Licença Creative Commons
Armagedon - Um Mundo em Caos / Final Odyssey de Fernando Athayde dos Santos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Permissions beyond the scope of this license may be available at http://ummundoemcaos.blogspot.com.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um Mundo em Caos - 20

Eles seguem pelo corredor e um urro vindo da direção em que eles estão indo ecoa pelas galerias. Miguel faz sinal para ela parar e então ouvem os passos de alguém correndo. O som dos pés batendo no chão se torna cada vez mais próximo e então um vulto se aproxima dele que rapidamente golpeia o ar na horizontal. Sua espada corta algo que cai rolando pelo chão. Jennifer desloca a luz da lanterna e vê um corpo correndo em sua direção sem a cabeça. Quando este se aproxima ela o chuta fazendo com que ele caia inerte ao chão.
— Zumbi? — pergunta Miguel.
Ela ilumina o corpo e este está vertendo sangue pelo pescoço.
— Só ser for de alguém que acabou de se tronar um. — responde ela. Ela então se abaixa e ao verificar melhor o corpo percebe que os dedos dele foram arrancados. — Alguém retirou os dedos desse homem. Estão sangrando ainda.
— Isso explica o rastro de sangue na parede. — conclui Miguel. — Mas porque alguém faria isso? Arrancar os dedos de uma pessoa é de extrema crueldade.
— Concordo. Me ajude a achar a cabeça dele.
— Ilumine a sua esquerda.
Ela faz o que Miguel disse e bem ao seu lado está à cabeça do homem. Ela então abre a boca dele e sua língua foi cortada. Ela deixa a cabeça cair que sai rolando pelo chão.
— A língua dele foi arrancada. — fala olhando para Miguel. — Esse homem provavelmente foi torturado e depois largado aqui para morrer ou ser devorado.
Miguel treme de raiva e então diz:
— Vamos em frente!
Eles seguem por uns duzentos metros e sem querer Jennifer ilumina uma parte da parede onde há um aviso escrito em sangue enegrecido: “Voltem! Não continuem! Todos mortos!”
— Será que esse aviso quer dizer alguma coisa? — fala Miguel. — Ou é apenas para assustar? Devemos estar bem próximos.
— Não sei, mas vamos nos manter focados. — fala iluminando a outra parede. — Qualquer barulho daqui para frente deve ser encarado com total cautela. E acho que caminhando mais alguns metros chegamos à saída.
Eles seguem pelo corredor que com alguns metros de caminhada faz uma curva à esquerda e depois segue em linha reta. Então andam mais alguns passos e chegam há um portão de grades de ferro. Miguel abre o portão e eles entram numa espécie de salão, onde há um armário em um dos cantos e uma grande mesa de madeira com cadeiras a sua volta. Iluminando ao redor com sua lanterna, se vê que há vários castiçais em bronze maciço que se estendem pelas paredes as decorando. — Ainda há velas neles. — Pendurado no teto há dois candelabros com lugar para seis velas cada.
— Percebeu como este ambiente está limpo? — observa Jennifer passando o dedo sobre a mesa. — Parece que fizeram uma limpeza não faz muito tempo.
— Estranho. — completa Miguel. — Será que utilizam esse lugar para alguma coisa?
Então sons de vozes são ouvidos e Miguel se aproxima da outra saída e além das vozes também ouve passos se aproximando. Ele caminha rapidamente até Jennifer e diz:
— Precisamos nos esconder rápido.
— Mas onde? Se abrirmos o portão iremos fazer barulho.
— Naquele vão ali na parede. Rápido!
Eles se escondem e Jennifer desliga a lanterna.
Uma pessoa entra no salão e começa a acender as velas que estão nos castiçais. Miguel então puxa Jennifer bem para junto dele e se encolhem no canto do vão. Quando esta pessoa passa em frente ao local onde eles estão escondidos, conseguem ver que a pessoa se trata de um homem negro trajando vestes escuras. Ele acende todas as velas e em seguida dois outros homens negros também trajando vestes escuras adentram o salão arrastando um homem encapuzado pelos braços.
O homem que acendeu as velas ordena que os outros dois amarrem o que trouxeram a uma cadeira e peguem os utensílios no armário. No armário eles pegam três velas brancas, uma folha de pergaminho, uma imagem de pentagrama invertido e um prato fundo.
Eles colocam a imagem do pentagrama invertido sobre a mesa e ao colocar o prato em frente a ela, um deles tira um pequeno saco de dentro das vestes. Deste saco, retiram uma língua humana e a colocam dentro do prato. Jennifer cutuca Miguel e no ouvido dele sussurra: — Deve ser a língua do homem que encontramos nos esgotos. — Ele concorda com ela. O outro homem então coloca o pergaminho dentro do prato e dois deles se afastam da mesa.
O homem que anteriormente havia acendido as velas se aproxima da mesa e crava uma faca na língua que está dentro do prato. Ele então ergue as mãos e é possível ver suas longas unhas. Ao fechar os olhos ele começa a recitar um cântico em uma língua estranha:
In nomine Dei nostri Satanas Luciferi excelsi. Renich  Tasa Uberaca Biasa Icar Lucifer. Renich Tasa Uberaca Biasa Icar Lúcifer. Sretsam Satanas, Leviathan, Belial, Astaroth, Azazel, Baallberith, Beelzebu, Abbadon, Asmodeu, Verrine e Flereous. Nas vocare tu Lúcifer, Parcepts es hic rictus. Lúcifer, Drol fo drlow.
Miguel lentamente movimenta suas espadas e as posiciona de maneira que possa sair dali já golpeando quem estiver pela frente. — Astaroth... — pronuncia em voz baixa. E enquanto isso o homem continua seu estranho cântico.
— Nema! Livee morf su revilled tub. Noishaytpmet ootni ton suh deel.
O homem pega a faca em cima da mesa e se aproxima do que está amarrado na cadeira e ergue a cabeça dele. Quando se prepara para cortar o pescoço do homem, Miguel salta do pequeno beco e grita:
— Nem pense nisso!
O homem vira-se para ele e manda os outros dois o atacarem: — Masomakali! — Eles atacam Miguel com uma fúria animalesca e um deles tem seu corpo arremessado para trás com uma flecha que crava bem em sua testa. Miguel então gira suas espadas num corte vertical e arranca as duas mãos do outro homem que cai de joelhos ao chão gritando. Ele então golpeia o pescoço do homem, arrancando sua cabeça que cai rolando pelo chão. Jennifer a chuta em direção ao que está com a faca na mão.
— Saia de perto desse homem bem devagar! — ordena Miguel. — Ou jogo essa espada em você e lhe deixo agonizando aqui!
Ele sai de perto do homem e Miguel se aproxima e diz:
— Pessoas como você não merecem viver! Esses seus rituais ridículos onde vocês usam pessoas para saciar seu bel prazer acabam agora! — e enterra a espada na cabeça do homem pelo queixo a trespassando. — Não importa qual a finalidade, não entendi uma palavra do que você disse, mas isso não importa mais, não é? Não vai dizer nada? — sangue escorre pela lâmina da espada e pinga na mão dele. — Oh, esqueci que perfurei seu cérebro. Você não pode mais falar.
Miguel puxa a espada e o homem cai no chão com seu sangue lavando o piso frio e úmido. Jennifer percebe pela atitude dele que o que ele presenciou agora mexeu muito com seus sentimentos. Miguel passou por algo parecido quando esteve no shopping, tentaram matá-lo num ritual macabro. Ela se lembra das palavras que ele a disse e se aproxima bem devagar e o abraça pelas costas e diz:
— Amor, acabou. Não se sinta assim. O que aconteceu é passado, agora você precisa olhar para frente. Estamos juntos e vou estar sempre ao seu lado para te dar apoio. Mas o que precisamos agora é seguir em frente e concluir a missão. E preciso que você esteja bem.
— Eu estou bem. Só que eu precisava fazer isso. — se justifica. — Eu precisava pôr pra fora esse sentimento.
— Eu te entendo. E não estou te recriminando, faria a mesma coisa no seu lugar. Talvez pior, mas agora precisamos ir.
— Ok. — fala guardando as espadas na bainha. — Vamos acabar com isso de uma vez.
Jennifer desamarra o homem, mas ele continua desacordado. Miguel então conversa com ela e eles chegam à conclusão de que é melhor que ele permaneça assim e seguem em frente. Eles cruzam o corredor pelo qual os homens vieram e então enxergam ao longe uma área iluminada pelos raios de sol que descem até a galeria por uma das entradas do esgoto. Eles correm até ela e Jennifer sobe bem devagar o jogo de escadas e ao chegar na parte de cima, pára e fica escutando. Ela não ouve nem vozes ou passos e então ergue a cabeça para fora do buraco e ao olhar para os lados vê que estão dentro de um prédio e faz sinal para Miguel seguir ela. Ele sobe as escadas e se encontram dentro do prédio.
— Conseguimos chegar até aqui. Uma vitória para nós. — comemora Jennifer. ­— Agora talvez venha o maior desafio. Preparado?
— Preparadíssimo! — responde sacando as armas. Duas pistolas Taurus PT-100. — Com essas duas belezinhas aqui estou preparado para qualquer coisa.
— Acho melhor sermos silenciosos no começo. Por isso pedi que você colocasse esse objeto metálico atrelado ao seu antebraço esquerdo.
— Mas isso aqui não é para defesa? — indaga curioso, pois até o momento era para isso que ele pensava servir o objeto metálico que prendeu em seu antebraço. E enquanto espera a resposta guarda as armas.
— Na verdade o nome disso é lâmina oculta. — responde. — Se você apertar esse pequeno botão que há no lado externo do seu dedo indicador, irá acionar um sistema que faz sair uma pequena lâmina na parte de baixo do seu pulso. — ela mantém o antebraço na horizontal e então ergue a mão apertando o botão no dedo mencionado. Uma pequena lâmina escorre de dentro do objeto com mais ou menos nove centímetros de comprimento. — Sempre que a for utilizar faça exatamente esse movimento que fiz. Assim evita que seus dedos sejam decepados. — ela aperta novamente o botão e a lâmina volta para dentro do objeto.
Ele faz o mesmo movimento que ela e aperta o botão e uma lâmina um pouco maior sai de dentro, — treze centímetros, — ele aperta o botão novamente e ela volta para o lugar. — Legal essa lâmina retrátil. Dá para causar grandes estragos. Mas posso utilizar minhas espadas para não fazer barulho.
— Até pode, mas elas te restringem em ambientes apertados ou com muitos objetos. Enquanto a lâmina pode ser utilizada em qualquer ataque furtivo desde que você esteja bem próximo do seu alvo. E ela deve ser utilizada para perfurar o pescoço. Se tentar em outras partes pode acabar quebrando-a.
— Entendi. E agora o que faremos primeiro?
— Pensei em subirmos as escadas e dar uma olhada geral lá de cima. Teremos uma boa visão de tudo aqui embaixo e poderemos bolar uma boa estratégia de ataque.
— Você tá falando igual quando jogávamos RPG, — sorri. — sempre a líder dos rangers. Bons tempos...
— Ótimos tempos. — completa. — Mas agora é a vida real, não temos poções para recuperarmos nossos ferimentos e nem objetos mágicos que nos trazem de volta a vida. Um erro e nunca mais poderemos ver o sol brilhar novamente.
— Isso é verdade. Mas sei que não estamos num jogo. Não vou fazer nenhuma besteira.
— Eu sei que não. Vamos subir as escadas?
— Sim. — responde sacando uma das espadas.
Eles sobem os primeiros jogos de degraus e chegam ao segundo andar. Mas o que não contavam é que mais acima a escada que leva ao terceiro andar estivesse destruída. Não sendo possível continuar subindo por ela. Pelo corredor do andar que se encontram, o teto está danificado em vários lugares e em algumas partes pedaços de vigas e blocos de concreto bloqueiam boa parte do caminho deixando pouco espaço para se locomover. Jennifer faz sinal para Miguel e eles se esgueiram por entre os entulhos até chegarem a outro corredor.
Neste corredor, ouvem passos mais a frente e se escondem atrás de um sofá. Uma voz ecoa pelo ambiente: — Suba até o terraço e se junte ao Omar, eu ficarei cuidando da parte de baixo. Se você ver algo que lhe deixe preocupado atire para matar, mire na cabeça, ok? — Alguém responde que sim e os passos parecem se afastar cada vez mais. Jennifer ergue a cabeça e não avista ninguém.
— Podemos seguir em frente. — fala ela.
— Mas pelo visto quando chegarmos lá em cima teremos dois caras armados.
— É só agirmos na surdina que não teremos problemas.
— Agirmos na surdina?! Que gíria mais ultrapassada. — comenta.
— Foi o que me veio à cabeça. Não enche.
Eles continuam pelo corredor e chegam a outro jogo de escadas. A sobem bem devagar cruzando os seis andares seguintes sem que tenham nenhum problema pela frente. No oitavo andar há uma porta de metal um pouco afastada de onde eles estão que leva ao terraço do prédio. — Uma placa sobre a porta indica isso. — Jennifer diz para Miguel ficar do lado direito da porta e ela se posiciona a esquerda. Ela gira a maçaneta bem devagar e abre um pouco a porta deixando uma pequena fresta para poder espiar a parte exterior.
— Está conseguindo ver eles? — pergunta Miguel.
— Ninguém, apenas umas antenas velhas e exaustores. — responde. — Terei que abrir mais a porta o que irá nos expor um pouco mais.
— Se não tem outro jeito, manda ver.
Ela abre mais a porta e nisso eles ouvem passos vindo da escada. Miguel diz que cuidará de quem quer que seja e que é para ela ficar onde está e não sair. Apenas observar o terraço e tentar encontrar os homens armados. Ele desembainha a espada e caminha rapidamente e se posiciona atrás da parede que leva as escadas. Então um homem negro, usando óculos e roupas escuras passa por ele e com um único e veloz movimento de sua espada decapita o homem, fazendo sua cabeça rolar pelo chão e o óculos voar longe. Ele olha para Jennifer e ela faz sinal de ok para ele. Ao se aproximar dela, ela conta o que conseguiu ver:
— Não são apenas dois homens, na verdade são quatro deles. Todos armados com rifles de longa distância e posicionados a esquerda de quem sai. Por isso não consegui os ver antes.
— E da pra chegar neles sem sermos vistos?
— Sim. Mas não poderemos ir juntos. Preciso que você vá por um lado enquanto eu vou por outro. Eu cuido dos dois que estão no meu lado e você dos outros dois. Pode ser?
— Por mim tranqüilo. — concorda com a estratégia dela e completa: — Mas não vou utilizar a lâmina oculta, prefiro as minhas duas espadas. Dependendo da posição deles posso derrubar os dois rapidamente combinando golpes. Sem falar que me sinto mais seguro.
— Já eu vou usar as minhas lâminas ocultas.
— Como assim, lâminas?! — pergunta curioso.
— Eu possuo uma em cada antebraço. Achou mesmo que eu ia encarar os dois sem ter uma carta na manga? Não fiquei louca ainda. Seria dar muita chance ao azar. — responde. — Então quando sairmos por essa porta quero que você rapidamente se dirija ao exaustor da direita e se esconda atrás dele.
— E você?
— Irei por cima. Tem uma escada bem ao lado da porta. Já pensei no que irei fazer. Você vai à frente e se ninguém estiver olhando me dê um sinal para que eu possa subir a escada.
Ela abre a porta e espia para ver se não tem ninguém olhando e faz sinal para Miguel ir. Ele corre até o exaustor que ela mencionou e se agacha atrás dele. Ele então espia pela lateral esquerda do exaustor e os homens estão próximos a beirada olhando para baixo. Ele faz sinal para ela que corre em direção a escada e a sobe velozmente. Ela se deita no chão e já sai rastejando em direção aos homens. Miguel não perde tempo e se movimenta indo se esconder atrás do exaustor mais a frente.
— Jamais pensei que um dia estaria fazendo isso. — pensa ele. — Estou me tornando uma espécie de mercenário, mas sem toda aquela grana envolvida. Se há alguns anos atrás eu dissesse que hoje estaria fazendo isso me chamariam de louco.
Jennifer faz sinal para ele ir para o exaustor a direita do que ele está e já seguir em frente. Ele faz o que ela diz e se esconde atrás de uns entulhos. — Pedaços de sofás, mesas e outras quinquilharias. — Miguel desembainha suas espadas bem devagar e se posiciona em direção aos homens com as pernas flexionadas, — Ele pensa em pegar impulsão e se arremessar em direção a eles. — uma maneira de atacar rápido.
Do outro lado, Jennifer já se posiciona com as lâminas saltadas para fora. Ela olha para Miguel e ergue a mão direita com três dedos levantados e vai lentamente baixando dedo por dedo. E quando baixa o último dedo, ela se joga sobre os homens e crava uma das lâminas na nuca do que está na direita e ainda no ar, gira o corpo chutando a arma do homem que está na esquerda a jogando lá em baixo. Ao mesmo tempo, Miguel se arremessa em direção aos homens com os braços cruzados bem em frente ao seu rosto e quando está passando entre eles movimenta seus braços para trás rasgando os flancos de seus dois alvos. Os dois deixam cair suas armas no chão e Miguel vira-se para eles com os braços abertos cortando profundamente suas gargantas. Os homens caem de joelhos no chão levando a mão ao corte em seus pescoços que sangram em profusão.
O homem que teve sua nuca perfurada cai morto ao chão e Jennifer se posiciona para lutar contra o que ficou sem arma. — Ela está com suas lâminas ocultas retraídas. — Ele vai para cima dela golpeando-a com vários socos e ela se esquiva de alguns, mas é atingida no rosto pelo último. O homem sorri e ela cospe um pouco de sangue no chão. Nisso, Miguel perfura o glóbulo ocular dos dois homens com suas espadas e estes caem mortos ao chão. Ele olha para Jennifer e ela faz sinal de não com a cabeça e ele guarda suas espadas e fica parado apenas observando.
O homem a ataca novamente, mas agora usa chutes e socos alternadamente. Ela se defende e consegue contra-atacar com um soco que o atinge no maxilar.
— Você é muito fraca! — fala o homem. — Se o seu amiguinho não ajudá-la eu vou acabar com você.
— Veremos... — sorri ela, atacando o homem logo em seguida.
Ela usa um chute alto que é facilmente defendido e é atingida pelo contra-ataque. — Um soco desferido em seu diafragma. — Ela cai de joelhos no chão e o homem tenta golpear o rosto dela com um chute, mas ela consegue se defender utilizando o braço esquerdo e aperta o botão no dedo indicador da mão direita. A lâmina salta para fora e ela a utiliza para fazer um corte profundo na perna dele.
— Acaba com ele! — pensa Miguel torcendo por ela.
O homem então se abaixa para colocar a mão na perna e ela se utiliza desta falha dele para se arremessar contra ele e cravar a lâmina completamente em seu pescoço a movimentando para aumentar os danos. Ela retira a lâmina e salta para trás. O homem coloca as mãos no pescoço para tentar inutilmente estancar o sangue. Suas mãos são lavadas pelo sangue que escorre em profusão.
Miguel se aproxima dele e o golpeia violentamente na cabeça. — Some da minha frente, desgraçado! — O homem rola pelo chão e fica desmaiado perdendo sangue.
Jennifer senta no chão com as pernas cruzadas e colocando a mão sobre o diafragma diz:
— Aquele soco doeu! Merda!
Miguel se aproxima dela e dá uma bronca:
— Por que não me deixou lutar com ele? Ele era bem maior que você! Na boa, se ele te desse mais um golpe eu ia me intrometer e rasgar ele ao meio. Você estava perdendo e feio! Não tente lutar com alguém maior e muito mais forte, é suicídio! Você é forte, mas não é para tanto. E agora está aí, com um corte nos lábios e sei lá mais aonde!
Ela limpa o sangue no canto esquerdo da boca e retruca:
— Eu tinha tudo sobre controle. Sabia o que estava fazendo. E só estou com este corte na boca, não tenho mais nenhum ferimento. E vamos seguir em frente.
— E só mais uma coisa. Cadê a sua guarda pessoal? Até agora não vi ninguém! Você tava apanhando feito um cão e ninguém pareceu.
— Eles só irão aparecer se as coisas ficarem realmente feias. E você estava aqui.
— Estou de olhos bem abertos para isso. — fala Miguel.
Ela se levanta do chão e caminha até o parapeito do terraço e fica olhando para os lados e para baixo. Há alguns prédios ao redor, todos em péssimo estado — bastante danificados. — e de tamanhos menores do que o que eles estão. E uma coisa bastante visível em todos os prédios são as áreas externas feitas em madeira junto às janelas que foram quebradas — pequenas sacadas onde há roupas penduradas.
— Eles já perceberam a arma que caiu lá em baixo. — fala Jennifer observando a movimentação que ocorre há vários metros abaixo de onde estão. — Em breve vários deles estarão aqui em cima.
— Vamos enfrentá-los ou iremos nos esconder? — pergunta.
— Se ficarmos nos tornaremos alvos fáceis. — observa o prédio ao lado que possui um andar a menos. — Acho que sei o que faremos já que descer as escadas é inviável no momento. Vamos saltar para esse prédio.
— Ficou louca! Eu não aprendi a voar ainda!
— A distância não é grande e você saltava distâncias bem maiores que isso nos treinamentos do time. É só correr e saltar. — fala dando alguns passos para trás.
— Mas faz alguns meses que eu não treino e você é ginasta e não parou de treinar.
— Não treina, é? Com esse corpo durinho. Sei... — então sai correndo e quando chega quase no final do parapeito salta e grita: — Sua vez!
Ao chegar do outro lado ela atinge o chão de forma a sair rolando de lado e assim evitar algum ferimento mais grave.
— Que guria doida! — pensa Miguel. — Mas não há tempo para ficar pensando.
Ele salta também, mas erra a queda e ao tocar o chão sai rolando de forma desordenada e se choca contra uma antena.
— Saco! Minhas costas! — reclama Miguel.
Jennifer corre até ele e pergunta:
— Está tudo bem?
Miguel apóia as mãos no chão e responde:
— Tirando as escoriações e a dor nas costas, acho que não quebrei nada.
Ela estende a mão para ele e o ajuda a se erguer do chão. — Vamos sair rápido daqui antes que nos vejam. — ela olha para os lados e vê uma porta. — Vamos por ali. — fala apontando.
Os dois saem correndo e ela abre a porta e eles entram no prédio.
— E agora, qual o próximo passo? — pergunta Miguel com a mão no peito.
— Eu dei uma boa olhada lá de cima para as ruas e para as construções e notei que... — ela percebe onde ele está com a mão e sem pensar duas vezes pergunta: — Está doendo?
— Não, só coloquei a mão para ver se está tudo em ordem. — responde. — Não se preocupe.
— Qualquer coisa me avise. — ele acena com a cabeça que sim e ela continua: — Eu notei que as ruas não são muito movimentadas e há bastante locais para nos escondermos. Dá pra seguir lá por baixo também. E uma coisa importante, já sei onde se encontra o manda-chuva daqui. O prédio está bem vigiado, mas não é muito difícil de chegarmos lá. Só precisamos atravessar esse prédio e seguir para o próximo por alguma das sacadas e depois descermos.
— Então vamos rápido enquanto muitos devem estar subindo as escadas ainda e outros no terraço tentando descobrir o que aconteceu.
— Sim.
Eles seguem pelo corredor e descem dois andares e entram em uma porta do lado direito do corredor. O apartamento está todo destruído e há um grande buraco na parede. Jennifer se aproxima do buraco e olha para ver se vê alguém nas sacadas, mas não avista ninguém.
— Tudo limpo. — fala ela. — E a distância para a sacada não é muito grande, dá para saltar fácil.
— De novo?!
— Tá com medo de altura, é?
— Não é isso. Eu não tenho a mesma habilidade que você. Pra mim é mais complicado fazer essas acrobacias.
— Apenas observe como eu faço e acredite em si mesmo que verá que não é difícil. — fala colocando os óculos táticos. — E um dia desses te dou umas aulas, tá bom?
— Tá certo.
Ela se ajeita, flexiona as pernas e salta. Na sacada ela se segura e uma das madeiras do teto e salta para dentro. Então se vira para Miguel e faz sinal para ele vir também. Miguel pede para ela esperar e busca coragem dentro de si e salta de forma bem desengonçada caindo sentado dentro da sacada.
— Ungh! Minha bunda!
— Bela aterrissagem. — comenta Jennifer. — Como você é atrapalhado para fazer algo tão fácil.
— Não é fácil. — fala levantando. — Não sou macaco que nem você!
— Rá, rá, rá, que engraçado. — ironiza o que Miguel disse. — Morri de rir. Minha barriga está doendo.
— Tá, vamos em frente. Sem graça.
No céu, nuvens escuras começam a se formar e o dia de claro passa a ficar com um tom acinzentado de dia nublado. O som de relâmpagos cortando os céus ao longe já é possível de ser ouvido.
Eles entram no apartamento e caminham até a porta. Jennifer encosta o ouvido na porta, mas não ouve nada vindo do outro lado. Ela abre a porta e eles saem para o corredor. Dando uma olhada para os lados, só encontram destruição e a escada para descer para o térreo. Caminhando até as escadas eles são surpreendidos por uma garotinha que abre a porta de um dos apartamentos bem na hora que eles estão passando.
— Oi. — fala Jennifer sorrindo.
— Oi. — cumprimenta a garotinha também sorrindo. — Você que é a mulher de preto?
— Sim.
— Já ouvi meu pai falando de você. Ele diz que você ganha de todos os homens e que nenhum fica vivo para contar a história.
— Mais ou menos.
Então o som de uma voz masculina vinda de dentro do apartamento corta o diálogo deles: — Com quem você está conversando, meu anjo?
— Seu pai? — pergunta Jennifer.
— Sim.
O homem chega na porta e ao olhar para Jennifer ele arregala os olhos e ela leva rapidamente as mão as empunhaduras das armas.
— Filha, vai lá para dentro e não saia até eu mandar.
— Sim, pai. — e sai correndo.
— Então você está aqui. Achei que demoraria mais. Você não é de agir num espaço de tempo tão curto.
— Mas resolvi adiantar o natal dessas pessoas. Então aqui estou eu, em carne e osso.
— Não sabia que agia acompanhada.
— Até então fazia tudo sozinha, mas desta vez é especial. Ver vocês caírem de seus tronos merece ser visto por mais pessoas.
— Você está cometendo um grande erro. Agem como se soubessem de tudo, mas na verdade não sabem nem metade das coisas que acontecem em cada um desses territórios. Os árabes terem caído foi ótimo, comemorei, mas nós? As pessoas daqui vivem em paz, é só olharem ao redor.
— Cale a boca! — interrompe Miguel. — Nós vimos o que vocês fazem aqui, viemos pelos esgotos e vimos um homem sem seus dedos e língua. E depois outro iria ser morto num ritual satânico. Essa é a paz e vocês?
O homem sacode a cabeça e responde:
— Não aprovamos mais essas coisas, proibimos esse tipo de rituais. Apenas alguns extremistas ainda o faziam e tiramos suas vidas há alguns dias atrás. Lembro que foi na época que um carro tentou invadir nosso território e nossos soldados o destruíram e seus ocupantes.
Miguel saca sua espada e a posiciona na direção do pescoço do homem. Jennifer levanta a mão fazendo sinal para ele parar.
— Eu tenho ordens para lhe matar, mas não sabia que você tinha uma filha. Então deixarei você viver e espero que cuide muito bem dela, pois eu não costumo ser generosa duas vezes na minha vida.
— Entendi.
— Agora feche a porta e esqueça que nos viu. Ou juro que farei seu sangue morno jorrar no rosto de sua filha antes de matá-la. — fala Jennifer com um tom de voz ameaçador. Ele fecha a porta e ela olha para Miguel e diz: — Vamos sair logo daqui.
Eles começam a descer as escadas e Miguel pergunta:
— Você realmente faria o que falou?
— É claro que não, você me conhece. Eu jamais machucaria uma criança. E se tivesse que fazer algo com o pai dela faria isso bem longe dela. E com certeza não o mataria, jamais tiraria o pai ou a mãe de uma criança. Não sou um monstro. Mas daria uma bela surra.
Miguel sorri e pensa: — Você mudou um pouco sim, não importa o que diga. Mas o bem ainda está em você. O que faz com que eu me sinta aliviado. O resto é conseqüência dessa nova ordem mundial.
— Porque está com esse sorriso bobo na cara?
— Nada. Apenas pensando numa coisa que aconteceu quando jogávamos.
— Sei...
Os dois chegam ao térreo, um imenso lobby com suas paredes forradas de mosaicos ao estilo bizantino e afrescos, e no seu centro há uma grande fonte — Seca, diga-se de passagem. — e alguns metros a frente uma imensa porta de ferro com detalhes em cobre e prata leva a rua. Nesse instante já é possível ouvir o som da chuva caindo do lado de fora.
— Acho melhor você guardar a sua espada e seguir com as pistolas em punho. — recomenda Jennifer sacando uma de suas pistolas. — Eu farei isso daqui para frente. Tenho o leve palpite que já sabem que estamos nesse prédio.
— Eu ai fazer mesmo isso. — fala guardando suas espadas e sacando as duas pistolas. — Saímos agora ou esperamos um pouco?
— Não adianta nada ficarmos parados aqui, só estaremos deixando eles se organizarem melhor para nos atacarem. — responde enquanto se aproxima da porta e observa o lado de fora. — Bom, não vejo nenhuma movimentação lá na rua a não ser a chuva atingindo o chão. E não é pouca chuva.
— Ótimo. — fala Miguel colocando seus óculos táticos. — Agora isso aqui vai servir para alguma coisa além de segurar meus cabelos. Abre a porta e vamos em frente. Já estou pronto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário