sua marreta de concreto e esmaga uma cabeça como se fosse manteiga.
Miguel consegue chegar até seu Sensei. Um homem alto, grisalho, com feições orientais e este usa um terno azul marinho.
— Venha comigo.
— Miguel?! É você mesmo?
— Em carne e osso!
— Você é um verdadeiro Renchi!
— Pode apostar que sim, Sensei. — e derruba três zumbis decepando suas cabeças com um único golpe.
Os dois retrocedem e chegam até Gabriel que abre caminho para eles passarem e fica na retaguarda. Lá na frente Rafael luta com dezenas de mortos-vivos e corpos se espalham ao seu redor. Miguel e seu Sensei continuam desferindo golpes em cada morto-vivo que se coloca a sua frente ou lateral. Eles chegam até Rafael e este os ajuda a subirem os escombros e Gabriel os dá apoio lutando contra os mortos que não param de vir.
Então quando Rafael começa a subir Gabriel gira a barra de ferro e ao jogar os zumbis longe aproveita a deixa para correr até a base dos escombros e subir também. Todos chegam ao topo e Miguel arfando diz:
— Ufa! Isso foi divertido! Não me divertia assim desde a final do campeonato nacional.
— Digo o mesmo. — concorda com ele, Gabriel. — E aqui está a sua barra de ferro, Raguel. — e entrega para ela.
Toushirou caminha até Miguel e abraçando seu aluno diz:
— Obrigado. Você me deu mais umas horas de vida.
— Como assim?! — pergunta espantado.
— Eles me morderam. Fui descuidado e isso aconteceu.
— Droga.
— Mas fico feliz em rever você mais uma vez. E me orgulho de ver que você aprendeu tão bem as técnicas que lhe ensinei. Você finalmente é um kenshi de sexto Dan.
— Obrigado Sensei. — fala Miguel se curvando para seu mestre em sinal de reverência.
Então todos se aproximam e Toushirou diz:
— Que tal nos sentarmos aqui e apreciarmos o pôr-do-sol. Quero que esta seja a minha última visão.
Todos concordam com ele e sentam no chão virados para o rio Guaíba.
— Então você é o mestre do Miguel. — inicia uma nova conversa, Raguel.
— Sim, desde os dez anos de idade dele. — responde. — Ensinei o que pude para esse rapaz. Desde técnicas de Itto-ryu ao Nito-ryu.
— Hã? — diz Raguel sem entender nada.
— Eu explico. — responde Miguel. — Itto-ryu é a técnica de lutar com uma espada longa e o Nito-ryu é lutar com duas espadas, uma longa e outra curta.
— Hummm. Agora entendi. — fala Raguel.
Então Toushirou sorri e continua:
— Mas para aprender são necessários alguns entendimentos. No kendô o critério de golpe yûkô-datotsu é bastante subjetivo e está diretamente relacionado às origens marciais da arte, que prega a sincronia perfeita entre a energia do praticante, ou o Ki, a trajetória e a precisão da espada, a técnica Ken, e a postura necessária para a correta aplicação da força e a correta movimentação, Tai. Essa sincronia é denominada de Ki-Ken-Tai Icchi e é um dos ensinamentos fundamentais do kendô
— Isso é bem complexo. — comenta Rafael.
O sol começa a se pôr e Toushirou sorrindo como nunca diz:
— Como isso é lindo. São detalhes assim que fazem cada instante da nossa vida valer à pena. — então ele se vira para Miguel e pede: — Eu sinto a cada segundo que passa meu espírito querer abandonar meu corpo. Por isso te peço uma coisa meu Renchi, quando isso acontecer, faça o que deve ser feito para eu não retornar.
Miguel exita por alguns segundos e então responde:
— Eu farei o necessário, Sensei.
— Muito obrigado. — agradece. — E vou aproveitar para dizer algumas coisas, encare como meu último ensinamento.
— Sim.
— Meu objetivo no kendô sempre foi disciplinar o caráter humano pela aplicação dos princípios da katana. E o propósito de se praticar kendô é: Moldar a mente e o corpo para cultivar um espírito vigoroso. Pelo treinamento rígido e correto lutar para desenvolver-se na arte do kendô. Obter respeito à cortesia e à honra para relacionar-se com os outros com sinceridade. E para sempre ter como objetivo o auto-aperfeiçoamento. Dessa maneira será possível uma pessoa amar seus pais, seus amigos, respeitar o próximo e contribuir para que essa arte nunca morra e promover a paz entre todos...
E assim a voz de Toushirou da lugar ao silêncio. Lágrimas escorrem pelo rosto de Miguel que se levanta do chão e desembainha sua espada. Então silenciosamente estoca o crânio de seu Sensei perfurando seu cérebro.
— Desculpa Sensei.
Sem dizer uma palavra ele se afasta dos outros e começa a abrir um buraco tirando pedras e pedaços de concreto do chão. Então seus amigos se juntam a ele e fazem o mesmo. Após abrirem um grande buraco, Miguel desce o corpo de seu Sensei no buraco e começa a enterrá-lo colocando pedras por cima do corpo. Ao término, eles rezam ao redor do túmulo e Miguel crava as duas espadas de seu Sensei no chão.
— Passaremos a noite aqui em cima. — quebra o silêncio, Miguel. — É mais seguro do que sairmos para procurar abrigo. Então vamos revezar a vigia durante a noite. Eu começo, depois vem o Gabriel, o Rafael e por último a Raguel. Vocês concordam?
— Sim. — responde Gabriel. — E acredito que falo por todos.
Ninguém faz objeções e assim eles seguem durante a noite sem que haja nada de estranho durante a vigília de todos.

2 comentários:

  1. muito bom este capitulo,to louko para saber como sao os tais arabes quando sai o proximo??

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  2. Amanhã já sai o próximo capítulo e na segunda a sequência. Alguns capítulos atrás foram mostrados os árabes.

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