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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um Mundo em Caos - 17


O dia amanhece e Miguel está escorado em um pedaço de concreto com a mão no peito olhando para os mortos-vivos que se amontoam cada vez mais ao redor deles.
— Tantas coisas para fazer e nem sei por onde começar. — pensa. — Ungh... Já tomei vários remédios e antibióticos e essa dor não cessa nunca. Maldição!
Raguel se aproxima e envolvendo carinhosamente os braços ao redor do pescoço dele, pergunta:
— Está tudo bem?
— Sim. — responde colocando as mãos nos braços dela. — Só estou sentindo um pouco de dor.
— Você não pára. E ontem se agitou demais. Já era de se esperar que isso lhe trouxesse desconforto.
— Eu não podia deixar meu Sensei ser devorado por essas imundícies.
— Eu te entendo.
— Mas vou te confessar que está doendo bastante.
— Tomou todos os remédios? — pergunta com uma voz de preocupação e encostando seu queixo na cabeça de Miguel.
— Sim,.estou seguindo a risca o que está escrito nas bulas.
— Chegou a dormir durante a noite?
— Dormi o necessário.
— Sei. — fala já sabendo que ele fez exatamente o contrário do que respondeu. — ­O que precisamos é encontrar um lugar que possamos ficar por pelo menos uma semana. Você precisa repousar e agora sem um meio de transporte teremos que caminhar de baixo do sol escaldante. E você não está em condições de enfrentar isso diariamente.
— Concordo com a Raguel. — chega Gabriel sorrateiramente. — Você precisa mesmo repousar ou esse seu ferimento não irá cicatrizar e você terá sérios problemas.
— To sabendo. O Rafael já acordou?
— Sim. — responde Gabriel.
— Então vamos seguir em frente. — fala Miguel. —Esses zumbis estão aqui porque não há para onde eles irem. Então acredito que mais a frente haja algum lugar livre deles.
— E por onde seguiremos? — pergunta Rafael saltando de cima de uns do pilares que não cedeu. — Estamos bem dizer rodeados dessas criaturas. E dependendo de por onde seguirmos vamos dar de cara com eles e teremos que sair no braço.
— Não necessariamente. — coloca Miguel. — Se seguirmos as ruas corretas é bem provável que não encontremos nenhum pelo caminho. Olhem para a Mauá. — aponta. — Viram? Vazia. Se seguirmos por lá há uma grande chance de acontecer o que falei.
— Vamos seguir seu raciocínio então. — fala Raguel. — Alguém discorda?
— Qualquer coisa voltamos e seguimos outra rota. — fala Rafael.
— Tranqüilo. — responde Miguel.
— Então vamos nessa. — fala Miguel saindo caminhando.
Raguel pega o filhote que ainda dormia e o coloca dentro da mochila, os outros também pegam suas mochilas e as colocam nas costas. Então Miguel caminha até o tumulo de seu Sensei e pega uma das espadas que havia deixado ali e diz:
— Vou levar sua Masamune comigo. O senhor não irá mais precisar dela e tenho certeza que nos será bem mais útil. E como o senhor me disse uma vez que eu precisava melhorar minhas habilidades ao empunhar duas espadas, acho que essa é a melhor oportunidade para isso. — ele então se inclina em direção ao tumulo e agradece: — Doumo arigatou gozaimasu.
Ele acopla a bainha dessa espada a da outra que já possui e afivela-as ao cinto que utiliza cruzado em seu tronco. — Todos prontos? — pergunta. Então ouve um uníssono sim e sorri. — Vamos cair fora daqui.
Eles seguem rumo a Rua Mauá e chegam nela sem muitos problemas. Uma caminhada bem tranqüila por assim dizer. Então seguem para a esquerda costeando o que sobrou da linha do trem. E de longe avistam alguns zumbis vagueando a esmo, mas nada que possa trazer alguma dificuldade para eles. E quando se aproximam Miguel leva a mão à empunhadura da espada, porém Gabriel se aproxima dele e diz que ele e Rafael cuidarão desse pequeno transtorno. Gabriel pega a barra de ferro com Raguel e Rafael ergue sua marreta de concreto e a apóia no ombro e os dois seguem em direção aos mortos-vivos.­
— O que acha de uma corridinha até eles? — pergunta Gabriel com um leve sorriso no canto dos lábios.
— Só se for agora. — responde Rafael.
Os dois saem em disparada e se jogam para cima dos zumbis os golpeando violentamente. Rafael esmaga membros e crânios como se fosse papel. E Gabriel para poupar tempo e esforço apenas perfura os glóbulos oculares atingindo em cheio os cérebros e os destroçando. Os zumbis tombam um após o outro e então Rafael diz:
— Exibido.
— Eu?! Então tá, né? Mas não sou eu que estou brincando de Deus do Trovão com uma marreta na mão.
E nisso Miguel se aproxima deles e comenta:
— Muito bom. Mas não precisam ser tão exibidos.
— Menos malabarismos. — fala Raguel. — E mais ação.
Eles seguem adiante e chegam ao local onde ficava a estação Mercado e olhando para os lados não avistam nada além de mais destruição. Apenas alguns prédios ainda se mantém erguidos, o Mercado Público não existe mais, foi completamente destruído restando apenas uma montanha de entulhos. E mais a frente há outro extenso, porém, altíssimo muro construído com pedaços de ferro, grades, chapas de aço e pedaços de madeiras. Ao lado desse muro há parte da construção frontal de um prédio que permaneceu erguida onde há uma grande porta de ferro. Desanimado Miguel diz:
— Aquele muro não teremos como pular. E infelizmente perdemos quem sabia abrir portas. — suspira e continua, — Termos que voltar até...
— Eu acho que não. — interrompe Gabriel. — Como vocês acham que eu entro em farmácias e em outros lugares? Eu aprendi a abrir. Essa loucura me obrigou a isso.
— Então esqueçam o que eu disse e vamos em frente. — fala Miguel.
E nisso, um prédio de altura mediana que fica a alguns metros atrás desaba fazendo levantar uma nuvem de poeira.
— Vamos rápido! — fala Raguel puxando a gola de sua blusa até acima do nariz.
— Não estou enxergando nada a frente. — comenta Miguel limpando os olhos. — Inferno!
— Vamos ficar próximos. — instrui Rafael. — Qualquer coisa poderemos nos ajudar com mais facilidade.
Mas o que eles não perceberam é que a nuvem de poeira é o menor de seus problemas, o pior ainda está por vir. Com a queda do prédio a barreira que impedia os zumbis de acessarem a rua que eles estão seguindo se perdeu. Agora ela está livre para aquela multidão de mortos-vivos se jogarem sobre eles com toda a violência que lhes é cabida.
— Vamos devagar porque não sabemos o que há a nossa frente. — fala Miguel. — Permaneçam as minhas costas.
Eles seguem bem devagar e então Gabriel que está mais atrás houve barulhos e grunhidos cada vez mais próximos e alerta:
— Acho que não estamos mais sozinhos aqui.
— Como assim?! — exclama Miguel.
Então Gabriel consegue enxergar um pouco o que há na volta deles e rapidamente diz:
— Estamos cercados de mortos-vivos!!! Corram!!!!!!
— Droga!!! — resmunga Miguel.
Eles saem correndo sem se preocupar com o que há a frente. Miguel se choca de ombro com alguma coisa, mas não pára de correr e Gabriel sente seu pé afundar em algo que estava no chão. Eles se aproximam do muro e Miguel pergunta:
— Tem certeza que consegue abrir aquela porta?
— Sim. — responde Gabriel.
— Então se apressa. A gente te dá cobertura. — e quando ele ergue as mãos para desembainhar as espadas sente uma forte dor no peito e rapidamente leva as mãos ao local. — Ungh! Merda.
— O que foi? — pergunta Raguel.
— Nada. — responde. — Vamos dar cobertura ao Gabriel. Me dê a sua barra de ferro. Vou lutar melhor com ela. E você fica lá com o Gabriel. Anda!
Gabriel chega até a porta e tira do bolso alguns clipes e pequenos pedaços de metal. Mais a frente Miguel e Gabriel se preparam para encarar os zumbis que já começam a cercá-los quando vários tiros cortam o ar derrubando alguns zumbis a frente, o que faz com que o caminho seja liberado para que os dois possam correr até a porta caso queiram. Miguel e Rafael se entreolham e correm em direção à porta. Mais alguns tiros são ouvidos e zumbis tombam ao chão. Gabriel consegue abrir a porta com a cobertura do estranho que derruba os zumbis que tentam se aproximar deles. Então os quatro entram pela porta e Raguel utiliza um pedaço de madeira que vê ao lado da porta e a tranca por dentro. É possível ouvir o som das mãos dos zumbis batendo na porta.
— Seja quem for que nos ajudou, salvou nossas vidas. — fala Gabriel. — E que mira o filho da mãe tem.
— Vamos rápido, ainda temos que atravessar esse estacionamento pra chegar aquele outro prédio. — fala Miguel.
— Ei Miguel! — chama a sua atenção, Rafael. — Vamos devagar, cara, eu vi um movimento estranho lá na frente.
— Beleza. — responde Miguel jogando a barra de ferro para Gabriel e sacando sua nova espada com dificuldades. — Fiquem aqui que eu vou na frente. Se eu não ver nada, faço sinal para vocês me seguirem. Protejam a Raguel.
Miguel sai caminhando por entre os carros e olhando para todos os lados. E nisso, vários zumbis começam a surgir de todos os cantos, saindo debaixo dos carros e pelas suas respectivas janelas e dos corredores. Miguel se posiciona entre eles e grita:
— Não venham aqui! Eu dou conta do recado!!!!
— O que ele está tentando provar? — se pergunta Gabriel. — Ele está ficando louco?
— Você ainda não percebeu? — responde Rafael com outra pergunta. — Ele está sentindo o peso da liderança e a dor no peito está tirando a concentração dele. Observe um pouco mais e você vai perceber isso. E ele quer provar para si próprio que pode seguir em frente.
— Mas ele não precisa provar mais nada. — fala Raguel. — Isso só vai acabar levando ele a morte mais rápido. Porque ele sempre está fazendo esse tipo de coisa?
— Só que nesse momento ele precisa. E só vamos nos intrometer se algo ruim estiver para acontecer. Então façam como ele mandou e fiquem aqui.
Ele gira a Masamune no ar e corta a cabeça de dois zumbis que caem com seus corpos inertes no chão. — Eu adoro isso! — fala sorrindo. — Venham seus dementes!!! — ele derruba mais dois zumbis perfurando seus cérebros e nem percebe há aproximação de outros quatro pelas suas costas.
Então quatro tiros são ouvidos e os zumbis caem com seus crânios perfurados pelas balas, então mais alguns tiros são dados e o restante dos zumbis caem inertes ao chão. Miguel olha para cima e a pessoa que os está ajudando salta de cima de uma das janelas do prédio para o teto de um carro. A primeira coisa que ele percebe é se tratar de uma garota devido às curvas de seu corpo.
E ela está usando um chapéu de cowboy de couro de cor marfim, óculos escuros, uma blusa meia manga em tecido de lycra bem justa ao corpo na cor preta, calça em lycra ciré com perna franzida na mesma cor da blusa e botas country feminina em couro anaconda com detalhes em croco e salto seis centímetros. Em suas mãos ela empunha duas pistolas M93R. E para proteger suas mãos ela usa luvas de musculação Harbinger com fechamento ajustável no pulso com uma lycra que se estende ao longo das costas da mão e entre os dedos aumentando a flexibilidade, ao mesmo tempo melhorando a respirabilidade. A luva possui também o polegar reforçado, duplo couro na palma da mão, apoio dos dedos com espuma e revestimento em couro na palma e nos dedos para uma maior resistência à abrasão. Ela usa um cinturão estilo robocop em nylon preto e fivela em plástico na mesma cor, composto por porta objetos para oito pentes e dois coldres para armas, com tiras presas em suas coxas.
Miguel não consegue ver o rosto dela, pois ela saltou com a cabeça inclinada para baixo e está com as pernas flexionadas. Então ele pergunta:
— Quem é você?
— Eu? — responde guardando as armas nos coldres. — Alguém que ajudou vocês. Sintam-se gratos por isso.
— Bela resposta, moça. Mas isso não ajuda em nada.
— Vocês não precisam saber meu nome. Eu não digo meu nome para ninguém, muito menos para estranhos. E você é um estranho para mim.
— Você quem sabe. Não pergunto mais nada.
— Melhor assim.
E lá atrás, Raguel comenta:
— O que será que eles estão conversando? Miguel está com uma cara de quem não está muito feliz.
Rafael esboça um sorriso e responde:
— Ele deve estar sendo contrariado por alguma coisa. Ele faz esse tipo de cara quando isso acontece.
Então ela ergue a aba do chapéu e Miguel consegue ver seu rosto, e ele nem acredita no que está vendo. Primeiramente acredita ser obra do calor escaldante, mas quando ela olha para ele, vê as feições do rosto dela mudar e os olhos dela se enchem de lágrimas, — Miguel... meu Miguel...
Será efeito do calor escaldante ou a dor que Miguel está sentindo o está fazendo ouvir e ver coisas que não existem...

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